Variações sobre um tema de Anselm Kiefer
Jan 18th, 2011
by cesarkiraly.
Variações, de Cesar Kiraly, é um livro atomista como as sementes do Girassol.
Kiraly faz um percurso na direção da literalidade. Ele começa com temas bastante comuns da poesia, sob a idéia de uma Ingenuidade Hesitante, algo que inicia uma forma de sensibilidade que faz com que as experiências precisem ser duradas no espírito para que possam ser escritas. Acontecimentos como a troca de um olhar, uma febre, sentar e escrever em um bar, ver a morte de uma árvore, jogar xadrez, ou sentir calor são levados a poesia com muito cuidado. Existe sempre um humor longínquo, algo como vedação ao sentido comum das coisas, mas um apego ao espanto na palavra. As coisas querem dizer o que dizem.
Sofrendo de Multidão sai do quarto e vai para a rua, para a cidade, e ao contrário do que acontece com a maioria das pessoas, Kiraly resolve explorar o oposto. Ele resolve tratar das instâncias em que sofrer de solidão não faz qualquer sentido, por isso resolve dar ao sofrimento algo como uma fragilidade entre muitas pessoas. Assim, sofrer de multidão é o único sofrimento possível.
Sôfrego Pecadilho, na rua, encontra com o outro, que se faz forma de escultura, em forma de lembrança, de castigos, na forma do amor e da cumplicidade, ou mesmo do abandono, das dúvidas e das claudicâncias. Um pecadilho é um acidente necessário, alguma coisa que não se pode quebrar, que não se quer perder, mas que mesmo assim é perdida. Encerra-se com os pulmões vacilantes do escritor, mas com o fôlego quase excessivo das raízes.
Raiz ou parafuso é um poema chave para se entender a obra. Existe o início da temática que fornece unidade posterior e regressiva ao livro. Nele o autor parece aceitar o desafio de Anselm Kiefer, posto numa tela de 1995, Sol Invictus. Se Kiefer defende a invencibilidade do sol diante do frágil e belo girassol sempre morto, Kiraly defende a fragilidade do girassol, pela intensidade de suas raízes: Ingenuidade, Multidão e Pecadilho se tornam nomes de virtudes da fragilidade.
Jonas e a Baleia e Girassol Invictus são realizações maduras, de um projeto gestado nos movimentos anteriores, e deixa o livro, de Jonas para trás, de entranhas abertas. As referências a Kiefer, e aos temas de Paul Celan, tornam-se mais explícitas. E a hipótese da vitória, mesmo que efêmera, do girassol se torna vislumbrável. O leitor tem em mãos não um livro de poesias. Mas um livro que captura a poesia por algum modo novo de dizer.
(Modos de Fazer o Mundo)
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