sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Bellzinha

Esta postagem, como todas, é dedicada a minha Bell...

Marxismo

A defesa do marxismo, de José Carlos Mariátegui
"Defesa do marxismo: polêmica revolucionária e outros escritos", publicado em português pela Boitempo Editorial, traz artigos do jornalista, teórico e dirigente revolucionário peruano, José Carlos Mariátegui, sobre algumas das mais importantes questões filosóficas e políticas do conturbado período que colidiu com os horrores da Primeira Guerra Mundial e com a Revolução de Outubro. Em comemoração ao lançamento, Boitempo realizará debate, dia 30 de agosto, na USP, em São Paulo.
Redação
A obra do jornalista, teórico e dirigente revolucionário peruano José Carlos Mariátegui (1894-1930) vem ganhando destaque nos meios editorial e acadêmico, quase um século depois de ter sido escrita. Marxista da práxis, para quem a vida teórica e a prática militante eram inseparáveis, Mariátegui é um dos principais expoentes do pensamento latinoamericano contemporâneo. Discutiu temas históricos, políticos e culturais, desvendando a memória de seu país, o contexto latino-americano e até aspectos da geopolítica mundial em ensaios originais que priorizavam a comunicação com as massas, acima de tudo.

Seus escritos, elaborados principalmente na década de 1920 e apoiados nos alicerces do materialismo-histórico, foram acusados de irracionalistas na época por absorverem as essências conceituais libertárias de Georges Sorel, Sigmund Freud e Friedrich Nietzsche.

Em Defesa do marxismo: polêmica revolucionária e outros escritos, agora publicado em português pela Boitempo Editorial, o leitor encontra esse ensaio, composto de dezesseis artigos, e outros seis escritos inéditos em que Mariátegui se atém a algumas das mais importantes questões filosóficas e políticas do conturbado período que colidiu com os horrores da Primeira Guerra Mundial e, por outro, com a Revolução de Outubro. “Sua técnica de dissecar experiências da discussão socialista e equívocos dos revisionistas ou, ainda, iluminar personagens importantes no jogo dos poderes e ideias não se limita a um abstracionismo esquerdista ou a uma emotiva história política – é antes uma plataforma tática de onde se ergue para enxergar o porvir humano no instável pós Guerra”, afirma o jornalista, estudioso e tradutor do livro, Yuri Martins Fontes, na introdução.

Com uma tradução cuidadosa e texto de orelha do filósofo Carlos Nelson Coutinho, a edição preserva o estilo eloquente e cativante do autor, mantendo a contundência das repetições, seu ritmo de pontuação e sua escolha de termos que exigem conceituação precisa.

Em comemoração ao lançamento, a Boitempo realizará no dia 30 de agosto (terça-feira), na Universidade de São Paulo, um debate sobre o livro com a participação do historiador e professor da FFLCH/USP, Lincoln Secco, o historiador Luiz Bernardo Pericás e o tradutor e organizador de Defesa do marxismo, Yuri Martins Fontes. O evento é gratuito e não há inscrição prévia.

Serviço
30/08 | 18h30 - São Paulo (SP)
Anfiteatro do departamento de Geografia - FFLCH/USP
Av. Professor Lineu Prestes, 338, Cidade Universitária, São Paulo/SP
Realização: Boitempo Editorial | Apoio: Departamento de Geografia da FFLCH/USP


Fotos: Divulgação
(Carta Maior)

EUA

Vinte anos para mudar o mundo
By
admin
– 17/08/2011Posted in: Capa
Buzz

Immanuel Wallerstein alerta: Estados Unidos declinarão mais rapidamente, mas isso não garante nada. É hora dos projetos de longo prazo
Tradução: Daniela Frabasile | Imagem: Henri Rousseau, Navio na Tempestade (detalhe)
Há uma década, quando eu e alguns outros falamos do declínio dos Estados Unidos no sistema-mundo, fomos recebidos no máximo com sorrisos de pena por nossa ingenuidade. Os EUA não eram o superpoder, envolvidos em cada canto remoto do planeta, capazes de obter o que queriam em quase todas as ocasiões? Essa era uma visão difundida em todo o cenário político.
Hoje, a visão de que os Estados Unidos declinaram, e declinaram seriamente, é uma banalidade. Todos dizem isso, com exceção de alguns políticos norte-americanos que temem ser culpados pela decadência, se a debaterem. O fato é que hoje quase todos acreditam na realidade desse declínio.
O que, entretanto, é muito menos discutido é quais foram, e quais serão as consequências mundiais desse fato. O declínio tem raízes econômicas, é claro. Mas a perda do quase-monopólio de poder geopolítico, que os Estados Unidos já exerceram, tem conseqüências políticas importantes em todo o mundo.
Vamos começar com uma história contada na seção de negócios do The New York Times em 7 de agosto. Um administrador de fortunas em Atlanta “apertou o botão de pânico” em nome de dois clientes ricos que o encarregaram de vender todas as ações e investir o dinheiro em algum fundo mútuo de alguma maneira isolado da crise. O administrador contou que, em 22 anos de trabalho, nunca tinha ouvido um pedido desses. “Isso não tem precedentes”. Os jornais chamaram a decisão de o equivalente de Wall Street ao “botão nuclear”. Foi algo inteiramente contra o conselho tradicional santificado, de “evitar o pânico” diante das turbulências do mercado.
A Standard & Poor`s reduziu o rating de crédito dos Estados Unidos de AAA para AA+, outro fato “inédito”. Mas isso é uma ação relativamente leve. A agência equivalente na China, Dagong, já reduziu a credibilidade dos Estados Unidos para A+ em novembro, e agora para A-. O economista peruano Oscar Ugarteche declarou que os Estados Unidos tornaram-se uma “república de bananas”. Ele diz que o país “escolheu a política da avestruz, como modo de não perder as esperanças [de melhora]”. Em Lima, nessa última semana, o encontro dos ministros de Finanças dos países sul-americanos discutiu medidas urgentes para isolar a região dos efeitos do declínio econômico dos Estados Unidos.
O problema que todos enfrentam é que é muito difícil isolar-se dos efeitos do declínio dos Estados Unidos. Apesar da severidade de seu declínio político e econômico, os Estados Unidos continuam um gigante no cenário mundial, e qualquer coisa que acontecer lá ainda provoca grandes ondas no resto do mundo.
É claro que o maior impacto do declínio é, e vai continuar sendo sentido, nos próprios Estados Unidos. Políticos e jornalistas estão falando abertamente da “disfuncionalidade” da situação política no país. Mas o que mais essa situação pode ser, além de disfuncional? O fato mais elementar é que os cidadãos dos Estados Unidos estão chocados pelo simples fato do declínio. Não é apenas que os estejam sofrendo materialmente com esse declínio, temam sofrer ainda mais, com o tempo. Eles acreditaram que os EUA eram a “nação escolhida”, designada por Deus ou pela história para ser um modelo para o mundo. E ainda ouvem o presidente Obama assegurar que seu país será sempre um “triplo A”.
O problema para Obama e para todos os políticos é que muito poucas pessoas ainda acreditam nisso. O choque para o orgulho e a auto-imagem nacional é formidável e além de tudo repentino. O país está lidando muito mal com ele. A população busca bodes espiatórios e esbraveja, de modo selvagem e pouco inteligente, contra os suspeitos de sempre. A última esperança parece ser a de descobrir que alguém é culpado e ver, como remédio, mudanças no comando.
Em geral, as autoridades federais são vistas como as mais fáceis de culpar – o presidente, o Congresso, os dois grandes partidos. Há uma tendência forte em direção a cortes no envolvimento militar fora dos Estados Unidos. Culpar o “povo de Washington” por tudo produz volatilidade política e disputas locais ainda mais violentas. Os EUA tornaram-se, eu diria, uma das entidades menos estáveis no sistema-mundo.
Isso torna EUA um país não apenas de disputas políticas disfuncionais, mas, além disso, pouco hábil para exercer poder real na cena internacional. Há uma grande queda na confiança nos Estados Unidos e seu presidente, entre grandes aliados no exterior e entre a própria base política interna do presidente. Os jornais estão cheios de análises sobre os erros políticos de Barack Obama. Quem pode argumentar contra isso? Eu poderia listar facilmente dezenas de decisões de Obama que, segundo meu ponto de vista, foram erradas, covardes e algumas vezes inteiramente imorais. Mas eu me pergunto se teria feito muita diferença, caso ele tivesse agido como sua base desejaria. O declínio dos Estados Unidos não é uma consequência de decisões medíocres de seu presidente, mas de realidades estruturais no sistema-mundo. Obama pode ser o indivíduo mais poderoso no mundo, mas nenhum presidente dos EUA é ou poderia ser hoje tão poderoso como os de antes.
Estamos entrando numa era de turbulências agudas, constantes e rápidas – nas taxas de câmbio, nas taxas de emprego, nas alianças geopolíticas, nas definições ideológicas da situação. A extensão e rapidez destas flutuações torna impossível fazer previsões de curto prazo. E sem alguma estabilidade razoável nas previsões de curto prazo (três anos, digamos), a economia-mundo estanca. Todos os países terão de ser mais protecionistas e voltados para dentro. Os padrões de vida vão cair. Não é um quadro agradável. E embora haja aspectos positivos para muitos, no declínio norte-americano, nada garante que, com os sacolejos do barco mundial, outros países possam tirar da nova situação o proveito que esperam.
É hora para análises muito mais sóbrias e de longo prazo, julgamentos morais muito mais claros sobre o que estas análises revelam, e ação política muito mais efetiva no esforço de criar, nos próximos 20 ou 30 anos, um sistema-mundo melhor do que aquele em que estamos hoje enrascados.


(Outras Palavras)

OTAN

É a OTAN que faz todo o trabalho militar, não os rebeldes
por Thierry Meyssan

Entrevistado por Silvia Cattori

Silvia Cattori: Aqui tem-se o sentimento de que Tripoli está em vias de colapso. Qual é a vossa opinião?

Thierry Meyssan: Estamos encerrados no Hotel Rixos. Não se pode dizer se tudo vai afundar ou não. Mas a situação é muito tensa. Ontem à noite, no momento da oração, várias mesquitas foram trancadas. De repente, alto-falantes lançaram o apelo à insurreição. Neste momento grupos armados começaram a percorrer a cidade e a atirar para todo lado. Soubemos que a OTAN trouxe um barco até as proximidades de Tripoli, do qual foram desembarcadas armas e forças especiais. Desde então as coisas vão cada vez pior.

Silvia Cattori: Trata-se de "forças especiais" estrangeiras?

Thierry Meyssan: Pode-se supor, mas não estou em condições de verificar. Mesmo que estas "forças especiais" sejam formadas por líbios todo o seu enquadramento é estrangeiro.

Silvia Cattori: Qual é a nacionalidade destas "forças especiais"?

Thierry Meyssan: São franceses e britânicos! Desde o princípio, são eles que fazem tudo.

Silvia Cattori: Como é que tudo ruiu subitamente?

Thierry Meyssan: Em 21 de Agosto, no fim do dia, um comboio de viaturas com oficiais foi atacado subitamente. Para se porem ao abrigo dos bombardeamentos os membros deste cortejo refugiaram-se no hotel Rixos, onde reside a imprensa internacional e onde por acaso me encontro eu.

A partir deste momento o hotel Rixos está cercado. Toda a gente veste colete anti-balas e capacetes. Ouve-se atirar em todos os sentido em torno do hotel.

As forças entradas em Tripoli desde ontem não tomaram nenhum edifício em particular; elas atacaram alvos em certos lugares ao deslocarem-se. Neste momento não há nenhum edifício ocupado. A OTAN bombardeia de maneira aleatória para aterrorizar sempre mais. É difícil dizer se o perigo é tão importante quanto parece. As ruas da cidade estão vazias. Toda a gente permanece encerrada na sua casa.

Estamos prisioneiros no hotel. Dito isto, há electricidade e água, não nos estamos a queixar. Os líbios sim. Agora há tiros em redor, uma batalha intensa; já há numerosos mortos e feridos em algumas horas. Mas nós somos preservados. Estamos todos reagrupados na mesquita do hotel. Você ouve tiros neste momento.

Silvia Cattori: Quantos assaltantes cercam vosso hotel neste momento?

Thierry Meyssan: Sou incapaz de dizer. É um perímetro bastante grande porque há um parque em torno do hotel. Penso que se não houvesse senão os assaltantes não seria tão simples tomar Tripoli. Mas se há outras tropas da OTAN com eles sim, isso muda tudo, o perigo torna-se grande.

Silvia Cattori: Nas imagens difundidas pelas televisões daqui vê-se que ao longo destes seis meses são excitados que atiram para o ar e que não parecem profissionais...

