quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O. Médio

O Islã: movimento salafyia e salafin
12/12/2011 | José Farhat


Com o andamento das eleições no Egito, em decorrência da primavera árabe, e em vista dos resultados já divulgados que indicam a vitória de uma maioria de inspiração religiosa - Fraternidade Muçulmana e Movimento Salafista -, aproveitei a oportunidade e fui buscar na minha pasta “O Islã e suas seitas” algo sobre o “Movimento salafyia e salafin”. Esclareço neste espaço alguns pontos com o intuito de evitar que se misturem alhos com bugalhos.





Salafi (plural salafin) significa, em árabe, seguidor dos ancestrais. Trata-se de um movimento islâmico sunita. É um derivativo de ‘salaf al-salihin’ (os pios ancestrais).





O Movimento Salafiya foi influenciado por Jamal al-Din Afghani (1838-1897), um pensador islâmico que estudou a militância dos salafin (ancestrais) dos primórdios do Islã.





Um de seus discípulos, Muhammad Abdu (1849-1905), salientou o impacto que o salaf teve na estruturação da Sharia (em árabe, caminho, a lei islâmica consistindo da divina revelação na forma do Alcorão e das práticas e ditos do Profeta).





Já Muhammad Rashid Rida (1865-1935), um seguidor de Abdu, pesquisou o que o Profeta Muhammad e os salaf al-salihin fizeram e disseram a fim de adaptar tudo às condições da atualidade. Ele preferiu seguir os conceitos dos salaf al-salihin em vez de o direito do sunismo (do árabe, costume, caminho), compreendendo todas as suas escolas: hanafita, hanbalita, malikita e shafiïta (como todos os pensadores islâmicos mencionados acima são sunitas, fica de fora a quinta escola de direito islâmico, o xiismo).





É importante que se note que esses pensadores ou nasceram no Egito ou lá viveram. Todos foram ativistas políticos, e a voz corrente é que eram muito mais interessados em política do que em religião. Um deles, Rida, foi um defensor ativista em favor do wahhabismo que moldou a religião e a política da Arábia Saudita.





De 1920 em diante, ficou claro para os descendentes dos teólogos ativistas citados que o salafismo só se realizaria com o apoio popular. Os seguidores desse movimento, desde então e na atualidade, defendem a conformação política ao Islã de seus salafin. Argumentam que, em virtude de o Profeta Muhammad ter sido sucedido por um califa (do árabe, khalifa, sucessor) escolhido pela comunidade, não há lugar no Islã para sucessão hereditária.





Por essa razão, os salafistas fazem parte da oposição religiosa existente, quase sempre clandestinamente, nos estados membros do Conselho de Cooperação dos Países Árabes do Golfo: Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Omã, Qatar. Foram também convidados para fazer parte do Conselho outros reinos distantes do Golfo Arábico/Pérsico: Jordânia e Marrocos.





Há aí uma contradição gritante: são todos países de maioria sunita que não praticam o regime político dos salaf al-salihin, pois nesse caso deveriam ser repúblicas; mudaram como mudou o Irã e seu xiismo quando esses adotaram uma república. Diga-se de passagem, a questão sucessória e o regime de governo são umas das importantes divergências entre o sunismo e o xiismo.





Os salafistas são muito ativos no Kuwait desde 1970, onde querem estabelecer um regime republicano democrático. Alguns participaram de um levante armado na Arábia Saudita, contra a família real de Al Saud, na Grande Mesquita de Meca, em novembro de 1979.





A atuação dos salafistas no Egito não cessou desde quando Afghani, Abdu e Rida começaram a se movimentar religiosa e politicamente e nas presentes eleições estão ganhando o apoio popular que os fundadores sempre procuraram para a realização de seus objetivos.





José Farhat é cientista político e diretor de relações nacionais e internacionais do Instituto da Cultura Árabe (http://josefarhat.wordpress.com).

José Farhat
Formado em Ciências Políticas (USJ-Beirute) e Propaganda e Marketing (ESPM-São Paulo), tem cursos de extensão ou pós-graduação em: Comércio Exterior (FGV-São Paulo), Introdução à Teoria Política (PUC-São Paulo), Direito Internacional (PUC-SP) e cursou Filosofia no Collège Patriarcal Grec-Catholique (CPGC-Beirute). Domina os idiomas: Árabe, Francês, Inglês e Português e tem artigos publicados sobre Política Internacional, no Brasil e no Líbano. É ex-Diretor Executivo e atual Conselheiro do Conselho Superior de Administração da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira; foi Superintendente de Relações Internacionais da Federação do Comércio do Estado de São Paulo e é seu atual membro do Conselho de Comércio e atual Diretor do Centro do Comércio do Estado de São Paulo. É diretor de Relações Nacionais e Internacionais do Instituto da Cultura Árabe. http://josefarhat.wordpress.com
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Um comentário:

  1. maomé também nos revelou, e de várias maneiras, que o seu allah era o maior enganador.
    Até a frase:
    allahu akbar, quer dizer que allah é o maior em tudo.
    Que não há ninguém maior do que allah.
    E os muçulmanos nunca repararam que isso implica ser allah o maior enganador e o maior em tudo o que seja ruim.
    Em verdade, só fora do islam podem existir as boas espiritualidades.

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