Tudo na vida é passageiro
By admin– 09/12/2011
Posted in: Destaques
Chéri à Paris relata como um pequeno entrevero pode se transformar em amizade e—logo depois—novamente em briga na capital francesa
Por Daniel Cariello*, Chéri à Paris
Francês adora discutir, mas detesta perder a classe.
- Táxi!
- Ei, ele é meu.
- Não, é meu, eu vi primeiro.
- Você viu primeiro, mas fui eu que chamei antes.
- Você chamou antes, mas eu já pensava em chamá-lo há tempos, mesmo antes dele aparecer. Táxi em Paris é tão raro quanto um sorriso.
- Agora é tarde, é meu.
- Eu não vou sair da frente.
- Ah, vai sim. Senão eu bufo.
- Pois eu sei bufar também, ó: buffff.
- Se é assim, eu digo: você é chato!
- Oh!
- E repito: chato, cha-tão!
- Pois prepare-se que agora vou te ofender pra valer.
- Estou preparado.
- Você é um limitado.
- E você é um tolo.
- Tolo, eu? Melhor do que ser um inútil.
- Prefiro ser inútil do que um bobalhão como o que vejo na minha frente.
- E eu…
- Ei, olha, aquela mulher acabou de entrar no nosso táxi e ele arrancou. Foi embora.
- Zut.
- Buffff.
- Outro táxi a essa hora vai ser impossível.
- Vai mesmo.
- Não tenho mais escolha, vou voltar pra casa andando, sob a chuva.
- Pra que lado você vai?
- Bastille.
- Vem aqui, vamos dividir meu guarda-chuva. Eu vou pro mesmo lado.
- Merci. Você até que é um cara bacana.
- Você também é gentil. Ao contrário daquela senhora sem classe que roubou o meu táxi.
- Seu? Era meu.
- Coisa nenhuma, eu vi primeiro.
- Viu, mas fui eu que chamei.
- Chamou de metido que é, pois eu pensei em chamá-lo antes.
- Você é mesmo um bobo.
- Pelo menos não sou besta.
- Ei, estúpido, não mexe esse guarda-chuva, tô me molhando.
- Quieto, reclamão.
——–
(*) Daniel Cariello, editor da revista Brazuca, é colaborador regular do Outras Palavras. Escreve a coluna Chéri à Paris, uma crônica semanal que vê a cidade com olhar brasileiro. Os textos publicados entre março de 2008 e março de 2009 podem ser acessados aqui
(Outras Palavras)
Nenhum comentário:
Postar um comentário