Thierry Meyssan: Viu-se com efeito bandos que se agitam e que não são formados militarmente. É pura encenação, não é realidade. A realidade é que todos os combates são travados pela OTAN; e quando seu objectivo é atingido as tropas da OTAN retiram-se. Então chegam pequenos grupos – vê-se de cada vez uma vintena de pessoas – mas na realidade nunca são vistos em acção. A acção são as forças da OTAN.

Foi assim que se passou sempre nas cidades que foram tomadas, perdidas, retomadas, reperdidas, etc... E cada ocasião são as forças da OTAN que chegam em helicópteros Apaches e metralham todo o mundo. Ninguém pode resistir, no terreno, face a helicópteros Apaches que bombardeiam; é impossível. Portanto não são os rebeldes que fazem o trabalho militar, isso é anedota! É a OTAN que faz tudo. Depois de eles se retirarem, então vêm "os rebeldes" fazer a figuração. É isso que você vê difundido nas cadeias de TV.

Silvia Cattori: Sabe-se quantos "rebeldes" em armas entraram em Tripoli esta noite? E se células dormentes já estavam lá?

Thierry Meyssan: Sim, com certeza, há células dormentes em Tripoli; é uma cidade com um milhão e meio de habitantes. Que haja células combatentes no interior é perfeitamente provável. Quanto aos assaltantes, mais uma vez, não sei qual é a proporção do enquadramento pelas forças da OTAN. A verdadeira questão é saber quantas forças especiais já foram colocadas.

Há agora forças militares do coronel Kadafi na cidade. Elas chegaram bastante tardiamente do exterior. Os assaltantes cercam o hotel. Penso que é impossível esta noite tentarem um assalto contra o hotel.

Silvia Cattori: Houve pânico entre as pessoas que residem no hotel?

Thierry Meyssan: Sim, jornalistas residentes aqui no hotel Rixos entraram completamente em pânico. É um pânico geral.

Silvia Cattori: E você como se sente?

Thierry Meyssan: Eu tento permanecer zen nestas situações!

Silvia Cattori: Quantos jornalistas estrangeiros estão entrincheirados no hotel?

Thierry Meyssan: Eu diria entre 40 e 50.

Silvia Cattori: As pessoas ignoram que onde há jornalistas que cobrem a guerra há sempre um bom número deles que faz informação, que são agentes duplos, espiões...

Thierry Meyssan: Há espiões por toda a parte; mas penso que eles não sabem tudo.

Silvia Cattori: Diz-se aqui que o plano para evacuar os estrangeiros está pronto. Eles vão poder sair...

Thierry Meyssan: A Organização de Emigração Internacional tem um barco que está prestes a atracar no porto de Tripoli para evacuar os estrangeiros, nomeadamente a imprensa, prioritárias neste caso.

Silvia Cattori: E você o que pensa fazer?

Thierry Meyssan: Por enquanto o barco está ao largo; ele não entrou no porto. É a OTAN que o impede de atracar. Quando a OTAN o autorizar será feita a evacuação.

Silvia Cattori: Esta evolução vos surpreende?

Thierry Meyssan: As coisas aceleraram-se quando chegou o barco da OTAN. São combatentes pertencentes às forças especiais da OTAN que estão aqui no terreno e é evidente que tudo pode cair rapidamente...

Silvia Cattori: Os citadinos estão todos munidos de fuzis se diz?

Thierry Meyssan: O governo distribuiu quase dois milhões de kalachnikovs no país para assegurar a defesa frente a uma invasão estrangeira. Em Tripoli, todos os cidadãos adultos receberam uma arma e munições. Houve um treino nestes últimos meses.

Silvia Cattori: Os líbios que quisessem não estão em condições de sair para manifestarem-se contra as forças da OTAN?

Thierry Meyssan: As pessoas estão paralisadas pelo medo; atira-se de toda a parte; e além disso bombardeia-se.

Silvia Cattori: Vossa posição não é fácil. Entre os jornalistas você deve ter inimigos que querem a vossa pelo por ter contraditado suas versões dos factos!

Thierry Meyssan: Sim. Já fui ameaçado por jornalistas estado-unidenses que disserem que querem matar-me. Mas a seguir apresentaram as suas desculpas... Não tenho dúvida nenhuma sobre suas intenções.

Silvia Cattori: Eles proferiram esta ameaça diante de testemunha?

Thierry Meyssan: Sim, na presença de (...)
Entrevista realizada a partir de Tripoli em 21/Agosto/2011/23h00.

(Operamundi)

Gabo

Gabriel García Márquez: toda guerra é burra

Livro recém-lançado do Nobel de Literatura traz discursos anti-bélicos que o escritor colombiano fez desde os 17 aos 80 anos, embasados por sua luta em defesa da unidade e soberania da parte latina e submetida do continente americano.

Por Marcos Aurélio Ruy *



Gabriel García Márquez
O livro “Eu não vim fazer um discurso” (Editora Record, 2011), de Gabriel García Márquez, apresenta os discursos do autor desde sua formatura no equivalente ao nosso ensino médio, a tantos eventos literários, culturais e políticos por onde passou, sempre denunciando o imperialismo norte-americano e a submissão dos regimes ditatoriais latino-americanos. Sempre um grito em favor da liberdade e dos oprimidos.

García Márquez nasceu em 06 de março de 1927 e enfrentou diversas dificuldades, inclusive financeiras, até consagrar-se como escritor. Justamente por sua opção política na defesa dos interesses nacionais e do povo de seu país e contra toda forma de opressão, transformou-se em um dos maiores representantes latino-americanos do chamado “realismo mágico”, uma escola literária que usa do absurdo para mostrar a realidade, numa maneira de driblar a censura existente na maioria dos países na parte sul do continente. Para alguns, uma resposta latino-americana à literatura fantástica europeia, só que diferentemente, aqui, não apresenta teor niilista em seu conteúdo. Pelo contrário, vislumbra um futuro melhor. Márquez sempre acreditou na necessidade de unidade dos países latino-americanos e de uma luta conjunta, permanente, contra a sombra do imperialismo e do fascismo no continente.

Grandes nomes escolheram o caminho do fantástico para escrever seus livros, entre eles os argentinos Julio Cortázar e Jorge Luis Borges, o venezuelano Arturo Uslar Pietri, considerado o pai do realismo mágico no continente, o cubano Alejo Carpentier e, mais recentemente, a chilena Isabel Allende, filha de Salvador Allende e a mexicana Laura Esquivel, entre outros. Alguns autores brasileiros também enveredaram por esse caminho, como Murilo Rubião e José J. Veiga, ou o dramaturgo Dias Gomes nas novelas que escreveu para a televisão.

Já aos 17 anos, ao pronunciar discurso de despedida na escola em que estudou, o colombiano mostrava ao que veio. “Toda esta série de acontecimentos cotidianos que nos uniram através de laços inquebrantáveis com este grupo de rapazes que hoje abrirá caminho na vida”. E seu caminho foi se abrindo a duras penas, porque ele escolheu um rumo de luta e de soberania contra a classe dominante ditatorial, elitista e antinacional. Num outro discurso sobre literatura ele explica como e por que começou a escrever. “Comecei a ser escritor da mesma forma que subi neste palco: à força”, afirma, e complementa, ao contar o motivo que o levou a escrever seu primeiro conto e enviá-lo para o jornal publicá-lo: “Eduardo Zalamea Borda, diretor do suplemento literário do ‘El Spectador’ de Bogotá, publicou um artigo no qual dizia que as novas gerações de escritores não ofereciam nada, que não se via em lugar algum um novo contista ou um novo romancista”. Provocado, Márquez escreveu um conto e o editor reconheceu o engano e pediu desculpas.

Em seus discursos. o escritor sempre colocava sua posição política em favor da liberdade, da igualdade, da soberania dos povos e da justiça social. Mesmo em 1982, quando recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, ele denunciou o preconceito com o qual éramos vistos pelos europeus, assim como a situação de penúria e opressão vivenciada na América Latina de então, diferente de hoje, quando vislumbramos luzes no fim do túnel em todos os aspectos da vida.

No discurso de agradecimento pelo Nobel, diz que “a independência do domínio espanhol não nos pôs a salvo da demência”, porque “os desaparecidos pela repressão somam quase 120 mil” e ainda porque “20 milhões de crianças latino-americanas morreram antes de fazer dois anos” e complementa com as denúncias ao afirmar que “é compreensível que insistam em nos medir com a mesma vara com que se medem, sem recordar que os estragos da vida não são iguais para todos, e que a busca da identidade própria é tão árdua e sangrenta para nós como foi para eles”, ao falar sobre a atitude dos europeus e norte-americanos em relação a nós. No discurso “A América Latina existe”, Márquez afirma que “tudo o que não parece com eles parece um erro, e fazem tudo para a sua maneira, corrigir isso, como, aliás, fazem os Estados Unidos”.

Pela paz e pela cultura

Diversas vezes o autor colombiano pronunciou-se em favor da paz ao defender a autodeterminação dos povos, contra as guerras imperialistas. Num discurso para militares disse aos soldados que “a vida de todos nós seria melhor se cada um dos senhores levasse sempre um livro na mochila”. Da mesma forma afirmou também que “as crianças que hoje estão na escola primária preparando-se para reger nossos destinos continuam condenadas a contar com os dedos da mão, como os contadores da mais remota antiguidade, enquanto já existem computadores capazes de fazer cem mil operações aritméticas por segundo”, ao denunciar o descaso coma educação nos países da América Latina. Noutro discurso contra o armamento e contra a guerra afirma Márquez que “diante deste descomunal desperdício econômico, é ainda mais inquietante e doloroso o desperdício humano: a indústria da guerra mantém em cativeiro o maior contingente de sábios jamais reunidos para tarefa alguma na história da humanidade” e continua dizendo que a libertação deles é fundamental “para que nos ajudem a criar, no âmbito da educação e da justiça, a única coisa que pode nos salvar da barbárie: a cultura da paz”.

Foi uma crítica direta à indústria bélica e a opressão que impedia os países do Terceiro Mundo de se libertar e progredir. Em um evento, Márquez afirmou que “estamos aqui para tentar que um encontro de intelectuais tenha aquilo que a imensa maioria deles não teve: utilidade prática e continuidade” defenderam ainda que “a cultura é a força totalizadora da criação: o aproveitamento social da inteligência humana” e “como disse Jack Lang sem maiores rodeios: ‘a cultura é tudo’”.

Para Gabriel García Márquez “a corrida das armas vai ao sentido contrário da inteligência”, ele diz ainda “a educação privada, boa ou ruim, é a forma mais efetiva da discriminação social”. Ao debater a necessidade de se investir na educação pública, no incentivo à leitura e na defesa da cultura nacional dos países, respeitando-se as formas populares de expressão.

O escritor e jornalista também falou de jornalismo. “Alguém teria que ensinar aos jornalistas que o gravador não é um substituto da memória e, sim, uma evolução da humilde caderneta de anotações”, ao criticar o uso excessivo da tecnologia em detrimento da inteligência e da argúcia no jornalismo. Diz também com razão que para o exercício do bom jornalismo “ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a morrer por isso poderia persistir num ofício tão incompreensível e voraz, cuja obra termina depois de cada notícia, como se fosse para sempre, e não concede um instante de paz enquanto não torne a começar com mais ardor que nunca no minuto seguinte”, numa visão do que seja a função de jornalista, terrivelmente abandonada nestes tempos de tentativas de arrombamento de apartamentos, de paparazzi, de invasão de privacidade, de diz-que-diz, de submissão à empresa, de falta de escrúpulos e de falta de ética no jornalismo.

Uma voz da América Latina

O escritor diz com segurança que “maltratada e dispersa, e ainda sem acabar, e sempre à procura de uma ética da vida, a América Latina existe. A prova disso? Nestes dois dias tivemos essa prova: pensamos logo existimos”, sobre encontro de intelectuais sobre a cultura na América Latina. Mas também critica com veemência ao afirmar que “minha impressão é que o tráfico de drogas se tornou u problema que escapou das mãos da humanidade. Isso não quer dizer que devemos ser pessimistas e declarar-nos derrotados, mas que é preciso continuar combatendo o problema” para tirar a juventude das garras do tráfico ele acredita ser necessário mover-se esforços de educação e de ocupar-se os jovens, mas também com a solução das questões sociais que extinguem a miséria e sobre o seu país ele acredita que “é impossível imaginar o fim da violência na Colômbia sem a eliminação do narcotráfico”.

Parece que inclusive o Brasil hoje vive situação semelhante onde perdemos inúmeras vidas de jovens da periferia dos grandes centros para os traficantes e para a violência policial.
Ainda sobre a necessidade de unidade da América Latina Márquez afirma, em 1990, que vivemos num continente “no qual a morte há de ser derrotada pela felicidade e haverá mais paz para sempre, mais tempo e melhor saúde, mais comida quente, mais rumbas saborosas, mais de tudo de bom para todos. Em duas palavras: mais amor”. Um tempo, diz o escritor colombiano, “que cada um possa fazer apenas aquilo que goste do berço à tumba”.

