sábado, 19 de fevereiro de 2011

Pensamentando

A Vida
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Por Sergio Santeiro


Niterói – Vivemos. Consiste em respirar, indispensavelmente. Em alimentar-se, também indispensável, no máximo, digamos, a cada 48 horas. Antes dá pra suportar, embora não se deva, que o digam os famélicos da terra. Em abrigar-se a salvo das intempéries naturais ou não. E cada vida vale, é igual, a uma vida. Por isso que o detentor de uma vida não pode aniquilar outra vida, senão fica devendo a dele.

Assim começa e prossegue o que se chama de ciclo da vida. Embora sejam mais e mais frequentes os centenários, que já o foram também no passado, acho que podemos por hipótese supor uma base de 80 anos, em média, para a sobrevivência humana. É um bom tempo para se aprender a viver, a que será que se destina.

A humanidade, a partir dos grupos que se espalharam territorialmente, veio se transformando no que hoje vemos e vivemos. Houve um tempo em que as sociedades verdadeiramente se compunham igualitárias, uns realmente iguais aos outros e todos participando do coletivo na sua medida e necessidade.

Não vou historiar a história do mundo, mas surgiram as disputas entre grupos que passaram a se organizar para além da sobrevivência estrita, basicamente uma vitória sobre a natureza: caçando, pescando, colhendo. E chegamos aos nossos dias. Bradam-se palavras e bandeiras, mas as sociedades ganhadoras vão impondo o seu estilo de privilégios para motivarem o crescimento mais de uns que de outros. Acumular.

A questão em si é muito simples: cada um só pode ter o que todos tenham. Ninguém tem direito a mais. Senão fica difícil. Não há como deter essa corrida industrialista seletiva. Muitos trabalham para poucos. E o que fazer com os danos que tal produção para alguns indivíduos causa para a coletividade?

Respirar fica difícil, entopem os ares com porcarias, alimentar-se fica difícil, empesteados terras e mares. Abrigar-se também fica difícil, os espaços, vagos, têm donos individuais que não os ocupam, deles não necessitam. A vida fica difícil. Sob a ameaça da vida difícil, muitos mais indivíduos aderem à estratégia de se incluírem, se possível, nas políticas de privilégios dominantes. São as classes médias. Na base fica o povo excluído.

Mil justificativas – falta escolaridade – não têm como justificar o erro, o brutal desperdício de vida, a mais para os poucos burgueses, a menos para a maioria do povo. Na disputa, na refrega por melhores dias, a violência torna-se o caminho para manterem-se os privilégios de classe – mais dinheiro. O que é preciso é abolir o dinheiro. Ou não dá pra resolver.

Os ideais, por exemplo, da Revolução Francesa, lá de trás, tidos como universais, viraram letra morta. Ainda se diz, ainda se repete, mas não se os vê, não estão em parte alguma. Somos mais ou menos aquinhoados que o vizinho, empáfia ou vergonha? Como se sabe, num misto de inveja e medo de cairmos ainda mais pra baixo, toleramos a desigualdade que nos impõem e forçamos os de baixo a tolerar também a mais desigualdade que sofrem. Mas a corda que nos puxa e nos amarra chega uma hora em que se rompe.

Certamente o crescimento crescente da população nessa escala de desigualdade gera uma complexidade de acordos e ajustes, difíceis de serem negociados e respeitados. As populações sofrem em meio aos luxos e banquetes. Desde menino aprendi que quando erramos a conta começamos de novo. É preciso começar de novo, garantir a vida para todos: um respirar, um alimentar e um abrigar.
O resto depois a gente vê como faz.

6/6/2009

Fonte: ViaPolítica/ O autor

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