terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Os Sonhadores

Os Sonhadores, Como a Realidade é Intolerável por Vinicius Siqueira em 02 de mar de 2012 às 22:05 Não creio que The Dreamers, filme de 2003, dirigido por Bernanrdo Bertolucci deva ser analisado tendo como foco a apatia dos três amigos em relação aos protestos de maio de 68. o filme é claramente uma crítica aos estudantes que nada fazem, além de expelir fumaça de cigarro da boca um pouco torta para direita – Matthew é a personificação dessa crítica. Mas eu creio que além disso, ele seja a definição do filme. The Dreamers trata sobre a vida de três estudantes, Matthew, um americano que está estudando francês em Paris, Theo e Isabelle, dois irmãos extremamente fraternais, que se encontram num clube de cinema e começam uma amizade em meio a um protesto contra a demissão do organizador da mostra dos filmes. Com o passar do tempo, Matthew percebe que pudor é uma palavra não existente entre os irmão Theo e Isabelle, e que há, entre eles, um cerco imaginário, que necessita de provações para se abrir a um estranho. O filme é cheio de contradições aparentes, como o fato dos irmãos (sempre extremamente sexuais) dormirem juntos, pelados, entretanto, Isabelle ainda ser virgem – logo, não há a quebra do tabu, não há incesto, dormir junto é só a inocência infantil que será mais explicada ao longo do texto. Ou como a radicalidade de Theo, entretanto, só existente dentro de seu quarto, com um cigarro na boca e deitado na cama. Uma radicalidade aparente, digna de qualquer poser de rockeiro malvado da galeria do rock. Qual a grande sacada? Essa contradições demonstram a limitação presente no próprio casal de irmãos, enquanto Matthew, o estrangeiro, percebe que, acima de tudo, não há quebra de padrões no estilo de vida dos irmãos pseudo-incestuosos, mas somente o não estabelecimento (aparente) de padrões. Anomia. Os irmãos ainda são, conforme o próprio Matthew observa, crianças. Eles ainda não têm uma autoridade firmada de valores (por mais que isso pareça conservador, repare, todos temos uma autoridade de valores, mesmo que essa autoridade seja a autoridade da liberdade, da não-disciplina e, por consequência, da pura conectividade da sociedade líquida), não reconhecem uma realidade que seja diferente do gozo infantil que expressam a cada momento. Uma vida de gozo, mas uma vida onde o gozo é infantil – somente infantil. Uma das formas de provar que estar no grupo seleto dos irmãos é merecido, como visto num dado momento, é raspar os pelos pubianos. Mas não é simplesmente raspar os pelos pubianos, é raspar a maturidade. Retirar os pelos pubianos simboliza a imersão no mundo infantil sem regras definidas (ou que tentam ser definidas por sua não definição), é o ritual de passagem de uma vida adulta para a regressão ao berço imaturo e irresponsável da infância. Ao negar tal feito, Matthew explode com ambos os irmãos e põe à mostra a própria falta de vivência naquilo que os irmãos chamam de vida. Convidar Isabelle para um encontro simboliza chamá-la para viver. Matthew, num instante de genialidade, expõe as vísceras da vida sem vida dos irmãos. É uma vida limitada à pseudo-inocência que ambos concordam, e desta forma, podem continuamente negar a vida real sem o remorso de estarem perdidos na ignorância. Eles sabem que há um mundo, entretanto, sob meticulosa artimanha, ignoram este mundo sujo. Uma maneira é não assistir à televisão, sob a desculpa de serem puros. De que pureza se trata? Essa é uma das maneiras de não se sujar com a concretude do mundo real. De se manter isolado num universo criado por eles e para eles – o mundo real só é bom enquanto não exige esforço, enquanto a vivência pode ser trocada por atuações. Quando é necessário tomar uma posição clara, como em períodos de revolução, o mundo se torna hostil em todos os aspectos, então a posição é tomada, mas somente dentro da segurança do mundo criado sob encomenda para a vida sincera e desregrada dos irmãos. Qual o problema da vida sincera e desregrada? Dentro desse acordo de não-regridade há as mais duras regras, firmadas sob acordos ocultos que precisam ser respeitados para manter a realidade à parte que vivem. O contrato social é vivido por eles, onde há um acordo mútuo e regrador da sociedade: o contrato é feito sob as bases da vida não regrada, do gozo e do livre-pensamento, entretanto, a vida não regrada se torna a regra mais valiosa, o gozo é imperativo e o livre-pensamento esbarra no livro vermelho de Mao. Ao infringir essas regras contratuais, Matthew é quase enforcado por Theo. “Você fala demais”. Ele não fala demais, ele fala aquilo que quebra a realidade fantasiosa proposta e vigente, ele só fala demais por não haver réplicas para suas afirmações. Quando um estranho chega à sociedade regida pelo contrato social, ele precisa provar que pode fazer parte, que pode obedecer o contrato. Para provar sua aceitação, uma marca da sociedade é estampada em seu corpo, aquilo é a prova material da inclusão no campo simbólico da comunidade. Porém, quando um membro da sociedade regida pelo contrato o desafia, precisa ser expulso ou morto, e somente assim a sociedade continuará estável. Ou seja, a sociedade regida pelo contrato social precisa de constante policiamento, constante autoridade, constante aplicação de regras, já que é assim que sua vida perdura, evitando os confrontos perigosos. A expulsão definitiva é feita no fim do filme. Não se tenta quebrar o contrato, não se modifica o contrato – ele não é regido pelo livre pensamento, mas é imposto por um Estado autoritário, onde tem como sua representação, cada cidadão - o contrato é o acordo de cada cidadão como um todo sendo aplicado por um aparelho fiel às normas formalizadas no contrato. No contrato de The Dreamers, a imersão total na consciência coletiva é um sinal do obedecimento cego à autoridade. Ao querer demonstrar que a revolução armada não era o caminho correto, Matthew é deixado para trás por Isabelle e Theo. Eu não creio que a mensagem do filme esteja relacionada à ingenuidade dos estudantes franceses em Maio de 68, não creio que haja uma crítica à pseudo-revolucionaridade dos participantes, nem creio que “não faça guerra, faça amor” seja uma outra mensagem – mas a mensagem oculta neste filme está na esfera da própria vida sendo realmente vivida. Creio que a mensagem que flui do contexto tratado e da perspectiva do filme como um todo é: viva a vida como ela é, não como deveria ser, somente assim você pode realmente transformá-la, com legitimidade e esclarecimento. A luta de Theo e Isabelle é uma luta fadada ao fracasso. viniciussiqueira Artigo da autoria de Vinicius Siqueira. Fascista desde criancinha . Saiba como fazer parte da obvious.

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