Como um dos grandes escritores em língua espanhola de todos os tempos, Gabriel García Márquez revela em sua obra a obstinação por um mundo melhor através de sua literatura e de livros fundamentais para a leitura de todos, como “Cem anos de solidão”, “O amor nos tempos do cólera” e muitos outros livros que o colocam como um dos grandes escritores mundiais e uma voz constante em defesa da América Latina. García Márquez teve inúmeras obras adaptadas para o cinema e aposentou-se em 2009 deste ofício do qual diz ser falta de escolha na vida. Que bom se todos tivessem tamanha falta de escolha!

*Marcos Aurélio Ruy é colaborador do Vermelho

As Esquerdas

“A defesa da democracia de alta intensidade é a grande bandeira das esquerdas”, diz Boaventura
25/08/2011 Posted by Ana Helena Tavares - QTMD? under Política
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Carta às esquerdas
Por Boaventura de Sousa Santos (*)

Não ponho em causa que haja um futuro para as esquerdas, mas o seu futuro não vai ser uma continuação linear do seu passado. Definir o que têm em comum equivale a responder à pergunta: o que é a esquerda? A esquerda é um conjunto de posições políticas que partilham o ideal de que os humanos têm todos o mesmo valor, e são o valor mais alto. Esse ideal é posto em causa sempre que há relações sociais de poder desigual, isto é, de dominação. Neste caso, alguns indivíduos ou grupos satisfazem algumas das suas necessidades, transformando outros indivíduos ou grupos em meios para os seus fins. O capitalismo não é a única
fonte de dominação, mas é uma fonte importante.
Os diferentes entendimentos deste ideal levaram a diferentes clivagens. As principais resultaram de respostas opostas às seguintes perguntas. Poderá o capitalismo ser reformado de modo a melhorar a sorte dos dominados, ou tal só é possível para além do capitalismo? A luta social deve ser conduzida por uma classe (a classe operária) ou por diferentes classes ou grupos sociais? Deve ser conduzida dentro das instituições democráticas ou fora delas? O Estado é, ele próprio, uma relação de dominação, ou pode ser mobilizado para combater as relações de dominação?
As respostas opostas a estas perguntas estiveram na origem de violentas clivagens. Em nome da esquerda cometeram-se atrocidades contra a esquerda; mas, no seu conjunto, as esquerdas dominaram o século XX (apesar do nazismo, do fascismo e do colonialismo) e o mundo tornou-se mais livre e mais igual graças a elas. Este curto século de todas as esquerdas terminou com a queda do Muro de Berlim. Os últimos 30 anos foram, por um lado, uma gestão de ruínas e de inércias e, por outro, a emergência de novas lutas contra a dominação, com outros atores e linguagens que as esquerdas não puderam entender. Entretanto, livre das esquerdas, o capitalismo voltou a mostrar a sua vocação antissocial. Voltou a ser urgente reconstruir as esquerdas para evitar a barbárie. Como recomeçar? Pela aceitação das seguintes ideias:
1) O mundo diversificou-se e a diversidade instalou-se no interior de cada país. A compreensão do mundo é muito mais ampla que a compreensão ocidental do mundo; não há internacionalismo sem interculturalismo;
2) O capitalismo concebe a democracia como um instrumento de acumulação; se for preciso, redu-la à irrelevância e, se encontrar outro instrumento mais eficiente, dispensa-a (o caso da China). A defesa da democracia de alta intensidade é a grande bandeira das esquerdas;
3) O capitalismo é amoral e não entende o conceito de dignidade humana; a defesa desta é uma luta contra o capitalismo e nunca com o capitalismo (no capitalismo, mesmo as esmolas só existem como relações públicas);
4) A experiência do mundo mostra que há imensas realidades não capitalistas, guiadas pela reciprocidade e pelo cooperativismo, à espera de serem valorizadas como o futuro dentro do presente:
5) O século passado revelou que a relação dos humanos com a natureza é uma relação de dominação contra a qual há que lutar; o crescimento económico não é infinito;
6) A propriedade privada só é um bem social se for uma entre várias formas de propriedade e se todas forem protegidas; há bens comuns da humanidade (como a água e o ar);
7) O curto século das esquerdas foi suficiente para criar um espírito igualitário entre os humanos que sobressai em todos os inquéritos; este é um património das esquerdas que estas têm vindo a dilapidar;
8 ) O capitalismo precisa de outras formas de dominação para florescer, do racismo ao sexismo e à guerra e todas devem ser combatidas;
9) O Estado é um animal estranho, meio anjo meio monstro, mas, sem ele, muitos outros monstros andariam à solta, insaciáveis à cata de anjos indefesos. Melhor Estado, sempre; menos Estado, nunca.
Com estas ideias, vão continuar a ser várias as esquerdas, mas já não é provável que se matem umas às outras e é possível que se unam para travar a barbárie que se aproxima.
*Fonte: http://clix.visao.pt/carta-as-esquerdas=f618946

Pensamentando

Política: Lulismo fora do eixo
Os defensores da política “pósrancor” combinam a “mais pérfida prática reacionária com um discurso aparentemente libertário”.
Por José Arbex Jr.

“Imaginem um liquidificador em que se possa colocar as ramificações da esquerda, com estratégias e lógicas de mercado das agências de publicidade, misturando rock, rap, artes visuais, teatro, um bando de sonhadores e outro de pragmáticos, o artista, o produtor, o empresário e o público. Tudo junto e misturado. O caldo dessa batida é uma nova tecnologia de participação e engajamento que funciona de forma exemplar para a circulação e produção musical, mas que, acima de tudo, é um grande projeto de formação política. O Fora do Eixo cria, portanto, uma geração que se utiliza sem a menor preocupação ideológica de aspectos positivos da organização dos movimentos de esquerda e de ações de marketing típicas dos liberais. É, como disse o teórico da contracultura Cláudio Prado, a construção da geração pósrancor, que não fica presa à questões filosóficas e mergulha radicalmente na utilização da cultura digital para fazer o que tem que ser feito.”

O fantástico liquidificador das ideologias é assim descrito por Alexandre Youssef, articulista da revista Trip (de onde foi extraído o trecho acima citado, publicado em 12 de maio de 2011), membro do Partido Verde e coordenador do setor de Juventude durante a gestão de Marta Suplicy na prefeitura de São Paulo. Ele tem o mérito indiscutível da franqueza. Não é todo dia que alguém reúne graça e entusiasmo para cantar as virtudes de um “projeto de formação política” que combina, sem qualquer pudor ideológico, métodos organizativos da esquerda com “ações de marketing típicas dos liberais”. Claro: tudo isso é feito sem rancor, sentimento ultrapassado e cultivado pelas pessoas que teimam em se prender a “questões filosóficas” antigas, incapazes de perceber que a cultura digital mudou o mundo. Afinal, não foi o FaceBook que provocou a revolução árabe?

Não. Não foi a mais moderna tecnologia que provocou a revolução árabe, mas os mais arcaicos entre os problemas enfrentados pela humanidade: a fome e a pobreza. A imensa maioria dos árabes nunca teve acesso à Internet, ao FaceBook e a nada que se pareça com “cultura digital”. Nem teve acesso a mesas fartas e empregos dignos. Seria melan-cômico presenciar o resultado de uma preleção contra o rancor endereçada aos milhões de manifestantes que, colocando em risco as próprias vidas, foram às ruas para derrubar ditadores em algumas das principais capitais árabes. Em contrapartida, os soldados e oficiais da Otan que, historicamente, lançaram e ainda lançam milhares de toneladas de bombas sobre uma população civil indefesa, esses não agem movidos pelo rancor, mas subordinados a frios interesses geopolíticos, e estão perfeitamente integrados à “cultura digital”. Os seus brinquedinhos de guerra são produtos da tecnologia de ponta, e incluem robôs e bombardeiros não pilotados. Tudo muito avançado.
Para ler o artigo completo e outras matérias confira edição de agosto da revista Caros Amigos, já nas bancas, ou clique aqui e compre a versão digital da Caros Amigos.

Líbia

Após ofensiva militar da OTAN, começa a corrida pelas riquezas da Líbia
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A OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) mantém seus ataques à Líbia com o objetivo de derrotar as tropas leais ao líder Muamar Kadafi e liberar o caminho para que os rebeldes assumam o país. Embora os motivos oficiais sejam estes, quem critica a ofensiva das tropas ocidentais afirma que os verdadeiros interesses dos países que formam a OTAN -- principalmente Estados Unidos, França, Canadá, Itália e Reino Unido -- estão ligados aos recursos naturais líbios, em especial o petróleo.
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"O petróleo é responsável por mais de 70% da economia líbia. Esta é a grande riqueza. E esse petróleo chamou a atenção desses países", afirmou Lejeune Mirhan, sociólogo e especialista em mundo árabe. De acordo com despacho norte-americano revelado pelo Wikileaks nesta terça-feira (24/08), as riquezas energéticas líbias -- petróleo e gás -- correspondem a 95% da economia do país africano.

Global Research

O destino do petróleo líbio: Itália (38%), Alemanha (19%), Espanha (8%), EUA (7%) e França (6%)

O petróleo é hoje o principal recurso natural do país, responsável pela exportação diária de 1,525 milhões de barris. Com os números, a Líbia fica a frente, por exemplo, do Iraque, que exporta pouco mais de 1,4 milhão barris/dia.

O sociólogo destaca ainda que, apesar dos ataques da OTAN, a Líbia possuía recentemente uma estreita relação com os países ocidentais. O volume de petróleo exportado ajuda a entender melhor a questão. "Kadafi se aproximou do Ocidente nos últimos 10 anos. Ele era o 'queridinho' dos EUA e da Europa. A situação apenas atesta uma lição histórica: o imperialismo não perdoa", completou Mirhan.

EUA e Líbia reataram relações diplomáticas em 2006, após o governo de George W. Bush retirar o país de Kadafi da lista dos que patrocinam o terrorismo. Na ocasião, a Líbia se comprometeu a não desenvolver seu programa nuclear e assumiu a responsabilidade pelo atentado contra o avião da companhia norte-americana Pan Am, em 1988, sobre a cidade escocesa de Lockerbie.

Paulo Boggiani, professor do Instituto de Geociências da USP (Universidade de São Paulo) também destaca a boa relação entre a Líbia e alguns países ocidentais, que compõem a OTAN. "Enquanto Kadafi garantia o petróleo, ninguém mexia com ele. As relações eram boas", pontuou. "Agora, no entanto, a situação mudou. Os países de primeiro mundo vão querer controlar o petróleo líbio. A lógica internacional é manter a produção do país", completou.
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Dependência

As declarações do sociólogo podem ser embasadas por meio de números que revelam a quantidade de petróleo importado por alguns países membros da OTAN. Entre os que não produzem petróleo, a Alemanha importa mais de 2,5 milhões de barris por dia. A França também ultrapassa a quantidade diária de 2 milhões de barris, enquanto a Itália chega a 1,8 milhões.

Já os EUA, responsável pelo ataques mais agressivos da ofensiva que toma conta da Líbia, consomem diariamente pouco menos de 20 milhões de barris de petróleo. O país, porém, produz apenas 37,42% desse total, segundo Mirhan.

Recursos hídricos

Outro recurso natural líbio que chama a atenção dos principais países ocidentais são as reservas de água subterrânea. Juntamente com Egito, Chade e Sudão, parte da Líbia está localizada sobre o Sistema Aquífero Arenito da Núbia.

Wikicommons

Mapa ilustra as principais reservas de água na Europa, África e Ásia

Trata-se da maior reserva de água subterrânea do mundo. Estimativas garantem que a reserva possui 150 mil km³ de água. A Líbia passou a utilizar essa fonte de água com maior intensidade a partir de 1983, também para irrigar a agricultura do país.

Os países membros da OTAN, que participam da ofensiva na Líbia, sustentam a posição de apenas deixar o país quando Kadafi for preso. No entanto, os reais interesses da investida ocidental sobre o país não parece mesmo ser apenas de ordem política.

