segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Florbela



"poeta é quem vê o que não é de dizer e ainda assim, diz."
Dos olhos de Florbela, a poetisa eleita
em geral por Andreza Spinelli Ballan em 12 de jan de 2012 às 16:57
dizeres insuficientes sobre uma mulher indescritível.


Desvendar Florbela Espanca: atitude impossível e impensável. Divagar sobre a vida da mais intensa poeta portuguesa de todos os tempos – ouso nomea-la como a mais intensa sem nenhum receio – não é algo que seja fácil de ser expresso. Florbela foi uma figura que soube retratar sua existência através de fortes marcas encontradas na sua escrita. Escreveu em prosa, mas foram seus sonetos que fizeram dela o grande nome que é hoje. Marcas tão delineadas que remetem o leitor a sentir o desamparo de uma grandiosa mulher na própria epiderme.

Falou do amor e das aparentes escaras deixadas por ele com uma lucidez quase paradoxal ao seu estilo sofredor de ser. Obteve a arte da lucidez agregada ao sofrimento, mostrando o quão reluzente foi a sua passagem pelo hall dos grandes poetas mundiais. Reconhecida? Sim, mas somente após sua morte (que ainda é um mistério tanto para os biógrafos da escritora quanto para os admiradores de sua obra). Alcançou postumamente a gloria e o reconhecimento de sua inegável genialidade, deixando clara a idéia de que Florbela foi, antes de tudo, uma sofredora. Sofrimento visível em seus auto-retratos que emanam basicamente um olhar pesado, olhar que busca algo quase impossível de ser encontrado.

Não quis aparentar ser uma pessoa forte, só desejou mostrar, despida e desprotegida, as dores que sentia e o que observava (com olhos de lince) ao seu redor – dos hábitos da sociedade portuguesa da época, até a atmosfera vivida embaixo de seu próprio telhado. Estudou em colégio masculino e conviveu com os impropérios do “sexo forte” de uma forma muito próxima, moldando com sabedoria suas opiniões. Viveu para mostrar aos leitores o peso que a vida pode acarretar as costas de uma mulher que dispôs de uma fé majestosa e homens que moldassem seu pensamento de uma forma praticamente proposital e esculpida.


Vaidade, um dos poemas mais famosos da escritora:

Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho...

E não sou nada!


*

Florbela como amante constante:

Os teus olhos

O Céu azul, não era
Dessa cor, antigamente;
Era branco como um lírio,
Ou como estrela cadente.

Um dia, fez Deus uns olhos
Tão azuis como esses teus,
Que olharam admirados
A taça branca dos céus.

Quando sentiu esse olhar:
“Que doçura, que primor!”
Disse o céu, e ciumento,
Tornou-se da mesma cor!


andrezaballan
Artigo da autoria de Andreza Spinelli Ballan.
Aspirante a jornalista. Amante de cinema, artes plasticas, literatura e música intensa. Constantemente submersa em algo não nominável. .
Saiba como fazer parte da obvious.

Amor

Amor À Moda Antiga...



Há pessoas com nervos de aço,
Sem sangue nas veias e sem coração...

                                                                      

Milhões de diabinhos martelando

O meu pobre coração que agonizando
Já não podia mais de tanta dor
E aí
Eu comecei a cantar verso triste
O mesmo verso que até hoje existe
Na boca triste de algum sofredor

Hoje eu quero a rosa mais linda que houver
quero a primeira estrela que vier
para enfeitar a noite do meu bem

 

Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca flor
Eu só errei quando juntei minh´alma à sua
O sol não pode viver perto lua
('Chupado' do blog do Nassif)

O. Médio

24/12/2012, Robert Fisk, The Independent, UK –
A word of advice about the Middle East – we’ve reached the “tipping point” with cliches 
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

"Rebeldes da OTAN"... Na Síria
Mohamed Mursi
Lembram quando pensamos que a trilha do Egito rumo à democracia estava totalmente aberta e desimpedida? Mohamed Mursi, que estudou no ocidente convidara o povo a entrar e conversar com ele no ex-palácio de governo de Hosni Mubarak, os militares velhos e velhacos do “Conselho Supremo das Forças Armadas” haviam sido despachados e o Fundo Monetário Internacional mal podia esperar para impor algumas das suas privações mais cruéis, a um Egito prontinho para receber as dádivas de nossa benevolência financeira. Quão felizes estavam os otimistas sobre o Oriente Médio, em meados de 2012!

Mahmoud Jibril
Na sala ao lado, a Líbia era cenário da vitória do bom Mahmoud Jibril, secularista, pró-ocidente, a prometer liberdade, estabilidade, um novo lar hospitaleiro para o ocidente, num dos solos mais fecundos em petróleo de todo o mundo árabe. E até diplomatas norte-americanos podiam dormir ali, descuidosos, praticamente sem qualquer proteção.

Na Tunísia, sim, havia um partido islamista no poder, mas do tipo “moderado” – em outras palavras, nos convencemos de que, na Tunísia, o ocidente faríamos o nos desse na telha –, enquanto os sauditas e a autocracia bahraini, com a bolsa adequadamente forrada pelos senhores Obama e Cameron, iam arrasando, discretamente, alguma última alma que por acaso tivesse sobrevivido, do levante dos xiitas, que ameaçavam impedir que esquecêssemos que aquela democracia toda não era bem vista entre os mais ricos dos ricos estados árabes. Democracia é coisa para pobre.

Fechando o cerco

Laurent Fabius
Assim também, na Síria. À altura da primavera do ano passado, o comentariato ocidental já descartara Bashar al-Assad. Bashar não merece “viver nesse planeta” – segundo o ministro de Relações Exteriores da França, Laurent Fabius. Bashar tem de “descer”, “sair’, cair fora. O regime não duraria mais uma semana, talvez nem dias. Foi quando o saco encheu até a borda. Chegou ao ponto de transbordamento.

Mas então, à altura do verão, o ponto de transbordamento, como veio, se foi. E começou a conversa de que Assad usaria gás “contra seu próprio povo”. Ou, se não usasse, que seus arsenais de armas químicas poderiam “cair em mãos erradas” (de onde facilmente se conclui que, se permanecessem nas mãos de Assad, estariam em “mãos certas”).

William Hague
Os rebeldes na Síria estavam sempre “fechando o cerco” – em Homs, depois em Damasco, depois em Aleppo, outra vez em Damasco. O ocidente apoiou os rebeldes. Dinheiro (muito) e armas (arsenais completos) chegavam sem parar, do Qatar e da Arábia Saudita; o apoio moral vinha de Obama, de La Clinton, do patético Hague, de Hollande, toda, completa, uma fábrica de bondades. – Até que, inevitavelmente, se descobriu que os rebeldes eram gangues de salafistas, assassinos, matadores sectários, com pelo menos um caso documentado de adolescente degolador, no mínimo tão degolador, e talvez mais degolador, que o regime contra o qual lutava. A fábrica de bondades foi obrigada a reverter os motores, dar marcha a ré. Os EUA continuaram a apoiar os bons rebeldes, seculares; mas os tais horríveis rebeldes salafistas (aliados) foram designados “organização terrorista”.

E o pobre velho Líbano, desnecessário dizer, estava sempre à beira da guerra civil, dessa vez pela segunda vez em menos de 40 anos e dessa vez porque a violência na Síria estava “respingando” no território vizinho.

Bashar al-Assad
Os sectários libaneses não usavam as mesmas roupas que os sectários sírios? O Hezbollah libanês não era aliado de Assad? Os sunitas do Líbano não apoiavam os rebeldes sírios? Verdade. Mas os libaneses não vivem de repetir o que digam os tediosos e super remunerados think tanks e jornalistas e “especialistas” de televisão, porque, assaltados como tantas vezes foram por assassinos do serviço secreto sírio, os libaneses são bem-educados demais, bem-informados demais e inteligentes demais para acreditar na mesma conversa fiada que já ouviram, sem tirar nem pôr, em 1975-1990.

O Irã, claro, a um dia de ser bombardeado, porque estaria fabricando – ou porque já estaria fabricando, naquele momento – armas atômicas; ou porque logo-logo começará a fabricar, dentro de um ano ou uma década, a contar de hoje.

Terror

Obama talvez não bombardeie o Irã; Obama nem quer bombardear o Irã, mas – calma, nem tudo está perdido: – “todas as opções” estavam “sobre a mesa”. Como é o caso, claro, com Israel, que quer bombardear o Irã, porque o Irã pode (talvez até deva!) fabricar armas atômicas, ou porque está no processo para iniciar a produção, ou porque terá bombas dentro de seis meses, ou um ano, ou muitos anos, ou algum dia, mas – como sempre – “todas as opções” estavam “sobre a mesa”.

Netanyahu
Nos contaram que a “janela de oportunidade” de Netanyahu permaneceria aberta, e repetiram, até as eleições presidenciais nos EUA. E assim foi, o besteirol infindável, até... Ora! Até as eleições presidenciais nos EUA, quando então fomos alertados novamente, dessa vez com certeza, de que o Irã já estava produzindo, ou poderia vir a produzir, talvez, algum dia, uma arma atômica.

Israel também ameaçou o Líbano, porque o Hezbollah tem milhares de mísseis; e ameaçou Gaza, porque os palestinos têm milhares de mísseis. E muitos foram os jornalistas israelenses – seguidos pelos seus clones norte-americanos – que preparam seus leitores para essas duas guerras contra o “terror”. Como adiante se verificou, o Líbano não foi bombardeado, ao tempo em que conflito altamente desagradável (do ponto de vista de Israel) irrompeu entre Israel e o Hamás, o qual só teve fim quando Mursi – aliado avuncular do ocidente – persuadiu os palestinos a aceitar um cessar-fogo, que Netanyahu, em tom sepulcral, logo aceitou. Assim Mursi inflou muito o prestígio de Khaled Meshal, o qual, dia seguinte, anunciou que, do Rio Jordão ao mar, tudo deve ser Palestina. Em outras palavras, Khaled Meshal anunciou que adeus Israel.

Khaled Meshal
E, isso, quando o ainda-não-demitido (renunciou) ministro dos Negócios Externos de Israel , Avigbor Lieberman e sua gangue acabavam de repetir, pela milésima vez, como sempre repetiram, que Israel, não a Palestina, deve existir ali, do mar ao Rio Jordão. Em outras palavras, para Lieberman (antes de ser demitido), adeus Palestina.

Coube ao valente, corajoso, idoso militante da esquerda de Israel, Uri Avnery, lembrar que, se se se realizarem simultaneamente os dois desejos, só restará, entre o mar e o Rio Jordão ou entre o Jordão e o mar, uma única cova rasa, gigante. [1]

Linguajar defunto

Assim sendo... hoje, ao final do ano, o esperto Mohamed Mursi faz-se de Mubarak e passa a mão em qualquer velho poder ditatorial que encontre por lá, ao mesmo tempo em que empurra goela abaixo da população secular uma estranha Constituição, depois de haver prometido servir democraticamente aos cristãos e aos muçulmanos.

Na Líbia, claro, os EUA acabaram por criar mais inimigos do que seria recomendável: o embaixador foi assassinado por milícias de tipo al-Qaeda (Clinton já cuidou para que nenhum juiz ou jurado aproxime-se da verdade).

Al-Qaeda (logo)
De fato, a própria al-Qaeda – politicamente falida quando Osama bin Laden foi assassinado por um esquadrão da morte (militar) dos EUA em 2011 – já era coisa descartada, pela Casa Branca, antes da reeleição de Obama. Mas os alucinados do wahabismo desenvolveram um talento muito apreciado pelos aficcionados de filmes de terror: eles agora se recriam, eles mesmos, sob várias formas, em locais diferentes. O Mali substituiu o Afeganistão, exatamente como a Líbia substituiu o Iêmen, e a Síria substituiu o Iraque.

Palavrinha de aviso, portanto, a todos os potentados no Oriente Médio, ditadores, todos os ocidentais que se sintam ilustradíssimos e importantíssimos, apresentadores e âncoras de televisão e jornalistas. Cuidado, doravante, para absolutamente não usar as seguintes palavras ou expressões, em 2013:

moderado, democracia, governo que cai, governo que desce, governo que sai de banda, ponto de não retorno, ponto de transbordamento, ponto de virada sem volta, cair em mãos erradas, fechar cercos, respingar (violência, sobre países vizinhos), opções sobre mesas, ou terror, terror, terror, terror.

É querer demais? Esperar demais? Claro que é. Logo aparecerá outra fornada de clichês, produzido pela fábrica de bondades, para substituir os clichês que já tenham servido aos objetivos para os quais foram inventados.


