quinta-feira, 31 de maio de 2012

Igreja

Compartilhar Compartilhar Imprimir Imprimir E-mail Enviar por e-mail Aumentar / diminuir a letra Diminuir / Aumentar a letra Notícias » Notícias Terça, 29 de maio de 2012 ''O Vaticano continua sendo uma corte medieval''. Entrevista com Hans Küng "É uma situação muito grave e dolorosa e, como dizemos em alemão, faltam cinco minutos para a meia-noite: o tempo máximo ainda não terminou para salvar a Igreja e a Fé do sistema da Cúria Romana". O professor Hans Küng, talvez o teólogo mais rebelde do nosso tempo, foi, em sua juventude, amigo e companheiro de estudos de Bento XVI. Aqui, ele analisa o escândalo do Vaticano. A reportagem é de Andrea Tarquini, publicada no jornal La Repubblica, 28-05-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto. Eis a entrevista. Professor Küng, o quão grave é, segundo o senhor, a situação criada no Vaticano com o escândalo do vazamento de notícias? É triste quando, justamente coincidindo com a festa do Espírito Santo, ficamos sabendo, no Vaticano, de tantos eventos e comportamentos ocorridos lá, que na verdade não são exatamente algo santo nem sagrado. Os escândalos relacionados ao vazamento de notícias confidenciais por obra do ajudante de quarto, as questões que atingiram o banco IOR e também, ao mesmo tempo, a intenção aparente do Papa Bento XVI de ir rumo à reconciliação com a Fraternidade de São Pio X [os seguidores ultraconservadores de Dom Lefebvre], em minha opinião, tudo isso, infelizmente, é um conjunto de eventos, escolhas, tendências que fazem parte de um todo. Não são casos isolados uns dos outros. E que opinião o senhor amadureceu dessa situação, que o senhor descreve justamente como uma coincidência de eventos relacionados uns aos outros? Todos esses eventos parecem ser sintomas da crise de um sistema inteiro em seu conjunto. Eu falo do sistema da Cúria Romana, do sistema romano, de cujas características negativas toda a Igreja Católica sofre, no mundo inteiro. E, naturalmente, esses eventos contemporâneos dão a impressão de uma incapacidade papal. De um pontífice incapaz. A respeito disso, recém escrevi um livro, Salviamo la Chiesa, que está para ser lançado na Itália. O que me preocupa é aprofundar a problemática da indispensável reforma da Igreja. O senhor também entrevê, como pano de fundo, um problema pessoal para Bento XVI? Seguramente sim. Há também isso. Ele dedica horas e horas, todos os dias, à escrita de livros, em vez de governar a Igreja. E, nas fileiras da Cúria, está difundida a opinião de que ele não governa. Se queria escrever livros, o melhor era ter permanecido como um grande professor e teórico. Por que o senhor fala ao mesmo tempo de crise estrutural, de sistema? Porque a estrutura e a organização da Cúria Romana busca facilmente, mas em vão, nos enganar, esconder o fato-chave: que o Vaticano, em seu núcleo, continua sendo, ainda hoje, uma Corte. Uma Corte em cuja cúpula ainda se senta um reinante absoluto, com trajes e ritos medievais, barrocos e às vezes modernos e tradições cristalizadas, costumes. No seu coração, o Vaticano continua sendo uma sociedade de Corte, dominada e marcada pelo celibato masculino, que se governa com um código próprio de etiquetas e atmosferas. E, quanto mais você se aproxima do príncipe reinante subindo na carreira eclesiástica, menos valem ou contam, na primeira linha, a sua competência, a sua força de caráter, as suas capacidades e talentos, mas conta, ao contrário, que você tem um caráter maleável, com uma capacidade de se adaptar sobretudo aos desejos do reinante. É só ele, o reinante, estabelece se você é persona grata ou, ao invés, persona non grata. E, mais especificamente, os problemas do Banco Vaticano? O Vaticano vive em grande parte de doações dos fiéis, das receitas das dioceses. E ele administra bilhões de euros de economias de instituições eclesiásticas, de ordens e de dioceses de todo o mundo, e coloca os lucros à disposição do papa. O que foi pedido ao Kremlin pode ser pedido também ao Vaticano: primeiro, a glasnost, isto é, transparência. O Vaticano deveria se preocupar, em primeiro lugar, com a transparência dos negócios financeiros perante a opinião pública. E, segundo, a perestroika, reconstrução, reestruturação. O Vaticano deveria reestruturar as suas finanças e reorientar os fins da sua política financeira. E, por fim mas não por último, a reconciliação com a ordem de Pio X. O papa acolheria definitivamente na Igreja bispos e sacerdotes cuja consagração não é válida. Com base na Constituição Apostólica de Paulo VI Pontificalis romani recognitio, do dia 18 de julho de 1968, as ordenações sacerdotais e episcopais realizadas por Lefebvre são não só ilícitas, mas também nulas. Em vez de se reconciliar com essa irmandade ultraconservadora, antidemocrática e antissemita, o papa deveria se preocupar com a maioria dos católicos que está pronta para as reformas e com a reconciliação com todas as Igrejas reformadas e com todo o âmbito ecumênico. Assim, ele uniria ao invés de dividir. De acordo com uma análise tão pessimista, não é tarde para salvar esse pontificado e a credibilidade do Vaticano? Faltam apenas cinco minutos para a meia-noite, mas ainda não bateu a meia-noite. Um único ato construtivo de reformas lançado por esse papa ajudaria a restabelecer a confiança. Eu espero que o meu ex-colega Joseph Ratzinger não fique na História da Igreja como um papa que não fez nada pela reformar a Igreja. (I.H.U.)

