E se o Egito desbloqueasse Gaza?
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– 19 de abril de 2011
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Crescem os sinais de que o governo militar de transição não manterá por muito tempo a política que isola o território palestino. Por Adam Morrow e Khaled Moussa Al-Omrani, da Agência IPS
Dois meses depois da derrubada do presidente Hosni Mubarak, o governo de transição no Egito foca sua atenção ao bloqueio de Gaza. “Há fortes indícios de que a posição oficial do Cairo sobre a faixa de Gaza mudará, já que a política externa egípcia vai cada vez mais em linha com a Revolução de 25 de Janeiro”, disse à IPS o analista político Tarek Fahmi, da Universidade do Cairo.
Em 2006, Israel fechou sua fronteira com a faixa de Gaza depois que o Hamas (Movimento de Resistência islâmica) venceu as eleições legislativas palestinas. Um ano depois, o Egito também proibiu a passagem de pessoas e mercadorias por Rafah, único ponto de cruzamento em sua fronteira de 14 quilômetros com a faixa de Gaza.
O bloqueio, que entra em seu quinto ano, isolou hermeticamente esse enclave palestino do resto do mundo, privando seus 1,8 milhão de habitantes dos produtos mais básicos e de suprimentos humanitários. A faixa de Gaza também é alvo de frequentes ataques israelenses. Só nos últimos quatro anos, 19 moradores da área morreram em ataques aéreos e disparos de artilharia israelenses.
Após a revolta popular no Egito, a passagem de Gaza foi aberta para estudantes palestinos, doentes e estrangeiros. Mas, materiais de construção, especialmente cimento, continuam proibidos. Gaza ainda tenta se reconstruir da devastadora ofensiva israelense de 2008/2009. Além de matar mais de 1.400 palestinos, o ataque destruiu completa ou parcialmente dezenas de milhares de moradias, sendo que a vasta maioria ainda não foi reconstruída. “Não pedimos caridade ou esmola”, disse à IPS o presidente da Associação de Engenheiros de Gaza, kanan Said Obaid. “Queremos cimento para reconstruir as casa e a infraestrutura destruída”.
Durante o governo de Mubarak, a chancelaria egípcia justificou sua colaboração no bloqueio citando um pacto de segurança assinado em 2005 com Israel e a Autoridade Nacional Palestina – liderada pelo secular partido Fatah – e patrocinado pelos Estados Unidos. Segundo esse acordo, a passagem de Rafah não poderá ser aberta enquanto um contingente de “observadores” da União Europeia (que havia abandonado a fronteira depois da vitoria do Hamas) não regressasse ao seu posto.
Mas, desde que Mubarak abandonou o poder em 11 de fevereiro e o Conselho Supremo das Forças Armadas assumiu a autoridade executiva do Egito, havia vários sinais de que a política em relação a Gaza está aponto de mudar.
“Não é próprio do Egito sua política externa se caracterizar por graves violações das regras básicas do direito internacional, com é o caso da posição sobre a faixa de Gaza”, escreveu Nabil Al Arabi na edição de 19 de fevereiro do jornal independente Al-Shorouk, pouco antes de ser designado novo ministro das Relações Exteriores. O bloqueio de cinco anos “vai contra as regras do direito humanitário internacional, que proíbe sítio a civis, mesmo em tempos de guerra”, disse Arabni.
Em 29 de março, um porta-voz da chancelaria anunciou que o Egito realizava “uma revisão da situação da passagem de Rafah para tomar as ações necessárias a fim de conseguir maior conveniência e aliviar o sofrimento dos moradores de Gaza”. As declarações da chancelaria foram postas à prova no mês passado, quando ativistas egípcios tentaram cruzar por Rafah com dezenas de toneladas de cimento.
Eles acamparam no posto durante uma semana esperando autorização para passarem ao outro lado, mas Cairo nunca respondeu. “No fim das contas, as autoridades egípcias nos proibiram de levar cimento a Gaza”, disse à IPS o ativista Tamer Azzam, de 37 anos. “Isto serve para confirmar que a política sionista da era Mubarak com relação a Gaza permanece intacta”.
Fahmi, também diretor do escritório em Israel do Centro para Estudos do Oriente Médio, com sede central no Cairo, disse que a chancelaria egípcia “ainda estuda meios para reabrir a passagem de Rafah”, acrescentando que “mudanças grandes com essa na política levarão tempo”. Fahmi afirmou que “no governo de Mubarak a chancelaria egípcia estava no outro polo da opinião pública. Mas, no Egito pós-Mubarak é provável que a postura oficial gradualmente se coloque em linha com a vontade popular, já que o governo está livre das limitações burocráticas e de ‘segurança’ que caracterizavam o antigo regime devido à sua estreita relação com Estados Unidos e Israel”, acrescentou.
De acordo com Fahmi, “Gaza será a prova da capacidade e disposição do novo governo para traduzir a vontade do povo em uma política oficial”. Um indicio desta mudança gradual – acrescentou – foi que depois da saida Mubarak o arquivo de Gaza foi oficialmente transferido para os serviços de inteligência para a chancelaria. “Isto significa que Gaza deixou de ser um tema de segurança, com no período Mubarak, para ser um assunto estritamente político”, ressaltou.
(Outras palavras)
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