segunda-feira, 9 de julho de 2012

Pensamentando

William Blake: poeta, visionário ou assassino? por Luís Otávio Hott em 04 de jul de 2012 às 14:01 dead-man-johnny-depp-25137254-1280-1024.jpg Dead Man é uma viagem para lugar nenhum, entre estranhos familiares e uma cidade que poderia ser qualquer cidade, pois suas pessoas poderiam ser qualquer pessoa. Feita pelo dantes poeta e visionário, mas agora assassino, William Blake. Interpretado magistralmente por Johnny Deep. Acompanhado pelo estranho e espiritual guru índio Aquele que fala alto mas não diz nada, ou como prefere ser chamado Ninguém, interpretado pelo ator Gary Farmer. Essa é uma história de como o destino pode te encontrar, mesmo depois que você já esteja morto. De como um simples contador pode na verdade conter o espírito de um messias louco morto e reencarnado como um assassino talentoso destinado à matar o homem branco. É também a história de como duas pessoas podem ir contra o mundo que os cerca, desde que sejam amigos, e almas gêmeas. William Blake é um simples contador de Cleveland, traído e abandonado pela noiva decide trabalhar numa cidadezinha do sul, desbravar o velho oeste. Com seu terninho limpo e listrado e sua carta carimbada ele acha que seu destino está seguro. Mas ao chegar na cidade descobre um antro de prostitutas e assassinos que o desprezam, e descobre que seu emprego já foi tomado por outro contador com a mesma carta e o mesmo terno. Desolado ele tenta se embriagar, mas nem dinheiro para isso lhe resta, então ele conhece uma vendedora de flores de papel, que lhe abriga e se torna sua amante. Mas quis o destino que ela fosse noiva do filho do dono da metalúrgica que domina o lugar. Descobrindo a traição ele vai ao seu encalço, mata a amante e lhe crava uma bala no peito. Mas ele não morre, não por inteiro, apenas aquela parte superficial e rasa que ele carregava e que lhe servia como escudo perante o mundo. Nasce então William Blake, o assassino implacável e destemido, que conta mais com a sorte do que com a mira para matar homem após homem que se lança ao seu encalço. Ele conhece então o índio Ninguém, misterioso e incompreendido, o índio que foi educado na Inglaterra, mas retornou para sua terra e não foi aceito em sua tribo tem como destino vagar solitário, até que conhece William Blake, e lhe conta sobre sua outra vida, quando ele escreveu: “Casamento entre o céu e o inferno”, entre outros tantos livros. William Blake não sabia que tinha sido William Blake, mas abraça sua nova identidade e seu novo destino, não como poeta, mas como assassino. dead_man_want_to_see_your_desktop_1280x1024_wallpaper-114396.jpg Vagando num cenário melancólico e noir eles encontram mercenários, índios de outras tribos, enquanto isso William morre, aos poucos, a bala em seu peito vai lhe matando o corpo e trazendo vida à alma. Ninguém vê numa visão de peyote que William Blake morrerá no espelho em que o mar reflete o céu. Começa a busca pelo litoral, cumprindo assim o destino de sua morte. Fascinante pérola existencialista dos anos 90, injustamente subvalorizada e esquecida. Jim Jarmusch celebra em Dead Man a revisitação do género querido do cinema clássico americano: o Western. Só que em vez de se contentar com a transposição dos códigos narrativos inatos a esse género e com o mero decalque da sua simplista atitude formal, Jarmusch reinventa-o e apresenta-nos um Western pós-moderno absorto numa metafísica arrebatadora, em simbologias desconcertantes e num acérrimo desencanto filosófico . Dead Man é uma parábola sobre a Morte e uma carta de pessimismo em relação ao Homem e às suas ações inconsequentes. O filme tem um argumento tão rico que permite as mais estimulantes leituras: pode ser visto como o encontro de um homem com a sua espiritualidade, a necessidade de fugir de contextos conhecidos e alcançar a transcendência individual num qualquer lugar mais "puro", o agarrar a vida mesmo quando esta teima em nos escapar. Esta complexidade de interpretações torna Dead Man num objeto lírico irrepreensível, que foge aos lugares-comuns quer do cinema de massas, quer do dito cinema independente. Dead_Man.jpg< A composição musical de Neil Young é a cereja em cima do bolo, compondo um dos melhores filmes da década de 90. William Blake, nascido em Londres, 28 de novembro de 1757, morreu em Londres, 12 de agosto de 1827, foi um poeta, visionário, messias, louco e artista plástico. Blake viveu num período significativo da história, marcado pelo Iluminismo e pela Revolução Industrial na Inglaterra. A literatura estava no auge do que se pode chamar de clássico "augustano", uma espécie de paraíso para os conformados às convenções sociais, mas não para Blake que, nesse sentido era romântico, "enxergava o que muitos se negavam a ver: a pobreza, a injustiça social, a negatividade do poder da Igreja Anglicana e do estado." Blake nasceu numa família de classe média. Seu pai era um fabricante de roupas e sua mãe cuidava da educação de Blake e seus três irmãos. Logo cedo a bíblia teve uma profunda influência sobre Blake, tornando-se uma de suas maiores fontes de inspiração. 