Teatro

Criando espectadores emancipados: notas sobre o Teatro do Oprimido Imprimir E-mail Escrito por Fernando Marcelino Terça, 22 de Maio de 2012 O paradoxo do espectador pode ser colocado da seguinte forma: não existe teatro sem espectadores. É normal se apontar os dois limites dos espectadores. Em primeiro lugar, o espectador seria oposto ao conhecimento, ele não sabe como a peça foi produzida e permanece num estado de ignorância diante do desenvolvimento da peça. É um espectador impotente. Em segundo lugar, o espectador seria oposto ao atuar imóvel na sua cadeira. É um espectador passivo. Em suma, um espectador seria aquele que está separado da capacidade de conhecer e do poder de agir. Uma marca fundamental do Teatro do Oprimido é sua crítica ao sistema aristotélico adotado no teatro ocidental. Augusto Boal discorda radicalmente da identificação entre os espectadores e o(s) protagonista(s). No sistema aristotélico, utiliza-se dessa identificação para manipular as emoções da platéia e produzir uma catarse que acaba por inibir qualquer possibilidade de insatisfação e, conseqüentemente, de transformação social. Boal diz que, em Aristóteles, o objetivo último do teatro é provocar a catarse nos espectadores. Especialmente o protagonista deve se parecer com o espectador, provocando uma empatia deste para com aquele, com o objetivo de produzir uma catarse em que o indivíduo ou grupo se purifica de qualquer elemento perturbador de seu equilíbrio interno. “Aristóteles formulou um poderosíssimo sistema purgatório, cuja finalidade é eliminar tudo que não seja comumente aceito, legalmente aceito, inclusive a revolução, antes que aconteça... (...) Se é isto o que queremos, este sistema serve melhor que nenhum outro. Se, pelo contrário, queremos estimular o espectador a que transforme sua sociedade, se queremos estimulá-lo a fazer a revolução, nesse caso, teremos que procurar outra Poética”. Mas o teatro não seria uma assembléia onde pessoas ordinárias ficam a par de sua situação e discutem seus interesses, como dizia Brecht seguindo Piscator? A resposta de Brecht a esse problema é, conforme Boal, insuficiente. O alemão Bertolt Brecht (1898-1958) inventou mecanismos para impossibilitar a identificação aristotélica, pois desejava que o espectador pensasse sobre o que estava vendo em cena, podendo emitir uma opinião, e não apenas que se afundasse em emoções que fugiam a seu controle. De acordo com o paradigma brechtiano, as mediações do teatro tornariam os espectadores conscientes de sua situação social, estimulando o desejo de agir na transformação social. Nesse sentido, Brecht propõe uma arte engajada que fale da realidade, considerando que a peça de teatro é composta de fragmentos do real, que mostre as contradições entre os homens, entre as classes sociais, a relação entre o homem e a História, que tire o espectador da alienação que o teatro psicológico provoca, deixando em estado de alerta sua consciência, sua visão crítica. E deixando em evidência que aquilo que o público vê é teatro, ou seja, uma representação da vida, uma reprodução, para daí se extrair a moral, a conclusão para intervir na vida real. Seu ponto de partida é a contestação da natureza burguesa. Reconhecendo que o que chamamos de natureza não é nunca mais do que o conjunto das regras que nos são impostas pela classe