“O apoio a uma agenda reacionária veio junto com a completa desmoralização d a esquerda”
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Para o jornalista estadunidense David Swanson, os eleitores que votaram por Barack Obama em 2008 se iludiram com o presidente e o Partido Democrata
13/01/2011
Igor Ojeda
da Redação
Para o jornalista estadunidense David Swanson, membro do conselho da organização Democratas Progressistas dos Estados Unidos (Progressive Democrats of America), os eleitores que votaram por Barack Obama em 2008 se iludiram com o presidente e o Partido Democrata, fazendo com que a direita ganhasse terreno desde então. Confira a entrevista a seguir:
Brasil de Fato – A vitória republicana nas eleições de meio-termo veio com um fortalecimento da extrema direita no país. Qual é o perfil dessa direita?
David Swanson – Muitos distritos não são competitivos [para os democratas], devido ao desenho cuidadoso de seus limites. Em quase todas as cadeiras que mudaram de dono, houve a troca dos mais direitistas democratas pelos mais esquerdistas republicanos. De acordo com o padrão internacional, eles são todos de direita, claro. Mas quase nenhum dos democratas mais antiguerra e pró-justiça social perderam. Os mais malucos dos novos candidatos republicanos também perderam, mas alguns da extrema-direita entraram, e a agenda inteira de ambos partidos deu mais alguns grandes passos para a direita. O apoio a uma agenda reacionária veio junto com a completa desmoralização da esquerda – houve o abandono da ilusão de que Obama ou o Partido Democrata irão fazer muitos esforços por empregos, pela paz, pelo meio ambiente, ou pelos direitos civis. A abstenção dos eleitores democratas é tanto uma explicação quanto o comparecimento dos eleitores republicanos. Entre aqueles que compareceram às urnas, está incluída uma minoria que se opõe à guerra e ao Exército do mesmo modo como se opõem a qualquer coisa que o governo faça, porque – em um modo estadunidense único de ser – eles se opõem à própria ideia de governo. Mas a maioria deles são patriotas favoráveis à guerra hipermilitarizada, e muitos deles estão sendo manipulados por racismo, fanatismo e dogmas direitistas para defender coisas que vão contra seus próprios interesses e contra os interesses de todos os trabalhadores.
Quais foram os fatores que contribuíram para esse fortalecimento?
1. Dinheiro: organizações massivamente financiadas criando eventos, e um gigante novo nível de gastos corporativos nas campanhas tornado possível pela decisão da Suprema Corte no caso “Citizens United”;
2. Mídia: promoção [dos direitistas] pela Fox News e abafamento de todos os outros grandes temas;
3. Depressão econômica;
4. Um presidente negro.
Você acredita que o Tea Party tende a se tornar um movimento que irá além do republicanismo? Por quê?
Ele foi fundado e é organizado por grupos que querem mover o Partido Republicano ainda mais para a direita. Nós, da esquerda, invejamos isso, porque não temos uma grande instituição empurrando o Partido Democrata para a esquerda.
Internamente, quais podem ser as consequências desse crescimento da direita, para a política e para a sociedade estadunidense em geral?
Poderemos ver poderes de guerra instalados na Casa Branca, e o poder de retirar direitos e violar leis. Os 50 estados redesenharão agora os limites dos distritos congressionais para as eleições dos próximos 10 anos, e o farão, especialmente, para beneficiar os republicanos.
Sarah Palin sai fortalecida para tentar derrotar Obama nas próximas eleições presidenciais? Quais aspectos ela exploraria para ganhar votos?
Muitos dos entusiasmados eleitores do Tea Party estarão desapontados em dois anos, o que não a ajudará. Mas ela é uma forte candidata exclusivamente por causa da mídia que, ao contrário de todas evidências, insiste sem parar em chamá-la de forte candidata. Isso continuará e pode ir se autoalimentando, mas eu ainda aposto contra ela.
Alguns membros do Partido Republicano não estão muito felizes com o crescimento do Tea Party e sua aproximação com o partido. Como você avalia essa relação? O que ela pode causar no interior do Partido Republicano e dos sistemas político e eleitoral estadunidenses?
Os libertários no Tea Party, aqueles que apoiam as liberdades civis e são contra os gastos militares e outros, ficarão amargamente desapontados à medida em que o Partido Republicano for no sentido contrário, mas continuarão a mover o partido para a direita, pelo menos no que diz respeito a políticas que beneficiem a riqueza, atinjam os imigrantes, discriminem os gays etc.
Quais serão as maiores batalhas entre Obama e o Congresso nos próximos dois anos?
Obama e a Câmara de Representantes [deputados] republicana e o Senado levemente democrata se unirão tranquilamente em grandes questões de guerra e poder corporativo, assim como poder presidencial. O Senado tem bloqueado centenas de projetos de leis nos últimos dois anos que vieram da Câmara, bem como confirmações de nomeações. Isso continuará, mas o Senado poderá aprovar mais projetos de lei em uma série de temas, e poderemos ver mais vetos presidenciais. Também poderemos ver uma grande briga quando a Casa Branca, assim como a Casa Branca de Bush, rejeitar comitês de intimação.
(Brasil de Fato)
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