Nota dos tradutores
[1] Uri Avnery faz outra observação importante, no mesmo ensaio: “São desejos quase iguais, mas Lieberman diz “do mar até o Jordão” e Meshall diz “do Jordão até o mar". Há aí diferença maior do que se vê à primeira vista: Lieberman vê-se chegando do ocidente; Meshall vê-se chegando do oriente” [Uri Avnery, 15/12/2012, “The Sea and the River”, Gush Shalom].
(Redecastor)

Jovens

Os rapazes são “curiosos” e as raparigas “cuscas”
Na verdade ambos são coscuvilheiros revela o livro "Fazendo Género no Recreio: a Negociação do Género e Sexualidade entre Jovens na Escola".

Por Sara Pelicano (texto e fotos)

Maria do Mar Pereira licenciou-se em Sociologia no ISCTE, em Lisboa.
À hora marcada, Maria do Mar Pereira, autora do livro, surge para a entrevista de mochila às costas e caderno na mão, os mesmos objectos que usou para se “imiscuir” durante dois meses numa turma de oitavo ano de uma escola de Lisboa.

A investigadora quis acompanhar os jovens, rapazes e raparigas, para perceber como é que as ideias de masculinidade e feminilidade “são vividas entre os jovens no contexto da escola, e também fora deste espaço. E também perceber que ideias é que estes jovens têm sobre masculinidade e feminilidade, como é que se vigiam uns aos outros para gozar com quem não encaixa nessas regras”, explica Maria do Mar.
O trabalho foi desenvolvido há seis anos. Os resultados serão apresentados no início de 2013 com a publicação do livro "Fazendo Género no Recreio: a Negociação do Género e Sexualidade entre Jovens na Escola".

Homens e mulheres têm características sociais próprias, são diferentes e nada há a fazer. A ideia é generalizada, mas Maria do Mar sublinha que “diferentes disciplinas das ciências sociais têm vindo a demonstrar que estas diferenças não são uma questão biológica, fundamentalmente são sociais e culturais. Diferentes sociedades têm diferentes ideias sobre o que é um homem ou uma mulher, as pessoas são educadas em função dessas ideias e tornam-se dessa forma”.

Com esta premissa, a jovem investigadora acompanhou o quotidiano de 23 adolescentes. “Entrei na vida de todos os dias, participei dela”. A este processo de investigação chama-se “método etnográfico”.

O trabalho de Maria do Mar, inserido na tese de mestrado em Sociologia no ISCTE, tem uma componente mais científica no sentido em que “tento perceber se as teorias e conceitos que, neste momento, utilizamos nas ciências sociais para compreender estes processos, são os mais adequados ou se têm limitações”.

O outro objectivo da investigação “é sair do mundo da ciência e pensar como é que podemos conhecer melhor estes processos de masculinidade e feminilidade e intervir sobre eles”, comenta.

E a principal conclusão a retirar é que homens e mulheres são muito parecidos socialmente. “Há uma série de coisas que acontecem na escola e na vida de todos os dias que faz parecer com que as diferenças entre rapazes e raparigas sejam maiores do que realmente são”, diz a entrevistada.

A coscuvilhice, habitualmente associada ao género feminino, é um bom exemplo. Maria do Mar Pereira pormenoriza: “No meu primeiro dia de escola, os rapazes disseram-me logo: ‘as raparigas são umas cuscas, mas os rapazes não são’. Durante dois meses observava os rapazes a conversar uns com os outros sobre outras pessoas, a partilhar aquilo que chamaríamos coscuvilhices. Quando confrontados com esse facto, os rapazes consideram que o que fazem é curiosidade, e não coscuvilhice”.

Daqui se conclui que “o mesmo comportamento quando é feito por um homem ou por uma mulher é interpretado de formas diferentes e tem nomes diferentes. Isto faz parecer que homens e mulheres são diferentes, mas não o são. A cusquice é um elemento central da amizade de raparigas e rapazes”, acrescenta.

Colocar os jovens a reflectir sobre o tema
O livro "Fazendo Género no Recreio: a Negociação do Género e Sexualidade entre Jovens na Escola" resulta de um trabalho de investigação/acção porque Maria do Mar confrontou os jovens que acompanhou com os seus próprios conceitos de masculinidade e feminilidades.

“No momento em que lhes digo ‘vocês criticam, são violentos, gozam, etc, mas na entrevista que vos fiz todos me dizem que não gostam de fazer isto’, começam a olhar uns para os outros e pensam que algumas atitudes eram desnecessárias”, explica.

"Diziam-me que parecia uma adolescente", diz Maria do Mar, porque ia de mochila e caderno.
Após o confronto com essas ideias pré-concebidas, Maria do Mar terminou o seu trabalho e sabe que aqueles jovens “mudaram os seus comportamentos porque chegaram à conclusão de que não era necessário gozarem uns com os outros e fazerem todas estas coisas que faziam. As pessoas muitas vezes sentem que as ideias sobre géneros são uma coisa fortíssima, milenar e não há nada a fazer. É assim e pronto. E o interessante é que quando se cria espaço para conversar sobre estas questões, as pessoas percebem que estas normas, estereótipos, são arbitrárias”.

Essa mudança de comportamentos está patente no livro pela voz dos proprios alunos. Liliana (pseudónimo) considera “extremamente positivo” o trabalho de Maria do Mar porque “faz-nos perceber, a tua entrada na nossa turma melhorou imenso as coisas, porque a partir daquela tese as coisas más que foram ditas foram todas resolvidas, toda a gente aprendeu a respeitar-se uns aos outros, e epá, eu tenho a certeza que se fizessem trabalhos destes em todas as turmas, quebrava a rotina, fazia muitas melhoras mesmo".

Já Andreia (pseudónimo) comenta que “li a tese e acho que a nossa turma depois disso ficou muito mais unida e apercebemo-nos de que tínhamos feito mal uns aos outros, que tínhamos falado mal dos outros e que não o devíamos ter feito, e fomos injustos, e pedimos desculpa uns aos outros e estamos mais amigos”.

Aos 30 anos, Maria do Mar Pereira é professora auxiliar na Universidade de Leeds, na Inglaterra. O livro vai ser apresentado dia 6 de Janeiro no Centro de Cultura e Intervenção Feminista de Lisboa.
(C. Hoje)

domingo, 30 de dezembro de 2012

Mabelle M. Arruda

É a minha bellzinha, todos sabem, musa de meus blogues...

EUA

EUA: a perversão da fronteira armada

26/12/2012, Lawrence Davidson, Consortium News
“America’s Frontier Mentality”
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Lawrence Davidson
Em matéria da Associated Press de 20/12, lia-se: “O presidente Obama declarou que acabou o tempo de nada fazer (...) e prometeu enviar ao Congresso propostas de leis amplas para tornar mais rigoroso o controle sobre armas e conter a violência crescente, depois do massacre na escola em Connecticut, semana passada”.

Evidentemente, a questão da violência nos EUA é muito mais ampla que o incidente em Newtown, Connecticut. A violência está em toda parte, nas ruas, como nas escolas; e parece que, afinal, obrigou Obama a agir.

Pode-se especular sobre por que a violência nos EUA – assaltos com armas de todos o tipos – alcançou as proporções que se veem hoje. Bem visivelmente há aí, ativo, um aspecto cultural.

 Frederick Jackson Turner e sua obra
Em 1893, Frederick Jackson Turner escreveu ensaio famoso sobre “o fechamento da fronteira norte-americana”. Escreveu que, tendo sido sociedade de fronteiras desde que os primeiros colonos ingleses chegaram da Europa, o caráter norte-americano guardou para sempre um aspecto de mentalidade de fronteira.

Turner associou essa mentalidade de raízes culturais a um duplo impulso, tanto de liberdade pessoal, como de expansão do território nacional. Mas há um outro aspecto nas fronteiras, esse, cultural, que parece ser a mais duradoura contribuição dos EUA para o ocidente.

Em termos históricos, o que é viver numa fronteira? Praticamente sempre é viver em risco, sem qualquer lei que reja o dia a dia. No caso dos EUA, a fronteira era espaço semimilitarizado, com algum inimigo sempre à vista, vindo do horizonte, violência dos dois lados; e armas, praticamente uma arma para cada colono.

Nesse ambiente, floresceu o ideal pervertido de poder e liberdade encarnados no “indivíduo durão”, que usa a força (literalmente: a força que se armazena nos barris de pólvora) para domesticar um mundo “não civilizado” e, assim, conseguir tudo de que precisa e proteger o que tenha. Esse passado pode explicar em parte por que, numa população (como em 2011) de quase 312 milhões, haja cerca de 270 milhões de armas de fogo em mãos de civis.

A cultura da arma foi parte essencial da cultura de fronteira e ainda oferece, para muitos norte-americanos, uma representação simbólica da própria liberdade pessoal. Mas, bem feitas as contas, a arma não passa de ferramenta pela qual se acumula poder pessoal; e esse é o poder ao qual os norte-americanos mais aspiram. É seu “destino manifesto” [Para mais informações leia o original  Manifest destiny, em inglês].

Norte-americanos demais se veem, eles mesmos, como excepcionais: abençoados por Deus, empreendedores atilados da livre empresa, e povo que, acima de todos os demais no planeta, sabe realmente o que significam os direitos e a liberdade. E, no processo de usar o poder para demonstrar esse destino excepcional, todos – os indivíduos e a nação – praticamente sempre, fazem do dia a dia um mar de sangue.

Usar o poder

Cá nos EUA, as armas matam cerca de 17 mil pessoas por ano, das quais aproximadamente 3.000 são crianças. É suficientemente horrível, mas o quadro real é de fato muito pior.

A quantidade de mortes que são o preço que custa a tendência, entre os civis nos EUA, de não impedir que seus surtos de sensação de poder manifestem-se mediante a violência nada é, se comparada à carnificina que os EUA promovem, pela ação de seus militares e de outras modalidades de força bruta, fora do país.

Servindo-se de pistolas, armas mecanizadas e armas químicas no Vietnã, os EUA manifestaram seu poder e mataram algo entre 500 mil e 2 milhões de civis. Não é possível saber quantos desses mortos eram crianças, mas não há dúvida que lá foram mortas, no mínimo, dezenas de milhares de crianças.

Para o Iraque, os EUA desenvolveram novo tipo oficial de arma, que se provou altamente mortal, sobretudo contra crianças. A nova arma chama-se “sanções”. As tais sanções fazem ver ao mundo que os EUA têm poder para manipular grande parte da economia mundial, contra os inimigos dos EUA.

No Iraque, as sanções operaram como uma espécie de Agente Laranja. Desfoliaram a infraestrutura social do Iraque, sem parar, durante 13 anos. As sanções foram impostas em 1990, como consequência por o Iraque ter invadido o Kuwait, e foram mantidas até depois do fim da 1ª Guerra do Golfo.

Consequência daquelas sanções, remédios vitalmente importantes, partes de reposição dos equipamentos para purificação de água e para o sistema de esgotos e outros itens também vitalmente necessários, foram proibidos de chegar ao Iraque. As cerca de 350 mil crianças iraquianas mortas (a menor dentre várias estimativas), a maioria das quais com menos de 5 anos, podem ser direta ou indiretamente associadas a esse regime de sanções impostas pelos EUA. As sanções só foram removidas em 2003, quando os EUA invadiram o Iraque.

Há também as mortes provocadas por armas, como efeito da 2ª Guerra do Golfo (2003 a 2011), lançada sob alegações falsas, mentiras inventadas pelo governo Bush Filho. Estimativas realistas falam de mais 600 mil a 1 milhão de novas mortes no Iraque (adultos e crianças) até o atual estado das operações.

O derradeiro alvo

Agora, os jornais noticiam que Washington, mais uma vez servindo-se da arma das sanções, está novamente criando condições para matar mais gente, crianças, jovens, todos os mais vulneráveis. Dessa vez, o alvo é o Irã.

Trita Parsi
Segundo Trita Parsi, presidente do Conselho Nacional Iraniano-Norte-americano [orig. National Iranian American Council], as sanções norte-americanas já começam a ter impacto na saúde de civis iranianos evidentemente inocentes. A capacidade de o Irã comprar remédios e equipamento hospitalar está sendo reduzida pelas sanções norte-americanas; por causa disso, há mais mortes a contabilizar.

Mesmo assim, deputados e senadores dos EUA, como sen. Robert Menendez, Democrata de New Jersey, conseguiram fazer aprovar mais sanções contra o Irã: “Minha opinião é que temos de esgotar todas as armas do nosso arsenal de sanções, e rapidamente, antes que o Irã invente jeito para sair da crise atual”.

