A república de areia
No meio do deserto, vive um povo que há 35 anos espera voltar para casa. No exílio, criou seu próprio Estado, com constituição, leis e eleições regulares. Nas páginas seguintes, Caros Amigos conta a história do Saara Ocidental, a última colônia da África.
Por Tatiana Merlino e Igor Ojeda
Até onde o olhar alcança, só há areia. O horizonte é um infinito marrom-claro. Pequenos arbustos aparecem aqui e ali, invadindo timidamente o cenário. O sol sempre forte se une à extrema aridez do clima e castiga a pele. O céu de azul eterno não permite a presença de uma nuvem sequer. Nessa terra, a temperatura chega a 55 graus à sombra durante o verão, a água é um bem escasso e o solo não dá nada. Os únicos animais que nela sobrevivem são cabras e camelos.
Estamos no deserto de Hamada, a área mais seca e inóspita do deserto do Saara, no sudoeste da Argélia, norte da África. Na região, nos arredores da cidade de Tindouf, estão instalados cinco campos de refugiados onde vivem, há mais de três décadas, cerca de 170 mil pessoas expulsas de sua terra natal, o Saara Ocidental, antiga colônia espanhola hoje ocupada pelo Marrocos. Dajna Laman Merhi, de 50 anos, é uma dessas pessoas. Assim como milhares de compatriotas, a saaraui – como é conhecido o natural do Saara Ocidental – foi obrigada a deixar sua cidade, Mahbas, em direção à Argélia, quando, no fi - nal de 1975, o rei marroquino Hassan II promoveu uma invasão de 350 mil soldados ao país. Na operação para ocupar o território e expulsar os saarauis, conhecida como “Marcha Verde”, cerca de 2 mil pessoas morreram, e muitas outras foram vítimas de bombardeios de napalm e fósforo branco.
Dajna, na época com 16 anos, teve que deixar os pais e sair de Mahbas com dois primos em direção ao leste. Durante 15 dias, caminhou pelo deserto, até chegar à região de Tindouf, na Argélia. “Poucos vinham de carro, pois não havia muitos disponíveis. A maioria veio andando. O que importava era escapar dos ataques”, conta. Para se esconderem dos aviões marroquinos que bombardeavam a população em fuga, ela e os parentes se cobriam com folhas e galhos que encontravam pelo caminho.
Nos acampamentos, como os campos de refugiados também são chamados, Dajna teve cinco filhos, de dois casamentos. O primeiro marido morreu na guerra, em 1981. Do segundo, divorciou-se. Uma das maiores tristezas de sua vida é que a ocupação marroquina impediu seus pais – que só voltou a ver muitos anos depois, através de uma visita organizada pela ONU – de conhecer os netos.
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