dominante, com a finalidade de manter e perpetuar sua dominação dando-a como natural, Brecht empenhou-se inicialmente em nos revelar a realidade datada, histórica, de uma tal natureza, falsamente considerada eterna. O interesse maior desse teatro é o de destramar a própria história, daí essa forma ser tudo, menos um conjunto de fatos simplesmente alinhados em seqüência: OS ATORES Agora vamos contar A história de uma viagem Feita por dois explorados e por um explorador. Vejam bem o procedimento dessa gente: Estranhável, conquanto não pareça estranho Difícil de explicar, embora tão comum Difícil de entender, embora seja a regra. Até o mínimo gesto, simples na aparência, Olhem desconfiados! Perguntem Se é necessário, a começar do mais comum! E, por favor, não achem natural O que acontece e torna a acontecer Não se deve dizer que é natural! Numa época de confusão e sangue, Desordem ordenada, arbítrio de propósito, Humanidade desumanizada Para que imutável não se considere Nada. (A exceção e a regra /Peça didática, 1929-1930: BRECHT, 1990, p. 132). Em suma, o que Brecht propôs é um teatro de cunho político para incomodar ao espectador. Seu teatro explicita os mecanismos discursivos ao espectador, os mecanismos que permitem construir as representações teatrais e ideológicas para que o receptor possa, por meio de analogias, perceber, interpretar a dinâmica mesma dessas representações discursivas que são históricas. Já Boal propõe ao espectador sair das cadeiras, ocuparem o trono vazio e se tornarem protagonistas da cena e da história, além de espectadores serem espect-atores. No Teatro do Oprimido, “o espectador volta a representar, a atuar, elimina-se a propriedade privada dos personagens pelos atores individuais”. Boal vai argumentar que não basta pensar, é preciso agir. A modalidade teatro-fórum ou teatro-invisível está baseada nessa crítica. A lógica do Teatro do Oprimido abole progressivamente a distância entre os personagens e os espectadores. A emancipação começa desafiando as oposições entre olhar e atuar. O espectador também age, observa, seleciona, compara e interpreta. O sistema aristotélico faz da transmissão algo uniforme: o que o espectador vê é aquilo que o diretor o faz ver. A lição do Teatro do Oprimido é que o espectador não está numa condição passiva e que deveríamos transformá-la em ativo: todo espectador já é o ator de sua história. No clímax, chamado de “crise chinesa” na dramaturgia do Teatro do Oprimido, o oprimido fracassa, a cena congela e espect-atores são chamados pelo Curinga para entrarem em cena, buscando alternativas cabíveis para o problema colocado, encenado e treinando saídas para a realidade social. Naturalmente, uma peça dessa modalidade não pode ser fatalista, não pode tratar de uma situação extrema, quando já praticamente nada há para ser feito (por exemplo, alguns segundos antes da execução de alguém inocente). O Teatro do Oprimido não nos ensina a fazer uma “dramatização expositiva” das contradições sociais, mas a vivê-las, senti-las, transformá-las em ações. A riqueza destas situações no teatro não tem limites, seja para crianças ou adultos. Fernanado Marcelino é militante do movimento popular. Última atualização em Quarta, 23 de Maio de 2012 Para ajudar o Correio da Cidadania e a construção da mídia independente, você pode contribuir clicando abaixo.