Por que Menendez e tantos como ele, no Congresso dos EUA, fazem o que fazem? Por causa de um suposto programa de armas atômicas? É claro que não. As sanções contra o Irã, que nunca param de aumentar, provam que o problema não é algum programa de armas atômicas que já se sabe que, pelo menos hoje, o Irã não tem.

Desde a derrubada do Xá, em 1979, Washington vê o Irã como inimigo e, portanto, como alvo legítimo contra o qual se deve manifestar o poder norte-americano. Pode-se supor que o senador Menendez saiba perfeitamente o custo humano, no Irã, das políticas dos EUA. Mas, como a ex-secretária de Estado, Madeleine Albright, ante as consequências desastrosas das sanções contra o Iraque, Menendez também parece crer que o resultado compensaria todo o horror.

Muitos americanos estão hoje horrorizados, e têm mesmo de estar, ante o massacre doméstico de crianças norte-americanas. São pequenos cadáveres bem perto de casa e, assim, os norte-americanos estão sendo obrigados a ver, porque a mídia (embora jamais mostre os pequenos cadáveres) não pára de falar “da violência”. E os norte-americanos estão sem saber o que fazer, porque, para muitos norte-americanos, armas e liberdade são sinônimos.

Todas as demais instâncias da violência – os assassinatos nas áreas pobres de vilas e cidades por todo o país, as pilhas de cadáveres de adultos e crianças no Vietnã e no Iraque – são, em larga medida, mantidas longe das vistas do país.

As consequências, sobre a opinião pública média no Irã, de o governo dos EUA manifestar tão desmesuradamente o poder de matar que ainda lhe resta, também são atentamente ocultadas nos EUA, de forma a que não se gere nenhuma empatia, nenhuma solidariedade humana.

Os norte-americanos saibam ou não e estejam ou não prestando atenção, os seus governantes, os seus representantes eleitos, continuam a agir para que os EUA continuem “projetados” sobre todo o planeta, “projetando” o poder nacional dos EUA, usando, para isso, o arsenal nacional de armas e sanções. Tratam de conter o crescimento da população mundial, do modo mais macabro possível.

Os políticos que iniciaram essas políticas assassinas talvez nem saibam, por argumentos e análises sérias, por que fazem o que fazem. Mas sabem, sim, que é culturalmente confortável persistir nas políticas de assassinato em massa. Eles têm sua superficial convicção ideológica, segundo a qual sempre tem de haver um inimigo, do mal, a ser combatido; na comparação com tal inimigo, eles mesmos sempre são “os mocinhos” do filme.

Muitos vivem também da noção simplória segundo a qual a propriedade de armas é tão essencial para a liberdade individual de cada cidadão, quanto o poder militar é essencial para a liberdade nacional. Assim como o norte-americano médio crê que tem em casa aquele rifle semiautomático para proteger o lar e a propriedade, assim os políticos norte-americanos armam (e nunca se cansam de superfinanciar) o arsenal nacional.

Essa gente tem poder e vai usar o poder que tem. Creem – e são provavelmente sinceros – que continuam na fronteira, defendendo a civilização contra o avanço dos bárbaros.
(Redecastor)

Mulheres de Godard

As mulheres de Godard: Uma crítica da sociedade patriarcal
em filme por Amanda Maciel Antunes em 12 de mai de 2012 às 16:31

A mulher no cinema de Godard é a construção de uma crítica da política sexual que argumenta e permeia o sistema cinematográfico, e é produzido em um mundo comandado pela herança romântica pelo qual divide a mulher em duas partes: a aparência e a essência.


"Eu não acho que você deve sentir um filme. Você deve sentir uma mulher, não um filme. Você não pode beijar um filme. "
- Jean-Luc Godard


Embora seus filmes são freqüentemente vistos como um estudo de estética e política, Godard também capturou algumas das atrizes e mulheres mais fascinantes de sua década.

A mulher no cinema de Godard é a construção de uma crítica da política sexual que argumenta e permeia o sistema cinematográfico, e é produzido em um mundo comandado pela herança romântica pelo qual divide a mulher em duas partes: a aparência, que pode ser apreciada. E a essência, que só é reconhecida em risco.


A musa de Godard, Anna Karina era a personificação de uma espécie de glamour despreocupado, se ela era stripper, uma prostituta, um pivô cantando, dançando em um triângulo amoroso, poeticamente triste, Karina era a alma pós-moderna a mais impetuosa dos conceitos de Godard.
Angela (a personagem) quer filhos e vive pressionada entre dois homens, tentando descobrir qual deles ela deve escolher, ao mesmo tempo que descobre o que significa ser uma mulher e um homem, uma excêntrica análise dos sexos. Godard viaja nas dinâmicas de gênero e sugestões indiferentes de um triângulo amoroso.
Jean Seberg - Patricia
Breathless Filme: À bout de souffle (Sem Fôlego)

Patricia (personagem) é uma americana em Paris, que se apaixona por um "wannabe" Jean-Paul Belmondo de Humphrey Bogart, apenas para traí-lo. Se torna inteiramente divorciada da linguagem e de estruturas de significados.
Brigitte Bardot - Camille
Desprezo Filme: Le Mépris (Desprezo)

Camille Javal (personagem), a esposa infiel de um roteirista em conflito, Michel Piccoli, que sucumbe aos encantos de seu patrão, o produtor de cinema americano Jeremy Prokosch (Jack Palance). Bardot, já uma lenda e herdeira do legado francês equivalente ao de Marilyn Monroe, chama a atenção para seu corpo (sex appeal), demonstra que a materialidade de Camille pertence a ela, e não para o olhar masculino ou o toque. Ela controla a objetivação própria e consequentemente, tira vantagem.
Macha Meril - Charlotte
UNE_FEMME_MARIEE Filme: Une Femme Meriée (Uma Mulher Casada)

Charlotte (personagem), uma mulher casada que luta com as circunstâncias na ausência do marido. Demonstra como as mulheres são mercantilizadas e essencializadas por causa da própria materialidade necessária para a noção de beleza.
Chantal Goya - Madeleine
Masculino Feminino Filme: Masculin Féminin (Masculino Feminino)

A atriz interpretando Madeleine (Chantal Goya) fez sua estréia no cinema com Masculin Féminin, ao lado do ator que representou Paul (Jean-Pierre Léaud), talvez o maior ícone do movimento cinematográfico francês conhecido como Nouvelle Vague. A personagem Madeleine define-se como um membro da "Geração Pepsi", construindo uma carreira de sucesso na indústria da música pop isolando cada vez mais o personagem Paul, também jovem e desiludido com a vida civil. Ela é forte, dominadora, e consciente de seu efeito sobre os homens, especialmente Paul. Infelizmente, é apenas a sua capacidade sexual e beleza que lhe permite afirmar tal domínio sobre Paul.

Se torna evidente que a representação das mulheres de Godard enfatiza o fato de que a sociedade só valoriza um aspecto da pessoa: a sexualidade. Godard simplesmente demonstra o verdadeiro estado da sociedade. Seu tipo de cinema é a antítese do cinema de Hollywood, ele usa o filme para expor a realidade não para escondê-la. Ele critica fortemente a sociedade patriarcal, o qual não permite que as mulheres sejam valorizadas por suas habilidades e talentos. E demonstra que a forma como a sociedade ignora tudo, exceto um aspecto da mulher (sua sexualidade), tem conseqüências desastrosas.


amandaantunes
Artigo da autoria de Amanda Maciel Antunes.
Uma estrangeira em terra de estrangeiros. Contadora de histórias. Artista. Figurinista. E cheia de vida. De esperança. De um monte de bobagens também..
Saiba como fazer parte da obvious.

Holocausto

As Visões do Holocausto
em Arte por Lucas de Siqueira em 16 de dez de 2012 às 20:24

“Uma casa como milhões de outras, em algum lugar na Alemanha. Pessoas simples, como eu e você, moram nesta casa: elas vivem com medo. Não pergunte o que elas temem: elas temem a Gestapo, é claro. [...] O medo está lá: portas furtivamente se abrem e os intimidados residentes olham cautelosamente para ver quem está sendo afetado”, escreveu Lea Grundig, artista e ativista política criada em um lar de judeus durante os anos que precederam a Segunda Guerra Mundial. Sua obra é o encrave de uma mudança política diabólica perpetrada pela história em nosso espírito. Uma insurgência de sadismo imperscrutável contra o homem. Grundig traz visão de quem já viu, esteve, tocou e já sentiu, resistiu à própria morte nos terríveis campos de concentração. Lea é antes de tudo, uma sobrevivente.


Quando Hitler chegou ao poder, poucos acreditariam que o mesmo líder responsável por levantar uma nação, resgatar a economia, salvar milhões de jovens da pobreza, e dar ao povo os seus discursos de calor exacerbado, seria responsável pela efetivação de um genocídio inexplicável, tenebroso, de dimensões incalculáveis e consequências desastrosas para a história. Mas mesmo na Alemanha, país onde o fascismo enclausurou-se como única medida esperançosa para o povo, e lugar onde os partidos radicais formavam a maior parte da direita, havia aqueles que ousavam discordar da hegemonia. Grundig, na época uma jovem alemã de classe média, estava inclusa neste meio.
De ascendência judaica, sua família não tinha ligações ao sangue árabe-semita, e ainda muito jovem, havia se rebelado contra os pais e a própria religião. Destarte à sua infância, Lea se inspirava nos afrescos expressionistas de um alemão proeminente e veterano da Primeira Guerra Mundial, Otto Dix, o pintor que após presenciar os horrores do campo de batalha pela Europa, assumira uma postura antibélica e voltada para a esquerda. Ainda consta que sua família, durante muito tempo, não fora perseguida por manter grande sigilo à sua cultura – a religião judaica, que constituía crime na Alemanha nazista segundo as leis de Nuremberg. Entretanto, a prole que em grande parte era dominada pela casta antepassada, garantia a segurança e até mesmo vagas na Academia de Belas Artes do local onde moravam, dominado pelo furor antissemita mesmo nos anos anteriores à ascensão de Adolf Hitler. Dresden, a capital da Saxônia. Lugar aonde este, porventura, o grande ídolo de Lea conduzia as aulas em uma classe separada para homens como Otto Griebel e Willhelm Lachnit. Jogo de sorte, mas não, ela realmente conseguira. E foi no ano de 1924, onde participou sumariamente de exposições onde a influência de artistas austríacos e alemães formou grande parte de seu futuro repertório. Era para valer. Nomes como Ernst Barlach, o famoso adepto do Kaiser durante o conflito anterior que alterou de posição, e Oskar Koroschka, o escritor austríaco, seriam junto a ela nos próximos anos, considerados participantes de todo o movimento agrupado à chamada “arte degenerada” da Alemanha. Excluída dos museus, porém, aberta ao público, com, ou sem esmero, no fundo de alçapões e nos barracos esquecidos de alguns subúrbios afastados. Foi onde ela também futuramente conhecera o seu marido, Hans Grundig, arranjado por seus pais, que a convencera a fazer parte do partido comunista em 1926.

Seu trabalho traz uma lástima de dor, um sentimento de perseguição autoinduzida, compreendida por aqueles que abriam as portas de suas casas e resolviam enfrentar as ruas da cidade. Lá fora, qualquer um, ao mesmo tempo do que em todos, carregava esta noção – aquela de que o próprio pai era o inimigo. A própria mãe podia ser uma espiã, ao mesmo passo de que o próprio pensamento, os amigos, o Estado, ou alguns milhares de soldados, não podiam confiar na própria sombra. A ideia era só uma: o inimigo estava à solta. E espreitava em todo canto. Antes de ser presa em 1936, ela e seu marido haviam publicado a coletânea “Under the Swastika – o judeu é culpado”, além de outros títulos como “ A guerra se aproxima”, “Gueto” e “Vale da Morte”. Nestes trabalhos carregados de sugestividade, notava-se a clara crítica aos membros do partido nacional socialista, assim como a alusão à inocência dos judeus. Detidos e levados a um campo de concentração de refugiados na capital da Eslováquia, em Bratislava, permaneceram por lá até a confirmação do exílio na Palestina, comutado pelo Reich, em dezembro de 1940.  Suas gravuras demonstram a violência, a agonia, o sofrimento. O ódio e a amplitude de um holocausto sem cores, mas com toda a intensidade. Suas gravuras sobre a morte e o assassinato de milhares de judeus e a bestialidade inconsequente da “Noite dos Cristais”, é aqui representada ressaltando as evidências da selvageria, entrepostas, lado a lado a características humanas e inumanas. Um lembrete cruel do sentimento de apatia comparado ao rastejo de animais famintos. As pobres criaturas interpelam por alimento, tal qual um ser humano reduzido à humilhação, ao lado de olhos fundos e cruéis da carne apodrecida pela alma.  A magreza das figuras desnudas contrasta ao ânimo alemão, diante de tamanha atrocidade. Presos e acorrentados diante da incapacidade física, está o homem vetado por ganância, diante de uma implícita menção às prisões e ao encarceramento, conceitos construídos dentro de uma jaula ainda maior: a condição humana. Diante de cidades magnânimas e utopias, imersas em escuridão, estão as máquinas, mecanizando a humanidade e o contrato social. Esquecidos, os pequenos são o futuro da criatura inexplicável, o ser humano, que em tempos de guerra e de negritude visceral, encontra o tempo e a razão para ser feliz. O holocausto, como prega George Steiner, “é algo muito além de um episódio negro e nefasto, incompreensível do ponto de vista humanista. É a completa negação da humanidade.


lucassiqueira
Artigo da autoria de Lucas de Siqueira.
Um Geek cinéfilo, fã de ficção científica, que adora o mundo mágico do Cinema e da História, livros e Rock N' Roll. Estive lá e de volta outra vez! .
Saiba como fazer parte da obvious.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Garota indiana morre...

esta postagem é dedicada in memorian a indiana currada por 6 'animais'....

Gaza

GAZA!



Gaza, massacrePara se justificar, o terrorismo de Estado fabrica terroristas: semeia ódio e colhe álibis. Tudo indica que essa carnificina de Gaza, que, segundo seus autores, pretende acabar com os terroristas, logrará multiplicá-los. Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem respirar sem permissão. Perderam sua pátria, suas terras, sua água, sua liberdade, seu tudo. Nem sequer têm direito de eleger seus governantes. Quando votam em quem não se deve votar, são castigados. Gaza está sendo castigada. Converteu-se em uma ratoeira sem saída desde que o Hamas ganhou limpamente as eleições de 2006. Algo parecido ocorreu em 1932, quando o Partido Comunista triunfou nas eleições em El Salvador. Banhados em sangue, os salvadorenhos expiaram sua má conduta e, desde então, viveram submetidos a ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem.

São filhos da impotência os foguetes caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com nenhuma pontaria sobre as terras que haviam sido palestinas e que a ocupação israelense usurpou. E, ao desespero, ao ponto mesmo da loucura suicida, é a mãe de todas as bravatas a que nega o direito à existência de Israel, gritos sem nenhuma eficácia, enquanto as muito eficazes guerras de extermínio estão negando, há anos, o direito de existência da Palestina. Já resta pouca Palestina. Israel a está apagando do mapa.

Os colonos invadem e, atrás deles, os soldados vão corrigindo a fronteira. As balas sacralizam o despojo, em legítima defesa. Não há guerra agressiva que não diga ser uma guerra defensiva. Hitler invadiu a Polônia para evitar que a Polônia invadisse a Alemanha. Bush invadiu o Iraque para evitar que o Iraque invadisse o mundo. Em cada uma de suas guerras defensivas, Israel traga outro pedaço da Palestina e os almoços seguem. O devoramento justifica-se pelos títulos de propriedade que a Bíblia outorgou, pelos dois mil anos de perseguição que o povo judeu sofreu e pelo pânico que geram os palestinos que observam.

Israel é um país que jamais cumpre as recomendações e as resoluções das Nações Unidas, que nunca acata as sentenças dos tribunais internacionais, que zomba das leis internacionais. É também o único país que legalizou a tortura de prisioneiros. Quem lhes deu o direito de negar todos os direitos? De onde vem a impunidade com a qual Israel está executando a matança de Gaza? O governo espanhol não pode bombardear impunemente o País Basco para acabar com o ETA nem o governo britânico pode arrasar a Irlanda para liquidar com o IRA. Por acaso a tragédia do holocausto implica uma licença de eterna impunidade? Ou essa luz verde provém da potência imperialista que mais manda e que tem em Israel o mais incondicional de seus vassalos?

O exército israelense, o mais moderno e sofisticado do mundo, sabe quem mata. Não mata por erro. Mata para causar horror. Às vítimas civis, chamam de danos colaterais, segundo o dicionário de outras guerras imperiais. Em Gaza, de cada dez danos colaterais, três são crianças. E somam-se aos milhares os multilados, vítimas da tecnologia de despedaçamento humano que a indústria militar está ensaiando exitosamente nesta operação de limpeza étnica.

E, como sempre, sempre o mesmo em Gaza, cem a um. Para cada cem palestinos mortos, um israelense. Gente perigosa, adverte o outro bombardeio, a cargo dos meios de manipulação de massa, que nos convidam a crer que uma vida israelense vale tanto como cem vidas palestinas. E esses meios também nos convidam a crer que são humanitárias as duzentas bombas atômicas de Israel ou que uma potência nuclear chamada Irã foi a que aniquilou Hiroshima e Nagasaki.

A chamada comunidade internacional existe? É algo mais que um clube de mercadores, banqueiros e belicistas? É algo mais que o nome artístico que os Estados Unidos se atribuem quando fazem teatro? Ante a tragédia de Gaza, a hipocrisia mundial vem à luz uma vez mais. Como sempre, a indiferença, os discursos vazios, as declarações ocas, as declamações altissonantes, as posturas ambíguas, rendem tributo à sagrada impunidade.

Ante a tragédia de Gaza, os países árabes lavam as mãos. Como sempre. E, como sempre, os países europeus esfregam as mãos.

A velha Europa, tão capaz de beleza como de perversidade, derrama uma ou outra lágrima enquanto secretamente celebra esta jogada de mestre. Porque a caça aos judeus sempre foi um costume europeu, mas há meio século essa dívida histórica está sendo cobrada dos palestinos, que também são semitas e que nunca foram, nem são, antissemitas. Eles estão pagando, com sangue, uma conta alheia.

(Este artigo é dedicado a meus amigos judeus, assassinados pelas ditaduras militares latino-americanas que Israel assessorou)

Eduardo Galeano, escritor uruguaio
(A Verdade)

Pensamentando

Armas

Controle de armas e a 2ª Emenda à Constituição dos EUA: o que a direita armamentista não conta e não sabe
A resistência da direita em reconhecer a necessidade do controle de armas é comandada, em parte, por uma falsa noção de que os Pais Fundadores aprovaram a 2ª Emenda porque queriam uma população armada que pudesse combater o governo dos EUA. A verdade é o oposto, mas muitos abraçaram essa narrativa absurda. Os legisladores redigiram a Constituição e a 2ª Emenda para criar um governo central forte, com uma força militar capaz de pôr fim às insurreições, e não para encorajá-las. O artigo é de Robert Parry.

Um grande obstáculo ao tratamento da defesa do controle de armas como algo do senso comum é a falsa narrativa histórica do direito, segundo a qual os fundadores da América queriam uma população armada que pudesse combater seu próprio governo. A verdade é que George Washington buscava milícias de cidadãos para pôr fim às revoltas e para manter a ordem.

A resistência da direita em reconhecer a necessidade do controle de armas é comandada, em parte, por uma falsa noção de que os Pais Fundadores aprovaram a Segunda Emenda porque queriam uma população armada que pudesse combater o governo dos EUA. A verdade é o oposto, mas muitos americanos parecem ter abraçado essa narrativa anti-histórica e absurda.

O fato é que os legisladores redigiram a Constituição e acrescentaram a Segunda Emenda com o objetivo de criar um governo central forte, com uma força militar cidadã capaz de pôr fim às insurreições, e não para viabilizar ou encorajar levantes. Os legisladores originários eram, afinal, majoritariamente homens de propriedades com muito em jogo numa sociedade ordenada, como era o caso de George Washington e James Madison.

Os homens que se reuniram na Filadélfia em 1787 não foram os precursores do Robespierre da França ou do Leon Trotsky da Rússia, que acreditavam em revoluções permanentes. Na verdade, seu trabalho na Constituição foi influenciado pela experiência da Rebelião de Shay, no oeste de Massachusetts, em 1786, um levante popular que o fraco governo federal, sob os Artigos da Confederação, careceu de armas para derrotar.

Daniel Shays, o líder da revolta, era um ex-capitão do Exército Continental que se juntou a outros veteranos e a fazendeiros para pegar em armas contra o governo que não atendeu às suas queixas.

A rebelião alarmou o general da reserva George Washington, que recebeu informes sobre o desenrolar dos acontecimentos dos veteranos da Guerra Revolucionária em Massachusetts, como os generais Henry Knox e Benjamin Lincoln. Washington estava particularmente preocupado com que a desordem pudesse estar a serviço dos interesses da Inglaterra, que apenas recentemente havia aceitado a existência dos Estados Unidos.

Em 22 de outubro de 1786, numa carta à procura de informações de um amigo em Connecticut, Washington escreveu: “Estou mortificado além da conta com o fato de que, no momento do reconhecimento de nossa independência estejamos, por nossa própria conduta, confirmando as expectativas de nosso inimigo transatlântico e nos tornando ridículos aos olhos de toda a Europa”.

Numa outra carta, em 7 de novembro de 1786, Washington questionou o general Lincoln a respeito da inquietação disseminada. “Qual é a causa de todos esses tumultos? Quando e como terão um fim?”. Lincoln responde: “Muitos deles parecem mesmo estar absolutamente loucos, se a tentativa de aniquilar nossa atual Constituição e dissolver o atual governo puder se considerada como evidência de insanidade”.

No entanto, o governo dos EUA careceu de meios para restaurar a ordem, e assim, cidadãos ricos de Boston financiaram sua própria força armada sob o comando do general Lincoln, para enfrentar o levante de fevereiro de 1787. Washington, no fim das contas, expressou satisfação no começo desse movimento de contenção, embora tenha permanecido preocupado que a rebelião pudesse se tornar um sinal de que as previsões da Europa a respeito do caos americano se confirmassem.

“Se há três anos [no fim da Revolução Americana] alguém tivesse me falado a respeito deste dia, eu teria visto uma rebelião formidável dessas, contra a lei e a constituição que nós mesmos fizemos, como a que agora acontece e teria pensado que se trata de uma insanidade – uma coisa apropriada a uma casa de loucos”, escreveu Washington a Knox, em 3 de fevereiro de 1787, acrescentando que, se o governo “vacilar ou for incapaz de reforçar suas leis...a anarquia e a confusão vão prevalecer”.

O alerta de Washington a respeito da Rebelião de Shay foi um fator chave na sua decisão de tomar parte – e presidir – a Convenção Constitucional, organizada para que se apresentasse revisões aos Artigos da Confederação, mas em vez disso jogou fora inteiramente a velha estrutura e a substituiu pela Constituição dos EUA, a qual alterou a soberania nacional dos 13 estados pelo “Nós, o Povo” e fortaleceu o poder do governo central.

Um aspecto crucial da constituição foi o estabelecimento de meios pacíficos para que os EUA criasse políticas em benefício da população, no interior mesmo da uma estrutura de freios e contrapesos, para evitar mudanças radicais consideradas perturbadoras para a sociedade estabelecida. Por exemplo, o mandado de dois anos para a Casa dos Representantes [Congresso] visava a refletir a vontade geral, mas o de seis anos para o Senado foi designado para temperar as paixões do momento.

No interior deste quadro de uma república democrática, os legisladores criminalizaram a pegada em armas contra o governo. O Artigo IV, seção 4 obriga o governo federal a proteger cada estado não apenas de invasão, mas de “violência doméstica”, e a traição é um dos poucos crimes definidos na constituição como “recrutamento para a guerra contra” os Estados Unidos, assim como fornecer “Ajuda e Conforto” ao inimigo (Artigo III, seção 3).

Mas foi a drástica expansão do poder do governo federal que provocou forte oposição de algumas figuras da Guerra Revolucionária, como Patrick Henry da Virgínia, que denunciou a Constituição e organizou um movimento conhecido como os Anti-Federalistas. As perspectivas para a ratificação da Constituição estavam de tal maneira em questão que seu principal arquiteto, James Madison, lançou-se numa campanha que ficou conhecida como a campanha dos Autos Federalistas, com a qual tentava minimizar o quanto suas mudanças eram, na verdade.

Para vencer os céticos, Madison concordou em apoiar a Carta de Direitos, que seria apresentada como as primeiras dez emendas à Constituição. A manobra política de Madison saiu vencedora por uma pequena margem, em estados chave, como Virgínia, Nova York e Massachusetts. O Primeiro Congresso, então aprovou a Carta de Direitos, que foi ratificada em 1791. [Para mais detalhes, ver, de Robert Parry, America’s Stolen Narrative, algo como A Narrativa roubada da América].

Por trás da Segunda Emenda
O acordo da Segunda Emenda lidava com preocupações com “a segurança” e a necessidade de milícias treinadas para garantirem a Constituição chamada de “tranquilidade doméstica”. Também havia hesitação dentre muitos dos legisladores, quanto aos custos e aos riscos da formação de um grande e forte exército, que tornasse a organização de milícias compostas de cidadãos uma alternativa atraente.

Assim, a Segunda Emenda diz: “Sendo necessária para a segurança de um Estado livre, uma milícia bem regulamentada, o direito do povo a manter e adquirir armas não deve ser infringido”. Ao contrário de algumas fantasias da direita a respeito dos legisladores pretendendo encorajar levantes populares com base em reivindicações, a linguagem da emenda está claramente voltada à manutenção da ordem interna do país.

Esse ponto foi posto em prática pelas ações do Segundo Congresso, em meio a um outro levante, que eclodiu em 1791, no oeste da Pensilvânia. Essa revolta anti-taxação, conhecida como a Rebelião Whiskey, instigou o Congresso em 1792 a expandir a ideia de “uma milícia bem regulamentada”, ao aprovar o Milicia Acts [algo como Lei das Milícias], o qual requeria de todos os militares adultos e brancos que obtivessem seus próprios rifles e equipamentos para uso nas milícias.

Em 1794, o Presidente Washington, que estava determinado a demonstrar a competência do jovem governo, comandou uma força combinada de milícias estaduais contra os rebeldes de Whiskey. Essa revolta rapidamente colapsou e a ordem foi restaurada, evidenciando como a Segunda Emenda ajudou o governo a manter a “segurança”, como a Emenda diz.

Além dessa clara lembrança histórica – de que a intenção dos legisladores era criar segurança para a nova República, não promover rebeliões armadas – também há a lógica simples que os legisladores constitucionais representavam a jovem aristocracia da nação. Muitos, como Washington, tinham grandes propriedades de terras. Eles reconheciam que um governo central forte e a tranquilidade doméstica atendiam os seus interesses econômicos.

Assim, seria contraintuitivo – bem como anti-histórico – acreditar que Madison e Washington queriam armar a população para que os descontentes resistissem ao governo constitucionalmente eleito. Na realidade, os legisladores queriam armar o povo – ao menos os homens brancos – de modo que levantes, sejam eles de natureza econômica, como a Rebelião de Shays e protestos anti-taxações, como a Rebelião Whiskey, e como os ataques dos americanos nativos ou as revoltas de escravos fossem reprimidas.

No entanto, a Direita tem investido pesadamente ao longo das últimas décadas na fabricação de uma narrativa nacional diferente, que ignora tanto a lógica como o registro histórico. Nessa fantasia da direita, os legisladores queriam que todos tivessem uma arma, de modo que poderiam violentamente resistir contra o seu próprio governo. Para esse fim, uma pequena lista de citações incendiárias são pinçadas e usadas fora do contexto.

Essa “história” tem sido amplificada por meio do poderoso aparato de propaganda da direita – Fox News, rádios, a internet e publicações ideológicas – para persuadir milhões de americanos de que a posse de rifles de caliber semi-automático e outras ponderosas armas de fogo era o que os legisladores pretendiam, que os proprietários de armas de hoje estão cumprindo com um dever americano de alguns séculos.

A mitologia a respeito dos legisladores e da Segunda Emenda é, é claro, só parte da falsa história que a Direita criou para persuadir os desavisados do Tea Party de que eles devem se vestir com a indumentária da Guerra Revolucionária e canalizarem os espíritos de homens como Washington e Madison.

Mas essa fábula das armas é particularmente insidiosa, porque obscurece os esforços do atual governo de tornar intuitiva para o senso comum leis que controlem as armas, então as falsas narrativas tornam possível certos massacres que irrompem periodicamente ao redor dos Estados Unidos, mais recentemente em Newtown, Connecticut, onde 20 crianças e seis professores foram assassinados em minutos por um jovem desequilibrado com uma versão civil de um rifle de combate M-16.

Soa absurdo pensar que os Fundadores dos EUA pudessem sequer ter contemplado um ato como esses – com suas baionetas do século XVIII que demandavam tempo para serem recarregadas -, mas os militantes pró-armamento afastaram essa obviedade, ao postularem que Washington, Madison e outros legisladores teriam desejado uma população altamente armada para cometer o que a Constituição definia como traição contra os Estados Unidos.

A direita americana está hoje embriagada de uma história muito ruim, que é tão perigosa como falsa.

(*) Robert Parry é um jornalista que cobriu o escândalo do Irã-Contras, em 1980, para a Associated Press e a Newsweek.

Tradução: Katarina Peixoto


(Carta Maior)

EUA - Espionagem

Um espião tem mais valor do que um batalhão
O presidente Obama não gosta da guerra. Não porque seja o ganhador do prêmio Nobel da paz, mas porque a ação bélica aberta destampa os dados da estratégia norte-americana e os interesses em que se baseia. Assim lançou um grande plano que, escreve o Washington Post, «reflete a preferência da sua administração pela espionagem e a ação secreta mais do que pelo uso da força convencional».
Este plano prevê a restruturação e potencialização da DIA (Agência de Informação Militar – Defense Intelligence Agency), até aqui
concentrada nas guerras do Afeganistão e do Iraque, de modo que ela possa operar à escala global como uma « agência de espionagem focada nas ameaças emergentes, mais estreitamente ligada à CIA e às unidades militares de elite».  O primeiro passo será aumentar o organigrama da DIA que, dobrou durante a última década, compreendendo agora cerca de 16 500 membros. Será assim formada « uma nova geração de agentes secretos » a enviar para o estrangeiro. A CIA ocupar-se-á do seu treino no seu centro da Virgínia, conhecido como « La Quinta », onde se preparam os agentes secretos : para os da DIA, que constituem agora 20 % dos alunos, serão criados novos postos.

A colaboração cada vez mais estreita entre as duas agências é testemunhada pelo fato de a DIA ter adoptado algumas das estruturas internas da CIA, entre as quias uma unidade chamada « Persia House - (Gabinete Pérsia) », que coordena as operações secretas no interior do Irã.  Os novos agentes da DIA frequentarão assim um curso de especialização junto do Comando de operações especiais. Este é especializado entre outros, na eliminação de inimigos, em «guerra não convencional » conduzida por forças externas treinadas segundo a tarefa; em « contra-insurreição » para ajudar governos aliados a reprimir uma rebelião ; em « operações psicológicas » para influenciar a opinião pública, afim de esta apoiar as acções militares norte-americanas.

Terminada a formação, os novos agentes da DIA, à partida cerca de 1 600, serão empregues pelo Pentágono em missões no mundo inteiro. O Departamento de Estado encarregar-se-á de lhes fornecer falsas identidades, colocando entretanto uma parte nas embaixadas. Mas, como estas já estão cheias de agentes da CIA, serão dadas aos agentes da DIA falsas identidades diferentes, como as de universitário ou de homem de negócios.

Os agentes da DIA, graças à sua experiência militar, darão maior garantia no recrutamento de informantes com capacidade para fornecer dados de carater militar, por exemplo sobre o novo avião de caça chinês. E o desenvolvimento da sua estrutura permitirá à DIA alargar a gama dos objetivos a atingir com os drônes e com as forças especiais.
Esta é a nova maneira de fazer a guerra, que prepara e acompanha o ataque aberto pela ação secreta para minar o país pelo interior, como o fizeram na Líbia, ou para o fazer desabar do interior, como o tentam fazer na Síria. É nesta direção que vai a restruturação da DIA, lançada pelo presidente Obama.  Não se sabe se o neo-candidato a primeiro-ministro Pier Luigi Bersani [1], que tem uma grande estima por Obama, o felicitou já. No entretanto ele foi à Líbia para « retomar o fio de uma presença forte da Itália no Mediterrâneo ». O fio da guerra contra a Líbia, na qual a Itália participou sob comando norte-americano, enquanto Bersani exclamava em júbilo « em boa hora».
[1] Secretário do Partido democrático, eleito domingo 2 de dezembro nas eleições primárias para conduzir as « listas progressistas » nas próximas eleições políticas de onde sairá o novo governo, a que Bersani se prepara para presidir. NdT. Site da campanha eleitoral

(Forum ZN)

Nouvelle Vague

Truffaut e Goddard: até que o cinema os separe
publicado em cinema por jeferson scholz

O novo cinema francês, batizado de Nouvelle Vague, revolucionou a história da sétima arte, além de ser responsável pelo surgimento de Jean-Luc Godard e François Truffaut. Cineastas brilhantes, porém bastante complicados, acabaram se tornando vítimas do próprio movimento que ajudaram a instituir e tiveram seu relacionamento fatalmente afetado por isto.



Desde o cinematógrafo, a grande máquina de projeção de August e Louis Lumiére derivada de um invento de Thomas Edson, a França parece predestinada ao pioneirismo na sétima arte. A criação dos irmãos, no fim do século XIX, é o marco inicial do cinema, mas há depois um outro francês que pode ser considerado seu pioneiro, George Meliés. Responsável por criar gêneros, técnicas e estéticas do pensar cinematográfico, este ilusionista, diretor e ator definiu os contornos desta arte para o mundo e deixou uma semente plantada em seu país. E no fim dos anos 50 ela germinou gloriosamente, com a criação da Nouvelle Vague, a nova onda.

O filme Nas garras do vício (Le Beau Serge), 1958, de Claude Chabrol, é considerado o primeiro do movimento, que tinha o objetivo de resgatar a arte e a poesia cinematográfica em decadência após a Segunda Guerra Mundial. Para isto, contava com vários cineastas jovens e talentosos, imbuídos de um espírito de mudança. Dentre eles, dois nomes merecem destaque como os principais da Nouvelle Vague: Jean-Luc Godard e François Truffault. Ambos geniais, eram grandes amigos, mas tinham personalidades fortes e incompatíveis.



Godard inicia-se na nova escola cinematográfica com o clássico O acossado (A bout de souffle), 1959, mostrando a vida de um criminoso foragido da polícia e seu romance com uma jovem. No mesmo ano, Truffaut produz Os incompreendidos/ Os 400 golpes (Les quatre cents coups), uma fulminante crítica ao autoritarismo de poderes dominantes. As obras são revolucionárias, desde a narrativa ousada à estética inovadora e de forte tom autoral. A partir de então, dois dos principais idealizadores desta transformação cinematográfica se uniriam por meio de suas criações, ajudando um ao outro a produzir obras, com elogios mútuos e constantes.

Inevitavelmente, a paradoxal relação dos dois cineastas começou a se desgastar na medida em que os filmes seguintes de ambos viraram fracassos. Truffaut não impressionou o público e a crítica com seu segundo filme Atire no pianista/ Disparem sobre o pianista (Tirez sur le pianiste), 1960. Os trabalhos seguintes de Godard, Uma mulher é uma mulher (Une femme est une femme), 1961, e O pequeno soldado (Le Petit Soldat), 1963, também não agradaram os espectadores, apesar de manterem o espírito transgressor da Nouvelle Vague. Allém de que Truffaut recebeu críticas técnicas e estéticas de seu companheiro. Este foi o estopim que destruiria a amizade entre eles.

Os diretores que outrora já haviam se unido em prol da cinemateca francesa e de sua arte estavam se distanciando. Godard queria fazer um cinema político e ativista e seu companheiro queria elevar sua produção a um status artístico. Tal incompatibilidade ideológica atingiu seu ápice durante o festival de Avignon de 1968, quando Truffaut se negou a apoiar o colega num protesto de estudantes de cinema, alegando que estes eram parte da burguesia. Sua atitude fez com que fosse chamado de traidor pelo seu ex-amigo, que saiu do circuito cinematográfico.


A esta altura, ambos tinham se tornado grandes influências mundiais na sétima arte, com fãs e admiradores das mais diversas opiniões. Entre as mais fortes estava a do cineasta brasileiro Glauber Rocha, que deu a Truffaut a alcunha de pequeno burguês. Mesmo assim, ao contrário de Godard, que até hoje faz apenas obras esporádicas para os fãs, ele produziria mais 20 filmes até o ano de sua morte, em 1984. Seu falecimento finalizou a rixa entre eles, mas deixou remorso em seu companheiro, que hoje, aos 81 anos, ainda questiona o porquê das brigas.

