terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Idosos

Ser idoso
.
Por Sergio Santeiro, de Niterói


Uma casa se torna fonte de sofrimento, angústia e litígio quando o amor termina sem apelação ou acordo.

Bicho medo, por Liberati
A última mas não a primeira, nem a segunda crise teve inicio, a meu ver, quando manifestei há uns dois ou três meses a Ela o meu temor de não conseguir mais manter a casa com mais seis pessoas que constituem a família dela.

Nestes 30 anos sempre me esforcei por acompanhar e suprir material e afetivamente a criação de seus dois filhos então menores, hoje com 32 e 35 anos respectivamente. Atravessamos momentos difíceis na relação com o pai e os dois filhos. Até o segundo filho de seu primeiro casamento foi igualmente acolhido e nutrido por mim quando necessitou, ainda jovem.

Ultimamente tenho com o mesmo empenho acompanhado e garantido a criação dos dois netos mais próximos que acabaram por morar conosco. Infelizmente, a retribuição tem sido terrível, além do rastro de sujeira e bagunça que os adultos promovem pela casa inteira a qualquer hora e de qualquer maneira.

Ao reclamar da cozinha suja que sempre deixam dias a fio sem lavar nem um copo, acabo ameaçado pelo caçula, hoje enorme (com uns 2 metros por 3) marombeiro e vitaminado, e secundado pela irmã, tampouco franzina. Fazem coro na bagunça e ameaçam-me fisicamente.

Sou um senhor de quase 66 anos que jamais fui sequer acusado de agressão a quem quer que seja. Fico triste ao ver que se queira agir assim comigo, ainda mais na minha própria casa que partilho com a mãe deles.

Não creio que tenham direito a ocupar a casa à minha revelia e do jeito que fazem, com a sobrecarga dos serviços e das contas de luz, gás, água, alimentação etc. Nestes últimos três meses inesperadamente não tenho trocado mais que três frases com Ela que, finalmente, há mais de um mês arrumou malas e não tem aparecido em casa.

Em sua ausência, a insistência intempestiva dos enteados em prejudicar o funcionamento da casa motivou forte discussão e novas ameaças. Para minha surpresa, Ela retorna e toma o partido dos filhos contra mim, recusando-se a discutir o que mais me preocupa que é a impossibilidade de continuar mantendo a casa praticamente sozinho.

Novas discussões e exaltações de parte a parte e parece que chegamos ao fim. Os filhos dela e seus pares continuam aqui atrapalhando tudo, luzes acesas, televisões ligadas, portas e janelas abertas etc, agravando ainda mais o custo de manutenção da casa que, apesar de solicitados, mãe e filhos jamais se dispuseram a considerar. Finalmente este mês repassei uma ou outra despesa para o novo companheiro da enteada, e parece que assim se sentem ainda mais agressivos e desordeiros.

Imagino que apenas Ela e eu temos direito ao abrigo e suporte da casa, afinal os demais tem pais e parentes vivos a quem solicitar além de nós neste momento de impasse. E como persiste o ambiente de permanente ameaça, requeiro alguma providência acauteladora enquanto Ela e eu nos separamos sem litígio, afinal temos em comum somente a casa.

Apesar de muito apegado à casa, que construí com as minhas próprias mãos, concordo em vender a minha parte por um valor compatível com o imóvel e minhas necessidades, eliminando-se o vínculo que nos resta.

Enquanto isso é necessário que os agregados se mudem daqui no máximo ao final do ano letivo das crianças, que não podem ser prejudicadas. Não há como nem porque protelar a convivência impossível e agora danosa entre nós.

20/11/2010

Fonte: ViaPolítica/O autor

Mais sobre Sergio Santeiro

E-mail: santeiro@vm.uff.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário