terça-feira, 31 de julho de 2012

de chirico

Giorgio De Chirico: da metafísica ao surrealismo publicado em artes e ideias por rejane borges | 5 comentários Sua pintura não altera, nem distorce a realidade, muito menos a interpreta. Sua arte nem mesmo é a expressão ou extensão de si próprio. Mas é a expressão de uma não-realidade, de um universo do que não é, nem está. Chirico cria um mundo onírico e fantástico, no qual mesmo os sonhos têm outra concepção. É o nascer do pré-surrealismo. giorgio de chirico surrealismo pintura Ettore e Andromaca, 1917 O pintor greco-italiano nasceu em Vólos, Grécia, a 10 de Julho de 1888. Quando jovem estudou Artes em Atenas e Florença. Depois desse período mudou-se para a Alemanha, onde estudou filosofia e, no ano de 1917, fundou um movimento artístico chamado “Pintura Metafísica” com o pintor Carlos Carrà. Profundamente entusiasmado por tal tema, Chirico pinta sua primeira e famosa série, 'Praças de cidades metafísicas'’ - “Melancolia Outonal ” e “O Enigma do Oráculo”. A sua particular forma de ver e entender o mundo foi fortemente influenciada por filósofos como Nietzsche e Arthur Schopenhauer, os quais impactaram diretamente sua arte metafísica, como se seus quadros fossem a expressão plástica dessas filosofias. Giorgio de Chirico foi tão enigmático quanto suas primeiras obras. Queria decifrar a essência do Homem, do Universo, as relações, os elementos. Seus quadros tentam dar significado ao abstrato e aos objetos dispostos ao silêncio e ao vazio, retirados de seus comuns cenários para relacionarem-se entre si no mundo absurdo do pintor. O estilo metafórico de Nietzsche foi absorvido por Chirico e, conseqüentemente, desafogado em suas obras, as quais parecem translações de seu espírito descomprometido com a realidade, quase livres associações. Para além da filosofia, Chirico também foi muito inspirado pela poesia de Baudelaire, Rimbaud, Hugo, Apollinaire, Max Jacob, entre outros. Era um romântico, acima de tudo. Ou um sonhador, se é que as duas coisas não são uma só. Suas visões líricas eram tomadas por traços improváveis e anti-realistas, cheios, porém, de simbolismos. Todo este onirismo de seu primeiro período artístico abriu frestas à estética surrealista. Em 1925, participou de sua primeira exposição artística. giorgio de chirico surrealismo pintura L'enigma dell'ora, 1911 Características de sua pintura são os padrões arquitetônicos, elementos simbólicos, manequins, grandes espaços entre um elemento e outro, ou a exploração do vazio. Sua estrutura artística foi inovadora para a época e, como tinha uma linguagem própria, obrigava o observador a buscar informações para compreendê-la. Por isso ele tratou de escrever algumas notas e ensaios sobre sua produção metafísica. Com forte inclinação ao academicismo, cada vez mais deixou de lado seu primeiro período artístico, dedicando-se com menos intensidade a uma pintura mais tradicional. Foi admirado e respeitado, experimentando êxito com sua arte, e influenciou o surrealismo e o dadaísmo. De Chirico transportou à tela uma certa inquietude existencial que o marcou pessoalmente. Não aquela perturbação que nos míngua a sanidade, mas sim a perturbação que nos eleva o espírito criativo e curioso a ponto de encontrarmos outra realidade e nela vivermos. O pintor morreu em Roma, a 20 de novembro de 1978. giorgio de chirico surrealismo pintura Ritorno del Figlio Prodigo, 1965 giorgio de chirico surrealismo pintura La nostalgia dell'infinito, 1912-1913 giorgio de chirico surrealismo pintura Canto d'amore, 1914 Fontes das imagens: 1, 2, 3. rejaneborges Sobre a autora: rejane borges gosta das cores de folhas secas ao chão. E das cores das folhas velhas dos livros. Saiba como fazer parte da ob Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2011/03/giorgio_de_chirico_da_metafisica_ao_surrealismo.html#ixzz217DBAYWp

Diplomacia

Uma aula com Samuel Pinheiro Guimarães Para analisar a conjuntura da América Latina, um dos principais ideólogos da política internacional do governo Lula resgata a história da política estadunidense para a região antes de situar o golpe no Paraguai, a entrada da Venezuela no Mercosul e os desafios do Brasil em suas relações internacionais. Samuel Pinheiro Guimarães afirmou que renunciou à a alta representação do Mercosul por uma limitação institucional do posto. "Eu fiz um relatório com um diagnóstico do Mercosul e propostas, mas não houve maior atenção", afirma. Vinicius Mansur Brasília - Convidado pela Comissão Brasileira Justiça e Paz, CBJP, organismo da CNBB, para falar sobre a conjuntura política da América Latina, especialmente da América do Sul pós-golpe no Paraguai, o embaixador e alto representante geral do Mercosul até junho deste ano, Samuel Pinheiro Guimarães, expandiu o recorte territorial e histórico para introduzir sua análise. “Para compreender essa situação é preciso compreender a política dos EUA para região e para o mundo”. Segundo o embaixador, o objetivo estratégico permanente dos EUA é integrar todos os países da região numa única área econômica e uma de suas primeiras manifestações neste sentido aconteceu em 1889 na I Conferência Internacional Americana, em Washington, quando propuseram um acordo de livre comércio nas Américas e a adoção do dólar por todos os países. “Um projeto perfeito: de um lado a maior potência industrial do mundo, do outro um grupo de países agrícolas, mineradores, muito pobres, com grandes concentrações de renda”, ironizou. Durante a conferência houve a proclamação da República no Brasil e a nova delegação brasileira aceitou a proposta estadunidense. “Isto porque uma das características da República era a idéia do panamericanismo e o Brasil queria afastar o estigma do Império, muito ligado à Europa, aos ingleses, uma ameaça aos países vizinhos independentes”, explicou, acrescentando que a área de livre comércio não foi criada por oposição da Argentina. “O antagonismo que existe nos EUA contra a Argentina já vem de longa data”, salientou. É no pós-Segunda Guerra Mundial, entretanto, que as ações estadunidenses se intensificam rumo aos vizinhos do sul, ainda que antes disto os EUA já tivessem se apropriado de dois terços do território do México, se imiscuído na Nicarágua, República Dominicana, Haiti e Cuba e criado um país, ao separar o Panamá da Colômbia. “A América do Sul era mais distante”, brincou o diplomata, mas “aproximou-se” com as condições criadas após o triunfo em 1945: a Europa e os impérios coloniais destruídos abriram campo para a expansão de seu poderio e a União Soviética, o seu mais novo inimigo número 1, era o sinal de que a tarefa deveria ser cumprida rapidamente. Com a Revolução Cubana, em 1959, os EUA intensificaram a atuação em seu “quintal”. De um lado, programas de cooperação com a Aliança para o Progresso, de outro, o apoio às violentas ditaduras civis-militares . “Enfatizo o termo civil. Hoje diz-se só militares, mas elas foram apoiadas em grande medida por elites de diferentes setores e meios de comunicação”, destacou. Ao passo em que estes regimes perdiam força – e Guimarães aponta o fato da repressão ter chegado aos setores médios e altos da sociedade como determinantes nesse processo – os EUA passaram a defender a sua substituição, emplacando uma nova plataforma política em prol dos direitos humanos, da democracia e do apoio a partidos políticos no contexto de início do neoliberalismo e de queda da União Soviética. Dominação pelo mercado Com a redemocratização da América do Sul a partir da década de 1970 e 1980 e com a ascensão da China no mercado mundial, o objetivo histórico dos EUA aponta cada vez mais para a celebração de acordos econômicos bilaterais, estratégia desenvolvida também em nível multilateral na Organização Mundial do Comércio (OMC). Em 1994, os planos dos EUA dão um salto com a incorporação do México, por iniciativa de seu então presidente Salinas de Gortari, no Tratado Norte Americano de Livre Comércio (Nafta), que contava também com o Canadá. “Causou certa perplexidade porque o México era um tradicional defensor das teses dos países em desenvolvimento, do tratamento preferencial. Aquilo teria um impacto muito grande sobre toda a política dos EUA de relacionamento com os países em desenvolvimento, porque o México era um grande líder com uma mudança de posição tão radical. No mesmo ano os EUA topou a negociação da Alca [Área de Livre Comércio das Américas]”, resgata Guimarães. O projeto da Alca foi definitivamente arquivado em 2005, na Cúpula de Mar del Plata, Argentina, por atitude coordenada dos presidentes argentino, Nestor Kirchner, e brasileiro, Luis Inácio Lula da Silva, segundo Guimarães. Mas os EUA lograram acordos bilaterais com Chile, Peru e Colômbia depois disto. As negociações com o Equador avançaram bastante, mas foram interrompidas com a vitória de Rafael Correia, assim como Hugo Chávez havia feito em 1999 na Venezuela. O problema desses acordos, aponta o embaixador, é “estabelecer as mesmas normas econômicas sob uma pretensão de reciprocidade, como se houvessem grandes investimentos de um país menor em outro maior”, impedindo assim o desenvolvimento autônomo das economias mais fracas e levando, quase que automaticamente, a um alinhamento político com os EUA nas grandes questões internacionais. “O Uruguai, que celebrou um acordo desses com os EUA, está sendo processado por uma empresa de cigarros que alega que legislação de controle do fumo do país prejudica seus lucros”, exemplificou. O problema trágico para os estadunidenses, destaca Guimarães, é que com regimes democrático na América do Sul, com liberdade de expressão e eleições razoáveis, os presidentes eleitos tendem a ter programas progressistas, ainda que alguns não pretendam executá-los, ressalta. Porém, as elites tradicionais seguem com muita força para eleger seus representantes aos poderes legislativos, formando uma forte barreira de contenção, ao lado de veículos de comunicação, às políticas sociais e de desenvolvimento alternativo. “No Paraguai o presidente progressista sem nenhum apoio no Congresso não conseguiu fazer a sua política, perdendo prestígio junto à população por não executar as promessas de campanha e o próprio Congresso montou um golpe”, elucidou. Quando há maioria legislativa pró-governo progressistas, como na Argentina, onde mesmo os partidos de oposição aprovaram a suspensão do Paraguai e a entrada da Venezuela no Mercosul, por exemplo, o discurso é de que “não há democracia, eles controlam o Congresso”. O golpe no Paraguai Samuel Pinheiro Guimarães não hesita em qualificar a destituição de Fernando Lugo como golpe grosseiro. “Se fosse mais longo [o processo de impeachment] seria mais difícil contestá-lo e acabariam condenando do mesmo jeito. Eles foram receosos da reação dos vizinhos”. O diplomata considerou a postura brasileira no episódio firme e prudente, discordando daqueles que qualificaram a posição do Brasil como “branda” em comparação com o ocorrido durante o golpe no presidente Manoel Zelaya em Honduras. “Lá em Honduras foi um golpe praticamente militar, tiraram o presidente do poder, colocaram em um avião e mandaram embora, morreram muitos jornalistas, a repressão foi muito forte. Por outro lado, a admissão da Venezuela era tudo que os paraguaios não queriam. Foi de certa forma uma punição. De outro lado, nossos interesses no Paraguai são muito reais. Há um número muito grande de descendentes brasileiros que moram no Paraguai, há a represa de Itaipu”, disse. Porém, Guimarães salienta que os interesses do Paraguai nos países do Mercosul é de tamanha magnitude que dificilmente serão compensados com qualquer outro acordo internacional, nem mesmo pelos EUA. E caso o regime paraguaio recrudesça, o diplomata sinaliza que uma série de medidas podem ser tomadas de maneira gradativa, como a não aprovações de projetos do Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul (Focem) que estão em análise e, numa etapa seguinte, a suspensão de projetos que já estão em curso. “O Brasil é o principal contribuinte deste fundo com 70%, Argentina com 27%, Paraguai com 1% e Uruguai com 2%. E há importantes projetos para o sistema de transporte deles”, afirmou. Venezuela Mais do que o Paraguai perdeu os EUA com a entrada da Venezuela no Mercosul. Por definição, um país membro do bloco está impedido de celebrar um acordo de livre comércio pretendidos por Washington. “Isso é grave pros EUA. Apesar de estarem mudando suas fontes de abastecimento, explorando suas reservas internas, continuam muito dependentes do petróleo importado, em grande parte, do Oriente, uma área delicada. E eles tem a Venezuela, a maior reserva do mundo, aqui pertinho deles”, detalha. A entrada da Venezuela no bloco consolida um determinado tipo de visão econômica, também é importante por dificultar um golpe de Estado que não raro é sondado no país. Em um país relativamente rico, de grande mercado, com 20 milhões de habitantes, com recursos naturais preciosos, que está procurando construir sua infraestrutura e se industrializar e cujo comércio com o Mercosul cresceu volumosamente na última década. “Além de ser um país altamente consumidor de produtos agrícolas, o que é uma oportunidade para outros países do bloco”, acrescenta o embaixador. Imperialismo à brasileira? Questionado sobre um crescente sentimento contra o Brasil devido à atuação do capital nacional em países vizinhos, levando até mesmo a formação de uma articulação dos Atingidos pelo BNDES, Guimarães ratificou que é este o grande desafio da diplomacia e do governo de um país tão assimétrico como o Brasil é em relação aos seus vizinhos. “O Brasil é mais da metade do PIB da América do Sul, é quatro ou cinco vezes o PIB da Argentina, que é o segundo maior. Um PIB muito grande significa empresas muito grandes. Imagina se as empresas estrangeiras aqui fossem brasileiras, o que já teria acontecido?”, indaga para, em seguida, recordar que o problema da desnacionalização também afeta o Brasil, citando como emblemática a recente transferência do controle da maior rede varejista do país, o grupo Pão de Açúcar, ao capital estrangeiro. Para o diplomata, o Brasil deveria ter uma política que em hipótese alguma financiasse a aquisição de empreendimentos estrangeiros por brasileiros e que estimulasse a associação dos capitais locais. Porém, ressaltou que há uma diferença entre a atuação independente das empresas e o financiamento do Estado. “O governo não pode impedir que as empresas façam investimento no exterior, a legislação não permite. Mas, a legislação daquele país pode, reservando setores para empresas nacionais”, esclareceu, acrescentando que o Brasil, em geral, financiou empreiteiras para participarem de licitações internacionais de obras de infraestrutura. “E essas empresas não ficam no país”. Um caso qualificado por ele como grave está na Argentina, onde empresas brasileiras compraram um grande número de frigoríficos, atividade tradicional e importante daquele país. “Isso ainda não leva a grandes dificuldades, mas levará. As empresas estrangeiras, em geral tendem a recorrer aos seus países para fazer pressão ao governo local, o que cria grandes atritos”, alertou. Exército no Haiti No que tange a atuação militar brasileira no Haiti, Guimarães descarta que o Brasil tenha uma ação imperialista. “Se houvesse caso de morte, de agressão de brasileiros a haitianos sairia todo dia aqui no jornal”, retruca e completa: “Na questão dos refugiados haitianos a posição tem sido correta, apesar de não divulgada.” O diplomata recorda que foi o Conselho de Segurança da ONU quem criou da força de paz para o Haiti, sem a participação do Brasil, que posteriormente foi convidado a integrá-la, tal como já fez em países como Congo, Timor Leste e Angola. “Antes de aceitar, foram mandadas duas missões aos países do Caribe próximos para saber o que eles achavam e eles aprovaram. O Brasil comandou as forças nos dois primeiros anos e deveria ter rodízio, mas a própria ONU pediu que o Brasil continuasse e tem pedido até hoje. Se não fosse o Brasil seria outro país”, defendeu. Política externa alternativa Se por um lado o papel crescente do Brasil no cenário internacional o leva a questionamentos quanto a reprodução de relações de tipo imperialista, Guimarães salienta que há iniciativas concretas visando um modelo de integração de novo tipo, para além dos posicionamentos políticos progressistas. Ele destaca os bancos de leite materno e os programas contra a febre aftosa impulsionados em vários países, o aumento da presença de entidades brasileiras no mundo visando a cooperação sul-sul, tais como a Embrapa - com unidades de pesquisa em Gana e na Venezuela, a Fiocruz – com uma unidade de produção de medicamentos retrovirais em Moçambique, a Caixa Econômica Federal – com projetos de habitação na Venezuela e o Ipea, que deverá abrir um escritório em cada país do Mercosul. Também entram na lista a criação da Universidade Federal Latino Americana (Unila), em Foz do Iguaçu (PR), e da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), com dois câmpus no Ceará e a cooperação na área da educação com o Timor Leste. “É preciso de mais recursos para a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), mas houve corte de dotação orçamentária”, cobrou o diplomata. Saída do Mercosul Por fim, Samuel Pinheiro Guimarães afirmou que renunciou à a alta representação do Mercosul por uma limitação institucional do posto. O cargo foi criado no final do governo Lula com a ideia de iniciar uma gestão do Mercosul acima dos governos, uma vez que o bloco não possui uma estrutura supranacional, como a União Europeia, que dinamize seu funcionamento. Mas, Guimarães não se sentiu respaldado, talvez por ser brasileiro, sugeriu: “O Brasil é um país tão assimétrico que gera sempre uma idéia de que o cargo não podia fazer propostas. Eu fiz um relatório com um diagnóstico do Mercosul e propostas. Mas não houve maior atenção, se não tem atenção não tem apoio, se não tem apoio não vale a pena”. (Carta Maior)