"O país foi destruído. Na África, era a nação com maior índice de saneamento, investimentos em saúde. Mas a Líbia foi destruída tal qual o Iraque. Quem toma conta do país atualmente são as petrolíferas internacionais. Está em curso na África uma disputa pelo continente. Até mesmo a China investe no continente. Se trata de uma nova partilha da África entre as potências", concluiu Mirhan.
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sábado, 22 de outubro de 2011

Indignação

Indignaos (Indignez-vous)
Stéphane Hessel
Traducción de María Belvis Martínez García
93 años. Es la última etapa. El fin no está lejos. Qué suerte poder aprovecharla para recordar lo que ha servido de base a mi compromiso político: los años de resistencia y el programa elaborado hace 70 años por el Consejo Nacional de la Resistencia. A Jean Moulin le debemos, dentro del marco de este Consejo, el agrupamiento de todos los componentes de la Francia ocupada, los movimientos, los partidos, los sindicatos, con el fin de proclamar su adhesión a la Francia combativa y a su único jefe reconocido: el general De Gaulle. Desde Londres, donde me reuní con el general De Gaulle, en marzo de 1941, me llegó la noticia de que el Consejo había puesto en marcha un programa (adoptado el 15 de marzo de 1944) que proponía para la Francia liberada un conjunto de principios y valores sobre los que se asentaría la democracia moderna de nuestro paísi.
Estos principios y valores los necesitamos hoy más que nunca. Es nuestra obligación velar todos juntos para que nuestra sociedad siga siendo una sociedad de la que podamos sentirnos orgullosos, y no esta sociedad de indocumentados, de expulsiones, de sospechas con respecto a la inmigración; no esta sociedad en la que se ponen en cuestión las pensiones, los logros de la Seguridad Social; no esta sociedad donde los medios de comunicación están en manos de los poderosos. Todas estas son cosas que habríamos evitado apoyar si hubiéramos sido verdaderos herederos del Consejo Nacional de la Resistencia.
A partir de 1945, después de un drama atroz, las fuerzas internas del Consejo de la Resistencia se entregan a una ambiciosa resurrección. Se crea la Seguridad Social como la Resistencia deseaba, tal y como su programa lo estipulaba: “un plan completo de Seguridad social que aspire a asegurar los medios de subsistencia de todos los ciudadanos cuando estos sean incapaces de procurárselos mediante el trabajo”; “una pensión que permita a los trabajadores viejos terminar dignamente su vida”. Las fuentes de energía, electricidad y gas, las minas de carbón y los bancos son nacionalizados. El programa recomendaba “que la nación recuperara los grandes medios de producción, fruto del trabajo común, las fuentes de energía, los yacimientos, las compañías de seguros y los grandes bancos”; “la instauración de una 2
verdadera democracia económica y social, que expulse a los grandes feudalismos económicos y financieros de la dirección de la economía”. El interés general debe primar sobre el interés particular, el justo reparto de la riqueza creada por el trabajo debe primar sobre el poder del dinero. La Resistencia propone “una organización racional de la economía que garantice la subordinación de los intereses particulares al interés general y que se deshaga de la dictadura profesional instaurada según el modelo de los Estados fascistas”, y el gobierno provisional de la República toma el relevo.
Una verdadera democracia necesita una prensa independiente; la Resistencia lo sabe, lo exige, defiende “la libertad de prensa, su honor y su independencia del estado, de los poderes del dinero y de las influencias extranjeras”. Esto es lo que, desde 1944, aún indican las ordenanzas en relación a la prensa. Ahora bien, esto es lo que está en peligro hoy en día.
La Resistencia llamaba a la “posibilidad efectiva para todos los niños franceses de beneficiarse de la mejor instrucción posible”, sin discriminación; ahora bien, las reformas propuestas en 2008 van contra este proyecto. Jóvenes profesores, a los cuales apoyo, han peleado hasta impedir la aplicación de estas reformas y han visto disminuidos sus salarios a modo de penalización. Se han indignado, han “desobedecido”, han considerado que estas reformas se alejaban del ideal de la escuela republicana, que estaban al servicio de la sociedad del dinero y que no desarrollaban suficientemente el espíritu creativo y crítico.
Es la base de las conquistas sociales de la Resistencia la que hoy se cuestionaii.
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El motivo de la resistencia es la indignación
Se tiene la osadía de decirnos que el Estado ya no puede asegurar los costes de estas medidas sociales. Pero cómo puede faltar hoy dinero para mantener y prolongar estas conquistas, cuando la producción de la riqueza ha aumentado considerablemente desde la Liberación, periodo en el que Europa estaba en la ruina, si no es porque el poder del dinero, combatido con fuerza por la Resistencia, no ha sido nunca tan grande, tan insolente y tan egoísta con sus propios servidores, incluso en las más altas esferas del Estado. Los bancos, una vez privatizados, se preocupan mucho por sus dividendos y por los altos salarios de sus dirigentes, no por el interés general. La brecha entre 3
los más pobres y los más ricos no ha sido nunca tan grande, ni la búsqueda del dinero tan apasionada.
El motivo principal de la Resistencia era la indignación. Nosotros, veteranos de los movimientos de resistencia y de las fuerzas combatientes de la Francia libre, llamamos a las jóvenes generaciones a vivir y transmitir la herencia de la Resistencia y de sus ideales. Nosotros les decimos: tomad el relevo, ¡indignaos! Los responsables políticos, económicos e intelectuales, y el conjunto de la sociedad no deben dimitir ni dejarse impresionar por la actual dictadura de los mercados financieros que amenaza la paz y la democracia.
Os deseo a todos, a cada uno de vosotros, que tengáis vuestro motivo de indignación. Es algo precioso. Cuando algo nos indigna, como a mí me indignó el nazismo, nos volvemos militantes, fuertes y comprometidos.
Volvemos a encontrarnos con esta corriente de la historia, y la gran corriente de la historia debe perseguirse por cada uno. Y esta corriente nos conduce a más justicia y libertad; pero no a la libertad incontrolada de la zorra en el gallinero. Estos derechos, recogidos en 1948 en un programa de la Declaración universal, son universales. Si conocéis a alguien que no los disfruta, compadecedlo, ayudadle a conseguirlos.
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Dos visiones de la historia
Cuando intento comprender qué fue lo que causó el fascismo, qué hizo que fuéramos absorbidos por él y por Vichy, me digo que los ricos egoístas tuvieron mucho miedo de la revolución bolchevique y que se dejaron guiar por sus miedos. Pero si, hoy como entonces, una minoría activa se levantara, eso bastaría: tendríamos la levadura que haría crecer la masa.
Desde luego, la experiencia de alguien viejo, como yo, nacido en 1917, es diferente de la experiencia de los jóvenes de hoy. A menudo solicito a los profesores de colegios la oportunidad de dirigirme a sus alumnos, y les digo: “vosotros no tenéis las mismas razones evidentes para comprometeros. Para nosotros, resistir era no aceptar la ocupación alemana, la derrota. Era algo relativamente simple; simple como lo que vino a continuación: la descolonización. Siguió la guerra de Argelia: era necesario que Argelia se independizara, era algo evidente. En cuanto a Stalin, todos aplaudimos la victoria del ejército rojo contra los nazis, en 1943. Pero cuando nos 4
enteramos de las grandes purgas estalinistas de 1935, aunque era necesario estar al corriente de lo que hacía el comunismo para contrarrestar el capitalismo americano, la necesidad de oponerse a esta forma insoportable de totalitarismo se impuso como una evidencia. Mi larga vida me ha dado una serie de razones para indignarme.
Estas razones son fruto menos de una emoción que de una voluntad de compromiso. Cuando estudiaba en la Escuela Normal, Sartre, un condiscípulo mayor que yo, me influenció profundamente. La náusea, El muro, pero no El ser y la nada, fueron muy importantes en la formación de mi pensamiento. Sartre nos enseñó a decirnos: “Sois responsables en tanto que individuos”. Era un mensaje de libertad. La responsabilidad del hombre que no puede confiar ni en un poder ni en un dios. Al contrario, es necesario comprometerse en nombre de la propia responsabilidad como persona humana. Cuando entré en la Escuela Normal de la calle Ulm, en Paris, en 1939, entré como ferviente discípulo del filósofo Hegel, y seguí el seminario de Maurice Merleau-Ponty. Su enseñanza exploraba la experiencia concreta, la del cuerpo y sus relaciones con los sentidos, gran singular frente a la pluralidad de los sentidos. Pero mi optimismo natural, que quiere que todo lo que es deseable sea posible, me encaminaba más bien a Hegel. El hegelianismo interpreta que la larga historia de la humanidad tiene un sentido: la libertad del hombre que progresa paso a paso. La historia está hecha de choques sucesivos, es la asunción de los desafíos. La historia de las sociedades progresa, y al final, cuando el hombre ha alcanzado su completa libertad, se tiene el estado democrático en su forma ideal.
Existe, desde luego, otra concepción de la historia. Los progresos conseguidos por la libertad, la competición, la carrera por el “siempre más” pueden ser vividos como un huracán destructor. Así la concibe un amigo de mi padre, el hombre que compartió con él la tarea de traducir al alemán En busca del tiempo perdido, de Marcel Proust. Es el filósofo alemán Walter Benjamin. Él había encontrado un mensaje pesimista en un cuadro del pintor suizo Paul Klee, el Angelus Novus, en el que la figura de un ángel abre los brazos como para contener y rechazar una tempestad que Benjamin identifica con el progreso. Para Benjamin, que se suicidó en septiembre de 1940 para huir del nazismo, el sentido de la historia es un camino irresistible de catástrofe en catástrofe.
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La indiferencia: la peor de las actitudes 5
Es verdad que las razones para indignarse pueden parecer hoy menos claras o el mundo demasiado complejo. ¿Quién manda, quién decide? No siempre es fácil distinguir entre todas las corrientes que nos gobiernan. Ya no tenemos que vérnoslas con una pequeña élite, cuyo modo de actuar conocemos con claridad. Este es un vasto mundo de cuya interdependencia nos percatamos claramente. Vivimos con una interconectividad como jamás ha existido. Pero en este mundo hay cosas insoportables. Para verlas, hace falta observar con atención, buscar. Les digo a los jóvenes: buscad un poco, encontraréis. La peor de las actitudes es la indiferencia, el decir “yo no puedo hacer nada, yo me las apaño”. Al comportaros así, perdéis uno de los componentes esenciales que hacen al ser humano. Uno de sus componentes indispensables: la capacidad de indignarse y el compromiso que nace de ella.
Es posible identificar desde ahora dos grandes desafíos nuevos:
1. La gran diferencia que existe entre los muy pobres y los muy ricos, la cual no deja de crecer. Se trata de una innovación de los siglos XX y XXI. Los muy pobres del mundo de hoy ganan apenas dos dólares al día. No se puede dejar que esta diferencia se haga más profunda todavía. La constatación de este hecho debería suscitar por sí misma un compromiso.

2. Los derechos del hombre y el estado del planeta. Después de la Liberación tuve la suerte de participar en la redacción de la Declaración universal de los derechos del hombre adoptada por la Organización de Naciones Unidas el 10 de diciembre de 1948, en el palacio de Chaillot, en Paris. Como jefe de gabinete de Henri Laugier, secretario general adjunto de la ONU y secretario de la Comisión de los Derechos del hombre participé, entre otros, en la redacción de esta declaración. No puedo olvidar el papel que tuvo en su elaboración René Cassin, comisario nacional de justicia y educación del gobierno de la Francia libre, en Londres, en 1941, el cual fue premio Nobel de la paz en 1968, ni el de Pierre Mendès France dentro del Consejo económico y social, al que enviábamos los textos que elaborábamos antes de que fueran examinados por la Tercera Comisión de la Asamblea General, encargada de los aspectos sociales, humanitarios y culturales. La Comisión contaba con los 54 estados que eran miembros, en aquel momento, de las Naciones Unidas, y yo me encargaba de su secretaría. A René Cassin debemos el término de derechos “universales”, y no “internacionales” como proponían nuestros amigos anglosajones. Puesto que en esto está lo que se juega al terminar la segunda guerra
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mundial: la emancipación de las amenazas que el totalitarismo hizo pesar sobre la humanidad. Para emanciparse, es necesario conseguir que los estados miembros de la ONU se comprometan a respetar estos derechos universales. Es una manera de desmontar el argumento de plena soberanía que un estado puede hacer valer mientras comete crímenes contra la humanidad dentro de su territorio. Este fue el caso de Hitler, que se consideraba dueño y señor en su tierra y autorizado a provocar un genocidio. Esta declaración universal debe mucho a la revulsión universal contra el nazismo, el fascismo, el totalitarismo, y, también, a nosotros, al espíritu de la Resistencia. Sentía que había que actuar rápidamente, no ser víctima de la hipocresía que había en la adhesión proclamada por los vencedores a estos valores que no todos tenían la intención de promover limpiamente, pero que nosotros intentábamos imponerlesiii.