Hoje a Nouvelle Vague representa uma referência para alguns dos maiores cineastas modernos, como David Lynch e Martin Scorsese. Seu legado foi responsável por instaurar no cinema o espírito inconformista e anárquico da juventude, e sua criação presenteou o mundo com dois dos maiores gênios da sétima arte. Compartilhando o caráter cinematográfico único da França, Jean-Luc Godard e François Truffaut sempre foram grandes entendedores das ideologias humanas, mas diferentes demais para compartilhá-las harmonicamente.



jefersonscholz
Sobre o autor: jeferson scholz é fascinado pela cultura pop em todas as suas esferas de manifestação, por música, cinema e nerdices em geral. Saiba como fazer parte do obvious.

Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2012/06/truffaut_e_goddard_ate_que_o_cinema_os_separe.html#ixzz2GC6vHsD7

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Neruda


É Proibido

É proibido chorar sem aprender,
Levantar-se um dia sem saber o que fazer
Ter medo de suas lembranças.

É proibido não rir dos problemas
Não lutar pelo que se quer,
Abandonar tudo por medo,

Não transformar sonhos em realidade.
É proibido não demonstrar amor
Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor.
É proibido deixar os amigos

Não tentar compreender o que viveram juntos
Chamá-los somente quando necessita deles.
É proibido não ser você mesmo diante das pessoas,
Fingir que elas não te importam,

Ser gentil só para que se lembrem de você,
Esquecer aqueles que gostam de você.
É proibido não fazer as coisas por si mesmo,
Não crer em Deus e fazer seu destino,

Ter medo da vida e de seus compromissos,
Não viver cada dia como se fosse um último suspiro.
É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar,

Esquecer seus olhos, seu sorriso, só porque seus caminhos se
desencontraram,
Esquecer seu passado e pagá-lo com seu presente.
É proibido não tentar compreender as pessoas,
Pensar que as vidas deles valem mais que a sua,

Não saber que cada um tem seu caminho e sua sorte.
É proibido não criar sua história,
Deixar de dar graças a Deus por sua vida,

Não ter um momento para quem necessita de você,
Não compreender que o que a vida te dá, também te tira.
É proibido não buscar a felicidade,

Não viver sua vida com uma atitude positiva,
Não pensar que podemos ser melhores,
Não sentir que sem você este mundo não seria igual.
Pablo Neruda

Palestinos

Uma terceira intifada palestina está no horizonte?
Seguidores de Hamas, Fatah, Jihad Islâmica e FPLP anunciaram a criação dos Batalhões da União Nacional, por intermédio de um vídeo distribuído no dia 14 de dezembro. Segundo o vídeo, “este é o começo da terceira intifada palestiniana, que começa no coração de Hebron e se propagará por toda a Palestina”. Serviços de inteligência de Israel confirmam que "estão dadas as condições para que isso ocorra na Cisjordânia.

Mel Frykberg - IPS

Hebron, Palestina – Batalhões da União Nacional, um novo grupo que reúne partidários de todo o espectro político palestino, convocou uma terceira intifada (levantamento popular) contra a ocupação, ao mesmo tempo em que a espionagem israelense alerta que estão dadas as condições para isso na Cisjordânia. Os dois pronunciamentos ocorrem após uma série de protestos e confrontos entre soldados de Israel e jovens palestinos em diferentes localidades da Cisjordânia no final da semana passada, após a morte de Mohammad Salayma, de 17 anos, às mãos de um guarda fronteiriço em Hebron.

Seguidores de Hamas (Movimento de Resistência Islâmica), Fatah, Jihad Islâmica e Frente Popular de Libertação da Palestina anunciaram a criação dos Batalhões da União Nacional (BUN), por intermédio de um vídeo distribuído no mesmo final de semana.

O novo grupo propõe-se consolidar a luta contra Israel. Embora tenha apoiado o reconhecimento pela Organização das Nações Unidas (ONU) da Palestina como membro observador, declarou que lutará para “recuperar toda a Palestina, do Mar Mediterrâneo ao Rio Jordão”. Segundo o vídeo, “este é o começo da terceira intifada palestina, que começa no coração de Hebron e se propagará por toda a Palestina”. As duas revoltas populares anteriores aconteceram entre 1987 e 1993 e de 2000 a 2005.

Os membros dos BUN ameaçaram sequestrar soldados de Israel caso as forças militares desse país não suspendam a detenção de cidadãos palestinos. Também disseram que se o Estado judeu continuar a matar civis com impunidade pagará pela mesma moeda.

As exigências do grupo incluem a eliminação dos postos de controle na Cisjordânia, a libertação de todos os presos palestinos das prisões de Israel, a retirada deste país dos territórios que ocupa e a transferência para a Autoridade Nacional Palestina (ANP) da arrecadação de impostos, confiscada pelo Estado judeu desde que melhorou o seu status na ONU. Também reclamam a abertura de todas as passagens fronteiriças e o fornecimento de água e eletricidade à assediada Faixa de Gaza.

A declaração foi difundida no dia 14, um dia após a morte de Salayma, sobre a qual soldados israelenses alegaram que foram ameaçados com uma arma de plástico. Contudo, a família do jovem deu à IPS uma outra versão para o caso. “Duvido que Mohammad tivesse uma arma de plástico. Creio que os israelenses a colocaram depois do disparo”, denunciou à IPS o tio do rapaz, um polícia da ANP. Ele acrescentou que “era o aniversário de Salayma, que saiu para comprar um bolo para comemorar. Para ir à loja tinha que passar por um posto de controle militar, na ida e na volta. Se tivesse a réplica de uma arma, a máquina de raio X tê-la-ia detetado”.

Nasim Salayma, de 22 anos, primo da vítima, afirmou que “era um estudante feliz e inteligente, e representou a equipa palestina de luta na França. Voltava para casa com o bolo e somos obrigados a acreditar, de repente, que tentou impor-se a um grupo de soldados treinados e fortemente armados? Ele não era estúpido”.

Organizações internacionais defensoras dos direitos humanos, bem como palestinos e israelenses, registaram ao longo dos anos numerosos casos de palestinos assassinados por soldados israelenses em circunstâncias extremamente controversas. Do que não resta dúvida é que este último assassinato gerou um profundo mal-estar. Centenas de jovens saíram às ruas de Hebron no dia 13 para expressar o seu descontentamento contra os soldados israelenses, atirando pedras e queimando pneus.

Dezenas deles ficaram feridos, alguns gravemente, atingidos por munições reais e gás lacrimogêneo. Os protestos espalharam-se a outros povoados e outras cidades da Cisjordânia. A IPS testemunhou confrontos em Hebron no dia seguinte, durante uma manifestação de partidários do Hamas que comemoravam o 25º aniversário da criação desse movimento.

Foi a primeira vez em anos que a ANP permitiu ao Hamas organizar uma manifestação na Cisjordânia, no contexto de uma aproximação entre essa organização e o Fatah, principais partidos palestinos arquirrivais. Os pequenos passos para a unidade foram dados após o fortalecimento político do Hamas, depois do último ataque israelita contra Gaza, de 14 a 21 de novembro, que uniu os palestinos de todas as facções. As forças de segurança dos dois partidos também reduziram drasticamente o número de detenções mútuas.

Essa situação fez com que a imagem do Hamas crescesse na Cisjordânia, somada à próxima transferência por Israel de vários presos dessa organização de Gaza para a Cisjordânia, e pode consolidar mais a sua presença neste território palestino. Outro elemento que pode contribuir para nova insurreição popular é o possível colapso ou a dissolução da ANP pelo fato de o Estado judeu confiscar mais de 1 milhão de dólares de impostos dos palestinos.

A ANP é a fonte de rendimento de várias centenas de famílias palestinas, o que faz numerosos especialistas preverem que um desemprego em massa se seguirá à dissolução desta entidade e deixará os palestinos numa situação desesperante. A indignação dos palestinos aumentou com o recrudescimento de ataques de colonos israelitas e a contínua expropriação das suas terras. Além disso, depois do reconhecimento internacional que significou a melhora de status dentro ONU, cresceu o sonho de um Estado próprio.

Enquanto isso, a Shin Bet, a agência de espionagem interna, observou que o mal estar generalizado nos territórios ocupados pode fomentar o desenvolvimento de um tipo de infraestrutura capaz de incentivar uma terceira intifada, segundo a imprensa israelense.


(Carta Maior)

Zapatistas

“Escutaram? É o som do fim do mundo de vocês!”

Mensagem do EZLN – Ejército Zapatista de Libertación Nacional

Postado por Joana em 21/12/2012-  5:04; desinformemonos.org
Traduzido por Mariana Petroni e Erneneck – Foto Moysés Zuñiga
Enviado pelo pessoal da Vila Vudu

Numa ação massiva, disciplinada e simultânea, que não era vista desde os dias do levantamento insurgente de 1994, milhares de zapatistas ocuparam pacificamente e num silêncio ensurdecedor cinco cidades do estado de Chiapas. Algumas horas depois,revelaram um breve comunicado.


Chiapas, México. Milhares de bases de apoio do Exército Zapatista de Liberação Nacional (EZLN) ocuparam num silêncio emblemático as ruas de cinco municípios do estado de Chiapas, na primeira manifestação púbica que os zapatistas fazem desde o dia 7 de maio de 2011, quando se juntaram à convocatória do Movimento pela Paz com Justiça e Dignidade. Essa ação simultânea e massiva, a maior de toda a história, foi antecedida pelo anúncio de que a organização indígena daria sua palavra, a qual se conheceu algumas horas depois da mobilização.

“A quem possa interessar. Escutaram? É o som do seu mundo caindo. É o do nosso mundo ressurgindo. O dia que foi o dia era noite. E noite será o dia que será o dia”

Foi a mensagem assinada pelo subcomandante Marcos e difundido horas depois, através da página Enlace Zapatista.


Em cada uma das cidades ocupadas (Ocosingo, Las Margaritas, Palenque, Altamirano e San Cristóbal), os tzeltales, tzotziles, ch’oles, tojolabales, zoques, mames e mestiços marcharam com seus tradicionais lenços e passa-montanhas, em fila e silêncio rigoroso. Homens e mulheres, na sua maioria jovens, passaram sobre o templete em cada cidade e levantaram o punho. Essa foi a expressão mais simbólica de toda a mobilização.

Força, disciplina, uma ordem extraordinária, dignidade, integridade e coesão. Não é pouco. São 19 anos nos quais uma infinidade de vezes foram considerados mortos, divididos e isolados. Uma e outra vez saíram para dizer “aqui estamos”. Hoje, com 40 mil zapatistas nas ruas, novamente silenciaram, de uma só vez, os boatos infundidos.


Em San Cristóbal de Las Casas, cidade onde são feitas tradicionalmente as manifestações do EZLN fora do seu território, mais de 20 mil homens e mulheres zapatistas provenientes do caracol de Oventik, onde se concentraram um dia antes, desfilaram sob uma chuva que começou de madrugada. A passeata de 28 destacamentos (segundo a numeração que levavam os grupos nos seus passa-montanhas) iniciou fora da cidade, ao redor das oito e meia da manhã, e aproximadamente ao meio dia a retaguarda ainda estava muito longe do centro da cidade. A praça central foi muito pequena para receber todos eles.

Habitantes e turistas gritaram e cantaram o hino zapatista em alguns trechos da passeata. Os comerciantes, como de praxe, baixaram suas cortinas, porque os índios novamente os surpreenderam. O templete foi colocado na frente da catedral, enquanto que os blocos zapatistas organizados se localizaram ao redor da zona central da cidade.



Em Palenque, uma antiga cidade ch’ol e um dos centros turísticos mais importantes do estado de Chiapas, os indígenas zapatistas entraram pela avenida principal e realizaram o gesto do punho sobre o templete colocado no centro da cidade, em frente à igreja. Posteriormente, saíram pela rua Chiapas para voltar às suas comunidades.

Em Las Margaritas, os zapatistas repetiram a dinâmica com 7 mil bases de apoio, enquanto que em Ocosingo – cidade tomada pelo insurgentes no dia 1 de janeiro de 1994, onde se deu o massacre de civis por parte do exército federal durante os primeiros dias de guerra, mais de 6 mil bases de apoio iniciaram a ação a partir das seis horas da manhã; aproximadamente 8 mil zapatistas ficaram no caracol de La Garrucha porque o transporte para a cidade não foi suficiente. Não tinham se concentrado tantos zapatistas nessa localidade desde os combates sangrentos do levantamento indígena.

Os símbolos são muitos elegeram o último dia do ciclo maia, o dia que seria “o fim do mundo” para muitos e para outros o início de uma nova era, a troca de pele, a renovação. Durante estes 19 anos o caminho da luta zapatista está cheio de simbolismos e profecias, nessa ocasião não foi diferente.