2_The%20Great%20Red%20Dragon%20and%20the%20Woman%20Clothed%20in%20Sun.jpg Desde muito jovem Blake dizia ter visões. A primeira delas ocorreu quando ele tinha cerca de nove anos, ao declarar ter visto anjos pendurando lantejoulas nos galhos de uma árvore. Mais tarde, num dia em que observava preparadores de feno trabalhando, Blake teve a visão de figuras angelicais caminhando entre eles. Com pouco mais de dez anos de idade, Blake começou a estampar cópias de desenhos de antigüidades Gregas comprados por seu pai, além de escrever e ilustrar suas próprias poesias. 4573-nebuchadnezzar-william-blake.jpg Em 1779, Blake começou seus estudos na The Royal Academy, uma respeitada instituição artística Londrina. Sua bolsa de estudos permitia que não pagasse pelas aulas.Este período foi marcado pelo desenvolvimento do caráter e das ideias artísticas de Blake, que iam de encontro às de seus professores e colegas. Em 1782, após um relacionamento infeliz que terminou com uma recusa à sua proposta de casamento, Blake casou-se com Catherine Boucher. Blake ensinou-a a ler e escrever, além de tarefas de tipografia. Catherine retribuiu ajudando Blake devotamente em seus trabalhos, durante toda sua vida. Blake escreveu e ilustrou mais de vinte livros, incluindo "O livro de Jó" da Bíblia, "A Divina Comédia" de Dante Alighieri - trabalho interrompido pela sua morte - além de títulos de grandes artistas britânicos de sua época. Muitos de seus trabalhos foram marcados pelos seus fortes ideais libertários, principalmente nos poemas do livro Songs of Innocence and of Experience ("Canções da Inocência e da Experiência"), onde ele apontava a igreja e a alta sociedade como exploradores dos fracos. No primeiro volume de poemas, Canções da inocência (1789), aparecem traços de misticismo. Cinco anos depois, Blake retoma o tema com Canções da experiência estabelecendo uma relação dialética com o volume anterior, acentuando a malignidade da sociedade. Inicialmente publicados em separado, os dois volumes são depois impressos em Canções da inocência e da experiência - Revelando os dois estados opostos da alma humana. William Blake expressa sua recusa ao autoritarismo em Não há religião natural e Todas as religiões são uma só, textos em prosa publicados em 1788. Em 1790, publicou sua prosa mais conhecida, O matrimônio do céu e do inferno, em que formula uma posição religiosa e política revolucionária na época: "a negação da realidade da matéria, da punição eterna e da autoridade". michael_satan.jpg Apesar de seu talento, o trabalho de gravador era muito concorrido em sua época, e os livros de Blake eram considerados estranhos pela maioria. Devido a isto, Blake nunca alcançou fama significativa, vivendo muito próximo à pobreza. Blake freqüentemente é chamado de místico, mas isto não é realmente preciso. Ele escreveu deliberadamente no estilo dos profetas hebreus e escritores apocalípticos. Ele pressentiu que seus trabalhos eram como expressões de profecias, enquanto seguia nos passos de Milton. Na realidade, ele acreditou claramente que foi a incorporação viva do espírito de Milton. A seguir algumas frases de William Blake que selecionei, retiradas dos Provérbios do Inferno: “Nunca saberás o que é suficiente enquanto não souberes o que é mais que suficiente.” “O caminho do excesso conduz ao palácio da sabedoria.” “Conduz teu carro e teu arado por sobre os ossos dos mortos.” “A Prudência é uma solteirona rica e feia, cortejada pela Impotência.” “Quem deseja, mas não age, gera a peste.” “O verme partido perdoa ao arado.” “As horas de loucura são medidas pelo relógio; mas nenhum relógio mede as de sabedoria.” “O manto do orgulho é a vergonha.” “As Prisões se constroem com as pedras da Lei, os Bordéis, com os tijolos da Religião.” “O excesso de tristeza ri; o excesso de alegria chora.” “A raposa condena a armadilha, não a si própria.” “A cisterna contém; a fonte derrama.” “Um só pensamento preenche a imensidão.” “Dizei sempre o que pensa, e o homem torpe te evitará.” “Tudo o que se pode acreditar já é uma imagem da verdade.” “A águia nunca perdeu tanto o seu tempo como quando resolveu aprender com a gralha.” “A maldição aperta. A benção afrouxa.” “Melhor matar uma criança no berço do que acalentar desejos insatisfeitos. “ luishott Artigo da autoria de Luís Otávio Hott. Escritor e flaneur-voyeur, um flanvoyeur entre o playground e o abismo.. Saiba como fazer parte da obvious Leia mais: http://lounge.obviousmag.org/nexus_desconexos/2012/07/william-blake-poeta-visionario-ou-assassino.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+OBVIOUS+%28obvious+magazine%29&utm_content=Yahoo%21+Mail#ixzz1zjJotd9b (Obvious)

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