No me aguanto las ganas de citar el artículo 15 de la Declaración Universal de los Derechos del Hombre: “Toda persona tiene derecho a una nacionalidad”; el artículo 22: “Toda persona, como miembro de la sociedad, tiene derecho a la seguridad social, y a obtener, mediante el esfuerzo nacional y la cooperación internacional, habida cuenta de la organización y los recursos de cada Estado, la satisfacción de los derechos económicos, sociales y culturales, indispensables a su dignidad y al libre desarrollo de su personalidad”. Y si esta declaración tiene un alcance declarativo, y no jurídico, no por eso ha desempeñado un papel menos importante desde 1948; se ha visto a pueblos colonizados acogerse a ella en su lucha por la independencia; ha inspirado a los espíritus en su lucha por la libertad.
Constato con alegría que a lo largo de las últimas décadas se han multiplicado las organizaciones no gubernamentales, los movimientos sociales como Attac (Association pour la taxation des transactions financières1), la FIDH (Fédération international des Droits de l”homme2), Amnesty…, que son activas y efectivas. Es evidente que para ser eficaz actualmente es necesario actuar conjuntamente; aprovechar todos los medios modernos de comunicación.
1 N. de la T.: Asociación por la Tasación de las Transacciones y por la Ayuda a los Ciudadanos.
2 Federación Internacional de Derechos Humanos.
A los jóvenes, les digo: mirad alrededor de vosotros, encontraréis temas que justifiquen vuestra indignación –el trato que se da a los inmigrantes, a los 7
indocumentados, a los Roms3. Encontraréis situaciones concretas que os empujarán a llevar a cabo una acción ciudadana de importancia. ¡Buscad y encontraréis!
3 N. de la T.: Gitanos, zíngaros, etc.
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Mi indignación a propósito de Palestina
Hoy, mi principal indignación concierne a Palestina, la franja de Gaza y Cisjordania. Este conflicto es un motivo propio de indignación. Es necesario leer el informe Richard Goldstone, de septiembre de 2009, sobre Gaza. En él este juez sudafricano, judío, que se declara incluso sionista, acusa al ejército israelí de haber cometido ““actos asimilables a crímenes de guerra y quizás, en ciertas circunstancias, a crímenes contra la humanidad”“ durante la operación “Plomo Fundido” que duró tres semanas. Volví a Gaza en 2009, pude entrar con mi mujer gracias a nuestros pasaportes diplomáticos, para verificar con mis propios ojos lo que el informe contaba. Las personas que nos acompañaban no fueron autorizadas a entrar a la franja de Gaza. Ni a Cisjordania. Visitamos los campos de refugiados palestinos creados en 1948 por la Agencia de Naciones Unidas para los Refugiados de Palestina en Oriente Próximo, UNRWA, donde más de tres millones de palestinos expulsados de sus tierras por Israel esperan un retorno cada vez más problemático. En cuanto a Gaza, ésta es una prisión a cielo abierto para un millón y medio de palestinos. Una prisión donde se organizan para sobrevivir. Más que las destrucciones materiales, como la del hospital de la Media Luna Roja por la operación “Plomo Fundido”, es el comportamiento de los habitantes de Gaza, su patriotismo, su amor por el mar y la playa, su constante preocupación por el bienestar de sus hijos, numerosos y risueños, lo que llena nuestra memoria. Quedamos impresionados por su ingeniosa manera de hacer cara a todas las penurias que les son impuestas. Les hemos visto fabricar ladrillos, por falta de cemento, para reconstruir las miles de casas destruidas por los tanques. Nos confirmaron que hubo 1400 muertos –mujeres, niños y viejos incluidos en el campo palestino– a lo largo de esta operación “Plomo Fundido”, llevada a cabo por el ejército israelí, contra sólo cincuenta heridos del lado de Israel. Comparto las conclusiones del juez surafricano. Que judíos puedan cometer crímenes de guerra es insoportable. Desgraciadamente, la historia ofrece pocos ejemplos de pueblos que aprenden de su propia historia. 8
Lo sé, Hamas, que había ganado las últimas elecciones legislativas, no pudo evitar que se dispararan cohetes sobre las ciudades israelíes en respuesta a la situación de aislamiento y de bloqueo en la que se encuentran los gazatíes. Evidentemente, pienso que el terrorismo es inaceptable, pero hay que reconocer que cuando se está ocupado con medios militares infinitamente superiores a los nuestros, la reacción popular no puede ser sólo no-violenta.
¿Le sirve de algo a Hamas enviar cohetes sobre la ciudad de Sderot? La respuesta es no. No sirve a su causa, pero se puede explicar debido a la exasperación del pueblo de Gaza. En la noción de exasperación, hay que entender la violencia como una lamentable conclusión de situaciones inaceptables para aquellos que las sufren. Se puede decir que el terrorismo es una especie de exasperación. Y que esta exasperación es un término negativo. Uno no se debe exasperar, uno debe esperar. La exasperación es la negación de la esperanza. Es comprensible, diría que hasta es natural; sin embargo, no es aceptable porque no permite obtener los resultados que puede eventualmente producir la esperanza.
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La no-violencia, el camino que debemos aprender a seguir
Estoy convencido de que el futuro pertenece a la no-violencia, a la conciliación de las diferentes culturas. Por esta vía, la humanidad deberá franquear su próxima etapa. Y aquí coincido con Sartre: uno no puede excusar a los terroristas que arrojan bombas, pero puede comprenderlos. Sartre escribió en 1947: “Reconozco que la violencia bajo cualquier forma que se manifieste es un fracaso. Pero es un fracaso inevitable porque estamos en un universo de violencia. Y si es verdad que el recurso a la violencia hace que la violencia corra el riesgo de perpetuarse, también es verdad que es el único medio de hacerla cesar”iv. A lo que yo añadiría que la no-violencia es una manera más segura de hacerla cesar. No se puede apoyar a los terroristas como Sartre lo hizo, en nombre de ese principio, durante la guerra de Argelia, o a propósito del atentado de los juegos de Munich, en 1972, cometido contra atletas israelíes. No es eficaz, y Sartre mismo acabará por preguntarse al final de su vida por el sentido del terrorismo y a dudar de su razón de ser. Decirse “la violencia no es eficaz” es más importante que saber si se debe condenar o no a aquellos que la utilizan. El terrorismo no es eficaz. En la noción de eficacia, es necesaria una esperanza no-violenta. Si existe una esperanza violenta es la de la poesía de Guillaume Apollinaire: “Que 9
l”esperance est violente”4; no en política. Sartre, en marzo de 1980, tres semanas antes de morir, declaraba: “Hay que intentar explicar por qué el mundo de hoy, que es horrible, no es más que un momento en el largo desarrollo histórico, que la esperanza ha sido siempre una de las fuerzas dominantes de las revoluciones y de las insurrecciones, y cómo todavía siento la esperanza como mi concepción del futuro”v.
4 N. de la T.: Se refiere al poema Le Pont Mirabeau, de Guillaume Apollinaire, que se transcribe a continuación:
Sous le pont Mirabeau coule la Seine Et nos amours Faut-il qu’il m’en souvienne La joie venait toujours après la peine.
Vienne la nuit sonne l’heure Les jours s’en vont je demeure
Les mains dans les mains restons face à face Tandis que sous Le pont de nos bras passe Des éternels regards l’onde si lasse
Vienne la nuit sonne l’heure Les jours s’en vont je demeure
L’amour s’en va comme cette eau courante L’amour s’en va Comme la vie est lente Et comme l’Espérance est violente
Vienne la nuit sonne l’heure Les jours s’en vont je demeure
Passent les jours et passent les semaines Ni temps passé Ni les amours reviennent Sous le pont Mirabeau coule la Seine
Vienne la nuit sonne l’heure Les jours s’en vont je demeure
Hay que entender que la violencia vuelve la espalda a la esperanza. Hay que preferir la esperanza, la esperanza de la no-violencia. Es el camino que debemos aprender a seguir. Tanto por parte de los opresores como por parte de los oprimidos, hay que llegar a una negociación para acabar con la opresión; esto es lo permitirá acabar con la violencia terrorista. Es por eso que no se debe permitir que se acumule mucho odio. 10
El mensaje de alguien como Mandela, como Martin Luther King, encuentra toda su pertinencia en un mundo que ha sobrepasado la confrontación de las ideologías y el totalitarismo. Es un mensaje de esperanza en la capacidad que tienen las sociedades modernas para sobrepasar los conflictos por medio de una comprensión mutua y de una paciencia vigilante. Para llegar a ello, es necesario basarse en los derechos, cuya violación, sea quien sea el autor, debe provocar nuestra indignación. No debemos consentir la transgresión de estos derechos.
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Por una insurrección pacífica
He constatado, y no soy el único, la reacción del gobierno israelí ante el hecho de que cada viernes los ciudadanos de Bil”id van, sin arrojar piedras, sin utilizar la fuerza, hasta el muro contra el cual protestan. Las autoridades israelíes han calificado esta marcha de “terrorismo no-violento”. No está mal… Hay que ser israelí para calificar de terrorista a la no-violencia. Hay que estar molesto por la eficacia que tiene la no-violencia para suscitar el apoyo, la comprensión y el sostén de todos los adversarios de la opresión.
El pensamiento productivista, sostenido por Occidente, ha metido al mundo en una crisis de la que hay que salir rompiendo radicalmente con la huída hacia adelante del “siempre más”, tanto en el dominio financiero como en el dominio de las ciencias y de la técnica. Ya es hora de que la preocupación por la ética, la justicia y la estabilidad duradera sea lo que prevalezca. Pues nos amenazan los riesgos más graves; riesgos que pueden poner fin a la aventura humana sobre un planeta que puede volverse inhabitable.
Pero es verdad que se han hecho importantes progresos desde1948: la descolonización, el fin del apartheid, la destrucción del imperio soviético, la caída del Muro de Berlín. Por el contrario, los diez primeros años del siglo XXI han supuesto un periodo de retroceso. Este retroceso, yo lo achaco, en parte, a la presidencia americana de George Bush, al 11 de septiembre y a las consecuencias desastrosas que de él han sacado los Estados Unidos, como la intervención militar en Irak. Hemos tenido esta crisis económica, pero tampoco hemos comenzado una nueva política de desarrollo. La cumbre de Copenhague contra el calentamiento climático no ha permitido establecer una verdadera política para la preservación del planeta. Estamos en un umbral, entre los horrores de la primera década y las posibilidades de las décadas siguientes. Pero hay que esperar, siempre hay que esperar. La 11
década anterior, la de los años 1990, fue una fuente de grandes progresos. Las Naciones Unidas convocaron conferencias como las de Rio sobre el medio ambiente, en 1992; la de Pekín sobre las mujeres, en 1995; en septiembre de 2000, a iniciativa del secretario general de Naciones Unidas, Kofi Annan, los 191 países miembros adoptaron la declaración sobre los “Ocho objetivos del milenio para el desarrollo”, por la cual se comprometen a reducir a la mitad la pobreza en el mundo de aquí a 2015. Mi gran pesar, es que ni Obama ni la Unión Europea hayan manifestado aún lo que debería ser su aportación para una fase constructiva que se apoye en los valores fundamentales.
¿Cómo terminar esta llamada a indignarse? Recordando que, con ocasión del sexagésimo aniversario del Programa del Consejo nacional de la Resistencia, dijimos, el 8 de marzo de 2004, nosotros, los veteranos de los movimientos de Resistencia y de las fuerzas combativas de la Francia libre (1940-1945), que, desde luego, “el nazismo ha sido vencido gracias al sacrificio de nuestros hermanos y hermanas de la Resistencia y de las Naciones Unidas contra la barbarie fascista. Pero esta amenaza no ha desaparecido por completo, y nuestra cólera contra la injusticia permanece intacta”vi.
No, esta amenaza no ha desaparecido por completo. Por eso, hagamos siempre un llamamiento a “una verdadera insurrección pacífica contra los medios de comunicación de masas que no proponen como horizonte para nuestra juventud más que el consumismo de masas, el desprecio de los más débiles y de la cultura, la amnesia generalizada y la competición a ultranza de todos contra todos”.
A los hombres y mujeres que harán el siglo XXI, les decimos con nuestra afección:
“CREAR ES RESISTIR,
RESISTIR ES CREAR”. 12
i Creado clandestinamente el 27 de mayo de 1943, en París, por los representantes de los ocho grandes movimientos de Resistencia, de los dos grandes sindicatos anteriores a la guerra: la CGT y la CFTC (Confederación francesa de trabajadores cristianos) y de los diez principales partidos políticos de la III República, el PC y la SFIO (los socialistas), el Consejo Nacional de la Resistencia (CNR) se reunió por primera vez este 27 de mayo bajo la presidencia de Jean Moulin, delegado del general De Gaulle, el cual quería crear este Consejo para hacer más eficaz la lucha contra los nazis y reforzar su propia legitimidad de cara a los aliados. De Gaulle encargó a este Consejo la elaboración de un programa de gobierno en previsión de la liberación de Francia. Este programa fue objeto de muchas idas y venidas del CNR y del gobierno de la Francia libre, unas veces a Londres y otras a Argel, antes de ser adoptado el 15 de marzo de 1944 en sesión asamblearia por el CNR. El CNR entregó este programa al general De Gaulle el 25 de agosto de 1944 en el ayuntamiento de París. El decreto en relación a la prensa se promulgó el 26 de agosto. Uno de los principales redactores del programa fue Roger Ginsburger, hijo de un rabino alsaciano; bajo el pseudónimo de Pierre Villon fue secretario general del frente nacional para la independencia de Francia, movimiento de resistencia creado por el partido comunista francés en 1941, y representó a este movimiento en el seno del CNR y de su oficina permanente.
ii Según una estimación sindicalista, hemos pasado de entre el 75 al 80% del salario como importe de las jubilaciones a alrededor del 50%. Jean-Paul Domin, catedrático de Economía en la universidad de Reims Champagne-Ardennes, en 2010, redacta para el Instituto Europeo de Ciencias Sociales (IES, Institut Européen du Salariat) un apunte sobre “El seguro de enfermedad complementario”. En él revela en qué medida el acceso a un seguro complementario de calidad es ahora un privilegio del estatus social, que los más frágiles renuncian a los cuidados por falta de seguros complementarios y por la cuantía del resto que queda por pagar; que la fuente del problema es no haber hecho del salario el soporte de los derechos sociales –punto central de los decretos del 4 y del 15 de octubre de 1945. Estos promulgaban la Seguridad Social y encomendaban su gestión a la doble autoridad de los representantes de los trabajadores y del Estado. Después de las reformas Juppé de 1995, promulgadas por decreto, más la ley Douste Blazy (médico de formación), de 2004, es el Estado el único que gestiona la Seguridad Social. Es, por ejemplo,el jefe del Estado el que nombra por decreto al director de la Tesorería General de la Seguridad Social (Caisse National d”Assurance Maladie (CNAM)).Ya no son los sindicalistas, como después de la Liberación, sino el Estado quien está a la cabeza del organismo que gestiona las prestaciones sanitarias a nivel departamental a través de los gobernadores (préfets de département).Los representantes de los trabajadores ya no tienen más que el papel de consejero.
iii La Declaración Universal de los Derechos del hombre fue adoptada el 10 de diciembre de 1948, en Paris, por 48 de los 58 estados miembros de la Asamblea general de Naciones Unidas. Hubo ocho abstenciones: África del Sur, a causa del apartheid que la declaración condenaba de hecho; Arabia Saudita, igualmente, a causa de la igualdad entre hombres y mujeres; la URSS (Rusia, Ucrania, Bielorrusia), Polonia, Checoslovaquia y Yugoslavia estimaron que la Declaración no iba lo bastante lejos en la consideración de derechos económicos y sociales y sobre los derechos de las minorías; sin embargo, hay que tener en cuenta que Rusia en particular se opuso a la proposición australiana de crear una Corte internacional de derechos humanos encargada de examinar las peticiones dirigidas a Naciones Unidas; hay que recordar que el artículo 8 de la Declaración introduce el principio de apelación individual contra un estado en caso de violación de los derechos fundamentales. Este principio se aplicaría en Europa en 1998 con la creación de una Corte europea permanente de derechos humanos, la cual garantizó este derecho de apelación a más de 800 millones de europeos.
iv Sartre J.P; “Situation de l”écrivain en 1947”, en Situation II, Paris, Gallimard, 1948.
v Sartre J.P; “Maintenat l”espoir… (III)” en Le Nouvel Observateur, 24 de marzo de 1980.
vi Los firmantes del Appel del 8 de marzo de 2004 son: Lucie Aubrac, Raymond Aubrac, Henri Bartoli, Daniel Cordier, Philippe Dechartre, Georges Guingouin, Stéphane Hessel, Maurice Kriegel-Valtimont, Lise London, George Séguy, Germaine Tillion, Jean-Pierre Vernat, Maurice Voutey.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