Olimpíadas

A Bandeira Olímpica... e Marina Silva, a “ética” e “ecológica” entregou a bandeira olímpica a soldados da OTAN?! 29/7/2012, Manlio Dinucci (recebido por e-mail em italiano; enviado simultaneamente, pelo autor, para Il Manifesto, Itália, sob o título “La bandiera olimpica in mano ai militari” , aqui modificado) Enviado e traduzido pelo pessoal da Vila Vudu Manlio Dinicci As Olimpíadas podem ser “tempo de amizades novas e renovadas, onde se forjam a paz e o entendimento”. Assim o Arcebispo de Westminster saudou os atletas chegados a Londres, vindos de todas as partes do mundo. Para manifestar esse espírito, na cerimônia de abertura, o governo de Sua Majestade entregou a bandeira com os cinco círculos olímpicos, símbolo de paz... a um esquadrão de 16 soldados britânicos, selecionados entre os que mais se destacaram em guerras em curso. À frente do esquadrão, formado de oficiais e soldados das três armas, vinha Tal Lambert, diretor de comunicações das bases aéreas de Lyneham e Brize Norton, usada ano passado na guerra contra a Líbia. Dentre outros militares da Real Força Aérea britânica, ali estava o Sargento Suneil Raval, condecorado por participação nas guerras dos Balcãs e do Iraque. Dentre os da Marinha e das Forças Especiais, vinha o oficial John Hiscock, condecorado pela Rainha com a Medalha da Galanteria, por ação na invasão do Iraque. Dentre os do Exército, o sargento Kyle Reains, condecorado por ação em combate no Iraque e no Afeganistão, onde foi ferido; e o cabo Josh Rainey, com duas missões de alto risco no Afeganistão, no currículo. Exibir um esquadrão militar a carregar não só a bandeira britânica, mas também a bandeira olímpica foi gesto altamente simbólico: a reafirmação de que os exércitos da Grã-Bretanha e de outros países da OTAN não fariam guerra de agressão e só operariam no interesse da paz e da humanidade. Causa escândalo e vergonha que o Comitê Olímpico Internacional tenha admitido essa manifestação de forças militares, que deve ser proibida, para o futuro, em qualquer país no qual se realizem as Olimpíadas. Também causa escândalo e vergonha que a imprensa internacional tenha ignorado essa manifestação, embora toda a imprensa mundial tenha testemunhado o gesto belicista. Mas jornais, televisões e jornalistas profissionais estavam ocupados em comentar o chapéu da rainha, no momento em que militares hasteavam a bandeira olímpica, reafirmando a glória do Império Britânico. Em tempo: Entre as “entidades” vestidas de branco, que entregaram a bandeira olímpica aos cuidados de soldados da OTAN, vinha, surpreendentemente, D. Marina Silva, brasileira, sem NENHUM atributo que a qualifique para estar naquele lugar pressuposto honroso e que absolutamente NADA representa no Brasil. Dado que ainda não se sabe, no Brasil, POR QUE foi convidada, aproveitamos a oportunidade para registrar, por hora, o nosso escândalo e a nossa vergonha apenas PESSOAIS. Voltaremos a esse assunto [Nota dos tradutores brasileiros]. Postado por Castor Filho às 15:30:00 Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar no Orkut Marcadores: Intervenção EUA-OTAN, Manlio Dinucci, Marina Silva, Olimpiadas 2012, Vila Vudu (Rede Castor)

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Moçambique

DEBATE ABERTO Moçambique: a maldição da abundância? A “maldição da abundância” é uma expressão usada para caracterizar os riscos que correm os países pobres onde se descobrem recursos naturais objeto de cobiça internacional. Volto da visita que acabo de fazer a Moçambique com uma inquietação sobre a "orgia dos recursos naturais" que impacta o país. Boaventura de Sousa Santos A “maldição da abundância” é uma expressão usada para caracterizar os riscos que correm os países pobres onde se descobrem recursos naturais objeto de cobiça internacional. A promessa de abundância decorrente do imenso valor comercial dos recursos e dos investimentos necessários para o concretizar é tão convincente que passa a condicionar o padrão de desenvolvimento económico, social, político e cultural. Os riscos desse condicionamento são, entre outros: crescimento do PIB em vez de desenvolvimento social; corrupção generalizada da classe política que, para defender os seus interesses privados, se torna crescentemente autoritária para se poder manter no poder, agora visto como fonte de acumulação primitiva de capital; aumento em vez de redução da pobreza; polarização crescente entre uma pequena minoria super-rica e uma imensa maioria de indigentes; destruição ambiental e sacrifícios incontáveis às populações onde se encontram os recursos em nome de um “progresso” que estas nunca conhecerão; criação de uma cultura consumista que é praticada apenas por uma pequena minoria urbana mas imposta como ideologia a toda a sociedade; supressão do pensamento e das práticas dissidentes da sociedade civil sob o pretexto de serem obstáculos ao desenvolvimento e profetas da desgraça. Em suma, os riscos são que, no final do ciclo da orgia dos recursos, o país esteja mais pobre econômica, social, política e culturalmente do que no seu início. Nisto consiste a maldição da abundância. Depois das investigações que conduzi em Moçambique entre 1997 e 2003 visitei o país várias vezes. Da visita que acabo de fazer colho uma dupla impressão que a minha solidariedade com o povo moçambicano transforma em dupla inquietação. A primeira tem precisamente a ver com a orgia dos recursos naturais. As sucessivas descobertas (algumas antigas) de carvão (Moçambique é já o sexto maior produtor de carvão a nível mundial), gás natural, ferro, níquel, talvez petróleo anunciam um El Dorado de rendas extrativistas que podem ter um impacto no país semelhante ao que teve a independência. Fala-se numa segunda independência. Estarão os moçambicanos preparados para fugir à maldição da abundância? Duvido. As grandes multinacionais, algumas bem conhecidas dos latino-americanos, como a Rio Tinto e a brasileira Vale do Rio Doce (Vale Moçambique) exercem as suas atividades com muito pouca regulação estatal, celebram contratos que lhe permitem o saque das riquezas moçambicanas com mínimas contribuições para o orçamento de estado (em 2010 a contribuição foi de 0,04%), violam impunemente os direitos humanos das populações onde existem recursos, procedendo ao seu reassentamento (por vezes mais de um num prazo de poucos anos) em condições indignas, com o desrespeito dos lugares sagrados, dos cemitérios, dos ecossistemas que têm organizado a sua vida desde há dezenas ou centenas de anos. Sempre que as populações protestam são brutalmente reprimidas pelas forças policiais e militares. A Vale é hoje um alvo central das organizações ecológicas e de direitos humanos pela sua arrogância neo-colonial e pelas cumplicidades que estabeleceu com o governo. Tais cumplicidades assentam por vezes em perigosos conflitos de interesses, entre os interesses do país governado pelo Presidente Guebuza e os interesses das empresas do empresário Guebuza donde podem resultar graves violações dos direitos humanos como quando o ativista ambiental Jeremias Vunjane, que levava consigo para a Conferência da ONU, Rio+20, denúncias dos atropelos da Vale, foi arbitrariamente impedido de entrar no Brasil e deportado (e só regressou depois de muita pressão internacional), ou quando, às organizações sociais é pedida uma autorização do governo para visitar as populações reassentadas como se estas vivessem sob a alçada de um agente soberano estrangeiro. São muitos os indícios de que as promessas dos recursos começam a corromper a classe política de alto a baixo e os conflitos no seio desta são entre os que “já comeram “ e os que “querem também comer”. Não é de esperar que nestas condições, os moçambicanos no seu conjunto beneficiem dos recursos. Pelo contrário, pode estar em curso a angolanização de Moçambique. Não será um processo linear porque Moçambique é muito diferente de Angola: a liberdade de imprensa é incomparavelmente superior; a sociedade civil está mais organizada; os novos-ricos têm medo da ostentação porque ela zurzida semanalmente na imprensa e também pelo medo dos sequestros; o sistema judicial, apesar de tudo, é mais independente para atuar; há uma massa crítica de acadêmicos moçambicanos credenciados internacionalmente capazes de fazer análises sérias que mostram que “o rei vai nu”. A segunda impressão/inquietação, relacionada com a anterior, consiste em verificar que o impulso para a transição democrática que observara em estadias anteriores parece estancado ou estagnado. A legitimidade revolucionária da Frelimo sobrepõe-se cada vez mais à sua legitimidade democrática (que tem vindo a diminuir em recentes atos eleitorais) com a agravante de estar agora a ser usada para fins bem pouco revolucionários; a partidarização do aparelho de estado aumenta em vez de diminuir; a vigilância sobre a sociedade civil aperta-se sempre que nela se suspeita dissidência; a célula do partido continua a interferir com a liberdade acadêmica do ensino e investigação universitários; mesmo dentro da Frelimo, e, portanto, num contexto controlado, a discussão política é vista como distração ou obstáculo ante os benefícios indiscutidos e indiscutíveis do “desenvolvimento”. Um autoritarismo insidioso disfarçado de empreendorismo e de aversão à política (“não te metas em problemas”) germina na sociedade como erva daninha. Ao partir de Moçambique, uma frase do grande escritor moçambicano Eduardo White cravou-se em mim e em mim ficou: “nós que não mudamos de medo por termos medo de o mudar” (Savana, 20-7-2012). Uma frase talvez tão válida para a sociedade moçambicana como para a sociedade portuguesa e para tantas outras acorrentadas às regras de um capitalismo global sem regras. Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal). • - Wall Street sabe que para ter votos suficientes no Congresso para destruir o New Deal, o Social Security, o Medicare e o Medicaid, é preciso ter um presidente democrata no comando. Um congresso democrata bloquearia qualquer tentativa republicana de fazer o tipo de corte que Obama está propondo. Mas a oposição democrática fica paralisada quando o próprio presidente Obama – o presidente liberal por excelência, o Tony Blair americano – age como o chefe de torcida para cortar direitos e outros gastos sociais. O artigo é de Michael Hudson. Internacional | 31/07/2011 (Carta Maior) .

