sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Ciência

Mostra-me o teu cabelo, dir-te-ei quanto bebeste!
«Ciência Hoje» visitou Trimega Labs, em Manchester, onde se detecta consumo de álcool através do cabelo
2011-02-08
Por Luísa Marinho (texto e fotos)

Investigadores do Trimega no dia de estreia do novo laboratório
WARNING! Se bebeu, esconda o cabelo! Ele pode denunciá-lo até seis meses depois de uma noite de copos mais desregrada. No seu primeiro dia de trabalho no novo laboratório em Manchester, a Trimega Labs recebeu o «Ciência Hoje», entre diversos meios de comunicação europeus, para uma visita guiada a esta que é uma das mais inovadoras empresas no âmbito da ciência forense e a primeira a testar o consumo de álcool através do cabelo.

A visita foi organizada pela UK Trade & Investment (UKTI) e pela Manchester’s Investment and Development Agency (MIDAS), parte de uma iniciativa que levou os jornalistas a duas das cidades mais activas da ciência britânica – Nottingham e Manchester.
O director-executivo da Trimega Labs, Avi Lasarow, recebeu os jornalistas com entusiasmo. “É o primeiro dia neste laboratório e estamos muito orgulhosos. É bom estar em Manchester, onde as coisas mais excitantes no campo da ciência forense estão a acontecer”, afirma.

Criada em 2005, a empresa, que começou por operar em Londres, desenvolveu uma série de técnicas inovadoras para testar o abuso de vários tipos de drogas – lícitas ou ilícitas. É actualmente líder na detecção do consumo destas substâncias através de análises a cabelos.

A grande inovação é a detecção do consumo de álcool de longa duração. “Enquanto os testes à urina e ao sangue são eficazes apenas para detectar o consumo de alguns dias, os testes ao cabelo – chamados testes aos ésteres etílicos de ácidos gordos (fatty acid ethyl esters - FAEE) podem identificar o consumo de entre dois e seis meses”.

Estas análises são geralmente solicitadas por tribunais, forças policiais, companhias de aviação, serviços de adopção ou serviços de saúde. Pelo prestígio e importância que já tem a nível internacional, a companhia tem também apoio governamental, que promove a facilidade no acesso a países estrangeiros.

Avi Lasarow, director-executivo da Trimega Labs
Os serviços da empresa são diversificados. Aquando do acidente do avião da Afriqiyah Airways na Líbia, em Maio de 2010, foi contratada pelo governo daquele país para proceder a testes de identificação das vítimas.

Outra das parcerias internacionais acontece com a África do Sul. “O programa de controlo de tratamento com pessoas infectadas HIV/Sida estava a ter de enfrentar diversos problemas. Começou a verificar-se que haveria algumas pessoas que utilizar esse programa governamental, através do qual se fornece gratuitamente anti-retrovirais para o tratamento da doença, para venderem posteriormente o medicamento no mercado negro”, explica Lasarow.

A Trimega foi então contratada para testar quem tomava ou não os medicamentos. “Quem não tomava era excluído do programa, pois este custa muito dinheiro ao Estado sul-africano”, diz o director-executivo.

Como funciona o teste FAEE

O consumo de álcool não é tão fácil de detectar através do cabelo como o de drogas. Isto porque o etanol (álcool etílico) torna-se presente com muita facilidade em todo o cabelo, mesmo no dos abstémicos. A verdade é que basta estar num bar para o etanol ser detectado no cabelo.

Para evitar encontrar os traços que são provenientes do meio ambiente, e porque ao contrário das outras drogas consumidas, o álcool não é depositado directamente no cabelo, teve de se procurar produtos directos do metabolismo do etanol.

Uma parte do álcool reage com ácidos gordos para produzir ésteres. A soma das concentrações de quatro ésteres etílicos de ácidos gordos é utilizada como indicador do consumo de álcool. À medida que o cabelo cresce, absorve estes marcadores, bem como os EtG.

O primeiro entra no cabelo através da camada externa de sebo. Os outros, formados quase exclusivamente no fígado, são depositados no cabelo através do suor. Quantos mais marcadores, maior o consumo de álcool.
(Ciência Hoje)

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