W. Street

Wall Street: a ocupação necessária
Por sua pertinência e poder de síntese a bandeira que nasceu com um acampamento singelo em Nova Ioque há menos de um mês ganhou rapidamente o foco mundial . Pode se tornar uma espécie de resposta-síntese da sociedade aos dogmas, mantras e salmos dos mercados que jogaram o mundo na maior crise do capitalismo desde 29 e insistem em aprisionar a humanidade dentro dela. 'Ocupar Wall Street' tem fôlego histórico para ser uma espécie de 'pão, paz e trabalho' do século XXI.
Saul Leblon

Reduzir o tamanho do sistema financeiro tem sido uma prescrição freqüente na boca de economistas não ortodoxos, quando o assunto é reverter a crise mundial e retomar o controle da economia nas mãos sociedade. Ou , como resumem os indignados norte-americanos indo diretamente ao ponto simbólico da questão: 'Ocupar Wall Street'.

Por sua pertinência e poder de síntese a bandeira que nasceu com um acampamento singelo em Nova Ioque há menos de um mês ganhou rapidamente o foco mundial . Pode se tornar uma espécie de resposta-síntese da sociedade aos dogmas, mantras e salmos dos mercados que jogaram o mundo na maior crise do capitalismo desde 29 e insistem em aprisionar a humanidade dentro dela. 'Ocupar Wall Street' tem fôlego histórico para ser uma espécie de 'pão, paz e trabalho' do século XXI.

É preciso ter em conta, porém, o tamanho da 'ocupação necessária'. A crueza no discernimento do jogo é crucial para um movimento cujo principal legado será arguir, afrontar e transformar plataformas e programas que se propõem a superar a crise atual. Para que a mobilização persiga de fato os fundamentos de sua bandeira, será necessário em algum momento decodificá-la do simbolismo contundente em objetivos concretos. Não necessariamente isso ocorrerá nas assembléias da praça da Liberdade. Mas Atenas, Madrid, Lisboa, Londres, Tel Aviv, Santiago e agora Wall Street já demonstraram que só as ruas tem o calibre e a densidade necessária para derrubar ou pautar governos, refundar ou enterrar partidos, fortalecer ou descartar lideranças. A esperança do mundo é de que seja assim também nas eleições presidenciais de 2012 nos EUA , com as ruas opondo contrapesos claros ao extremismo conservador e à hesitação democrata.

Se assim o fizer, 'Ocupe Wall Street' terá cumprido a missão de transformar a disputa sucessória de Obama no palco mundial de um embate pedagógico - que a mídia ofusca - entre os interesses devastadores dos chamados 'livres mercados' e as forças que buscam uma alternativa solidária, democrática, ambientalmente viável ao longo crepúsculo neoliberal.

A resistência a isso, como tem experimentado na carne os indignados de Atenas, não pode ser subestimada.

Hoje, 20 maiores bancos do mundo entrelaçam o mercado global
formando um poder financeiro superior ao de dezenas de países e governos juntos.

Dez maiores empresas gestoras de fundos de investimentos controlam US$ 17,4 trilhões – uma riqueza financeira 20% superior ao PIB dos EUA. Oito vezes o tamanho do Brasil.

A desproporção pode ser resumida num dado: o orçamento da FAO, o principal organismo da ONU para cuidar da segurança alimentar e da agricultura é de US$ 1 bi. Parece muito, mas equivale a destinar um dólar per capita/ano aos quase 1 bilhão de famintos existentes no mundo. É nada. Alguns países ameaçam reduzir ainda mais esse orçamento composto de contribuições internacionais. Na zona do euro a prioridade de muitos governantes, inclusive os social-democratas, tem sido cortar despesas fiscais para remunerar com juros mais altos os compradores de sua dívida. Uma tentativa pírrica de evitar que os fundos especulativos batam em retirada do mercado mas que apenas lubrifica a beira do abismo: arrocho fiscal ,como lembrou a Presidenta Dilma, gera mais recessão ,com quedas proporcionais de receitas públicas que impõem novos degraus de endividamento.

Sem reduzir o tamanho do setor financeiro na economia - e, portanto, seu poder discricionário sobre a política fiscal, o Estados e os partidos - fica muito difícil romper essa lógica autopropelida de submissão e sangramento. Um exemplo resume todos os demais. O fundo Pimco comanda sozinho um volume de recursos próximo ao do PIB brasileiro (US$ 1,3 tri). A diferença é que estamos falando de um canhão de liquidez giratório, desvinculado de qualquer outro compromisso exceto a rentabilidade máxima. Com a mira nesse alvo móvel, o Pimco deixou de financiar a Espanha em 2010.
Abruptamente.

Ao fazê-lo ergueu a bandeira da suspeição sobre a solvência do país anabolizando a fuga da manada que costuma se pautar pelo trote dos grades mamíferos do mercado. Este ano, o Pimco, que tem como 'CEO' (chief executive officer) um desses heróis do capitalismo, Mohamed A. El-Erian, uma espécie de Steve Jobs da especulação com irrepreensível folha corrida de metas de rentabilidade alcançadas, deixou de financiar bancos do euro no mercado de curto prazo. A decisão unilateral e novamente abrupta, como manda a estratégia do 'esfole a presa e fuja primeiro', agravou a instabilidade do combalido sistema bancário do euro.

Movimentos desses gigantescos répteis especulativos funcionam como um grito de 'fogo' aos aplicadores, gerando quedas drástica do valor dos bancos em bolsa e o pagamento de juros crescentes pelos governos.
O epicentro da crise mundial transita assim para a explosiva fronteira bancária, onde abutres do tipo Pimco raspam os ossos antes do vôo mortal de despedida. Ensaios registrados nas últimas semanas - a quebra do banco franco-belga Dexia, por exemplo - sugerem que as exéquias de um explosivo 'Lehman Brothers do euro' podem estar próximas.

A lenta capacidade de iniciativa das lideranças políticas do euro -colonizadas pelo poder financeiro que deveriam disciplinar - e a resistência a resgates em massa sinalizam dias piores para a banca européia. Acenos do tipo 'agora vai' esboçados por Sarkozy e Merkel ao final de suas incontáveis cúpulas 'decisivas' tem cada vez menor efeito anestésico nos mercados.

É contra esse poder desproporcional e desordenado, em retirada destrutiva para lugar nenhum, que o 'Ocupe Wall Street' se insurge e pode cumprir um papel esclarecedor na mobilização e forças e projetos em sentido contrário.

Um desafio crucial será escapar do ardil moralista que condena protagonistas mas absolve o enredo.

Bancos e juros não são uma invenção do diabo, mas a essência do capitalismo. Seu papel no sistema é estratégico na mobilização e gestão dos capitais dispersos que, na forma de capital a juro, propiciam um salto de escala e qualidade ao gerar crédito e recursos para a demanda e o investimento ampliado em meios de produção. O crédito nesse processo funciona como uma antecipação do futuro para a demanda, contornando a crise de superprodução de mercadorias - mas não a de capitais, como se vê - implícita num sistema baseado na mais-valia.

Portanto, estamos diante de um poder estruturado, enraizado e obstinado em sua lógica de extrema funcionalidade e contundência, unicamente controlável através da estatização pura e simples ou da submissão impositiva a regras de repressão estatal de extremo rigor e abrangência. Em resumo, o oposto da desregulação disseminada no ciclo neoliberal que degenerou as atribuições operacionais das finanças, calcificando a supremacia de um poder paralelo e supranacional.

A autonomia conquistada pelo capital a juros, com o desmonte regulatório do sistema de coerção das finanças nascido na equação da crise de 29, consolidou a expansão ilimitada da liquidez, a metástase dos fundos especulativos, a hipertrofia do crédito e do endividamento (de consumidores também, mas sobretudo de Estados que renunciaram à taxação da riqueza para torná-la acionista da dívida pública a juros), os derivativos, os hedges , o carry trade, as bolsas e uma miríade de operações e circuitos do dinheiro arisco.

A entropia dessa lógica vem destruindo volumes descomunais de capitais fictícios desde 2007 e mobilizando sacrifícios sociais gigantescos para salvá-los com injeções de recursos subtraído das urgências da sociedade. As bolsas mundiais perderam a bagatela de US$ 22 trilhões em 2008. Os maiores bancos franceses já perderam este ano cerca de 45% de seu valor de mercado de suas ações. Ainda assim é insuficiente para reverter um poder que não deriva apenas de sua ubiquidade econômica, mas também do enraizamento ideológico no aparelho de Estado, na mídia --vide o jogral contra a redução dos juros no Brasil; no mundo acadêmico e no ambiente dos negócios em geral. A obsessão mórbida pela liquidez (a juros) --para emprestar a frase de Keynes-- tornou-se o valor máximo a perseguir, a contrapelo dos valores da democracia e das prioridades do desenvolvimemto.

'Ocupar Wall Street' tem esse sentido de uma rebelião reordenadora contra a lógica que subtrai recursos à saúde e à educação pública no Brasil; frauda o escrutínio das urnas na Espanha e corrói o emprego nos EUA e em dezenas de outras nações, regurgitando juros sobre juros numa autofagia inútil e sem controle. Mesmo em inglês, o grito que partiu da Praça da Liberdade, em Nova Iorque, encontrou empatia imediata em todos os idiomas e agruras do mundo porque fala ao sentimento intuitivo de todos os povos: é preciso enfrentar o cerne do capitalismo em nosso tempo.