Mulheres

Mulheres "Certo dia parei para observar as mulheres e só pude concluir uma coisa: elas não são humanas. São espiãs. Espiãs de Deus, disfarçadas entre nós. Pare para refletir sobre o sexto-sentido. Alguém duvida de que ele exista? E como explicar que ela saiba exatamente qual mulher, entre as presentes, em uma reunião, seja aquela que dá em cima de você? E quando ela antecipa que alguém tem algo contra você, que alguém está ficando doente ou que você quer terminar o relacionamento? E quando ela diz que vai fazer frio e manda você levar um casaco? Rio de Janeiro, 40 graus, você vai pegar um avião pra São Paulo. Só meia-hora de vôo. Ela fala pra você levar um casaco, porque "vai fazer frio". Você não leva. O que acontece? O avião fica preso no tráfego, em terra, por quase duas horas, depois que você já entrou, antes de decolar. O ar condicionado chega a pingar gelo de tanto frio que faz lá dentro! "Leve um sapato extra na mala, querido. Vai que você pisa numa poça..." Se você não levar o "sapato extra", meu amigo, leve dinheiro extra para comprar outro. Pois o seu estará, sem dúvida, molhado... O sexto-sentido não faz sentido! É a comunicação direta com Deus! Assim é muito fácil... As mulheres são mães! E preparam, literalmente, gente dentro de si. Será que Deus confiaria tamanha responsabilidade a um reles mortal? E não satisfeitas em ensinar a vida elas insistem em ensinar a vivê-la, de forma íntegra, oferecendo amor incondicional e disponibilidade integral. Fala-se em "praga de mãe", "amor de mãe", "coração de mãe"... Tudo isso é meio mágico... Talvez Ele tenha instalado o dispositivo "coração de mãe" nos "anjos da guarda" de Seus filhos (que, aliás, foram criados à Sua imagem e semelhança). As mulheres choram. Ou vazam? Ou extravazam? Homens também choram, mas é um choro diferente. As lágrimas das mulheres têm um não sei quê que não quer chorar, um não sei quê de fragilidade, um não sei quê de amor, um não sei quê de tempero divino, que tem um efeito devastador sobre os homens... É choro feminino. É choro de mulher... Já viram como as mulheres conversam com os olhos? Elas conseguem pedir uma à outra para mudar de assunto com apenas um olhar. Elas fazem um comentário sarcástico com outro olhar. E apontam uma terceira pessoa com outro olhar. Quantos tipos de olhar existem? Elas conhecem todos... Parece que freqüentam escolas diferentes das que freqüentam os homens! E é com um desses milhões de olhares que elas enfeitiçam os homens. EN-FEI-TI-ÇAM ! E tem mais! No tocante às profissões, por que se concentram nas áreas de Humanas? Para estudar os homens, é claro! Embora algumas disfarcem e estudem Exatas... Nem mesmo Freud se arriscou a adentrar nessa seara. Ele, que estudou, como poucos, o comportamento humano, disse que a mulher era "um continente obscuro". Quer evidência maior do que essa? Qualquer um que ama se aproxima de Deus. E com as mulheres também é assim. O amor as leva para perto dEle, já que Ele é o próprio amor. Por isso dizem "estar nas nuvens", quando apaixonadas. É sabido que as mulheres confundem sexo e amor. E isso seria uma falha, se não obrigasse os homens a uma atitude mais sensível e respeitosa com a própria vida. Pena que eles nunca verão as mulheres-anjos que têm ao lado. Com todo esse amor de mãe, esposa e amiga, elas ainda são mulheres a maior parte do tempo. Mas elas são anjos depois do sexo-amor. É nessa hora que elas se sentem o próprio amor encarnado e voltam a ser anjos. E levitam. Algumas até voam. Mas os homens não sabem disso. E nem poderiam. Porque são tomados por um encantamento que os faz dormir nessa hora." Luís Fernando Veríssimo

Mídia

A verdade do artista Recife (PE) - Parto hoje de um artista de grande mídia, mas que me serve ao propósito de falar da luta arte x capital. Pois assim como a tevê nos usa, na medida em que ao falar dela fazemos-lhe propaganda, cabe a nós também usá-la para fins que ela não queria. Como tento a partir de agora. A entrevista do ator Pedro Cardoso no programa Na Moral tem momentos que um filósofo diria serem universais. Na ocasião, discutiam os fotógrafos paparazzi, que devassam momentos íntimos dos artistas para os olhos de todo o mundo. Ali, no conhecido recurso da criação caricatural, no rádio e na tevê, que inventa o bandido e o artista de mentirinha, o cinismo de Bial em vídeo anuncia o inimigo “númuro” 1 dos paparazzi. Então entra Pedro Cardoso.E vem a primeira nota fora do script, porque o artista assim fala: “Aqui falta o personagem mais importante nessa discussão, falta o capitalista.... Há uma enorme distinção entre os fatos da minha vida privada e os fatos que são públicos.” Ao que intervém Bial: “Mas seguindo o seu raciocínio, o empresário busca o ganho, pra evitar a palavra lucro”, isso o Big Brother fala, com a cara de nojo mais fingida. E continua: “O empresário quer vender revista. As pessoas compram essas revistas. Esses sites são os mais acessados, os sites de celebridades”. Ao que responde Pedro Cardoso, com raro brilho: “É, os alemães também compraram o nazismo por esse teu raciocínio. A sociedade tem demandas, mas nem todas as demandas da sociedade são a saúde dela”. A primeira surpresa nessa fala de Pedro Cardoso é a palavra “capitalista”, que nunca se ouve ou se vê na tevê e no rádio, banida que está como um sonoro palavrão. O que bem entendemos, pois ladrões não têm o costume de se chamar pelo nome. A segunda surpresa é o recuo histórico que faz até o rosto de horror do capital, a violência nazista, para iluminar o conceito de que nem toda demanda social é boa para a saúde de toda a gente. Isso numa emissora que vive do ibope como um tumor que vive de nossas forças de vida, é um achado. Se liberdade de fato ele tivesse, diria que o dano humano das telenovelas é proporcional a sua audiência. Que o próprio engenho da Globo somente foi possível com a ditadura, como uma vez me declarou Dina Sfat, numa entrevista no Recife. Mas na fala do ator também há uma esperta contradição da mídia. O seu próprio discurso no programa se inscreve na contradição geral da liberdade. Observem a pergunta de Bial a certa altura, levantando a bola para o fotógrafo cortar: “O que Cardoso está fazendo agora?”. E responde o paparazzo, transformado em instrumento pelo apresentador: “Ele está dentro da casa da TV Globo”. Ao que fala Pedro Cardoso, dando de ombros: “Eu posso ir para outro programa”. A isso ironiza Bial: “Você pode dizer que não pode vir”, e suspira, senhor das câmeras, para completar o seu veneno: “ai, ai...”. O que vale dizer, em tradução livre: “ô cara, você não é livre para nada, nem mesmo para dizer que não vou a este ou àquele programa. O nosso peitinho, a rede Globo, é quem paga o melhor salário. Para de encenação”. A essa constatação, cínica, legitimadora do direito de se vender não importa o preço, que vai além do pagamento em dinheiro, a tal paredão, a que todo artista em algum lugar ou hora terá que sofrer no dilema entre a sobrevivência física e a defesa da própria alma, a isso a melhor resposta vem de Pedro Cardoso em um instante fugaz, de legitimação torta da liberdade do veículo: “É tudo mentira. É tudo business. Há uma demanda social, mas a demanda não é para a mentira”. Ouvir isso faz um bem imenso. Essa frase vem na contramão de que o artista é só um fingidor, um canalha que finge, como não se cansa de repetir o entendimento vulgar de Fernando Pessoa. Na verdade, o ator, o poeta, o escritor buscam meios que falem da dor, real, da felicidade, transformadora, que dá sentido à vida de toda a gente. Essa frase de Cardoso acende por fim a lembrança de que o conflito entre o artista e o capitalismo é uma luta sem quartel. Até aqui o capital tem vencido, mas em batalhas continuadas o capitalismo, que criou para os artistas uma indústria de falsos egos, tem sofrido importantes derrotas. Quais? De passagem e na superfície, lembro a simples existência pública de García Márquez, Buñuel, Glauber Rocha, João Cabral de Melo Neto. A feira dos artistas precisa da exposição que o capital dá. Mas a sua arte é uma revolta contra essa exposição. Mídia e capital pornográficos estão por ora soberanos, mas a arte continua a existir, somente porque está em revolta contra essa inumanidade. O vídeo da entrevista de Pedro Cardoso está aqui ( Veja o vídeo ) (Direto da Redação - Urariano)

