quinta-feira, 22 de novembro de 2012
Medo
Considerações Sobre o Medo
em listas por Jéssica Parizotto em 04 de out de 2012 às 16:36
O processo criado pelo cérebro para nos dar a sensação de medo é algo que me encanta.
Do filme Rabbit's Moon de Kenneth Anger
Ele chega de repente, leva o tempo de piscar ou talvez nem isso. Tudo começa lá no Tálamo, uma região curiosa do cérebro que decide o que fazer com aquilo que você viu (ou acha que viu). Depois disso, ainda temos outras partes da nossa mais avançada máquina que vão interpretar as sensações que percorrem o seu corpo, estabelecer o contexto em que elas ocorrem e tentar encontrar um déjà vu na memória que fazemos dos medos. Mas, é a consequência desse processo o que mais me seduz.
O cérebro segue por dois caminhos, e uma guerra entre eles é travada: Um deles diz que o barulho na porta é um ladrão e que você não deve ir lá, este é sempre o mais rápido, chega antes ao campo de batalha. O outro se demora pelo caminho, porém chega com todas as armas na mão para te avisar que o barulho não passa de um galho de árvore que voou e bateu na sua porta devido à tempestade que se encaminha.
Todavia, isso são medos “racionais": de um barulho, de um vulto ou de morrer. Por si só, ele é algo irracional, mas há ainda aqueles sentimentos que nos causam temor frente à algo que não foi criado para este fim. Eu tenho três exemplos que me dão um frio na espinha mesmo sem ter esse intuito.
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bisque doll (Flickr © floffimedia)
1. Bonecas de porcelana
A infância é um terreno fértil para a imaginação e boa parte do medo floresce aí. Bonecas de porcelana me assustavam quando eu era só uma menina e me assustam até hoje. Acredito que deve ser pelo distanciamento emocional expresso nos seus olhos e sorriso pintados à mão.
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Uma das partes do Tríptico "As tentações de Santo Antão" que encontra-se exposto no Museu de Arte Antiga de Lisboa © Wikimedia Commons
2. As obras de Hieronymus Bosch
O pintor holandês do século XVI me dá calafrios. A complexa maneira como ele criticava os pecados, os vícios e os muitos medos que as pessoas tinham na idade média me toca de um modo completamente irracional. Não é que eu não consiga me ligar às suas obras, pelo contrário, desde que as vi pela primeira vez, elas ficaram gravada na minha memória, porém o mundo caótico e surreal que ele antecipou nas suas pinturas são para mim um mistério, daqueles que a gente se sente atraído, mas evita entender.
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3. Rabbit’s Moon de Kenneth Anger
Rabbit’s Moon é um curta americano de 1950, mas que só foi concluído em 1972. A história narra as tentativas de um palhaço, Pierrot, de saltar até a lua para alcançar o coelho que vive nela. A ideia de um coelho vivendo na lua não faz muito sentido para nós ocidentais, mas em algumas culturas orientais existem várias lendas a respeito disso, uma delas, da Tradição Hindu, fala de um coelho que sem ter alimento para oferecer à lua, se atira em uma fogueira para que ela sacie sua fome com a carne dele.
O diretor underground Kenneth Anger não parece ter tido a vontade de criar um filme assustador, mas para mim acaba sendo: sua trilha sonora contrasta demais com as imagens, aliás o filtro azul usado na filmagem me dá uma sensação incômoda. O palhaço também, ao contrário de ser uma figura que transmite alegria, ele acaba sendo quase um fantasma, vestido as tradicionais roupas brancas de um Pierrot. Na verdade, a história é até romântica, ao final da trama, aparece o Arlequim, que apresenta à Pierrot a Columbina por quem ele acaba se apaixonando.
O filme possui ainda outra versão, esta sim muito mais assustadora, em grande parte pela trilha sonora, mas desta eu não posso falar, pois não consegui assistir a mais de um minuto.
Medos servem para nos alertar e proteger de algo. Nem sempre a máquina funciona tão bem, existem milhares de medos inexplicáveis por ai. E você, tem medo de quê?
jessicaparizotto
Artigo da autoria de Jéssica Parizotto.
jéssica parizotto é uma proparoxítona, interessa-se por haicais, músicas pouco conhecidas e jogo de palavras. Queria voar de balão, mas tem medo de altura..
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