(Carta Maior)

Al Jazeera

O fenômeno Al Jazeera
By admin– 30 de junho de 2011
Buzz

Como a rede de TV sediada no Catar abriu espaço para debates plurais no mundo árabe, ressuscitou a reportagem e está cobrindo com coragem as revoltas populares

Por Mohammed El Oifi, Le Monde Diplomatique Brasil

No dia 2 de março, em discurso perante os membros da comissão de relações exteriores do Senado norte-americano, Hillary Clinton pronunciou as palavras que o emir do Catar e os dirigentes da Al Jazeera esperavam desde 2001. Os Estados Unidos, explicou a secretária de Estado, “estão perdendo a guerra da informação” no mundo por causa dos grandes canais de TV privados norte-americanos, “que difundem milhões de spots publicitários e debates entre especialistas”, ao passo que “a audiência da Al Jazeera nos Estados Unidos vem crescendo porque ela oferece verdadeiras informações”. E Hillary acrescentou, dirigindo-se precisamente aos senadores: “Gostem disso ou não, (a Al Jazeera) é realmente poderosa”. Ela está no processo de ‘mudar as mentes e os comportamentos’”(1).Ainda que motivada por interesses específicos – Hillary Clinton estava defendendo o orçamento de seu Ministério –, tal reconhecimento do papel e do impacto internacional da Al Jazeera adquire uma ressonância particular dentro do contexto das transformações atuais do mundo árabe. No plano regional, o canal impôs seu ritmo e suas regras de funcionamento no contexto midiático, marginalizando dessa forma alguns de seus concorrentes de língua árabe e perturbando o jogo dos outros. Nesse sentido, o desafio lançado ao vivo a seus empregadores por Hafez Al-Mirazi, o apresentador-estrela do canal saudita Al-Arabiya, o principal concorrente da Al Jazeera (2), reveste-se de um significado de peso. Ao comentar a queda do regime de Hosni Mubarak, o jornalista egípcio lamentou que o veículo para o qual ele trabalhava não se atrevia a “dizer uma palavra sequer a respeito do rei Abdala e do regime saudita”. Ele concluiu seu discurso com um ultimato: “Se nós não podemos expressar nossa opinião, é melhor parar com tudo. No próximo programa, faremos uma experiência: falaremos a respeito do impacto (da revolução no Egito) sobre a Arábia Saudita. Se der certo, a Al-Arabiya é mesmo um canal independente, se não, eu agradeço e me despeço de todos vocês” (3). Aquela foi sua última aparição no canal controlado pelos interesses sauditas. Sua revolta revela o impasse no qual desembocou a estratégia midiática de Riad e a incapacidade dos responsáveis se adaptarem às novas realidades políticas. Mas esse episódio também anuncia o retorno do Egito, emancipado da tutela paralisante do presidente Hosni Mubarak, ao jogo midiático árabe, o que constituirá provavelmente o principal evento na região ao longo dos próximos anos.

Desde sua fundação, em novembro de 1996, o canal de informação 24 horas Al Jazeera revolucionou o sistema midiático regional, transformando sua estrutura e suas regras de funcionamento e questionando o equilíbrio de forças políticas que o sustenta (4). Não faltam aqueles que lhe atribuem um papel mais importante que o das redes sociais no processo que desencadeou as revoltas que abalam o mundo árabe. Assim, segundo Julian Assange, o cofundador do WikiLeaks, as redes Twitter e Facebook “exerceram de fato um papel, mas este não é comparável àquele da Al Jazeera”(5).

Fim do monopólio saudita

Os veículos de comunicação árabes singularizam-se pela existência – tornada possível por uma língua comum – de uma esfera compartilhada que transcende os Estados e os públicos nacionais, e cuja gênese remonta ao final do século 19. As rivalidades interárabes passaram pelo controle desse espaço público, um campo no qual os países do Golfo, entre outros a Arábia Saudita e o Catar, tomaram a iniciativa. Após a saída de cena do Egito, em decorrência da morte, em 1970, do presidente Gamal Abdel Nasser, e do Iraque, em consequência da invasão do Kuait em 1990, a Arábia Saudita assumiu o controle da maior parte dos veículos de comunicação pan-árabes. Em meados dos anos 1990, o lançamento da Al Jazeera pelo emir do Catar, o xeque Hamad bin Khalifa al-Thani, caracterizou o fim do monopólio saudita.

Em função da escolha do local para estabelecê-la, das modalidades de recrutamento de seus jornalistas e de suas opções ideológicas, a Al Jazeera introduziu uma tripla ruptura em relação à fórmula saudita. Até então, dominava a ideia segundo a qual apenas os veículos árabes instalados no exterior podiam gozar de uma liberdade relativa. A emigração de uma parte da imprensa libanesa rumo à Europa após o advento da guerra civil, em 1975, havia reforçado essa tese. O império midiático saudita estava radicado em Londres e na Itália, e tirava proveito da presença maciça de jornalistas árabes, sobretudo libaneses, que se tornaram os aliados – alguns dirão os mercenários – dos emires sauditas. A Al Jazeera pôs em xeque esse pressuposto, demonstrando que um veículo de comunicação pan-árabe instalado num país da região podia beneficiar-se de uma grande liberdade. Progressivamente, os veículos sauditas começaram a retornar para a região, entre outros para os Emirados Árabes Unidos – mas não para a Arábia Saudita.

Para motivar a simpatia e a identificação do público, os criadores da Al Jazeera quiseram que o conjunto dos funcionários do canal fosse representativo das diversas nações árabes. Com isso, estava encerrada a era de dominação dos jornalistas libaneses e das estruturas sauditas.

De modo previsível, as dissensões no âmbito das equipes jornalísticas são frequentes, conforme demonstra a demissão coletiva de cinco apresentadoras do canal, ocorrida no dia 25 de maio de 2010. Alguns veículos de comunicação árabes repercutidos pela imprensa internacional enfatizaram a existência de práticas de assédio moral, além da vontade do canal de impor um código de vestimenta rigoroso (6). Segundo explica uma das jornalistas demitidas, Joumana Namnour, as verdadeiras razões dessa revolta nada têm a ver com o modo de se vestir, sendo de ordem profissional (7), pois as apresentadoras achavam lastimável o pouco poder que lhes era dado. Assim como, por exemplo, nenhum dos numerosos programas políticos do canal é atribuído a uma mulher.

Um exame minucioso da identidade ideológica da Al Jazeera e de sua linha editorial revela a prevalência de um equilíbrio sutil entre três tendências: pan-árabe, islamizante e liberal.

O sucesso da Al Jazeera, o interesse e até mesmo a paixão que ela suscita nos públicos de língua árabe podem ser explicados não apenas pela maneira inovadora com a qual ela aborda a atualidade, mas também pela liberalidade em seus procedimentos. Ao dar a palavra à oposição, em cada país árabe, para comentar as verdades oficiais, a Al Jazeera oferece aos telespectadores verdadeiros debates contraditórios. A diversidade dos participantes, tanto do ponto de vista de sua nacionalidade, de sua sensibilidade ideológica e política, quanto de seu local de residência, permitiu a circulação das ideias e dos pontos de vista, promovendo a abolição das fronteiras nacionais e driblando todas as censuras. Assim, o canal participou de maneira decisiva da formação de um espaço público árabe transnacional (8). Estruturado por canais de TV por satélite e por jornais pan-árabes, aos quais se acrescentam a internet, os blogs e as redes sociais, esse espaço tornou-se um centro de gestação onde se formam opiniões e preferências políticas a respeito de todas as questões que agitam a região.

Este pluralismo, decorrente da multiplicação dos meios de informação transfronteiriços criados por Estados concorrentes, quer pela Arábia Saudita (Al-Arabiya), pelos Estados Unidos (Al-Hurra) ou pelo Irã (Al-Alam), resultou numa configuração político-midiática inédita, na qual se sobrepõem uma esfera midiática pluralista relativamente livre e regimes políticos nacionais autoritários. Exacerbada pela audácia e influência da Al Jazeera, essa contradição exerceu uma pressão constante sobre poderes desestabilizados por essa circulação da informação. A maturação dos processos revolucionários no mundo árabe deve muito a essa tensão entre a ordem política e a ordem midiática.

Em razão do caráter artificial e até mesmo da inexistência de estruturas partidárias e sindicais suscetíveis a organizar o debate público, a Al Jazeera deixou progressivamente de ser um canal de TV ordinário. Ao longo dos últimos dez anos, foi na sua tela que foram debatidas todas as grandes questões que interessam aos povos da região. Ela passou a ser objeto de disputa em todos os conflitos, como, por exemplo, no Afeganistão e na Palestina.

Daqui para frente, quer emane do interior (9), quer do exterior do mundo árabe (10), a crítica das orientações do canal é parte integrante do jogo político no Oriente Médio. Na maioria dos casos, ela objetiva pôr na defensiva o governo do Catar, pressupondo que a linha editorial da TV nada mais é do que a tradução midiática da diplomacia do Estado do Catar. No entanto, tudo indica – nem que seja por sua cobertura das revoluções desses últimos meses – que a Al Jazeera tornou-se um fenômeno árabe, um espelho da evolução regional que extrapola muito amplamente a vontade de Doha.

Tratamento militante das revoluções

Embora a Al Jazeera seja popular, ela não deixa de ser um canal controverso por razões que, aliás, não raro revelam ser contraditórias. Alguns deploram sua abertura para os israelenses (ela foi o primeiro canal por satélite a entrevistar dirigentes do Estado hebreu), outros, suas “tendências islâmicas”. Seu “antiamericanismo” é contrabalançado pela presença no Catar do comando da 5ª Frota norte-americana, o que faz do emirado uma das ferramentas de domínio que os Estados Unidos exercem sobre o Oriente Médio.

Sua cobertura militante das revoluções árabes, sobretudo na Líbia e no Iêmen, e seu apoio à intervenção militar da Otan foram denunciados como sendo uma ingerência nos assuntos internos dos países árabes. A ausência da oposição saudita ou catariana em sua programação, sua timidez ao abordar os eventos ocorridos no Bahrein (11), além de sua crítica incipiente da intervenção das forças sauditas e aliadas nesse reino são interpretadas como uma vontade de preservar o status quo no Golfo. Mostra da sensibilidade da Al Jazeera às evoluções regionais foi o anúncio, no final de abril, da demissão do responsável pelo escritório do canal em Beirute, Ghassan Ben Jeddou, por divergências com relação à cobertura da Líbia e da Síria, que ele julgava muito parcial.

A tese dos detratores que apresentavam o canal como uma mera “oficina islâmica” foi abalada por sua abordagem favorável das revoltas nos países da África do Norte e do Oriente Médio, nas quais os islâmicos são quase invisíveis. Além disso, o lançamento da Al Jazeera em inglês, em 2006, contribuiu para desmentir a imagem construída pelas traduções parciais e os trechos fora de contexto difundidos pelo Instituto de Pesquisa sobre a Mídia do Oriente Médio (Memri – Middle East Media Research Institute), com o objetivo de apresentar a Al Jazeera como um veículo de comunicação antiocidental e até mesmo antissemita (12).

1 Cf. “Hillary Clinton, ‘Viewership of Al Jazeera is going up in the United States because it’s real news’”, YouTube.com, 2 de março de 2011.

2 Mohammed El Oifi, “Le face-à-face Al-Arabiya/Al-Jazeera: un duel diplomatico-médiatique”, Revue Moyen-Orient, n.6, Paris, junho de 2010.

3 Programa Studio Al Qahira, Al-Arabiya, 12 de fevereiro de 2011.

4 Yves Gonzalez-Quijano e Tourya Guaaybess (dir.), Les Arabes parlent aux Arabes: La révolution de l’information dans le monde arabe, Actes Sud, Arles,2009.

5 Le Monde, 11 de março de 2011.

6 Ver artigo do jornal saudita Al Hayat publicado em 30 de maio de 2010, http://international.daralhayat.com/internationalarticle/146817.

7 Ver http://wn.com/Talk_of_the_Town__Joumana_Nammour, consultado em 21 de abril de 2011.

8 Mohammed El Oifi, “Influence without power: Al Jazeera and the Arab public sphere”. In: Mohamed Zayani, The Al Jazeera Phenomenon Critical Perspectives on New Arab Media, Pluto Press, Londres,2005.

9 Mamoun Fandy, “(Un)Civil War of Words: Media and Politics in the Arab World”, Praeger Security International, 2007.

10 Zvi Mazel, “Al Jazeera et le Qatar: le sombre empire des Frères musulmans?”, Controverse, www.controverses.fr, Paris, n.13, março de 2010.