Desde o anúncio de que, em breve, a comandância geral do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) daria sua palavra, a expectativa pelo conteúdo de sua mensagem só cresceu, mas, nessa sexta-feira, o que se escutou foram os passos, o caminhar silencioso cruzando cinco praças, seu andar digno e rebelde pelas ruas e seu punho ao alto.

A última vez que o subcomandante Marcos, chefe militar e porta-voz zapatista, falou foi no epistolar intercâmbio com o filósofo Luis Villoro, no dia 7 de dezembro de 2011. A iniciativa política mais recente foi o festival da Digna Raiva, para o qual convocaram as lutas e os movimentos do México e do mundo, em dezembro de 2008.

Esta sexta-feira não se apresentaram os membros do Comitê Clandestino Revolucionário Indígena, como fizeram em maio de 2011, que foi a última vez que foram vistos Tacho, Zebedeo, Esther, Hortência, David e a toda a comandância geral, com a exceção do subcomandante Marcos, que tem se mantido distante da cena pública.
Postado por Castor Filho às 15:09:00
(Redecastor)

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Judeus

Judeus, Hebreus, Sionistas, Israelenses e Israelitas. Quem é quem?
02/12/2012

Para falar com justiça dos judeus e evitar o racismo e ideias pré-concebidas, é necessário que se entenda a diferença e o significado de cinco definições lingüísticas fundamentais: Judeus, Hebreus, Sionistas, Israelenses e Israelitas.

Em nome de Deus, O Clemente, O Misericordioso.

[...]

1 – Judeus: (do latim Iudaeus, e este do hebraico yehudi). Adjetivo. Judeus são aqueles que praticam a religião conhecida como Judaísmo. O Judaísmo é uma religião que teve origem com a revelação divina da Toráh no monte Sinai a um grupo de tribos hebraicas. Judeus são aqueles que professam esta religião, independentemente da sua raça. O único e fundamental compromisso dos judeus é unicamente com Deus, estando esse pacto referido na Toráh ou Pentateuco. Segundo a Toráh e outras escrituras sagradas do Judaísmo, os judeus foram exilados de Palestina (antes Canaã) há mais de mil anos por vontade divina, como castigo por terem abandonado os deveres religiosos para com Deus. Desde então, os judeus estão mortalmente proibidos de se aproximarem da zona do Monte do Templo, onde antigamente estava o Sinédrio, ou Templo, na época dos Macabeus; a Toráh e o Talmude proíbem que os judeus formem um Estado, um país independente ou forcem terminar o exílio. Eles acreditam que o seu exílio terminará pacificamente com a vinda do Messias (P e B), numa época ideal na qual todos os povos do mundo se unirão em paz ao serviço do Criador. Estas são as autênticas crenças históricas dos judeu, como bem o explicam as poucas comunidades que atualmente os representam e quem as negue, NÃO É JUDEU.

Isto foi explicado e clarificado por algumas das organizações que verdadeiramente representam a posição do Judaísmo histórico no mundo atual, como Satmar Hassidic e Neturei Karta.

 Alguns anos depois da composição deste artigo, encontrei uma interessante explicação sobre este tópico publicada pelo Centro Virtual Cervantes de Língua Espanhola, que confirma o ponto de vista exposto neste artigo.

2 – Israelitas: Adjetivo. Termo proveniente da Bíblia, com que se tem designado historicamente o povo judeu.

 3 – Hebreus: Do latim Hebraeus, e este do hebraico ‘ibri, e este talvez proveniente do acádio hapirum, pária, vagabundo, transumante. Adjetivo. Designação histórica de um povo nómada do deserto, oriundo do Médio Oriente. Os hebreus são uma etnia, raça ou povo, com padrões genéticos e características físicas próprias e distintas de outros povos. Assume-se geralmente que a maioria dos hebreus praticam o Judaísmo, mas a verdade é que uma grande parte não são judeus, hoje em dia, talvez a maioria. E tal como atualmente a maioria dos muçulmanos não são árabes, muitos judeus não são hebreus, como também muitos hebreus não são judeus, mas sim ateus, cristãos, sionistas, comunistas ou muçulmanos.

Pode-se ser hebreu sem ser judeu, não praticando o Judaísmo; e se pode ser judeu sem ser hebreu, através da conversão ao Judaísmo, sendo de outra raça qualquer, como no caso das comunidades negras de judeus na Etiópia.

4 – Sionista: Adjetivo. É a pessoa que adere ao movimento político do Sionismo, um movimento nacional socialista hebraico originado por descendentes de judeus europeus (ashkenazis), que se tornaram laicos ou apostataram do Judaísmo, cujo objetivo fundamental, após a queda do Terceiro Reich no século XX, foi a colonização forçada da Palestina para fundar aí um Estado hebraico, a qual se levou a cabo mediante repressão e assassinatos, uma vez que Palestina nunca esteve desabitada. De início este movimento foi seriamente resistido no mundo judeu e os rabinos ortodoxos o declararam “um partido ou seita herege, apóstata e anti-judeu”. Atualmente o acusam de racista por professar uma ideologia de ódio aos árabes e de praticar o genocídio e limpeza étnica na Palestina. Os kibuts “socialistas”, tão publicitados nos anos 60, 70 e 80, foram uma forma de enganar a população, propondo no início uma convivência idealista que os palestinos lamentavelmente aceitaram, pois sentiram que as suas condições de vida iriam melhorar. O Sionismo foi racista e supremacista desde o início. Sua plataforma política implica o extermínio ou deportação dos não israelenses (pt, israelitas), sejam ou não judeus, para conseguir a criação do “Grande Israel”, que abrangeria parte de Síria e outras nações limítrofes, como se pode entender das declarações dos seus principais líderes e ideólogos, como Ben Gurión e Golda Meir.

judeusO movimento sionista começou então uma forte propaganda política entre as comunidades judaicas do mundo, agitando o fantasma do anti-semitismo e assegurando que nenhum judeu está seguro fora de Israel. O movimento foi ganhando adeptos entre os hebreus e algumas comunidades de judeus, que foram abandonando os princípios do Judaísmo e substituindo a lealdade a Deus e à sua religião histórica pela lealdade política a um Estado.

5 – Israelense(1) : Adjetivo. Cidadão habitante e leal ao Estado de Israel. Não se deve confundir com o adjetivo  “israelita”, que ainda hoje se utiliza para se designar os judeus.

Conclusão: Uma pessoa pode ser hebréia, sionista e israelense. Pode ser cristã, chinesa e sionista. Uma pessoa pode ser israelense, cristã e de origem ariana. Mas jamais pode ser judeu e sionista simultaneamente, porque os fundamentos do Judaísmo e do Sionismo contradizem-se, como explicam as organizações de judeus ortodoxos antes mencionadas, que têm esclarecido a diferença fundamental entre Sionismo e Judaísmo: (http://www.nkusa.org/foreign_language/spanish/UASR.cfm).

A ideia de que “judeu” e “sionista” são sinônimos é una falácia inventada pelo movimento sionista para diminuir as comunidades judaicas dispersas pelo mundo e transladá-las  para Palestina, convidando os judeus a desconhecer a proibição de Deus e dos seus sábios, dizendo-lhes que na realidade o Judaísmo não é religião mas sim uma cultura e um conjunto de tradições, o que é absolutamente falso. Engano este que o mundo parece acreditar, inclusive árabes e muçulmanos, chamando judeus aos sionistas e vice-versa.

Por último, à luz do exposto, Israel não pode ser lingüísticamente denominado como um “Estado Judaico”.

A maioria dos hebreus e judeus em geral têm muitas dúvidas sobre tudo o que diz respeito a Israel; alguns estão contra e outros estão a favor da sua existência como Estado, mas são poucos os que defendem Israel sem reservas e justificam os seus crimes. Quanto aos sionistas, a maioria deles não são nem judeus nem de origem hebraica. Inclusive, como é do conhecimento público, as igrejas evangélicas da América Latina são abertamente sionistas.

A reprodução total ou parcial deste artigo está permitida, citando o autor, sob licença de Creative Commons, 2007.

Nota do tradutor: Em português do Brasil e em língua castelhana, a diferença entre israelense (israelí em castelhano) e israelita é facilmente identificada. Em português europeu o termo “israelitas” refere-se aos cidadãos do estado de Israel e também ao termo bíblico referente ao povo judeu.

Autor: Moámmer Darman al-Muháyir

Fonte: WebIslam

Tradução: Sionismo.net

Chávez

O chavismo está mais forte que nunca. O chavismo corre seu maior risco
O título não está errado. Ambas as afirmativas estão corretas. Com a vitória eleitoral esmagadora em 20 dos 23 estados venezuelanos, é possível vislumbrar um chavismo sem Chávez? O agravamento do quadro clínico do presidente venezuelano coloca o país diante do maior desafio desde sua primeira eleição, em 1998

Gilberto Maringoni


Há para todos os gostos: as duas frases do título são contraditórias entre si e as duas estão corretas, por dois motivos essenciais.

PRIMEIRO: o Partido Socialista Unificado da Venezuela (PSUV) obteve uma vitória inédita. O chavismo agora é governo em 20 dos 23 estados nacionais, com destaque para Zulia, estratégico por estar lá concentrada a maior parte da produção de petróleo. A força governista pode apontar para algo como um chavismo sem Chávez.

SEGUNDO: Apesar disso, não se sabe se é possível um chavismo sem Chávez. Com toda sua exuberância e estridência, o processo político local assenta-se quase exclusivamente sobre a legitimidade de seu líder, que se mantém intacta desde 1998. Naquela época, o ex-tenente-coronel elegeu-se com 56,2% dos votos válidos. Em 2012, alcançou 54,42%. Sem o ex-tenente-coronel, o futuro é uma incógnita. O PSUV é um amálgama de interesses díspares, que pode se esfacelar sem o pólo aglutinador do assim chamado comandante.

A favor do governo, um fator conta: a economia vai bem, se comparada ao restante da América Latina (da Europa, nem se fale). O país deve fechar 2012 com um crescimento de 5,3%. No ano passado, a elevação do PIB alcançou 4,2%, depois do desastre de 2010, com 1,5% negativo. Os dados são da Cepal. A América do Sul, na média, crescerá 2,7% e o Brasil apresenta o medíocre índice de 1%.

Desafios imensos
Os desafios colocados diante da Venezuela são talvez os maiores desde a chegada de Hugo Chávez ao poder, em janeiro de 1999. Não se trata de uma questão de vontade pessoal do presidente da República, mas resultado das próprias condições históricas que o levaram e o mantiveram no poder, sobre as quais ele tem alguma influência.

Pensando-se no pior cenário, a questão é: o chavismo – nome genérico que se dá à dinâmica política venezuelana – sobreviverá sem sua figura maior? A coalizão oficial conseguirá se manter unida?

O drama pessoal de Chávez, com seu câncer que motivou a quarta cirurgia em pouco mais de um ano, adquire tinturas de drama político amplo, num país que viveu em pouco mais de duas décadas uma sucessão de enfrentamentos internos de altíssima intensidade. A administração bolivariana, marcada por quinze processos eleitorais, é pontuada por uma tentativa de golpe de Estado, um locaute de mais de dois meses, três referendos, um cerco midiático permanente, oscilações econômicas, sabotagens, inépcia administrativa e várias tentativas de isolamento internacional.

A superação de todos esses enfrentamentos teve na figura presidencial seu leme decisivo. E é aqui que reside sua força e sua fraqueza.

Para tentar decifrar os rumos futuros de uma Venezuela sem Chávez, é interessante examinar como se formou sua liderança.

Quase um mito

Chávez encarna o processo político vivido pela Venezuela não por ser uma figura autocrática e centralizadora, como alardeia a mídia conservadora, mas por ter protagonizado alguns episódios cruciais antes mesmo de chegar ao poder. Sua tentativa de golpe em fevereiro de 1992, quando liderou uma sublevação em quatro guarnições militares, adquiriu contornos épicos.

Apesar da derrota, que custou dezenas de mortes e centenas de prisões, inclusive a sua, Chávez emergiu ali como personagem importante na cena política. A quartelada, diante de um país quebrado, era vista pela população como uma tentativa desesperada e heróica de se consertar as coisas.

Quatro meses depois, pesquisas de opinião davam ao antes obscuro tenente-coronel uma altíssima popularidade: 64,7% da população o considerava uma pessoa confiável para dirigir os destinos do País, colocando-o à frente do próprio presidente da República.

Não apenas isso. O então golpista despontava ali com características quase míticas, que cresceram com o tempo.

Líder forte

A Venezuela, como se sabe, viveu uma crise política e social profunda entre 1983, a partir de um longo ciclo de preços baixos do petróleo no mercado internacional, e 1998. A sucessão de desastres resultou em uma quebra dos padrões de convivência internos, construídos ao longo de décadas.

