sábado, 15 de dezembro de 2012

Israel

Afinal, justiça nas Nações Unidas

    

    Israel reagiu mal à votação na Organização das Nações Unidas que aprovou, por ampla maioria, resolução reconhecendo a Palestina como Estado observador. Menos de 24 horas depois da histórica votação, o governo do troglodita político Benyamin Netanyahu autorizou a construção de três mil moradias na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, além de ordenar o "zoneamento preliminar e planejamento de (outras) milhares".

    Trocando em miúdos: Netanyahu fechou as portas para negociações de paz tendo em vista a criação de um Estado Palestino. Israel não quer a paz. Apesar de a comunidade internacional ter infringido derrota a Israel e seu mantenedor, os Estados Unidos, a situação interna continuará a mesma, ou seja, com a predominância do terrorismo de Estado que Israel impõe ao povo palestino.

    E a construção de assentamentos nos territórios palestinos significa na prática a ocupação de terras de um povo que precisa ter seu Estado criado imediatamente.

    O atual governo israelense não se cansa de cometer atrocidades, como as recentes na Faixa de Gaza que provocaram 161 mortes de palestinos. Netanyahu não aceita um fato concreto, o de que o Hamas é o legítimo representante dos palestinos na Faixa de Gaza que vive debaixo de cerco permanente das forças coloniais (o termo é este mesmo).

    Analistas creditaram os mais recentes bombardeios de Israel na Faixa de Gaza a uma jogada política de Netanyahu tendo em vista as próximas eleições em janeiro. O Hamas reagiu arremessando foguetes contra território israelense, que alcançaram apenas em parte os alvos, não se comparando ao poder de fogo de Israel. Foi um confronto desproporcional, que se traduziu inclusive pelo número de vítimas (cinco do lado israelense).  

    E tem mais, os confrontos tiveram início depois que Israel assassinou Ahmed al-Jaabari, um interlocutor que negociava através do Egito um cessar fogo de longo prazo com Israel. Gershon Baskin, o negociador israelense que estava em contato com o Hamas revelou em entrevista ao  jornal The New York Times que na manhã do bombardeio que assassinou al-Jaabari ele havia recebido uma minuta de acordo para um cessar-fogo de longo prazo com Israel – que incluía mecanismos para fiscalizar os movimentos e ações dos dois lados e assegurar o cumprimento do que fosse acordado.

    Israel não só não quer a paz, como setores mais radicais procuram  implementar o projeto fundamentalista bíblico do Grande Israel se apropriando (roubando) terras palestinas.

    Não contente em acionar suas poderosas máquinas de guerra contra uma área onde o povo vive em condições precárias, agravadas pelo cerco, o Estado de Israel agora critica a comunidade internacional por ter votado favoravelmente à Palestina e volta suas baterias contra Mahmoud Abbas, o dirigente moderado palestino que obteve um expressivo e justo reconhecimento internacional.

    Israel, com o apoio dos Estados Unidos, nunca aceitou votações na ONU que lhe impuseram exigências de interromper sua política agressiva. Nesse sentido, tornou-se um Estado delinquente e também nunca foi punido pelos desrespeitos às resoluções.

    A situação atual é calamitosa. O cerco a Faixa de Gaza, onde vivem cerca de um milhão e meio de palestinos, é comparável às ações militares dos nazistas na Europa durante a II Guerra Mundial. O povo palestino vive em condições subumanas com dificuldades de se alimentar e adquirir medicamentos em função do cerco israelense.

    O governo extremista de Netanyahu, um dirigente que para muitos é comprado a Adolf Hitler, usa a chantagem emocional do Holocausto para justificar o injustificável, ou seja, suas ações truculentas na região. Qualquer crítica a sua política é respondida de forma arrogante e com a acusação de que quem a faz é antissemita.

    Nesse sentido é importante conhecer a opinião de Norman Finkelstein*, professor e cientista político estadunidense, que perdeu os pais em campos concentração nazistas na II Guerra Mundial. Além de se solidarizar amplamente com os palestinos, Finkelstein enfatizou, em palestra numa universidade norte-americana, que como filho de vítimas do nazismo não pode silenciar diante das atrocidades de Israel para com os palestinos.

    Em Porto Alegre, na semana passada, por ocasião da realização do Fórum Social Mundial sobre a Palestina, Lee Gargagliano, cidadão estadunidense integrante de uma organização judaica antissionista nos Estados Unidos, disse em alto e bom som que “estou aqui porque me oponho ao colonialismo. Não acho que sou eu quem deva dizer que tipo de Estado a Palestina deve ter. Precisamos de uma sociedade onde todos possam viver com liberdade”.

    Estes judeus críticos à política agressiva de Israel, da mesma forma que o filho de rabino Noam Chomsky, que dispensa apresentação, não podem ser taxados de antissemitas, o que seria absurdo e ridículo, mas suas vozes, da mesma forma que de outros com a mesma origem, são ignoradas pelo governo israelense, que prefere continuar com sua política atual, que na prática é gerador de antissemitismo.

    Além do mais, com a truculência adotada como política de Estado, Israel fica cada vez mais isolado diante da comunidade internacional e no fundo provoca insegurança para a sua própria população, que anestesiada pela máquina estatal opta por uma política racista contra os palestinos, como indicam as pesquisas.

    Houve um acordo de cessar fogo entre Israel e o Hamas mediado pelo governo egípcio. Mas a situação continua tensa com denúncias por parte dos palestinos de que o acordo já foi desrespeitado.

    Se não houver pressão da comunidade internacional contra o governo de Israel, que poderia chegar ao boicote a produtos de empresas israelenses, como foi feito contra a África do Sul na mobilização mundial contra o apartheid, o estado de beligerância continuará na região. E se nada for feito, o mundo continuará lamentando o banho de sangue que afeta a população civil, em maior escala os palestinos.

    (*) O autor desta reflexão, que também teve parentes assassinados pela barbárie nazista em campos de concentração na Polônia, compartilha a opinião do cientista político estadunidense Norman Finkelstein e demais integrantes de movimentos de judeus antissionistas em várias partes do mundo.

    

    Em tempo: Quando este artigo estava publicado, o governo israelense anunciou nova medida de retaliação:  não repassará, neste mês, os impostos coletados em nome da Autoridade Nacional Palestina (ANP).
(Direto da Redação)

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