11 Ler “Al Jazeera a perdu sa fièvre révolutionnaire au Bahreïn”, 13 de abril de 2011.

12 Ler “Désinformation à l’israélienne”, Le Monde Diplomatique, setembro de 2005.

Cuba

Cuba: cosas que llegan y que no llegan
Leonardo Padura · · · · ·

08/10/11







Bajo el sol inclemente del agosto cubano, tres jóvenes graffiteros intervienen una pared que da a una céntrica avenida. Los transeúntes los observan curiosos, extrañados, algunos quizás molestos por lo que consideran un embarre de pintura sin sentido. Los jóvenes intercambian con algunos que les preguntan por el significado de esas letras extrañas, que forman una palabra ilegible que ha resultado ser el apellido, escrito al revés, del fundador del movimiento de graffiteros independientes al que pertenecen estos muchachos.



Lo significativo es que el responsable del taller de reparación automotriz al cual pertenece la pared, dio su autorización para la intervención de los jóvenes, pues él no tiene recursos para pintarla. Lo más curioso es que a lo largo de las seis horas de labor que les lleva "la obra", han pasado varios policías a pie y en autos oficiales, y ninguno de ellos se ha acercado siquiera a preguntarle a los pintores qué hacen, qué dice su pintada.



Mientras los jóvenes graffiteros realizan una faena que en el resto del mundo se hace con nocturnidad y alevosía, en un templo protestante de La Habana un grupo de alrededor de sesenta fieles, seguidores de un ex pastor excluido de su denominación religiosa, se han encerrado, según se dice en la calle, a esperar el proximísimo fin del mundo anunciado por su líder. La policía, sí convocada en este caso, rodea el sitio con el argumento expreso de evitar incidentes. Lo que ocurra dentro de las paredes de la iglesia se ha dejado a la decisión del pastor excomulgado y sus fieles. Aunque los cubanos sean gregarios por naturaleza, no parece factible que se produzca en esa iglesia una inmolación colectiva. Y si ocurre, es que en Cuba las cosas están cambiando demasiado.



Al mismo tiempo corre por la capital cubana una pregunta que va perfilando su respuesta a base de rumores. ¿Y qué ha pasado con el cable de fibra óptica que, tendido desde Venezuela, conectaría a Cuba con las redes de transmisión de datos e imágenes y cuya operatividad fue alegremente anunciada para este verano que se extingue (con tanto sol y calor, como lo habrán comprobado los graffiteros)? Se dice, extraoficial y callejeramente que la conexión no se ha podido realizar por haber existido serios problemas operativos debido a manejos corruptos de funcionarios cubanos encargados de tan importante misión. La prensa plana, radial, televisiva y digital de los sitios del Estado y el gobierno, nada han dicho al respecto. Ni de porqué no hay cable, ni sobre si hay o no corrupción. Y ante el silencio, el rumor es dueño y señor.



De lo que sí hablaron, y mucho, los sitios digitales más oficiales fue de las declaraciones que hiciera en Miami el músico cubano Pablo Milanés, quien, entre otras cosas declaró que había dejado de ser fidelista (devoto de Fidel Castro) y además aceptó un diálogo con un destacado opositor al sistema cubano. Aunque los periódicos y la televisión no hablaron del incidente, ni de los varios conciertos realizados en Estados Unidos por este importantísimo músico, los sitios y revistas digitales lo castigaron duramente por lo que consideran una infidelidad (y nunca mejor utilizado el término), e incluso, hasta se habló de traición a los principios. Sin embargo, según ha trascendido por agencias de prensa no cubanas, Pablo Milanés ha regresado a Cuba y se encuentra, esperamos que tranquilamente, en su casa habanera.



Algo que con orgullo se ha reconocido es que ya pasan de 300 mil las personas que han solicitado licencias de "trabajo por cuenta propia" y han montado sus pequeños negocios a lo largo de la isla. La conclusión sacada por esos "independientes" parece haber sido la misma: aunque se deba trabajar más y pagar impuestos, resulta más rentable ser trabajador por cuenta propia que serlo para el Estado, con los salarios que paga el Estado.



También se ha anunciado el hecho extraordinario de que el Narciso de Caravaggio, y quizá otras dos obras del maestro italiano y otras varias debidas a sus seguidores, viajarán en breve a La Habana para ser exhibidas durante dos meses. Todo parece indicar que sería la primera ocasión en que un Caravaggio llegase a América Latina y, sin duda, una ocasión única para que los cubanos se asomen, como Narciso, a una de las más retumbantes creaciones del genio humano.



Como los graffiti, algunas cosas llegan tarde a Cuba. Otras cosas escogen a Cuba para llegar. Y otras sencillamente no llegan, o se les hace difícil llegar. De algunas se habla oficialmente y otras caen en el pozo sin fondo del llamado secretismo, en muchas formas auxiliado y sostenido por alguna de las cosas que no llegan, como el acceso público a Internet que, quizás, podía haber garantizado el controvertido cable de fibra óptica.



Leonardo Padura Fuentes, escritor y periodista cubano. Sus novelas han sido traducidas a más de quince idiomas y su más reciente obra, El hombre que amaba a los perros, tiene como personajes centrales a León Trotski y su asesino, Ramón Mercader






http://www.other-news.info/noticias/, 3 de octubre de 2011 Compartir


(Sinpermiso)

Nazismo

Desnazificação na Alemanha: passado, presente, e futuro
Em 1951, sob o governo de Konrad Adenauer, foi proclamado o fim da "desnazificação" na então Alemanha Ocidental. Houve uma anistia e muitos ex-integrantes das SS e do partido nazista foram reintegrados na vida política e burocrática do país. Isso não significou, porém, o fim do "acerto de contas com o passado" que continua até hoje.
Flávio Aguiar

Oficialmente, o termo “Desnazificação” (em alemão, “Entnazifizierung”) denomina um procedimento iniciado pelos aliados que ocupavam a Alemanha e a Áustria depois do fim da guerra, em 1945, e que durou, no lado Ocidental, até 1951. Também houve uma “Desnazificação” no lado Oriental (ocupação soviética), mas com procedimentos diferentes.

O conceito envolvia a remoção dos envolvidos com o regime nazista de postos de influência na política, na economia, no aparato de estado (tribunais, agências de governo), na cultura e na mídia, além da destruição ou remoção de símbolos nazistas. No lado Oriental, houve também a prática (que no início também houve do lado Ocidental) da manutenção de campos de prisioneiros. Naquele lado, 43 mil prisioneiros morreriam nesses campos, distribuídos inclusive dentro da União Soviética.

No lado Ocidental, houve, sobretudo, duas frentes de “Desnazificação” (isso depois do Julgamento de Nuremberg, em que os maiores acusados de crimes de guerra foram julgados). Na primeira, houve um processo de “limpeza” na mídia, na propaganda, nas editoras, nas escolas, etc., que envolveu desde a apreensão de destruição de livros (cerca de 30 mil obras) que pregavam a guerra, o nazismo, o racismo, até a censura na mídia de qualquer crítica aos ocupantes vencedores, pelo menos durante os anos iniciais do procedimento.

A segunda frente foi a jurídica, empregada contra todos os que, até o fim da guerra, tinham completado 18 anos e eram acusados e depois considerados (ou não) como “grandes responsáveis”, “responsáveis”, “responsáveis menores”, “simpatizantes” ou ainda “absolvidos”.

Já a partir de 1946 foram instituídos 545 tribunais civis alemães, que julgaram cerca de 900 mil casos. Entretanto, a partir de 1948, com o início da Guerra Fria, o foco Ocidental passou a se concentrar no Leste.

Inquéritos e julgamentos foram apressados, em alguns casos até negligenciados. Tudo isso levou, em 1951, sob o governo de Konrad Adenauer, à proclamação do fim da “Desnazificação” no Ocidente. Em 1952 houve a proclamação de uma anistia que envolveu quase 800 mil dos acusados, sendo 3000 ex-membros das AS, SS e do Partido Nazista. Muitos foram reintegrados na vida política, burocrática, até policial do novo regime.

No lado Oriental também houve um “esquecimento” progressivo da questão. Muitos ex-policiais nazistas foram integrados à Stasi, a polícia política da Alemanha Oriental.

Mas o fim da “Desnazificação” não significou o fim do “Vergangenheitbewältigung”, que pode ser livremente traduzido por “acerto de contas com o passado”. Essa idéia, animou, por exemplo, muitos dos movimentos de 68 na Alemanha, através da pergunta: “Papai (ou mamãe, vovô, vovó, tio, tia, professor, professora, etc.), o que você fazia durante o nazismo?”.

E, de diferentes maneiras, esse “acerto de contas” continua até hoje.

Abaixo, citamos alguns exemplos recentes.

1) O caso Rademacher. Documentos da CIA, recém revelados, evidenciam que o “Bundesnachrichtendienst” – Serviço Federal de Informação – Ocidental empregou o ex-nazista Franz Rademacher em sua folha de serviços como espião na Síria na década de 60. Como funcionário do Ministério de Relações Exteriores, Rademacher foi um dos encarregados da “questão judaica”. Foi despachado para Belgrado em outubro de 1941 para resolver in loco uma pendência entre a Wehrmacht e a SS, o que resultou no assassinato lá mesmo de 1.300 judeus. Além disso, ele promoveu ou colaborou com a deportação para campos de extermínio de judeus da França, Bélgica e Holanda.

Depois da guerra, ele conseguiu escapar do Julgamento de Nuremberg, mas foi julgado por um tribunal alemão em 1952. Condenado a 3 anos e 4 meses de prisão (!), conseguiu apelar e responder ao novo processo em liberdade(!). Fugiu primeiro para a França, e depois de uma rota obscura, em que passou até pela Argélia (onde, parece, traficou armas), acabou na Síria. Lá foi contatado e recrutado por outro ex-nazista, Hans Rechenberg, que trabalhava no BND, para serviços de espionagem. Acabou preso na Síria e depois de servir alguns anos na prisão, voltou para a Alemanha, onde viu seu processo reaberto. Entretanto morreu em 1973, antes que este chegasse ao fim. A propósito, o BND também foi acusado de proteger Walther Rauff, o inventor de uma câmara de gás transportável.

2) O caso Demjanjuk. “John” Demjanjuk, hoje com 91 anos, foi deportado em 2004 dos Estados Unidos, onde se refugiara, para a Alemanha, acusado de crimes de guerra em Sobibor, campo de extermínio na Polônia. Demjanjuk era guarda no campo. Em 12 de maio de 2011 foi condenado a 5 anos de prisão. Tendo apelado, responde ao processo em liberdade, mas não pode sair da Alemanha. Sobibor era um campo usado, como Belzec, Chelmno e Treblinka, exclusivamente para o extermínio. Por isso, Demjanjuk tornou-se o primeiro condenado sem culpa formada por um assassinato específico.

Promotores alemães esperam usar o seu caso como exemplo para reabrir outros que estão engavetados. Uma dificuldade: quem completou 18 anos até o fim da guerra, em 1945, hoje está com pelo menos 84 anos completos. Por isso, se novos casos desses vierem à tona, possivelmente estaremos diante dos últimos julgamentos de pessoas diretamente envolvidas com o nazismo antes ou durante a Segunda Guerra.

3) O “caso do Partido Pirata”. Mas a história do “acerto de contas com o passado” não pára aí. Recentemente o Partido Pirata fez sucesso em Berlim, ao conseguir 8,9% dos votos na última eleição parlamentar e eleger 15 deputados para a Câmara da cidade. Pesquisas recentes, em nível nacional, mostram que ele teria 8% dos votos, mais do que suficiente (o mínimo é 5%) para integrar o Bundestag, o Parlamento Nacional. O foco caiu sobre ele, evidentemente. E agora, dois de seus membros são acusados de terem pertencido ao NPD, partido definido pelo próprio Serviço Federal de Inteligência como “revisionista [da história], racista e antissemita”.

Em Munique, Valentin Seipt renunciou à presidência regional depois da acusação. Matthias Bahner, de Mecklenburg-Pomern, reconheceu que, com 18 anos, entrou no NPD, mas saiu um ano depois, em 2004. Continua no cargo, e a direção do partido defende que “ninguém que aprendeu com seus erros deve ser condenado por seu passado”. Outro membro do partido, Bodo Thiesen, é acusado de citar com freqüência autores que negam o Holocausto, e há reportagens afirmando que ele mesmo teria expressado dúvidas pessoais sobre a ocorrência do mesmo. A direção do partido move uma ação de expulsão contra ele, mas ela se arrasta, e agora há quem tema que isso venha a ser usado contra o PP em eleições futuras, se o caso não for encerrado rapidamente.

Tudo isso mostra que o “acerto de contas com o passado” ainda está longe de terminar, sobretudo, porque envolve, antecipadamente, um acerto de contas com o futuro.



Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.


(Carta maior)