Quando Chávez se torna candidato e vence as eleições pela primeira vez, ele se coloca diante de uma sociedade esgarçada e sem referências institucionais com credibilidade. Partidos, sindicatos e os próprios órgãos de Estado viram, em um curto período, sua legitimidade se evaporar. Sem alicerces organizativos claros para o exercício mínimo da democracia representativa, é difícil vislumbrar, na Venezuela dos anos 1990-2000, outro caminho que não tivesse na figura de um líder forte a saída para reorganizar a sociedade. Uma figura que exercesse seu papel em linha direta com a população, à falta de instituições que mediassem essa relação, como Congresso, Judiciário, sindicatos, entidades associativas, serviços públicos eficientes, dentre outros.

Há aqui uma distante semelhança com alguns países latino-americanos no século XX. Getúlio Vargas (1930-45 e 1950-54), no Brasil, Juán Domingo Perón (1946-1955), na Argentina, e Lázaro Cárdenas (1934-1940), no México, encarnaram um tipo de liderança personalista e que se legitimava acima das instituições. São chamados de “populistas” na academia. Eram tempos de industrialização acelerada e de migração maciça de milhões de trabalhadores pobres do campo para as cidades.

O populismo é uma expressão própria de sociedades de capitalismo tardio, industrialização e urbanização aceleradas e conseqüentes deslocamentos de grandes contingentes populacionais do campo para a cidade. Esses fatores raramente estiveram presentes nos países de desenvolvimento industrial menos intensivo em espaços de tempo tão curtos, como aconteceu na Europa e nos Estados Unidos.

A liderança populista acabou por dar às massas trabalhadoras que saíam de suas regiões em busca de vida melhor, referências sociais e o próprio sentido de nacionalidade.

Venezuela fragmentada

A Venezuela, em outro sentido, é uma sociedade em transformação. Estão em processo de definição de novos arcabouços institucionais e políticos. O movimento social organizado foi duramente reprimido entre as décadas de 1960-90. Assim, Chávez surge na cena política diante de um país em fragmentado e sem rumo. Aqui está a referência distante com os três exemplos citados. As referências da população se perderam no desastre político e social das duas últimas décadas do século XX.

Seria possível outro caminho? Pouco provável, diante do quadro colocado. O ex-militar tornou-se não apenas líder, mas o principal e quase único garantidor do processo político em curso no seu país até aqui. É porta-voz central de seu governo, assim como é o grande intelectual, formulador e estrategista das ações de Estado. Não é de se espantar que sua prática tenha, de fato, contornos populistas. É preciso, contudo, lembrar: ninguém é populista porque e quando quer. Isso corresponde a necessidades históricas objetivas.

Por fim, é preciso chamar atenção para um marco distintivo da ação chavista em relação a muitos líderes do continente. Seu populismo tem características progressistas na realidade venezuelana. Ao liderar o processo constituinte, em 2000, e estabelecer novos parâmetros institucionais, Chávez tornou-se o fiador da legalidade e logrou empurrar os setores das classes dominantes que tentaram derrubá-lo para a periferia da atividade política. Se tal ação conseguir construir canais democráticos de participação, sua ação populista poderá, dentro de algum tempo, negar a si mesma.

Dilemas futuros

Esses são, siteticamente, os dilemas da Venezuela. Por força de um tsunami social, a sociedade se esgarçou. A liderança de Chávez deu-lhe novas referências. Não é à toa que a maioria de seus discursos busque traçar um fio de continuidade entre as ações presentes e às de Simon Bolívar, há dois séculos, em sua luta anticolonial. O presidente não apenas tem uma ação política exuberante, como tenta mostrar um sentido histórico no futuro que diz construir. Em outras palavras, cria uma cultura de mudança, através de uma eficiente disputa pela hegemonia na sociedade.

É difícil saber se Nicolas Maduro, que exibiu um desempenho respeitável e eficiente como chanceler, consiga segurar o bastão que Chávez lhe confiou. O problema não é de competência pessoal, algo que o ex-motorista de ônibus parece ter. A questão é saber se o processo político já amadureceu o suficiente para a existência de um chavismo sem Chávez. Não bastam votos, coisas que o pleito de governadores provou existirem. A questão é se já existe uma diretriz política legítima e exercida coletivamente para levar adiante a construção de uma democracia social sem seu protagonista principal.

(Tomara que todas as alternativas estejam erradas e que Hugo Chávez possa voltar às suas funções normais.)

Gilberto Maringoni, jornalista e cartunista, é doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de “A Venezuela que se inventa – poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez” (Editora Fundação Perseu Abramo).
(Carta Maior)

Dívidas


Imagine que toda dívida mundial desapareceu quando o calendário Maia terminou.

Problemas como o aquecimento global e a pobreza extrema instantaneamente se tornariam facilmente solucionados com contratos justos e investimentos prospectivos. As dívidas estruturais de subsídios, capital investido, paraísos fiscais e acordos comerciais que mantém esses problemas distantes de uma solução simplesmente não existiriam mais.

Em seus primórdios, a tradição hebraica realizava esse sonho a cada sete anos. Costumava-se celebrar um grande jubileu, que dava cabo às dívidas e à escravidão econômica. Blocos de pedra em que inscreviam-se contas eram quebrados. Papiros com orçamentos, queimados. Escravos retornavam às suas famílias. A todos era oferecido um novo começo (a mesma tradição é viva atualmente com o projeto Rolling Jubilee, inspirado nos ocupas, que já aboliu mais de $9,000,000 em dívidas).

A invenção da dívida

Devemos saber que o endividamento surgiu recentemente. Durante mais de 99% da nossa história, nós não tínhamos nem a noção de dívida (o leitor interessado pode percorrer as páginas de Debt: The First 5000 Years, de David Graeber, para mais detalhes).

Estudos antropológicos revelam que sociedades de coletores e caçadores não tinham sistemas de trocas, moedas para usar como dinheiro e, na ausência desses artefatos culturais, endividamento. Na grande variedade cultural que se deve esperar de uma pesquisa etnográfica, antropólogos constataram que comunidades tribais mantinham uma espécie de economia baseada na troca de presentes, onde a posição do indivíduo dependia do quão generoso ele se mostrava. Outros grupos mantiveram-se igualitários e não-hierárquicos durante milhares de anos por dividir alimentos e instrumentos sob os princípios de “de cada um o quanto pode, para cada um o quanto necessita”.

Deriva daí a leitura sobre o comunismo que o trata como um sistema de governo centrado no estado, quando na verdade ele conserva o sentimento fundante de qualquer comunidade construida sobre a confiança e a boa vontade das relações sociais entre as pessoas – condição preservada em toda sociedade de coletores e caçadores durante 200,000 anos.

Em qualquer compêndio de economia se encontra a clássica (e falsa) história de que todo sistema de trocas necessita de dinheiro. Todos eles são mais ou menos da seguinte maneira. Felipe tem batatas e precisa de sapatos, Gabriel tem sapatos mas não precisa de batatas. Em função desse desencontro de necessidades, eles são incapazes de fazer trocas e, assim, faz-se necessário introduzir um sistema monetário que preserve o mesmo valor em múltiplas trocas e permita a Felipe vender suas batatas a Maria e adquirir dinheiro para comprar os sapatos de Gabriel. O que essa simples narrativa oculta é toda a evidência antropológica de que os problemas não surgem assim.

Na verdade, os problemas se originaram das conquistas impostas por sociedades guerreiras. Quando uma terra era conquistada, os mandantes impunham um sistema de cobranças para cobrir os custos da guerra. Essa imposição de escassez por extrair recursos da população local é o que leva à emergência de um sistema de trocas e, em alguns dos casos, à introdução de um sistema monetário pelo conquistador.

Na ausência de guerras e conquistas, sociedades não criam sistemas de troca. Em vez disso, os bens são divididos dentro da tribo ou trocados com outras tribos através de rituais de câmbio costumeiramente conflituosos. O surgimento de sistemas de troca dá-se em sociedades agrárias, nas quais algum tipo de sistema de contabilidade é criado para apurar dívidas.

Então, de onde vem o endividamento, se ele não é natural entre os seres humanos? Novamente, é a imposição da escassez pela classe dirigente, elaborada para que uma elite poderosa extraia e acumule riqueza, que cria a noção de dívida. Isso soa familiar no atual contexto? Muitos países “modernizaram-se” no século XX por introduzir sistemas de mercado que dão forma a dívidas nas economias de nações recém-fundadas. Essas nações hoje devem pagar tributos, na forma de juros, para bancos estrangeiros que extraem riqueza de países pobres para os cofres de países ricos.

Em bom português, o endividamento é criado quando um grupo poderoso de pessoas impõe escassez sobre outro grupo, que foi conquistado. Essa é causa da pobreza. Isso desestabiliza sociedades e alimenta inquietações sociais e revoluções. Daí a introdução do jubileu pelos reis hebreus. Eles sabiam que uma revolução poderia fazer com que o povo se levantasse e acabasse com suas próprias dívidas, extirpando a monarquia do poder. Para preservar sua base de poder, os reis desfaziam dívidas e tudo principiava novamente.

O endividamento e a responsabilidade moral
O leitor atento já deve estar se perguntando, “o que essa história da criação do endividamento tem a ver com o uso religioso da responsabilidade moral?” Talvez o mesmo leitor tenha notado que todas as religiões trazem em seus núcleos uma relação de troca entre Deus e os homens. Cada um deve algo ao criador e é capaz de pagá-lo por livrar-se de pecados ou retornar ao seu fabricante após a morte.

Esse tipo de transação econômica por responsabilidade moral não é presente em toda sociedade. As tribos de coletores e caçadores que punham sua ética em prática pela distribuição baseada na necessidade não estavam trocando olho por olho. Muito menos enxergavam um presente como forma de reembolso – com efeito, tratar a generosidade de maneira transacional seria um insulto.

A moral baseada no endividamento só é presente em sociedades que possuem sistemas contabilísticos e cotidianamente desempenham trocas monetárias. Em outras palavras, esse sistema de responsabilidade moral é um produto de guerras e conquistas, não parte natural da vida em sociedade. Assim, da próxima vez em que você sentir-se endividado, seja com seus amigos, a sociedade ou o criador, mantenha isso em mente.
O que significaria acabar com toda dívida?

Nós vivemos num tempo em que muitos de nossos recursos financeiros estão ligados a atividades não produtivas, muito em virtude do privilégio míope a atividades econômicas que servem a nossas imensas dívidas. Por isso pessoas detestam seus próprios trabalhos e investimentos não são feitos em energias renováveis, educação pública, cultura, saúde ou na erradicação da pobreza. Nós construimos gigantescos castelos de areia sobre dívidas – com o dinheiro tornado-se um bem em si quando empréstimos são feitos e crescendo exponencialmente com os juros – e, assim, somos incapazes de acabar com a cultura do consumo ou concentrar nossa criatividade na sustentabilidade do planeta.

Se acabássemos com todas as dívidas, 7 bilhões de pessoas poderiam concentrar-se em suas paixões. Nós poderíamos nos juntar para cuidar do que nos ameaça, como a escassez de água potável ou a extração de petróleo.

Eu suponho o que seria possível se todos pudessem desenvolver suas capacidades intelectuais e empíricas sem medo de um coletor de dívidas. Como os povos do mundo escolheriam viver suas vidas?

Talvez você tenha seus próprios sonhos de um mundo melhor para si e os seus. O que vem à sua mente? A propósito, essa não é uma questão meramente acadêmica porque cada um de nós participa das realidades sociais a que emprestamos nossas crenças, ações e obrigações. Se decidíssemos que nossas dívidas inexistem, elas inexistiriam.

Cada um de nós poderia ser um economista – escolhendo o que medir e impregnando tal medida de significado. O Produto Interno Bruto foi escolhido como medidor do progresso da civilização no século XX dessa maneira. Talvez no século XXI nós o substituiremos pela Felicidade Interna Bruta ou outra medida que capture a essência de nossos valores e objetivos enquanto civilização.

Imagine, pois, novamente, que toda dívida mundial desapareceu junto com o fim do calendário Maia nesta sexta-feira. O que se alteraria?

(*) Joe Brewer é fundador e diretor do Cognitive Policy Works, um centro educacional e de pesquisas dedicado à aplicação de ciências cognitivas e comportamentais à política. Ele é um ex-membro do Rockridge Institute, um grupo de estudos fundado por George Lakoff para analisar discursos políticos para o movimento progressista.

Tradução de André Cristi
(Carta Maior)