3 DEDOS DE PROSA COM ANDRÉA DEL FUEGO
Não troco os lençóis há dois meses, e acho pouco. Dispensei todo pano entre mim e o colchão, a não ser que você traga uma toalha de mesa bem chacoalhada na varanda, sem migalha de vagabundo.
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Meu irmão mais novo foi internado às pressas, eu acho que é pirraça, ele nunca passa mal quando eu bato com martelo. Mamãe prefere mantê-lo medicado, de seis em seis horas ele toma comprimidos azuis. Minha drágea é vermelha, dão-me depois do jantar, mas a prendo na bochecha esquerda. No quarto, esfarelo o remédio com o indicador debaixo da cama, assopro, dou martelada em mim e não dói.
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Tornar-me adulta inclui estrias na barriga, a pele não se hidrata a tempo. Quando soube que despejaria um ovo cru por mês, engravidei de uma história, que só posso expelir escondida.
(Andréa del Fuego é autora do romance “Os Malaquias” e da trilogia de contos “Minto enquanto posso”, “Nego tudo” e “Engano seu”, dos juvenis “Sociedade da Caveira de Cristal”, da coletânea de crônicas “Quase caio” e do infantil “Irmãs de pelúcia”. Ganhou o prêmio Literatura Para Todos, do Ministério da Educação, com a novela “Sofia, o cobrador e o motorista”. Está escrevendo o romance “Sonar” com a Bolsa de Criação Literária do Programa Petrobrás Cultural)
(Diversos Afins)
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