terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A Direita

“A direita não atraiu um número substancial de novos eleitores”
• Entrevistas
A derrota do Partido Democrata nas eleições de meio-mandato pode ser explicada pela abstenção dos eleitores que votaram massivamente por Obama

13/01/2011

Igor Ojeda
da Redação

A derrota do Partido Democrata nas eleições de meio-mandato pode ser explicada pela abstenção dos eleitores que votaram massivamente por Obama e não por um grande crescimento do Partido Republicano ou do Tea Party, opina o analista político estadunidense Mark Engler, na entrevista a seguir:

Brasil de Fato – A vitória republicana nas eleições de meio-mandato veio com um fortalecimento da extrema direita no país. Qual é o perfil dessa direita?
Mark Engler – Embora a direita tenha tido ganhos eleitorais, não acredito que ela atraiu um número substancial de novos eleitores para suas fileiras. Em vez disso, aqueles que votaram representaram os segmentos mais conservadores do eleitorado estadunidense que votaram por John McCain [candidato a presidente pelo Partido Republicano] em 2008. Esses grupos tendem a ser mais velhos e brancos que a população em geral. Diferentemente de 2008, as eleições de 2010 tiveram muito pouco comparecimento. Jovens e pessoas de cor, que votaram massivamente por Obama, não foram às urnas nesta eleição, e isso ajudou a direita. Vale a pena destacar, também, que a direita fez um trabalho melhor do que a esquerda em canalizar a insatisfação popular com o desemprego e a economia estagnada. Infelizmente, os republicanos são favoráveis a políticas que beneficiam os mesmos bancos de Wall Street que causaram a crise econômica e que só tornarão pior a situação econômica para a maioria dos estadunidenses.

Você acredita que o Tea Party tende a se tornar um movimento que irá além do republicanismo? Por quê?
O Tea Party não é totalmente alinhado com o Partido Republicano, e tem algumas tendências libertárias. No entanto, qualquer verdadeira dissidência no movimento tem sido amplamente cooptada por dirigentes do partido. Veja Rand Paul, um candidato que originalmente mantinha posições incomuns entre os republicanos, mas que rapidamente as moderou assim que ele se tornou um candidato sério.

Internamente, quais podem ser as consequências desse crescimento da direita?
A direita terá grande sucesso em bloquear a agenda do presidente Obama nos próximos dois anos. Em longo prazo, é questionável se um empurrão para a direita será útil para o Partido Republicano. Pode torná-lo menos capaz de competir nas eleições presidenciais de 2012.

Sarah Palin sai fortalecida para tentar derrotar Obama nas próximas eleições presidenciais? Quais aspectos ela exploraria para ganhar votos?
Certamente, Sarah Palin saiu mais forte, como uma personalidade midiática e como uma pessoa com influência em círculos conservadores. No entanto, ela continua a ser uma figura muito polarizadora, e há muitas dúvidas sobre se ela conseguirá reunir o suficiente apelo entre a elite para ser bem-sucedida na eleição para presidente. Na verdade, alguns democratas gostariam de que seja ela a indicada republicana, acreditando que ela seria facilmente derrotada. Eles podem estar certos, mas eu acho que essa estratégia é brincar com o fogo.

Alguns membros do Partido Republicano não estão muito felizes com o crescimento do Tea Party e sua aproximação com o partido. Como você avalia essa relação? O que ela pode causar no interior do Partido Republicano e dos sistemas político e eleitoral estadunidenses?
Alguns republicanos acreditam que os candidatos de extrema-direita do Tea Party, enquanto apelarem para sua base direitista, não pode atrair eleitores suficientes para ganhar uma eleição geral. Indiscutivelmente, nestas eleições, os candidatos do Tea Party custaram aos republicanos muitas cadeiras no Senado (uma em Delaware, por exemplo), que poderiam ter sido ganhas por um republicano mais moderado.

Quais serão as maiores batalhas entre Obama e o Congresso nos próximos dois anos?
A direita está obcecada com a ideia de que o governo precisa cortar gastos – apesar de os serviços sociais serem mais urgentemente necessários que nunca devido à crise econômica e de o estímulo governamental ser uma das poucas coisas que está criando a demanda necessária. Uma grande batalha será se o governo cairá na austeridade.
(Brasil de Fato)

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