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Mafalda

Quino e Mafalda: criador e criatura Imprimir E-mail Escrito por Maria Clara Lucchetti Bingemer Terça, 24 de Julho de 2012 Joaquin Salvador Lavado Tejón nasceu em Guaymallén, na Província de Mendoza, Argentina, em 17 de julho de 1932. Está fazendo, portanto, 80 anos este que é mais conhecido como Quino. Pensador, historiador gráfico e cartunista genial, Quino é o criador da imortal menina Mafalda, que pensa e questiona todo mundo à sua volta, desde os pais até os amiguinhos da escola e da rua, sem excluir outros adultos menos íntimos. Mafalda, a imortal criaturinha de Quino, foi publicada pela primeira vez como história em quadrinhos no periódico Leoplán, nos anos 1960, e depois passou a ser publicada regularmente no semanário Front Page, cujo editor era amigo de Quino. Posteriormente, foi publicado no jornal O Mundo. Logo após, Mafalda ganhou mundo. A reviravolta cultural que marcou o ano de 1968 sem dúvida contribuiu para isso. Livros com as tirinhas de Quino foram publicados na Espanha, Itália e Portugal, embora vigiadas de perto pela censura, que se empenhava em rotulá-las como próprias apenas para adultos. Até que, em 1973, o mundo leva um susto quando Quino anuncia que decidira terminar com Mafalda. Considerava que suas ideias já se esgotavam, que não produzia nada novo. Mudou-se para Milão e continuou fazendo cartuns de humor da melhor qualidade. Mafalda marcou as gerações daqueles anos e até hoje continua fazendo sucesso entre as novas gerações. Por quê? Qual seu segredo? Talvez o fato de ser uma menina de seu tempo e ao mesmo tempo ter um perfil de abertura universal que lhe dá amplidão de raio de influência. Mafalda é uma menina de seis anos de idade que odeia sopa, dizendo representar para a infância o mesmo que o comunismo para a democracia. Adora os Beatles e o desenho do Pica-Pau. Comporta-se como uma típica menina de sua idade, mas ao mesmo tempo tem uma visão aguda e crítica da vida. O que mais impressiona e fascina em Mafalda é seu espírito crítico, que vive questionando o mundo à sua volta e principalmente o contexto da década de 1960 na qual vive. Aos pais, faz perguntas que os deixam acordados à noite, dando voltas ao cérebro para tentar responder à questionadora filha. Porém, não encontramos em Mafalda certa perversidade e desejo de fazer os outros chorarem, presente lamentavelmente em muitas crianças. Mafalda é crítica e questionadora, mas cheia de compaixão e ternura pelos outros e pelo mundo onde vive, que considera extremamente doente. Por isso põe esparadrapos para curar as feridas do globo terrestre onde estuda geografia em casa. Antes de tomar medidas curativas para a doença do planeta, Mafalda se preocupa com ele. Dialoga muito com o rádio que veicula notícias as mais preocupantes: guerras, conflitos de todos os tipos, desgraças etc. E responde às notícias que ouve. Por exemplo, ao ouvir que o Papa fez um chamado para a paz, pergunta ao rádio: "E deu ocupado como sempre, não é?" Uma das críticas pioneiras de Mafalda, que certamente influenciou a sociedade argentina de seu tempo, além da de outros países, é sua visão do papel da mulher na sociedade, que não poupa sequer sua mãe, Raquel, mostrada pela tirinha como uma típica dona de casa, sem haver completado os estudos e que entra em constantes conflitos com a filha, sobretudo ao preparar sopa para ela. Outro objeto da crítica de Mafalda é sua amiga Susanita, uma menina fútil. Seu único objetivo na vida é encontrar um marido rico e de boa aparência e ter uma quantidade de filhos acima da média. É uma grande fofoqueira e egoísta, e sempre encontra um jeito de falar sobre o vizinho do irmão da cunhada de alguém. Mafalda muitas vezes discute com ela e perde a paciência com a amiguinha que apresenta horizontes tão curtos. Por outro lado, relaciona-se muito bem com o sonhador menino Felipe, que odeia a escola, mas frequentemente tem dramas de consciência a partir de seu sentido congênito de responsabilidade, que o instiga sem cessar. O resto do grupo de amigos é composto pelo capitalista Manolito, obcecado com os negócios do armazém do pai e com dinheiro, péssimo estudante, representante egrégio do capitalismo que adora quando a inflação assola seu país, já que assim lhe parece estar lucrando mais. Tem também Miguelito, amigo de Mafalda, um pouco mais jovem do que os outros. Filho único, com uma personalidade igualmente única, Miguelito é dono de um enorme coração. Tem dificuldade de compreender o que pensa sua inteligente amiga, sempre entendendo seus conselhos de maneira literal. Além disso, é um personagem egocêntrico, que parece achar que o mundo gira à sua volta. Em casa, Mafalda tem como companheiro o irmãozinho Guille, que começa a despertar para o mundo, e a tartaruguinha Burocracia, lenta como costumam ser esses animais e que faz jus ao nome. Nesta celebração de seus 80 anos, cabe agradecer de coração o traço e, sobretudo, a imaginação e sensibilidade de Quino, que nos deu uma personagem tão encantadora e consciente, que nos faz rir, certamente, mas principalmente pensar. Tomara que Mafalda continue sendo uma influência para crianças e jovens, é o que desejamos de coração. Maria Clara Lucchetti Bingemer é autora de "Simone Weil - A força e a fraqueza do amor” (Ed. Rocco). Copyright 2012 – MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal(0)terra.com.br) Para ajudar o Correio da Cidadania e a construção da mídia independente, você pode contribuir clicando abaixo.

Útero

Útero, serviço à sociedade? By admin – 23/07/2012Posted in: Capa, Sociedade Por pressão das bancadas fundamentalistas, Brasil pode ter lei que reduz grávidas a objetos reprodutivos. É hora de barrar ameaça Por Marília Moskcovitch, editora de Mulher Alternativa Um mundo onde as mulheres férteis são corpos a serviço do Estado. Elas servem para gerar bebês, reproduzir a espécie. Seus corpos são assunto público. É dever delas e de toda a sociedade cuidar desses corpos, mantê-los em boas condições. Elas são um serviço. Atentar contra este serviço é crime: qualquer ameaça a sua integridade física é punida severamente, quer venha delas mesmas ou de outrem. Por isso, são confinadas em espaços ultra-seguros, numa rotina rígida que inclui todas as práticas que a medicina considera apropriadas antes, durante e depois de uma gravidez. A vida destas mulheres vale menos do que os óvulos ainda não fecundados em seus ovários, e menos ainda do que a existência da potencial pessoa, ainda em forma de feto enquanto estão grávidas. O cenário de horror que descrevo foi inspirado no livro O Conto da Aia (The Handmaid’s Tale), de Margaret Atwood. Está longe da ficção, porém: a legislação brasileira pode instaurar o mesmo tipo de contexto se algo não for feito rápido. Muito rápido. O Projeto de Lei 478/2007, “Estatuto do Nascituro” (acesse na íntegra aqui), tramita na Câmara Federal e deve ir a votação dentro de pouco tempo. Já em seus primeiros parágrafos define que “o ser humano” começaria “na concepção”. Um erro crasso, já que a própria legislação brasileira, que proíbe o aborto, permite a pílula do dia seguinte. A pílula do dia seguinte não permite que o óvulo fertilizado se fixe nas paredes do útero e, se esse óvulo fertilizado já é vida (segundo as correntes religiosas que endossam esse projeto de lei), a pílula do dia seguinte seria o equivalente a um assassinato. Ejaculação também. É neste tipo de distorção que o Estatuto do Nascituro se baseia. Uma discussão muito lúcida sobre essa suposta “defesa da vida” está no texto “Aborto: é possível ser pró-vida e pró-escolha ao mesmo tempo?” do conhecido cientista Carl Sagan (leia aqui). O texto do PL defende que o “nascituro” (ou seja, algo que pode ser um embrião ou um feto em qualquer estágio de desenvolvimento, pois não há especificação alguma sobre isso no projeto) tenha direito à vida (antes de nascer estaria ele morto?), à educação (intra-uterina?), à saúde (porque, afinal de contas, a saúde da grávida não importaria tanto, se não fosse pelo embrião ali dentro), à alimentação (alguém já viu grávida fazer greve de fome? Seria crime então uma mulher que passa fome engravidar, se esse PL fosse aprovado?), entre outras barbaridades e incongruências. Ao fazê-lo, coloca o embrião e o feto enquanto sujeitos de direitos numa posição mais alta do que as próprias mulheres grávidas na hierarquia de quem “merece” mais direitos e proteção do Estado e da sociedade. A função da pessoa grávida passa a ser interesse público, como se ela estivesse prestando um serviço à sociedade. No artigo 8º chega a ser ridícula a proposição de que seria dever do SUS tratar o “nascituro” em condições iguais às de uma criança. Os artigos 9º e 10º buscam enfatizar que todo embrião ou feto necessariamente tem que nascer, mesmo que não haja expectativa de vida fora do útero, como no caso dos anencéfalos cujo aborto já é entendido como legal no Brasil. Mais à frente, o artigo 13º é o que talvez represente o retrocesso mais odioso de todo o PL: propõe que todo embrião ou feto concebido a partir de estupro (que eles têm a “delicadeza” de chamar apenas de “violência sexual” no texto) também tenha que nascer. Este artigo ignora completamente a situação de violência vivida pela pessoa grávida e oferece uma pensão durante o primeiro ano de vida. Um suborno estatal para que pessoas que foram estupradas não façam aborto. O texto ainda é recheado de punições penais desproporcionais caso as pessoas grávidas (que, neste escopo, se tornariam menos pessoas ao se tornarem grávidas) não sigam essa cartilha do bom comportamento, que não apresenta sequer critérios específicos como parâmetro do que “causa mal” ao tal “nascituro”, do que seria “negligência”, etc. uma vez que nem mesmo na medicina há consenso sobre que práticas são melhores ou piores para um feto em gestação. Há risco real de estas atrocidades serem aprovadas em breve. Por este motivo os movimentos de mulheres tomaram a dianteira em organizar um abaixo-assinado nacional que mostre, nas audiências públicas e gabinetes de políticos, que a sociedade brasileira desaprova essa tutela; que entende que um projeto de lei como esse é uma ameaça muito grave aos direitos humanos de mulheres. Embora uma assinatura num documento digital pareça pouco, vale lembrar que a opinião pública ainda tem algum peso (ainda bem) na atuação de vários representantes e instituições. É o mínimo, mas o mínimo precisa ser feito. A declaração geral do abaixo assinado, mostrando pontos cruciais de retirada de direitos que essa legislação prevê, pode ser lida aqui. No mesmo endereço, você também pode contribuir com sua assinatura no documento. O livro de Margaret Atwood é terrível. Terrível por ser verossímil, se não agirmos rápido para garantirmos direitos básicos que não deveriam sequer estar em disputa. Ela descreve, na distopia que nos horroriza, a relação que as aias, servas reprodutivas, têm com o sexo obrigatório oferecido aos Comandantes – homens em altas posições sociais, para quem trabalham. “Minha presença aqui é ilegal. É proibido para nós ficarmos sozinhas com os Comandantes. Nós servimos para procriar: não somos concubinas, gueixas, cortesãs. Pelo contrário: o máximo possível foi feito para nos tirar destas categorias. Não deve haver nada de interessante em nós, não deve haver espaço para a luxúria; nenhum favor deve ser trocado, por nós ou por eles, e não deve haver brechas para o amor. Somos úteros com pernas, apenas: invólucros sagrados, cálices ambulatoriais.”[1] – [1] Margaret Atwood, The Handmaid’s Tale (“O Conto da Aia”), capítulo 23, tradução livre. (carta Maior)

Veríssimo

Para se roubar um coração, é preciso que seja com muita habilidade, tem que ser vagarosamente, disfarçadamente, não se chega com ímpeto, não se alcança o coração de alguém com pressa. Tem que se aproximar com meias palavras, suavemente, apoderar-se dele aos poucos, com cuidado. Não se pode deixar que percebam que ele será roubado, na verdade, teremos que furtá-lo, docemente. Conquistar um coração de verdade dá trabalho, requer paciência, é como se fosse tecer uma colcha de retalhos, aplicar uma renda em um vestido, tratar de um jardim, cuidar de uma criança. É necessário que seja com destreza, com vontade, com encanto, carinho e sinceridade. Para se conquistar um coração definitivamente tem que ter garra e esperteza, mas não falo dessa esperteza que todos conhecem, falo da esperteza de sentimentos, daquela que existe guardada na alma em todos os momentos. Quando se deseja realmente conquistar um coração, é preciso que antes já tenhamos conseguido conquistar o nosso, é preciso que ele já tenha sido explorado nos mínimos detalhes, que já se tenha conseguido conhecer cada cantinho, entender cada espaço preenchido e aceitar cada espaço vago. ...e então, quando finalmente esse coração for conquistado, quando tivermos nos apoderado dele, vai existir uma parte de alguém que seguirá conosco. Uma metade de alguém que será guiada por nós e o nosso coração passará a bater por conta desse outro coração. Eles sofrerão altos e baixos sim, mas com certeza haverá instantes, milhares de instantes de alegria. Baterá descompassado muitas vezes e sabe por que? Faltará a metade dele que ainda não está junto de nós. Até que um dia, cansado de estar dividido ao meio, esse coração chamará a sua outra parte e alguém por vontade própria, sem que precisemos roubá-la ou furtá-la nos entregará a metade que faltava. ... e é assim que se rouba um coração, fácil não? Pois é, nós só precisaremos roubar uma metade, a outra virá na nossa mão e ficará detectado um roubo então! E é só por isso que encontramos tantas pessoas pela vida a fora que dizem que nunca mais conseguiram amar alguém... é simples... é porque elas não possuem mais coração, eles foram roubados, arrancados do seu peito, e somente com um grande amor ela terá um novo coração, afinal de contas, corações são para serem divididos, e com certeza esse grande amor repartirá o dele com você. Luís Fernando Veríssimo

