Jetro Fagundes – Maria, a bonita guerrilheira
Lampião-e-maria-bonita
Lampião e Maria Bonita
Maria_Bonita_MBPor Jetro Fagundes(*), especial para sua coluna no QTMD?
Lá pro rumo do Nordeste
Sertão, Caatinga, Agreste
ainda lembram muito bem
uma guerreira nordestina
Maria, a Bonita heroína
que nunca temeu ninguém
Maria Bonita do Cangaço
nasce em Oito de Março
um dia internacional
ano de mil e novecentos
e onze, num aposento
Paulo Afonso, zona rural
Maria Gomes de Oliveira
antes de ser cangaceira
com sapateiro se casou
mas sofrendo maus tratos
do sujeito dos sapatos
dele se separou
Apesar dos dezoito anos
amava boneca de pano
morando com seu tio
ali conhece um guerreiro
o rei dos cangaceiros
e com ele se uniu
E a inimiga declarada
da canga tão pesada
que maltrata um boi
como mulher decidida
dona da própria vida
com Lampião se foi
E foi fazer a História
sendo mulher notória
com armas na mão
tendo uma ideologia:
O combate à oligarquia
empobrecedora do Sertão
Era autêntica guerrilheira
contra a vulga bandoleira
polícia do sertão
a milícia que saqueava
desalojava, deflorava
matava a população
Onde oligarca é nefasto
e latifúndio é fértil pasto
pra injustiça dominar
Maria, mulher verdadeira
como bonita guerrilheira
sabia bem se indignar
Por não ser fogo de palha
ao campo de batalha
levou a sua indignação
Pelos notórios feitos
soube adquirir respeito
inclusive de machão
Na temática sertaneja
ela faz parte das pelejas
históricas da região
e há muitas evidências
dela tendo influência
no Capitão Lampião
Avançada pros seus dias
Maria fazia e acontecia
contra donos dos currais
políticos coronelistas
e os maiores banditistas
os milicos oficiais
Maria do rio São Francisco
companheira de Corisco
de Dadá, linda também
E a Dadá, igual guerreira
manuseava cartucheiras
como poucos, muito bem
Maria dos deslocamentos
em constante movimento
nômade, peregrinação
destemida de verdade
odiada pela sociedade
hipócrita de então
Pra quem não acredita
ah, ela era, sim, bonita
no facial, no corporal
mas era bem mais bonita
lutando contra a maldita
oligarquia imoral
Brutalmente assassinada
a sua cabeça, degolada
foi motivo de exposição
mas ficou mais conhecida
mais admirada, querida
na nordestina região
Porém Maria destemida
sempre foi esquecida
no meio intelectual
numa arrogante ironia
a quem nasceu num dia
histórico, internacional
Se muitos historiadores
borra botas de ditadores
não registram seu papel
pouco importa, ela ainda
vive cada vez mais linda
na literatura de Cordel
Seu lutar continua vivo
no imaginário coletivo
e na oral tradução
onde um fato de verdade
longe das parcialidades
se conta com exatidão
Ela vive entre alagoano
sergipano, pernambucano
paraibano, em Bendirá
no santuário de Juazeiro
na pátria do Conselheiro
da Bahia ao Ceará
Vive entre os Cordelistas
irmãos literatos letristas
menestréis das canções
gente de bonito escrito
mais que certos eruditos
acadêmicos medalhões
Longe de ser libertina
conservou-se feminina
na trincheira do lutar
e como mulher genuína
no requinte de menina
soube bem se preservar
Ah, se ela hoje em dia
fosse chamada de vadia
por gente sem ocupação
ela desembanharia
cinto de couro, e daria
uma merecida lição
Paulo Afonso, na Bahia
sim, conserva, hoje em dia
a casa em que ela nasceu
é um turístico atrativo
museu, com acervo vivo
do que lhe pertenceu
Ela que honrou suas vestes
no país cabra da peste
do Xaxado, do Baião
notoriamente era a cara
lá da sua Malhada Caiçara
Paulo Afonso, baiano sertão.
*Jetro Fagundes é cordelista. Nasceu e mora na Ilha de Marajó (Pará). Vende nas ruas o mais popular dos alimentos dessa região, a farinha, o que lhe rendeu o título de Farinheiro Marajoara. É autor de um livro de poemas , chamado “Jesus, o Cristo Libertador”, onde busca apresentar um Jesus histórico. Colabora com o “Quem tem medo da democracia?”, onde mantém a coluna: “Ventos do Marajó“
(QTMD)
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