terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Sexo

SExo - III (creio...)
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
SExo - III (creio...)

Que tivéssemos encontros virtuais e presenciais entre a equipe de trabalhadores e também cursos para formação de profissionais do sexo, homens, mulheres, travestis, lésbicas, todo esses LGBTTs. Podemos oferecer cursos abertos como o de pompoarismo
— Não, achei que o fato de estarmos velhas, é uma inspiração, mas na real sempre pensei no que seria um bordel que atendesse vários tipos de desejos, sem exploração dos trabalhadores, com oficinas de formação para vários segmentos e ainda por cima, massagens eróticas, nega!!!

— Você sabe que eu e a Aninha passamos seis meses em Moçambique – já fazem uns 15 anos. Lá a gente frequentou uma escola de sexo por um mês. Era uma escola para mulheres apenas, aprendemos pompoarismo, fizemos lulas na buceta... ahahahah, olha, os homens podem até não gostar do meu corpo e muitos nem se excitam comigo, mas quando eles metem em mim, eu faço coisas que eles nunca sentiram antes – é por isso que eu tenho uns amantes que sempre voltam... Élida, eu sempre quis ensinar pompoarismo para as velhas – acho que é o segredo das bruxas: ou saímos voando de vassoura ou seguramos os paus dos caras com os músculos da nossa xana... hahaha...

— Bom, isso também pode entrar, só quero ter cuidado para não formar uma escola. Por favor, escola não. Tem que ser um bordel, pra sacanagem, e podemos conjuntamente dar uns cursos. Mas sabe que eu preferiria que esse bordel fosse descentralizado. Como um bordel virtual que tivesse alguns contratos de locação com pequenos e grandes hotéis do país. Que tivéssemos encontros virtuais e presenciais entre a equipe de trabalhadores e também cursos para formação de profissionais do sexo, homens, mulheres, travestis, lésbicas, todo esses LGBTTs. Criamos um nome fictício, e a partir dessa “marca” podemos oferecer cursos abertos como o de pompoarismo. Queria que tivéssemos também alguns pequenos lugares ao longo do Brasil, como um no interior de São Paulo, outro em Salvador e conforme for indo os negócios vamos comprando mais alguns, com associados locais, para que a gente pudesse ter a distribuição do prazer para todos que precisam, num preço legal e com equipe altamente qualificada. E também para termos nossos próprios espaços para as imersões de equipe e também para os cursos.

— Uau, você planejou tudo, fantástico, Élida. Eu tenho uma casa na praia das Perobas, em Touros, no Rio Grande do Norte. Lá eu conheço uns rapazes locais que visitam as hóspedes da Pousada do Vozinho de noite por duzentos reais. Geralmente são poucas mulheres ainda e muitos rapazes para o serviço, é como na Jamaica, as mulheres mais ou menos acertam um pacote de uma semana com o serviço incluído. Sempre penso em fazer alguma coisa com minha casa lá...

— Puxa, isso seria muito interessante. Uma casa no litoral Norte, lugar discreto, para descanso e para fazer amor profissional, massagem, vídeos, nós podemos inclusive criar uma pedagogia para nossa equipe, claro, que fosse construída coletivamente, cada um falando da sua experiência, das suas motivações para se meterem nesse tipo de negócios, podemos inclusive lançar uma marca de camisinha!!! Ahahahah, estou tão excitada com essa idéia. Regina, você aceita ser minha sócia?

— Já aceitei. Nós podemos começar com os rapazes de Peróbas e com o... vou te apresentar o Isaías, um rapaz que eu conheci lavando carros na faculdade, depois estudou, foi fazer antropologia, foi estudar as putas de Copacabana e está fazendo um doutorado com bolsa lá na UERJ. Ele completa o orçamento – adora alugar carros caros – fazendo esse tipo de serviço para estrangeiras. Ele só cobra em euros e conhece vários outros rapazes que fazem isso.
Temos que valorizar os pedaços de carnes flácidas, os punhados de peles enrugadas, os seios fartos e caídos, o saco espichado, mas associar tudo isso com prazer
— E as lésbicas, temos que pensar nelas também. Odeio puta que não gosta de sair com mulher! Sempre me ofendeu essa história. Mas é porque o mercado era mais restrito, agora é nós minha amiga! Vamos pensar num nome para nossa empresa. Somos trabalhadoras do prazer. Somos agenciadoras do prazer a todos sem discriminação, e também temos que formar uma equipe bacana, de gente que queira mesmo esse negócio, tem que ensinar a galera a chupar. Faremos um grupo de educadores sexuais!!!! Mas sem escola, por favor!!!! Descentralização!! Temos também que ter uma publicidade massa, porque essas propagandas pornográficas me dão nojo, só bunda e seio e homem cheio de músculo. Queria que nossa publicidade fosse feita para pessoas normais, pessoas comuns, sem extravagância de super corpos, somos responsáveis por desvencilhar o erotismo da super máquina. Temos que valorizar os pedaços de carnes flácidas, os punhados de peles enrugadas, os seios fartos e caídos, o saco espichado, mas associar tudo isso com prazer.

— Sim, você sabe, Élida, eu sempre fui da turma do prazer. Mesmo no tempo da minha militância na O. Muitas vezes disseram que eu era da ala da putaria no movimento feminista e eu dizia que há uma dimensão de puta em todas as mulheres – em todas as pessoas. E a gente enfia pra dentro do armário, querendo fazer com que liberação não seja putaria. O serviço de dar prazer, é parte da nossa constituição – não pode ter nada de errado em vender esse serviço, é um serviço e um serviço político, de re-erotizar o que ficou inanimado, abandonado, desprezado pela matriz sexual... Élida, este é o projeto da minha vida – eu preciso te abraçar!

— Mas me conta como você consegue dar conta de falar que um bordel de homens seria um serviço político, inda mais pensando nessa nossa tradição de esquerda, feminista e tudo isso? Talvez esse seja exatamente o embate ético e político que me paralisou tanto tempo, me impedindo de colocar pra frente esse projeto.

— Eu sei, acho que existe uma tradição de puritanismo na esquerda – e no feminismo. É a coisa de saber o que é uma mulher liberada – e achar que é muito diferente uma mulher liberada de uma puta. Eu sentia esse embate também, querida, toda a minha vida me diziam que política não chega na rua das putas. Eu dizia, por que? Eu sempre achei que o patriarcado se impunha com a pornografia e com a prostituição das mulheres e nunca dos homens: dinheiro por xoxota, o negócio do patriarca, como dizíamos trinta anos atrás. Se serviço de puta não é político, então o feminismo para mim é perfumaria! Pô, nós dizíamos que o que é pessoal é político e quanto mais nós socamos nossas vergoinhas pra dentro da gaveta secreta mais políticas elas ficam!
Postado por DEUS da Silva às 17:55:00 0 comentários
Transportado do Blog http://juntosomos-fortes.blogspot.com/
(Le Monde Diplomatique)

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