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Síria

Rebeldes sírios se aproximam do maior troféu E-mail Escrito por Robert Fisk Sexta, 20 de Julho de 2012 Agora foram na jugular. O cunhado do presidente, o ministro da Defesa, uma bomba de destruição massiva colocada perto, ou talvez dentro dos quartéis militares encabeçados pelo irmão do mandatário. Os assassinatos levam tempo, mas esse foi de escala épica, para se colocar no mesmo nível do banho de sangue que ocorre em toda a Síria. A irmã do presidente Bashar Assad, Bushra, um dos pilares do partido Baaz, perdeu seu esposo em uma potente explosão, muito perto do centro de Damasco. Com razão, os russos falam da batalha decisiva. Não será uma recreação de Stalingrado, mas os tentáculos da rebelião chegaram perto do coração. E, a partir disso, há matanças por vir. Por qual outra razão teriam fugido nesta quarta-feira milhares de cidadãos sírios até o acampamento de refugiados palestinos de Yarmouk, a fim de buscar a proteção dos cidadãos mais traídos do mundo árabe? Existe suficiente ódio para continuar este selvagem ataque contra o governo sírio. Faz oito meses, durante uma manifestação de massa a favor do regime, no distrito de Rawda, que passei caminhando junto ao quartel de inteligência e segurança que foi destruído nesta quarta. Naquele momento, um amigo sírio o olhou com desolação. A tortura ocorre sob a terra, as pessoas sequer sabem o que se passa ali, me disse. Porém, qualquer um que tivesse saído dali mataria com prazer aqueles que o atormentaram, em especial o chefe dos torturadores. A fúria do povo aceitará de bom grado um ou dois dos escolhidos do governo. Foi um gesto típico o fato de que, em seu desespero por preencher o vazio deixado pelos assassinatos de quarta, o regime designasse o anódino Fahd Jassim Frayj para ocupar a vaga no Ministério da Defesa; ele é um homem originário de Hama, o centro das maiores rebeliões contra os governantes sírios. Nós, ocidentais, temos o hábito de sempre ver o Oriente Médio através de nossa própria cartografia. O Oriente Médio está a leste, não é? Mas girem o mapa e se darão conta da proximidade da Síria dos chechenos muçulmanos até hoje em busca de sua redenção. Não é de se estranhar que Moscou tema tanto uma rebelião na Síria. O velho Hafez Assad, pai de Bashar, costumava se preocupar, em seus últimos anos, com que uma revolta em seu país pudesse tomar a forma de um terrível conflito ao qual ele se mantinha atento diariamente pela televisão: o da ruptura da Iugoslávia laica, cujas divisões sectárias eram surpreendentemente similares às que vive hoje a Síria. Curiosamente, apesar das degolações, das matanças de civis pelas mãos de milícias e dos assassinatos de crianças (que parecem um paralelo da guerra que nos anos 90 castigou o país que se pôs ao lado de Damasco durante a guerra da Argélia), as impactantes cenas que se vêem atualmente na Síria não refletem a barbárie da Bósnia, Croácia e Sérvia. O que Bashar pode fazer agora? Outro amigo sírio me fez uma pergunta interessante por esses dias: Suponhamos que o presidente xiita alauíta Bashar decida fugir, me disse. Assim, seria levado ao aeroporto por um coronel alauíta. Você acha que este o deixaria partir? Duvido. Assim, temos tristes previsões. Sim, Bashar poderia se aferrar ao poder mais tempo do que acreditamos. Não irá embora, e seu irmão Maher, que encabeça a assim chamada Quarta Brigada, talvez seja um assunto diferente. Mas do palácio presidencial podem-se escutar os tanques e tiroteios que têm lugar em uma das cidades habitadas mais antigas do mundo; esses são dias sem precedentes. Inclusive, a televisão síria se viu obrigada várias vezes a dizer a verdade nesta quarta. O veredicto? Bashar al Assad vai sair, porém, ainda está lá. Robert Fisk é jornalista e escreve no diário inglês The Independent. Tradução para o espanhol de Gabriela Fonseca, La Jornada, e para o português de Gabriel Brito, Correio da Cidadania. Para ajudar o Correio da Cidadania e a construção da mídia independente, você pode contribuir clicando abaixo.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Israel

Israel se fecha dentro de seus próprios muros por Jillina Kestler-D’Amours, da IPS Israel Israel se fecha dentro de seus próprios muros O acampamento de refugiados palestinos de Shuafat pode ser visto do outro lado do muro que o separa do assentamento israelense de Pisgat Zeev. Foto: Jillian Kestler-D’Amours/IPS Jerusalém, Israel, 23/7/2012 – Israel continua construindo muros e barreiras ao longo de praticamente cada uma de suas fronteiras. Analistas afirmam que suas políticas isolacionistas e sua falta de disposição para tratar com os palestinos e outros vizinhos árabes por meios que não sejam métodos coercitivos fazem prever um desastre. “Por um lado, estamos encerrando os palestinos dentro de uma muralha, e, por outro, se olharmos o panorama mais amplo do Oriente Médio, vemos que é Israel que se encerrou entre muros, é esta ilha que está perdendo contato com seus vizinhos”, analisou o acadêmico e escritor israelense Neve Gordon. A “barreira de separação” de oito metros de altura entre Israel e Cisjordânia (e que a maioria dos palestinos chama de “muro do apartheid”) agora está em seu décimo ano de construção. Até abril deste ano, estavam completados quase 62% (434 quilômetros) da extensão total prevista. Em junho, Israel anunciou que a construção recomeçaria em um setor da muralha no assentamento judeu de Gush Etzion, perto da cidade de Belém, na Cisjordânia. A previsão é que a construção do trecho em torno de Ma’ale Adumim – uma das maiores colônias, localizada perto de Jerusalém – comece no próximo ano. “Seja o que for que exista do outro lado do muro, é um monstro, um desconhecido, é algo que se teme. Isto definitivamente aumenta o grau de animosidade, ódio e assim sucessivamente, porque é algo desconhecido e atemorizante”, alertou Gordon à IPS. O governo israelense justifica a muralha argumentando que é uma maneira de proteger os civis israelenses da violência palestina. Por sua vez, os palestinos afirmam que o muro, que se interna profundamente na Cisjordânia ocupada, é um meio para que Israel confisque mais terras. Ao final de sua construção, a muralha terá anexado 530 quilômetros quadrados de terras palestinas, equivalentes à área de Chicago, a terceira maior cidade dos Estados Unidos, segundo a organização palestina de direitos humanos Al Haq. No entanto, a campanha de Israel para erguer barreiras à sua volta não termina na muralha da separação. A construção de um muro de 230 quilômetros ao longo da fronteira sul de Israel com o Egito avança em ritmo frenético, em uma tentativa de manter fora os solicitantes de asilo procedentes da África. Ironicamente, os próprios solicitantes de asilo em Israel, que agora somam aproximadamente 60 mil, participam da construção do muro e de sua infraestrutura. A maioria deles chegou ao Estado judeu através do egípcio deserto do Sinai. “Sinto como se fizesse algo contra mim”, confessou Mohammad Anur Adam, um refugiado de Darfur de 29 anos, que passou oito meses construindo uma estrada que o exército e a polícia israelenses usarão para patrulhar o muro. “Não há trabalho, por isso faço isso”, explicou Adam à IPS, em sua casa em Eilat, a cidade mais ao sul de Israel, a poucos quilômetros da fronteira egípcia. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou que a muralha é necessária para manter relações pacíficas com o Egito. “Para continuar a paz, deve haver segurança, e para isso é necessário um muro”, afirmou, acrescentando que “sua rápida construção é importante, tanto para a paz como para a segurança”. No começo deste ano, Netanyahu anunciou que, apenas completado o muro ao longo da fronteira com o Egito, Israel construirá na fronteira com a Jordânia. Mesmo antes deste anúncio, o rei Abdalá II, da Jordânia, afirmou, em uma entrevista publicada em setembro de 2011 no The Wall Street Journal, que “Israel precisa decidir: quer ser parte da vizinhança ou quer ser a fortaleza Israel?”. Segundo o historiador israelense Ilan Pappé, essa mentalidade “de fortaleza” não é nova, e é produto do pensamento sionista da primeira hora. “O primeiro impulso sionista, e depois israelense, não era ser parte do Oriente Médio, mas pertencer à Europa”, explicou Pappé à IPS, em entrevista feita por correio eletrônico. “E, tenha inimigos reais ou imaginários em seu próprio Estado ou nas fronteiras do Estado, a sociedade judia israelense deseja encerrar-se voluntariamente, para não se misturar com os palestinos ‘primitivos’ ou com o entorno árabe”, pontuou Pappé. A mentalidade de sítio israelense obriga o Estado a tratar com seus vizinhos somente pela força, o que, por sua vez, o isola ainda mais do Oriente Médio mais amplo, observou. “Derrubar as muralhas reais e imaginárias é algo que só poderá ser feito quando Israel, que absurdamente é a potência militar mais forte da região, for suficientemente valente para abandonar alguns de seus privilégios e ser um Estado mais igualitário e aceitar que é parte do Oriente Médio, de seus problemas e suas soluções”, ressaltou Pappé. Em junho, as autoridades israelenses terminaram de construir um muro de sete metros de altura separando o país do Líbano. A muralha, equipada com câmeras e sensores para detectar movimentos, tem 1,2 mil metros. Envolverde/IPS (IPS)

Torturas

O general francês que veio ensinar a torturar no Brasil O general francês Paul Aussaresses, promotor do uso da tortura na guerra colonial da Argélia, foi adido militar no Brasil entre 1973-1975 e instrutor no Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), em Manaus, criado por oficiais brasileiros formados na não menos famosa Escola das Américas. Amigo do ditador João Figueiredo e do delegado Sérgio Fleury, Aussaresses já admitiu em livros e entrevistas a morte de um mulher sob tortura em Manaus, que teria vindo ao Brasil para espionar Figueiredo, e que a ditadura brasileira participou ativamente do golpe contra Allende. O artigo é de Eduardo Febbro. Eduardo Febbro - Paris Paris - “A tortura é eficaz, a maioria das pessoas não aguenta e fala. Depois, da maioria dos casos, nós os matávamos. Por acaso isso me colocou problemas de consciência? Não, a verdade é que não”. O autor dessa “confissão” é uma peça-chave da estratégia repressiva de prisões, torturas e desaparecimentos aplicada no sul da América Latina a partir dos anos 70. Trata-se do general francês Paul Aussaresses, ex-adido militar francês no Brasil (1973-1975), chefe do batalhão de paraquedistas, ex-combatente na Indochina, ex-membro da contra espionagem francesa, herói da Segunda Guerra Mundial, fundador do braço armado dos serviços especiais, promotor do uso da tortura durante a guerra colonial na Argélia e, sobretudo, instrutor das forças especiais norte-americanas em Fort Bragg, o famoso centro de treinamento da guerra contra insurgente, e no Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), em Manaus, criado por oficiais brasileiros formados na não menos famosa Escola das Américas, onde se formaram todos os militares latino-americanos que cobriram de sangue os anos 60, 70 e 80. Paul Aussaresses é uma das espinhas dorsais da exportação da tortura e dos desaparecimentos, dois modelos herdados da guerra da Indochina a da Argélia e difundidos depois em todo o continente americano por um compacto grupo de oficiais francesas do qual Aussaresses foi um dos mais ativos representantes. Paul Aussaresses abriu muitos de seus segredos em várias ocasiões: em 2000, em uma explosiva entrevista publicada pelo Le Monde, onde reconheceu o uso da tortura; em três livros, “Não disse tudo, últimas revelações a serviço da França” (2008), “Serviços especiais, Argélia 1955-1957, meu testemunho sobre a tortura” (2001), “Por França, serviços especiais 1942-1954” (2001); e ainda em um documentário filmado em 2003 por Marie-Monique Robin, “Esquadrões da Morte, a escola francesa” (ver vídeo acima). O fio condutor desta internacional da tortura da qual Aussaresses é um dos braços começa na Indochina, segue na Argélia e termina com o Plano Condor, cuja gestação, através de uma longa série de reuniões entre os militares da América do Sul e os instrutores franceses, se gestou entre 1960 e 1974. Sua primeira estrutura se chamou Agremil. O general francês expandiu pelo mundo os ensinamentos de um dos papas da guerra moderna: o tenente coronel Roger Trinquier, o maior teórico da repressão em zonas urbanas: torturas, incursões noturnas, desaparecimentos, busca da informação por todos os meios, operações de vigilância, divisão das cidades em zonas operacionais. Em seus anos de adido militar no Brasil, Paul Aussaresses foi, segundo suas próprias palavras, um “bom amigo” de João Baptista Figueiredo, ex-ditador e ex-chefe dos serviços secretos, o SNI, e também de Sérgio Fleury, chefe dos “esquadrões da morte”. Em seu período como instrutor no CIGS, em Manaus, ensinou aos oficiais brasileiros e latino-americanos que faziam formação ali tudo o que havia feito na Argélia. Segundo o general francês o embaixador francês daquela época, Michel Legendre, estava perfeitamente a par do que ele fazia em Manaus. Segundo precisou Aussaresses, no CIGS se formaram “oficiais brasileiros, chilenos, argentinos e venezuelanos porque era um centro único na América Latina”. Como prova disso, no documentário de Marie-Monique Robin “Esquadrões da Morte, a Escola Francesa”, o chileno Manuel Contreras, chefe da DINA, reconheceu ter enviado a cada dois meses contingentes inteiros de agentes da DINA para o centro de treinamento brasileiro em Manaus. Paul Aussaresses também trabalhou na Escola de Inteligência de Brasília, onde formou muitos oficiais. Entrevistado pela Folha de São Paulo em 2008, o general se mostrou mais loquaz do que quando o juiz francês Roger Leloir o interrogou a propósito de seu conhecimento do Plano Condor e das atividades dos conselheiros militares franceses na Argentina, Uruguai, Paraguai e Brasil. Na entrevista à Folha de São Paulo, Aussaresses reconhece que o Brasil participou ativamente do golpe militar contra o presidente chileno Salvador Allende mediante o envio de armas e aviões. Também evoca o que já havia contado em seu último livro, “Não disse tudo, últimas revelações ao serviço da França”, a saber, a morte sob tortura, em Manaus, de uma mulher que, segundo João Figueiredo, havia vindo ao Brasil para espioná-lo. O general francês assegura que a morte daquela mulher foi “um ato de defesa”. Para Aussaresses, “a tortura se justifica se pode evitar a morte de inocentes”. Aussaresses não foi o único militar de alta patente que confessou o recurso sistemático da tortura durante a guerra colonial da Argélia e, particularmente, no que ficou conhecido como “A Batalha de Argel”. Esses episódios de tortura foram amplamente narrados pelo jornalista e político franco-argelino Henri Alleg em vários livros, entre eles “Guerre d’Algérie: Mémoires parallèles”. O que Alleg conta ocorreu quando o general Jacques Massu foi enviado para a Argélia e começou a aplicar a estratégia do terror. Massu foi o segundo oficial a confessar o que mais tarde se expandiria pelo sul da América. Tradução: Katarina Peixoto (Carta Maior)

