Hoje acordei querendo receber uma carta. Saudade de quando o Correio trazia letras cheias de afetos pra gente : podia ser notícia boa ou ruim.Não importava. Era uma carta. Esperada com ansiedade ou chegada de surpresa. Hoje o Correio só traz cobranças de contas ou avisos ameaçadores. Já habituados à comunicação instantânea dos scraps e emails, perdemos a memória da textura do papel das cartas em nossas mãos, do envelope em nossos dedos. Eu que já tinha uma caligrafia ruim, hoje constato que não tenho mais caligrafia, não sei escrever à mão. Fim de ano, uma amiga que conseguiu o meu endereço, usando,acho, de um artifício tipicamente feminino, me prometeu escrever antes de viajar pra Europa, pra checar se eu existo mesmo, se moro mesmo em algum lugar ,ou seria um bandido rondando a vida dela.Aproveitei e sugeri : “manda com a marca da tua boca”. Nunca mandou, nem a carta nem o signo. Voltou, scrapeou e nunca escreveu. Chegamos a isso. Cartas, nunca mais. Envelopes de cor verde-amarela, “pour avion”, envelopes enrugados, amassados, ou perfumados fazendo um homem sonhar antes de abrir. E as vizinhas fofoqueiras pra companheira da gente :”o Correio deixou uma carta pro teu marido” . O peso afetivo de uma leve carta, as surpresas de um telegrama. Agora os nomes mudaram. Os remetentes se chamam Serasa, SPC, IPTU, Imposto de Renda,Último Aviso de Cobrança. Envelheci mesmo. Acordei hoje com saudade das cartas. E como a gente vive no falso endereço dessa solidão que chamamos “ redes sociais”, deixo de mandar pra vocês uma carta. Mando um scrap. Em que pobreza vivemos ! RobertoMenezes.
(De um emeio do amigo Beto)
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