quarta-feira, 25 de julho de 2012

Síria

Rebeldes sírios se aproximam do maior troféu E-mail Escrito por Robert Fisk Sexta, 20 de Julho de 2012 Agora foram na jugular. O cunhado do presidente, o ministro da Defesa, uma bomba de destruição massiva colocada perto, ou talvez dentro dos quartéis militares encabeçados pelo irmão do mandatário. Os assassinatos levam tempo, mas esse foi de escala épica, para se colocar no mesmo nível do banho de sangue que ocorre em toda a Síria. A irmã do presidente Bashar Assad, Bushra, um dos pilares do partido Baaz, perdeu seu esposo em uma potente explosão, muito perto do centro de Damasco. Com razão, os russos falam da batalha decisiva. Não será uma recreação de Stalingrado, mas os tentáculos da rebelião chegaram perto do coração. E, a partir disso, há matanças por vir. Por qual outra razão teriam fugido nesta quarta-feira milhares de cidadãos sírios até o acampamento de refugiados palestinos de Yarmouk, a fim de buscar a proteção dos cidadãos mais traídos do mundo árabe? Existe suficiente ódio para continuar este selvagem ataque contra o governo sírio. Faz oito meses, durante uma manifestação de massa a favor do regime, no distrito de Rawda, que passei caminhando junto ao quartel de inteligência e segurança que foi destruído nesta quarta. Naquele momento, um amigo sírio o olhou com desolação. A tortura ocorre sob a terra, as pessoas sequer sabem o que se passa ali, me disse. Porém, qualquer um que tivesse saído dali mataria com prazer aqueles que o atormentaram, em especial o chefe dos torturadores. A fúria do povo aceitará de bom grado um ou dois dos escolhidos do governo. Foi um gesto típico o fato de que, em seu desespero por preencher o vazio deixado pelos assassinatos de quarta, o regime designasse o anódino Fahd Jassim Frayj para ocupar a vaga no Ministério da Defesa; ele é um homem originário de Hama, o centro das maiores rebeliões contra os governantes sírios. Nós, ocidentais, temos o hábito de sempre ver o Oriente Médio através de nossa própria cartografia. O Oriente Médio está a leste, não é? Mas girem o mapa e se darão conta da proximidade da Síria dos chechenos muçulmanos até hoje em busca de sua redenção. Não é de se estranhar que Moscou tema tanto uma rebelião na Síria. O velho Hafez Assad, pai de Bashar, costumava se preocupar, em seus últimos anos, com que uma revolta em seu país pudesse tomar a forma de um terrível conflito ao qual ele se mantinha atento diariamente pela televisão: o da ruptura da Iugoslávia laica, cujas divisões sectárias eram surpreendentemente similares às que vive hoje a Síria. Curiosamente, apesar das degolações, das matanças de civis pelas mãos de milícias e dos assassinatos de crianças (que parecem um paralelo da guerra que nos anos 90 castigou o país que se pôs ao lado de Damasco durante a guerra da Argélia), as impactantes cenas que se vêem atualmente na Síria não refletem a barbárie da Bósnia, Croácia e Sérvia. O que Bashar pode fazer agora? Outro amigo sírio me fez uma pergunta interessante por esses dias: Suponhamos que o presidente xiita alauíta Bashar decida fugir, me disse. Assim, seria levado ao aeroporto por um coronel alauíta. Você acha que este o deixaria partir? Duvido. Assim, temos tristes previsões. Sim, Bashar poderia se aferrar ao poder mais tempo do que acreditamos. Não irá embora, e seu irmão Maher, que encabeça a assim chamada Quarta Brigada, talvez seja um assunto diferente. Mas do palácio presidencial podem-se escutar os tanques e tiroteios que têm lugar em uma das cidades habitadas mais antigas do mundo; esses são dias sem precedentes. Inclusive, a televisão síria se viu obrigada várias vezes a dizer a verdade nesta quarta. O veredicto? Bashar al Assad vai sair, porém, ainda está lá. Robert Fisk é jornalista e escreve no diário inglês The Independent. Tradução para o espanhol de Gabriela Fonseca, La Jornada, e para o português de Gabriel Brito, Correio da Cidadania. Para ajudar o Correio da Cidadania e a construção da mídia independente, você pode contribuir clicando abaixo.

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