Veríssimo

Dez Coisas que Levei Anos Para Aprender 1. Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa pessoa. 2. As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas. 3. Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance. 4. A força mais destrutiva do universo é a fofoca. 5. Não confunda nunca sua carreira com sua vida. 6. Jamais, sob quaisquer circunstâncias, tome um remédio para dormir e um laxante na mesma noite. 7. Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual a raça humana ainda não atingiu (e nunca atingirá) todo o seu potencial, essa palavra seria "reuniões". 8. Há uma linha muito tênue entre "hobby" e "doença mental". 9. Seus amigos de verdade amam você de qualquer jeito. 10. Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário construiu a Arca. Um grande grupo de profissionais construiu o Titanic. Luís Fernando Veríssimo

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Angola

Bom Dia Camaradas, de Ondjaki: um panorama íntimo de angola em Literatura por Danilo Lovisi em 20 de jul de 2012 às 20:53 O romance "Bom dia camaradas" (2001), do escritor angolano Ondjaki, traça um panorama íntimo de angola, construído através da narrativa de uma criança imersa em antigamentes. Thumbnail image for bomdia.jpg O romance Bom dia camaradas, do escritor angolano Ondjaki, nos apresenta uma Angola pós-independência, através de uma história ambientada na Luanda da década de 80. Um panorama íntimo que tem como condutor um narrador infantil, adequadamente consciente e não demasiado lírico: a justa medida que apreende o leitor sensível e interessado logo nas primeiras páginas. O termo panorama íntimo se dá pelo caráter interno e memorialístico que transpira da história, provavelmente pela forma como é apresentada: através de uma criança da classe média, construindo sua consciência política e existencial, envolta – mesmo inserida numa classe um pouco mais elevada – envolta, invariavelmente, numa realidade social densa, pitoresca, mas não por isso menos viva e aberta ao lírico. Além disso, há elementos da própria construção narrativa que já nos colocam, queiramos ou não (no fundo, é uma escolha do leitor), dentro dessa realidade, desse fragmento ficcional. A história começa dentro da casa, na cozinha, e o garoto-narrador (sem nome) pergunta ao personagem António: “Mas camarada António, tu não preferes que o país seja assim livre?” – essa pergunta, carregada de cunho político, na voz de uma criança, dá todo – ou quase – o tom do restante do livro, pois Ondjaki consegue, de forma natural, diluir o discurso político na fala infantil e, utilizando da flexibilidade e da natural presença do lirismo na infância, mescla parte da narrativa com belíssimos momentos poéticos, amenizando, de certa forma, passagens brutais e frias, impossíveis de ignorar em se tratando daquela (e por que não da atual) realidade social de Luanda. Acompanhando o ano letivo do garoto, a história é tecida, mesclando os afazeres escolares com os acontecimentos inerentes à realidade de Luanda. Como a ida dos estudantes à rádio local, onde supostamente apresentariam seus próprios textos, mas são impelidos à ler um certo papel datilografado, demonstrando, de forma sutil, a imposição política ainda viva naquele tempo; ou o quase fuzilamento do garoto e sua tia (que vem de Portugal para uma visita, portanto não inserida na cultura do medo fortemente instaurada em Luanda) simplesmente por não estarem – por pouco! – em posição de sentido na passagem do carro do então presidente; ou as passagens tragicômicas, sendo a melhor de todas, a descrição da cena da professora de inglês – que tinha algum problema na perna – correndo, junto aos estudantes desesperados, de um suposto grupo reacionário que estaria invadindo a escola. ondjaki1.jpg [Tchissola, Lelinha, Ndalu, Kiesse e Dilo. Personagens de “Bom dia camaradas”.] Tudo isso, e muito mais, construído através de um vocabulário peculiar ao leitor estrangeiro, por razão da inserção de inúmeras palavras e expressões originalmente africanas (mas detalhadamente explicadas num glossário ao final da bem cuidada edição da Agir), ali inseridas de forma talvez excessiva, mas presentes nessa quantidade por uma questão, talvez, política, relacionada à um ideário de propagação da cultura angolana/africana através da língua. E é exatamente sobre língua e linguagem que prosseguimos, pois é interessante ressaltar que as imagens evocadas pelas palavras utilizadas e as descrições delicadamente elaboradas pelo narrador, nos remetem a uma fotografia sépia, porém tão nítida e real que parece estar em alto relevo, sendo possível quase tocar suas texturas; ou nos lembram uma gravação antiga de família, tão nostálgica e saudosa, que chega a ser capaz de nos fazer sentir o cheiro do almoço de domingo, ou de ver “a chávena à minha frente, o fumo que saía da chávena” e sentir “o cheiro do pão torrado, o cheiro da manteiga a derreter nele”, culminando em momentos de extremo lirismo: “mas o mais bonito era ver ali em frente o abacateiro. Vocês sabiam que o abacateiro também se espreguiça?”. ondjaki-3.jpg [o próprio Ondjaki sob o "abacateiro que se espreguiça"] O romance, então, além de nos evocar reações várias, também promove reflexões substanciais. Sobre isso, é interessante basear na premissa de que a literatura africana por vezes se divide na literatura do mar e na literatura do deserto, sendo a primeira caracterizada pela busca do/no outro, pela ânsia do novo e do real, e a segunda, associada a reflexões mais internas, relacionadas ao eu. O que promoveria, então, a literatura proveniente do meio urbano? Talvez, uma imposição: ou conscientiza-se hibridamente (o eu, o todo e o além) ou aliena-se, seja pelo senso comum, ou pela fuga do real – ações estas extremamente compreensíveis, devido à realidade lá encontrada. Bom dia camaradas é, portanto, um romance capaz de promover no leitor desde momentos de sincero riso, perpassando por sagazes captações de lirismo em meio ao caos, até reflexões sociológicas e políticas, sem cair no meio panfletário, por razão da justa palavra, da justa descrição, mediada por um narrador atento, objetivo, sensível e imerso em seus antigamentes, que embora já passados, são capazes de dialogar de forma simples, direta, e por ora despretensiosa – como numa conversa entre crianças e adultos – com um presente ainda carente de respostas, definições, e diálogos. Diálogos entre camaradas. danlovisi Artigo da autoria de Danilo Lovisi. Tem nas expressões culturais humanas grande interesse e procura, através delas, entender (ou encontrar mais perguntas) sobre a sua, ou alguma, existência.. Saiba como fazer parte da obvious. mais artigos Leia mais: http://lounge.obviousmag.org/entre_os_atos/2012/07/b.html#ixzz21KT9un8p

Cuba

A Revolução Cubana resiste! Posted: 20 Jul 2012 04:58 PM PDT Leia em nosso site: A Revolução Cubana resiste! Em visita a Cuba, cinco pernambucanos – dos quais três amigos do Centro Cultural Manoel Lisboa (CCML) – fizeram rotas “alternativas” às rotas turísticas normalmente apresentadas aos visitantes. Optaram por percorrer os íngremes caminhos da revolução abertos por Fidel, Che e Raúl, especialmente nas quebradas da famosa Sierra Maestra. De volta, depois de 4.570 quilômetros percorridos, trouxeram ao CCML as suas percepções do que viram e sentiram ao lado do bravo povo cubano. Araújo, Jaime, Rosa, Lucimar e Angélica passaram 32 dias andando e conversando com o povo por todo o território de Cuba e, entre as impressões mais marcantes, destacaram as de que a revolução permitiu de fato a independência daquele povo que luta de forma abnegada e permanente em defesa das conquistas da sua revolução. Entre as andanças pelo país, os amigos não poderiam deixar de participar da marcha do 1º de Maio na Praça da Revolução, que este ano teve como tema “Preservar e aperfeiçoar o socialismo”. Registraram na marcha, ainda, manifestações de apoio aos cinco heróis cubanos prisioneiros do império norte-americano. Um país de dimensões geográficas pequenas, com um território semelhante ao de Pernambuco, com uma economia extremamente limitada que tem por importante suporte a exploração turística e que sofre um embargo econômico de mais de meio século, imposto pala maior potência militar da terra, os Estados Unidos, consegue manter o seu povo com um alto índice de educação, cultura, prática esportiva e um grande respeito à cidadania e ao sentimento de solidariedade humana. A mulher é tratada, como de fato esperávamos numa nova sociedade, com dignidade, liberdade e respeito, podendo andar nas ruas a qualquer hora do dia ou da noite sem medo dos assédios ou de outros tipos de violência tão comuns em nossa sociedade capitalista. São, de um modo geral, baixíssimos os índices de violência – para se ter uma ideia mais clara, é indispensável estudar o significado do registro de oito assassinatos por ano em todo o país, com uma população de 11 milhões de habitantes, situado a 90 milhas dos EUA, onde existem as maiores taxas de violência e a maior população carcerária do mundo. Ao indagar sobre a condição da juventude, daqueles que não participaram da tomada do poder pela revolução, suas condições, seus sentimentos, suas atitudes perante a ideologia da revolução socialista, tendo em vista tantas transformações sociais e tecnológicas no mundo, afirmaram os companheiros existirem fortes exemplos de “homens novos” que servem de referência para a juventude, como são os cinco patriotas cubanos presos nos EUA por defenderem a revolução dos ataques terroristas da extrema direita cubana residente em Miami. À juventude e às crianças é dada especial atenção em relação à educação, à cultura e aos esportes. Desde o nascimento, quando é concedida licença-maternidade de um ano, sendo os seis primeiros meses concedidos diretamente à mãe e os seis meses restantes sob decisão do casal, quando estes em conjunto decidem quem cuidará da criança; posteriormente, a partir de 1 e até os 5 anos de idade, às crianças é assegurado o acesso às creches durante todo o dia. Na escola regular, as crianças passam o dia. Têm acesso assegurado às universidades, onde ingressam avaliadas por seu mérito, além de terem garantido o primeiro emprego com a conclusão de seus cursos. Têm ainda alto índice de acesso à cultura e esporte, em que têm encaminhamento assegurado às escolas especializadas, de acordo com seu desempenho. Não é diferente o cuidado com o acesso à escola, que é garantido, sendo, inclusive, os transportes de melhores condições destinados para este fim. Ao final da visita ao CCML, os companheiros transmitiram o sentimento de “terem retornado de Cuba mais socialistas do que quando partiram daqui” e guardaram o sentimento de que a revolução cubana, mesmo com tantas conquistas importantes, não é um paraíso, pois tem vários problemas de ordem econômica e política, em parte devidos ao terrível bloqueio econômico imperialista dos EUA, há mais de 50 anos. Entre outros problemas, que não sabemos ainda como serão resolvidos: as reformas econômicas recentes, ao permitirem a exploração privada de algumas atividades (restaurantes, pousadas) e a contratação de trabalhadores por esses neocapitalistas, reintroduziram em Cuba a apropriação privada da mais-valia nessas atividades. Terão os cubanos a sabedoria de, no seu devido tempo, corrigir essas distorções, tal como souberam fazer os bolcheviques na época da Nova Economia Política na Rússia? Bem, esta é uma grande interrogação, mas, enquanto não a resolvemos, é certo afirmar que os povos de toda a América têm muito a aprender com o revolucionário povo cubano. Thays Santos, Recife (A Verdade)
O Dragão pousa (de vez) na África Posted on 20 de julho de 2012 by Hugo Albuquerque Os presidentes da África do Sul (Jacob Zuma) e China (Hu Jintao) Em meio à crise mundial, China oferece US$ 20 bi em créditos aos africanos, consolida-se como maior parceiro comercial do continente e esnoba europeus e norte-americanos Por Hugo Albuquerque O presidente chinês, Hu Jintao, é o anfitrião da 5ª Conferência Ministerial do Fórum para Cooperação China-África (FOCAC na sigla em inglês), que começou quarta-feira (18/7) em Beijing. Já ao receber seus convidados, produziu um gesto bombástico: anunciou a abertura de uma linha de crédito de 20 bilhões de dólares, pelos próximos três anos, para os países africanos. Os chineses, que inventaram os fogos de artifício e a pirotecnia, não os usam em arroubos grandiosos e vazios — mas apenas para marcar algo de importância estratégica. Com este gesto, não foi diferente. A quantia anunciada gira em torno de 1% do Produto Interno Bruto africano. É de fundamental importância, seja pelas circunstâncias da economia mundial (sobretudo, um mercado internacional de crédito extremamente instável), quanto pelo contexto no qual ele está inserido, que é de um intercâmbio não só comercial como geoestratégico entre ambas as partes. O exame da oferta de Hu Jintao sugere que a China não está interessada em mera exploração de recursos naturais — minérios e, sobretudo, petróleo — africanos. Sua iniciativa equivale a um certo keynesianismo militante e poderia ser comparada, vagamente, ao Plano Marshall. Beijing usará uma pequena parcela dos enormes recursos que estocou (reservas superiores a 3 trilhões de dólares, mais que todo o PIB africano) para construir infra-estrutura e disponibilizar crédito. Naturalmente, também espera abrir mercados para seus produtos, num continente onde há demanda reprimida de tudo e, em consequência, possibilidade de imensos negócios futuros A parceria, além disso, tira proveito de uma oportunidade. Diversas regiões da África vivem, há cerca de dez anos, um espécie de renascimento econômico. Duas décadas de depois do fim da Guerra Fria, o continente volta a ter importância estratégica e a atrair atenção de norte-americanos, europeus e chineses. Por que a China, agora? Porque ela sempre esteve ali, desde os tempos das guerras de descolonização, dentro do contexto da luta contra o imperialismo pela perspectiva dos países não-alinhados. Porque os líderes chineses não estão preocupados, em seu pragmatismo, em confrontar ou modificar as elites africanas, sua forma de pensar e agir. Finalmente, porque o modelo de integração proposto por Beijing é o único projeto realmente sólido até hoje apresentado aos africanos. Não à toa, todo o entusiasmo africano que beira o propagandístico. O resultado prático é que a China já superou EUA e União Europeia como maior parceira comercial da Áfica, segundo informe da OCDE. A conferência em curso e as articulações do FOCAC são cruciais para a África do porvir, e também para China, em tudo o que isso pode significar. (Outras Palavras)

