Meu tempo de riqueza
Por sete semanas de minha vida fui rico.
Com os rendimentos de uma peça comprei
Uma casa com um grande jardim. Eu a havia
Observado durante mais tempo do que o que nela morei.
Em diferentes horas do dia e da noite eu passava
Para ver como ficavam as velhas árvores em meio à relva ao alvorecer
Ou o viveiro de carpas com musgo, numa manhã chuvosa
Para ver as sebes no pleno sol do meio-dia
Os rododendros brancos à tardinha, depois do toque do ângelus.
Então me mudei com os amigos. Meu carro
Ficou sob os pinheiros, Olhamos em torno: de nenhum lugar
Via-se os limites do jardim, os declives dos gramados
E os grupos de árvores impediam que uma sebe avistasse a outra.
Também a casa era bonita. A escada de madeira nobre, tratada com perícia
Com degraus baixos e balaustrada de belas medidas.
Os cômodos pintados de branco
Tinham tetos de madeira lavrada. Grandes fogões de ferro
De forma graciosa, traziam imagens gravadas: camponeses no trabalho.
Portas maciças levavam ao vestíbulo ameno, com bancos e mesas de carvalho
Suas maçanetas de bronze haviam sido cuidadosamente escolhidas
E as lajes em torno da casa de cor castanha
Eram lisas, e gastas com as pisadas
De antigos moradores. Que proporções agradáveis! Cada aposento
diferente
E cada qual o melhor. E como mudavam segundo a hora do dia!
Mas a mudança das estações, certamente preciosa, não vivemos, pois
Após sete semanas de genuína riqueza deixamos a propriedade; logo
Fugíamos através da fronteira.
Bertolt Brecht
(1898-1956)
(poemblog)
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