“Se os republicanos chegarem ao poder em 2012, não ficarão por muito tempo”
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O economista estadunidense Mark Weisbrot não teme o crescimento da direita nos EUA
13/01/2011
Igor Ojeda
da Redação
O economista estadunidense Mark Weisbrot, codiretor do Centro para Investigação Econômica e Política (CEPR, na sigla em inglês), não teme o crescimento da direita nos EUA. Segundo ele, a derrota democrata nas eleições de meio-mandato foi normal, e o movimento para a direita que seu país vivia há quatro décadas já chegou ao fim. Assim, mesmo que o Partido Republicano derrote Obama em 2012, não terá vida longa na presidência: “ eles simplesmente não têm mais uma base suficiente”. Leia abaixo a entrevista:
Brasil de Fato – A vitória republicana nas eleições de meio-mandato veio com um fortalecimento da extrema direita no país. Qual é o perfil dessa direita?
Mark Weisbrot – Não acho que as eleições refletem muito uma mudança política. É normal que o partido do presidente perca cadeiras nas eleições de meio-mandato. Muito do que vimos nas eleições passadas podem ser explicadas por essa tendência, combinado com a situação da economia. Em relação ao perfil do Tea Party, eles são, em sua maioria, republicanos, brancos, um pouco mais racistas do que a média dos brancos estadunidenses, e têm um nível maior que a média de renda e educação. Isso de acordo com dados de pesquisas.
Você acredita que o Tea Party tende a se tornar um movimento que irá além do republicanismo? Por quê?
Bem, o Tea Party é muito mais populista que a liderança republicana, portanto, não estará necessariamente junto com ela em um monte de questões. Por exemplo, a liderança republicana é muito pró- “livre comércio”, como nos acordos de “livre comércio que eles têm negociado com a América Latina e estão tentando finalizar com a Colômbia e a Coreia do Sul. Mas os integrantes do Tea Party são contra esses acordos, mais ainda do que a média dos republicanos. Portanto, não está claro como alguns dos novos membros do Tea Party no Congresso votarão nessa questão.
Outro tema sobre o qual a base do Tea Party, e alguns de seus representantes eleitos, não concordam, seja com a liderança republicana ou democrata, é a guerra no Afeganistão. Por isso é que o Tea Party não tomou uma posição em relação a isso e em relação a outros temas de política externa durante a campanha; sua base está dividida. Muitos deles não acreditam em Império. (Isso é verdadeiramente geral no país: a crença de que os EUA devem controlar o mundo é quase universal entre a elite, mas não é tão popular entre a maioria dos estadunidenses, especialmente entre os menos educados, que estão mais propensos a morrer em guerras imperialistas).
Internamente, quais podem ser as consequências desse crescimento da direita?
Não acho que faz muita diferença. Os EUA já têm cerca de quatro décadas de movimento para a direita, por causa de nossos líderes políticos, incluindo o Clinton [Bill Clinton, presidente democrata entre 1993 e 2001]. Na verdade, ele executou tantas mudanças estruturais direitistas – incluindo o Nafta [Tratado de Livre Comércio da América do Norte], reformas sociais e a OMC [Organização Mundial do Comércio] – que não havia realmente muito dano estrutural que o Bush [George W. Bush, presidente republicano entre 2001 e 2009] poderia fazer. Ele tentou privatizar a Seguridade Social, mas isso é impossível em um país onde cerca de 30% dos adultos retira um cheque do sistema todo mês. Tudo que ele pôde de fato fazer foi cortar impostos e ir à guerra – claro que isso foi horrível, já que mais de um milhão de pessoas morreram no Iraque por causa dele. Mas isso não foi uma mudança estrutural nos EUA, não afetou, por exemplo, a distribuição de renda, riqueza e poder, como Clinton fez.
De qualquer forma, essa era chegou ao fim em 2006, por muitas das razões pelas quais o neoliberalismo foi rejeitado nas urnas em muitos países da América Latina, começando em 1998. Embora não tenhamos votado em esquerdistas como vocês o fizeram na América do Sul, o experimento neoliberal, que criou um crescimento mais vagaroso e a maior redistribuição massiva de renda para os ricos da história dos EUA, completou seu curso. Portanto, mesmo que seja possível que os democratas percam tudo em 2012, especialmente se a economia estiver como agora, eu ainda acredito que os republicanos não ficarão no poder por muito tempo, porque eles simplesmente não têm mais uma base suficiente.
Sarah Palin sai fortalecida para tentar derrotar Obama nas próximas eleições presidenciais? Quais aspectos ela exploraria para ganhar votos?
Ela é politicamente mais inteligente do que as pessoas pensam, mas eu não a vejo chegando a algum lugar. A mídia não a vê como uma candidata com credibilidade. Neste país, a mídia, geralmente, tem um poder de veto nessas questões.
Quais serão as maiores batalhas entre Obama e o Congresso nos próximos dois anos?
Não estou seguro de que Obama tenha muito de uma agenda para os próximos dois anos, mesmo que ele não tivesse perdido a Câmara de Representantes. Os republicanos na Câmara tentarão desfazer a reforma do seguro de saúde e a limitada reforma financeira que foi aprovada. E eles lutarão por mais cortes de impostos para os ricos. Na verdade, não há nada de novo. Os democratas têm o Senado e Obama tem o veto, portanto, não consigo ver eles indo muito longe. Mas, nunca se sabe – Obama pode decidir fazer acordos com eles.
(Brasil de Fato)
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