A festa dos espectros
Questões Ideológicas
Flávio Braga
Seg, 02 de Maio de 2011 11:59
O conceito de "sociedade do espetáculo" criado por Guy Debord encontra, nessa passagem de abril para maio, dois exemplos de utilização desesperada em estancar a decadência de antigos aliados. Trata-se da monarquia britânica e do clero.
Remonta ao século III a aliança do cristianismo com o poder imperial de Constantino. Roma veio abaixo, mas o clero nunca mais abandonou os palácios. Todo tipo de acordo foi feito entre reis e papas. Aqueles jogando com a força das armas, esses com as promessas e ameaças de além tumulo. A história foi arrastando ambos para o abismo, mas sobrevivem os espectros.
Os católicos não foram convidados para o casamento do príncipe William por conta de rixas do século XVI, quando Henrique VIII da Inglaterra queria casar e o papa resolveu interferir. Resultado: ele criou a Igreja Anglicana e impôs a sua vontade. É característica dessas duas instituições não se submeter à opinião de terceiros.
A festa de casamento que monopolizou a mídia e o mundo foi colorida, embora os discursos soassem chochos e tudo mais um tanto ridículo. Mas nesse quesito a Igreja Católica já venceu a contenda: impossível superar a santificação de Wojtyła. A biografia de João Paulo II o qualifica a vários postos, menos ao de Santo. Ele defendeu os pedófilos, encobriu as relações do Banco do Vaticano com a máfia e conspirou com a CIA. O milagre que, oficialmente o qualifica à santidade é a cura de uma doença do qual ele próprio era vítima.
Mas o espetáculo mórbido de bênçãos sobre o ataúde onde ele apodrece não será impedido por isso. Os fiéis ignoram a realidade e, como os homens-bomba, apenas aguardam à hora da morte para finalmente encontrarem a felicidade.
Flávio Braga é escritor
(Fund. Lauro de Campos)
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