domingo, 22 de julho de 2012

Dona Europa e suas filhas Imprimir E-mail Escrito por Frei Betto Qui, 19 de Julho de 2012 Dona Europa livrou-se, há séculos, da tutela do Senhor Feudal, ao qual esteve submetida ao longo de mil anos. Cabeça feita por Copérnico, Galileu e Descartes, casou-se com o Senhor Moderno Liberal e montou casa no bairro da Democracia. Dona Europa puxou o tapete dos nobres, deu um chega pra lá no papa e elegeu governos constitucionais que trocaram a permuta pela moeda, evitaram fazer uso de mão de obra escrava, transformaram antigos camponeses em operários merecedores de salários. Dona Europa passou a nutrir ambições desmedidas. Fitou com olho gordo no imenso mapa-múndi que enfeitava a sala de sua casa. Quantas riquezas naquelas terras habitadas por nativos ignorantes! Quantas áreas cultiváveis cobertas pela exuberância paradisíaca da natureza! Dona Europa lançou ao mar sua frota em busca de ricas prendas situadas em terras alheias. Os navegantes invadiram territórios, saquearam aldeias, disseminaram epidemias, extraíram minerais preciosos, estenderam cercas onde tudo, até então, era de uso comum. Dona Europa praticou, em outros povos, o que se negava a fazer na própria casa: impôs impérios, reinados e ditadores; inibiu o acesso à cultura letrada; implantou o trabalho escravo; proibiu a industrialização; internacionalizou normas econômicas que lhes eram favoráveis, em detrimento dos povos alhures. Um dos povos de além-mar dominados por Dona Europa ousou rebelar-se em 1776, emancipou-se da tutela e se tornou mais poderoso do que ela – o Tio Sam. O professor Maquiavel ensinou à Dona Europa que, quando não se pode vencer o inimigo, é melhor aliar-se a ele. Assim, ela associou-se a Tio Sam para exercer domínio sobre o mundo. Dona Europa e Tio Sam acumularam tão espantosa riqueza que cederam à ilusão de que seriam eternos o luxo e a ostentação em que viviam. Tudo em suas casas era maravilhoso. E suas moedas reluziam acima de todas as outras. Ora, não há casa sem alicerce, árvore sem raiz, riqueza sem lastro. Para manter o estilo de vida a que se acostumaram, Dona Europa e Tio Sam gastavam mais do que podiam. E, de repente, constataram que se encontravam esmagados sob dívidas astronômicas. O que fazer? A primeira medida foi a adotada em turbulência de viagem de avião: apertar os cintos. Não deles, óbvio. Mas de seus empregados: despediram alguns, reduziram os salários de outros, deixaram de consumir produtos importados. Assim, a crise da dupla se alastrou mundo afora. Dona Europa e Tio Sam não são burros. Sabem onde mora o dinheiro: nos bancos. Tio Sam, ao ver o rombo em sua economia, tratou de rodar a maquininha da Casa da Moeda e socorreu os bancos com pelo menos US$ 18 trilhões. Dona Europa tem várias filhas. Segundo ela, algumas não souberam administrar bem suas fortunas. A formosa Grécia parece ter perdido a sabedoria. Gastou muito mais do que podia. O mesmo aconteceu com a sedutora Itália, a encantadora Espanha e a inibida Irlanda. Como o cofre da família é de uso comum, Dona Europa se cobriu de aflições. Puniu as filhas gastadoras e apelou à mais rica de todas, a severa Alemanha, para ajudá-la a socorrer as endividadas. A Alemanha é manhosa. Disse que só socorre as irmãs se puder controlar os gastos delas. O que significa cortar as asinhas das moças – o que em política equivale a anular a soberania. Soberana hoje, na casa de Dona Europa, só a pudica Alemanha. O resto da família é dependente e está de castigo. A mais cheirosa das filhas, a França, anda rebelde. Após aparecer de mãos dadas com a Alemanha, agora que arrumou namorado novo encara a irmã com desconfiança. Nós, aqui do sul do mundo, que ainda não cortamos o cordão umbilical com Tio Sam e Dona Europa, corremos o risco de ficar gripados se Dona Europa continuar a espirrar tanto, alérgica ao espectro de um futuro tenebroso: a agonia e morte do deus Mercado, cujos fiéis devotos mergulharam em profunda crise de descrença. Frei Betto é escritor, autor de “Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros. Website: www.freibetto.org Twitter: @freibetto. Copyright 2012 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Se desejar, faça uma assinatura de todos os artigos do escritor. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal(0)terra.com.br) Para ajudar o Correio da Cidadania e a construção da mídia independente, você pode contribuir clicando abaixo.

Militares

Publicado em 19/07/2012 Ordem do dia: Direita, volver Recife (PE) - Para quem acreditava que a ordem nos quartéis espelharia hoje a democracia do Brasil, para quem pensava que os crimes e torturas teriam ficado lá na ditadura, lugar onde não devem ser tocados ou lembrados, como insistem correntes militares, a notícia que dos jornais correu pela internet, há poucos dias, foi um choque além do pau de arara. Leiam com o sangue gelado, se puderem: “Soldados do quartel do 1º Batalhão da Polícia do Exército, onde funcionava o Doi-Codi na ditadura militar, corriam ontem pela manhã na rua Barão de Mesquita, no Rio, cantando: ‘Bate, espanca , quebra os ossos. Bate até morrer’. O instrutor então perguntava: ‘E a cabeça?’. Os soldados respondiam: ‘Arranca a cabeça e joga no mar’. No final o instrutor perguntava: ‘E quem faz isso?’. E os soldados respondiam: ‘É o Esquadrão Caveira!’.” Diante disso, dessa manifestação explícita de terror orientado, autoridades de farda acharam por bem tratar o caso em panos mornos, sob declarações de que um rigoroso inquérito viria, que tamanho absurdo era um fato isolado, que semelhante exibição não é seguido nem preconizado, etc. etc. E tudo parece que foi resolvido, e por resolução se entenda e imaginamos, por fruto da experiência vivida: subalternos são chamados entre quatro paredes para que não se mostrem assim em público, que se contenham, pois tal acinte é inconveniente agora, que há de ser discreto. Em círculos democráticos, de históricos resistentes da ditadura, houve sugestões de se pensar um projeto de lei que obrigasse aos quartéis o ensino de respeito a Constituição brasileira, pois dessa maneira cânticos bárbaros como os acima seriam enquadrados como incitação a crimes de lesa-humanidade. Tudo bem, achamos a ideia do projeto de lei ótima, mas o respeito à Constituição poderia terminar por ser um respeito formal para a sala da mídia, enquanto entre muros a música da Constituição entraria por um ouvido e sairia pelo outro. Algo como os dez mandamentos para todo religioso, que os segue pro forma. Creio que a ideia de proposta que mude esse escárnio deve se dirigir para a reformulação radical do ensino nas Escolas Militares. Como já observei em artigo anterior, nessas escolas de formação há um expurgo, um desaparecimento de vidas democratas, de assassinatos de presos políticos na ditadura. E assim se formam novos oficiais nas três forças, como se fossem a encarnação do Fantasma das histórias em quadrinhos. De geração a geração com o mesmo caráter, com o mesmo papel, a cavalgar em um cavalo branco pelo vazio histórico. De 1964 a 2012. Nos discursos mais comuns dos oficiais militares que pretendem eternizar uma Escola imune à democracia e à história dos homens, argumenta-se: a) os jovens brasileiros que não se formaram no Colégio Militar não pensam nem se instruem; b) a história vivida e produzida por intelectuais e doutores das universidades brasileiras não serve para o ensino militar. Não seria mais simples que proclamassem, como o general fascista na Espanha, “morte à inteligência”? Se aprofundamos a pesquisa, à procura da raiz dos cantos selvagens de mata e corta a cabeça na ordem-unida, podemos ver que a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército também se chama Escola Marechal Castelo Branco, até hoje. O militar golpista assim é apresentado no endereço Clique aqui “Castello Branco empreendeu todos os esforços contrários à implementação de um regime totalitário no país, sendo um dos líderes da Revolução Democrática de 31 de março de 1964. Eleito Presidente da República pelo Congresso Nacional, em 11 de abril de 1964, três dias depois foi promovido ao posto de Marechal, passando para a reserva”. Notem, é institucional. Esse perfil está lá na Escola de Comando do Exército brasileiro até esta quinta-feira 19 de julho de 2012. Ali, o governo João Goulart continua a ser chamado pelo codinome de regime totalitário, enquanto o golpe recebe a bela antonomásia de Revolução Democrática. Precisa dizer mais? Está aí uma das raízes do problema. Nas Escolas militares, no Alto Comando a ordem do dia tem sido até aqui: direita, volver. Mas para todos nós que ambicionamos um Brasil civilizado, a ordem deveria ser outra: democracia, volver. Urgente, antes que seja nunca. (Direto da Redação)

Hunter

Hunter S. Thompson: o doutor gonzo em literatura por Hugo Ferro em 18 de jul de 2012 às 13:21 Se não se tivesse suicidado com um tiro na cabeça, em 2005, Hunter S. Thompson faria agora 75 anos. Mais do que recordar um dos mais extravagantes escritores e jornalistas que o mundo conheceu, é também importante recordar a sua obra que rompeu com a maior parte das normas estabelecidas e mostrou novas formas de encarar o jornalismo e a literatura. HST-1.jpeg Conhecido pela escrita alucinada e extravagante, Hunter S. Thompson foi o criador do Gonzo Journalism, um estilo de jornalismo que mistura ficção e não-ficção e que integra o autor nas histórias que relata, deixando que sujeito e autor se confundam na narrativa. A sua obra mais conhecida é “Fear and Loathing in Las Vegas”. Hunter Stockton Thompson nasceu em Louisville, no Kentuchy, a 18 de Julho de 1937. Filho de pais alcoólicos, Hunter perdeu o pai aos 15 anos e tornou-se num adolescente problemático. Em 1956 foi preso e condenado por roubo. Antes de ser preso já tinha descoberto o interesse pela escrita e percebido que no futuro poderia ser escritor. Como parte da pena, Hunter Thompson foi alistado na Força Aérea. Depois do período de formação, Hunter procurou que o colocassem em funções relacionadas com a escrita e conseguiu um lugar no jornal da base onde estava colocado. Leu alguns livros sobre jornalismo e começou a escrever. Duas semanas depois, já tinha conquistado o respeito dos seus superiores hierárquicos e conseguiu alguns privilégios. No entanto, os assuntos que realmente lhe interessavam não podiam ser publicados num jornal com aquelas características, por isso, Hunter começou a escrever também num jornal local. hunter_thompson_air_force_journalist1.jpeg Quando saiu da Força Aérea, Hunter S. Thompson procurou emprego como jornalista, pegou em alguns dos seus artigos e concorreu a um emprego no Sports Illustrated. O director riu-se dele, dizendo-lhe que os jornalistas que ali trabalhavam não eram escolhido pelos seus trabalhos, mas sim pelos jornais onde os tinham publicado, que eram todos repórteres premiados e que aquele não era o local indicado para ele começar. Hunter tinha acabado de entrar na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, e pouco depois conseguiu um emprego como copiador na revista Time. Foi despedido por insubordinação. De seguida, trabalhou num jornal local no interior do estado de Nova Iorque, mas também foi despedido. Em 1960, mudou-se para San Juan, em Porto Rico, para trabalhar numa revista desportiva chamada El Sportivo. A revista teve uma vida curta e Hunter S. Thompson começou a trabalhar como freelancer. Escreveu para diversas publicações até conseguir arranjar um emprego fixo no National Observer, como correspondente na América do Sul. hunter-s-thompson.jpeg Quando regressou aos Estados Unidos, Thompson trabalhou como segurança e escreveu os seus dois primeiros romances: “Prince Jellyfish” e “The Rum Diary”. Conheceu Sandra Dawn Conklin, com quem se casou, em 1963, e de quem teve um filho. Dois anos depois, Hunter S. Thompson conheceu alguns elementos dos Hell’s Angels; quando o editor da publicação The Nation lhe pediu um artigo sobre gangues de motociclistas, Thompson entusiasmou-se, ganhou a confiança do grupo, e conseguiu passar cerca de um ano com eles. O resultado foi o livro “Hell´s Angels”, a sua obra de não ficção mais bem sucedida, lançada em 1967. tumblr_m7btxjjMQk1qa38yao1_1280.jpeg A partir da segunda metade dos anos 60, Thompson entrou num consumo desenfreado de drogas, sobretudo LSD e mescalina, sempre regado por grandes quantidades de álcool. Esse comportamento reflectiu-se no seu trabalho e deu origem àquilo que ficou conhecido como Gonzo Journalism. O primeiro artigo do género foi publicado em 1970 na revista Scanlan’s Monthly e tinha por título "The Kentucky Derby is Decadent and Depraved". Hunter devia escrever sobre uma corrida de cavalos, mas depois de passar quatro dias a beber, na altura de escrever o artigo, não sabia quem tinha ganho a corrida. Mesmo assim, conseguiu produzir um artigo muito crítico do estilo de vida da sociedade do sul dos Estados Unidos da América, deixando de lado a objectividade jornalística e aparecendo como sujeito da narrativa. Pouco depois, foi contratado pela revista Rolling Stone. O seu primeiro artigo foi sobre a sua própia campanha eleitoral para o lugar de xerife da cidade de Aspen. Entre outras propostas, Thompson defendia a descriminalização do uso de drogas na cidade. Perdeu por poucos votos. thompson.jpeg © Frank Martin/AP Em 1971 começou a publicar uma série de artigos na Rolling Stone que se viriam a tornar no seu maior sucesso: “Fear and Loathing in Las Vegas”, uma verdadeira viagem ao coração selvagem do sonho americano que selou a reputação de Thompson como um escritor bem sucedido, que conseguiu diluir a linha que separa o jornalismo e a escrita de ficção. No ano seguinte, foi destacado para cobrir as eleições presidenciais americanas não se coibindo de criticar o candidato republicano, Richard Nixon, que viria a ser eleito presidente dos Estados Unidos da América. Publicou o livro "Fear and Loathing on the Campaign Trail 1972" que se tornou um clássico da sátira política. tumblr_m7d54mgbZI1qgleipo1_1280.jpeg Mais ou menos na mesma altura, Hunter S. Thompson passou a viver no seu rancho, Owl Farm, em Aspen, rodeado de armas, esculturas e livros. Continuou a escrever para diversos jornais e revistas e a criticar o estilo de vida americano. Figuras como Jimmy Carter, George McGovern e Keith Richards eram seus convidados habituais. Em 1991, foi ilibado de uma acusação de assédio sexual e posse de drogas, porque conseguiu provar que a polícia entrou ilegalmente na sua propriedade. Na década de 90, Thompson escreveu ocasionalmente para a Rolling Stone e lançou o romance "The Curse of Lono". Com o surgimento da Internet, passou a escrever uma coluna semanal sobre futebol americano para a página da ESPN. Em 2003 lançou o livro "Kingdom of Fear", onde critica duramente o então presidente George W. Bush. hunterthompson-gun.jpeg No dia 20 de Fevereiro de 2005, Hunter S. Thompson suicidou-se com um tiro na cabeça. Deixou um bilhete onde dizia estar profundamente deprimido e sofrer de dores horríveis, por isso, preferia morrer com estilo. O seu corpo foi cremado e as suas cinzas foram espalhadas pelo ar, através de um disparo de canhão, colocado numa torre de cinquenta metros de altura, na sua propriedade. A cerimónia de despedida foi organizada pela sua mulher, Anita Thompson, e pelo actor Johnny Depp que interpretou as personagens criadas por Hunter S. Thompson, na adaptação ao cinema de "Fear and Loathing in Las Vegas" e "The Rum Diary". f3rro Artigo da autoria de Hugo Ferro. Jornalista sem carteira profissional, por respeito à tradição.. Saiba como fazer parte da obvious. Leia mais: http://lounge.obviousmag.org/patria/2012/07/conhecido-pela-escrita-alucinada-e.html#ixzz217CUZWvP

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Alemanha

Nazismo da torcida alemã na Eurocopa: “um metrô de Lviv a Auschwitz” Imprimir E-mail Escrito por Florian Schubert Qui, 19 de Julho de 2012 O autor viajou com os torcedores da seleção alemã até a Ucrânia. Desse jeito viveu algumas coisas sobre as quais pouco se informa na própria Alemanha: nacionalismo, culto ao nazismo, antissemitismo e racismo, colocando um ponto de inquietude nos jogos que a equipe joga fora da casa. Embora muito se tenha falado antes da Eurocopa sobre racismo e o problema do nazismo nos estádios ucranianos, parece que isso pouco ou nada tem a ver com os fãs alemães. Racismo, antissemitismo e nacionalismo agressivo durante os jogos da seleção alemã pertenceriam ao passado. No entanto, como se sabe, isso não é assim, infelizmente: a UEFA investigou e multou a Federação Alemã de Futebol (DFB) por causa do comportamento incivil e os cantos inapropriados da torcida alemã durante a partida contra a Dinamarca. Durante o jogo, mostraram uma bandeira com a inscrição “Gott mit uns” (Deus conosco), que era o lema estampado nas fivelas dos cintos dos soldados do exército alemão durante a II Guerra Mundial. Segundo informações de publikative.org, trata-se da bandeira de um grupo procedente de Zwickau, que também a pendura frequentemente durante os jogos na casa da equipe local, o FSV Zwickau. “Quem faz a saudação nazi? Você, negro!” Quem assistir a um jogo da seleção alemão fará, infelizmente, observações semelhantes. Já durante a viagem de ônibus desde a Alemanha, alguns fãs entoaram, como aquecimento, um cântico com versos como “Parasitas de merda, ciganos do Schalke 04 à forca”, e como se os esfolassem berravam a pergunta: “Quem ergue a mão para fazer o saúdo alemão?”. Expressões como “Estrangeiros” ou “Você, negro” usadas como insultos apareciam como linguagem normal e corrente aos olhos de muitos dos viajantes. Ninguém pareceu se incomodar. Já depois do primeiro jogo da seleção alemã contra Portugal, passaram na minha frente, no centro de informação, alguns fãs alemães cantando “Alemanha, Alemanha, acima de tudo no mundo”. Quando cheguei à embaixada móvel dos fãs alemães, ali se mostravam irritados pelos torcedores a fazerem a saudação hitleriana. Sobre a mesa da embaixada havia uma brochura muito boa da KOS (Koordinationstelle Fanprojekte, Oficina de Coordenação do Projeto Torcedores), em que se descreviam os lugares de memória da conquista alemã durante a II Guerra Mundial, para cada uma das cidades onde se celebraram jogos do campeonato. Forneciam ainda algumas informações básicas sobre a correspondente cidade. Mas quem se interessava por isso? Capacetes do exército prussiano e camisetas com o número 88 na Praça do Mercado Pela Praça do Mercado, onde também se situava a embaixada de fãs, passeava às vezes um deles com o número 88 pintado nas costas duma camiseta que tinha uma cruz de ferro bordada nas duas mangas. Diante de uma taverna, alguém no meio do grupo exibe um capacete prussiano. Um artigo de brincadeira que já na Copa do Mundo de 2006 gozou de grande aceitação parecia provocar um efeito um tanto menos agradável numa cidade já ocupada por soldados alemães. Ao subirem no ônibus para se encaminharem ao estádio, aparece um novo fã com o “estilo 88”. No trólebus que nos levava ao estádio, reparei num fã de Dresden com um chapéu da marca Elbflorenz, uma camiseta com o desenho de um imenso carro de combate e o lema “Campeão da Europa 2012”. Estas camisetas são distribuídas pela casa “Sieg oder Spielabbruch” (literalmente, “Vitória ou interrupção do jogo”), que ecoou no entorno do grupo radical de torcedores “Standarte Bremen” e pela banda de música de extrema-direita “Kategorie C”. O portador da camiseta movia-se num grupo de fãs de Dresden que, além do obrigatório “Deutschland, Deutschland, Deutschland” também berravam “Ha ho, he, Fascistas SGD“ e cantavam, com a melodia do “Jingle Bells”, “Besiktas, Trabzonspor, Galatasaray, Fenerbahce Istanbul. Odiamos a Turquia!”. Noutro ônibus chegou-se mesmo a ouvir a canção de Auschwitz, desta vez com a letra “Vamos construir um metrô de Limberg (Lviv em alemão) a Auschwitz”, conforme me informou mais tarde um torcedor de Bremen. “Dá-lhe, dá-lhe, os alemães estão aqui” Chegados ao estádio, na cidade de Lviv, não houve muito que esperar para ver a primeira blusa da marca Thor Steinar. O estádio manteve-se tranquilo até o apito final. Mas também aqui se entoaram canções típicas, que não demonstram sensibilidade alguma para com a história alemã na Europa do Leste: desde os gritos de “Sieg” (vitória), que aqui lembram necessariamente a sua continuação, “Heil”, até os “dá-lhe, dá-lhe, os alemães estão aqui”, passando por “Que será, será, os alemães voltaram” e a canção “México”, da banda de rock “Böhse Onkelz”. Despejaram todo o repertório. Depois do jogo alguns fãs reunidos na Praça do Mercado de Lviv saudaram-se ao estilo nazi. Também ninguém se queixou. Durante o jantar, perto de mim, alguém tratou um outro de “estrangeiro de merda”. Referia-se ao empregado de mesa, que não entendia o inglês. Este fã alemão evidentemente não falava ucraniano, polonês ou russo, motivo pelo qual a comunicação ficava complicada. Um grupo de três pessoas com as camisetas da Alemanha fez de novo a saudação nazi. À pergunta da razão desse comportamento, respondem: “tem alguma coisa contra?”. Os três continuaram adiante, mas deram a volta dali a cinquenta metros e acenaram na nossa direção: “Sieg Heil, putas e viados”, e sumiram. Pouco se informa sobre estes acontecimentos nas reportagens sobre os jogos da seleção alemã. Mas os jornalistas tiveram de observar tais coisas por igual que eu. Também é assustador que, aparentemente, nenhum fã se incomodasse com estes cantos, expressões e comportamentos. E isso numa cidade em que, na época do nacional-socialismo, quase toda a população judia (por volta de 400.000 homens, mulheres e crianças), e também 140.000 prisioneiros de guerra russos, foram assassinados pelos ocupantes alemães. Florian Schubert é foto-jornalista da revista anti-racista Publikative e esteve na Ucrânia durante a Eurocopa de futebol 2012. Publicado originalmente em Publikative, em alemão; tradução de Alberto Lozano, do Diário Liberdade. Para ajudar o Correio da Cidadania e a construção da mídia independente, você pode contribuir clicando abaixo.