Socialismo

Dois caminhos de uma tragédia Imprimir E-mail Escrito por Gilvan Rocha Sábado, 26 de Maio de 2012 Nos anos de 1960, fazia pouco mais de um ano que havia acontecido a Revolução Cubana, de grande repercussão mundial, sobretudo, porque estávamos em plena Guerra Fria. Naquele momento, aqui no Brasil, tomava todo impulso o movimento de massa prenunciando uma considerável onda revolucionária. A pré-revolução no Brasil manifestava-se através da explícita radicalização dos movimentos sociais, destacando-se o crescimento geométrico das Ligas Camponesas no Nordeste, como em outras regiões. Outro sinal dessa radicalização era o crescimento das greves selvagens, ou seja, aquelas greves que passavam por cima das direções pelegas e reformistas, aguçando o processo de mobilização operária. Por sua vez, nos meios militares, particularmente entre os sargentos das três Forças Armadas e também entre os marinheiros e os fuzileiros navais, crescia um processo politizado de insubordinação dos praças contra os seus “superiores”. A título de exemplo, basta lembrar os casos do levante dos sargentos em setembro de 1963, em Brasília, e o levante dos marinheiros e fuzileiros navais no Rio de Janeiro, isso já em 1964. Existia aqui, sem a menor dúvida, um quadro pré-revolucionário e a esquerda, que se auto-intitulava socialista ou comunista, dividia-se em duas grandes correntes. A primeira delas, liderada por Moscou e representada pelo PCBão, defendia o “caminho pacífico para o socialismo”. Enquanto isso, havia uma segunda corrente que defendia o caminho da luta armada. Essa corrente, defensora da luta armada, era representada por alguns agrupamentos, um deles seguindo a orientação de Pequim, defendendo “a guerra popular e prolongada”; outro, inspirado num livreto escrito por um intelectualóide francês, chamado Regis Debray, defendia a criação de focos revolucionários. O bloco da linha pacifista cantava, solenemente, o hino: “Ó Pátria amada, Idolatrada, Salve! Salve!” A esquerda, da luta armada, confundia o conceito de revolução com o embate militar. Para eles o fuzil era o símbolo da revolução. Num plano secundário, aquém da luta armada propriamente dita, estava o seu programa nacional-reformista que, aliás, era comum às duas correntes. Dessa maneira, eles, “os guerreiros”, partidários da luta armada, preferiam cantar a plenos pulmões: “Ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil”, e por isso julgavam-se radicais. O primeiro ministro soviético, Nikita Krushev, dizia que os defensores da luta armada eram sanguinários e aventureiros e esse discurso chegava a sensibilizar muitos corações que tinham aversão à idéia de derramamento de sangue, e preferiam omitir-se diante da morte silenciosa, produzida pela miséria. Hoje, feito um balanço, o “caminho pacífico para o socialismo”, além de ser uma fraude teórica, pois uma impossibilidade, custou muito mais derramamento de sangue do que o romântico caminho da luta armada, de feição blanquista. Seguindo a linha pacifista de Moscou, deram-se os golpes de força contra-revolucionários, aqui no Brasil, na Indonésia – onde morreram cerca de 500 mil pessoas – e no Chile, onde o uso da força contra-revolucionária fez milhares de vítimas. Tais episódios são postos para baixo do tapete de forma a serem esquecidos e, nesse sentido, eles têm obtido êxito, o que é uma lástima. Uma esquerda mal formada e mal informada, como essa que retratamos, não poderia parar aí na sua trágica caminhada. Pós o golpe de 1964, aqui no Brasil, uma parte da esquerda, a esquerda moscovita, apresentou-se com o seguinte argumento: “o inimigo traiu”. Ora, os inimigos não traem. Eles apenas cumprem, cruelmente, o seu papel histórico. Quem traiu foram aqueles que semearam ilusões levando a cabo o seguinte discurso: “o nosso exército é formado por filhos do povo, e se dispõe a garantir a legalidade constitucional. Por essa razão, não há nenhum perigo de golpe”. Diziam ainda: “Além disso, temos organizado um dispositivo militar sob a direção do camarada General Assis Brasil e se a direita ousar dar o primeiro tiro haveremos de esmagá-la.” Não foi preciso o primeiro tiro, bastou o primeiro grito e o velho PCBão sumiu, escafedeu-se, deixando as massas populares em completa orfandade política. Por outro lado, uma parte da esquerda mergulhou num discurso bastante simplório, quando dizia: “revolução se faz com armas e dinheiro. O dinheiro tem nos bancos e as armas nos quartéis, basta irmos buscá-los, e chega de blá-bla-blá”. Num primeiro instante, esses grupos heróicos pegaram a burguesia desprevenida e lograram êxitos espetaculares, como foram os casos do cofre de Ademar de Barros, do seqüestro do embaixador estadunidense e do desvio de um caminhão de armas praticado pelo heróico capitão Lamarca. Isso para citar apenas três exemplos de grande impacto. A burguesia reorganizou o seu aparelho de Estado, recrutou o que existia de mais cruel na polícia civil, os seus mestres torturadores, tomou algumas lições com instrutores da CIA e virou o jogo a ferro e fogo, como havia de se esperar de inimigos ciosos do seu dever. Assim foi que milhares de homens e mulheres, excelentes militantes, se imolaram na fogueira da cretinice política, tão bem cultivada mundo afora, tanto por Moscou como por Pequim ou a Albânia e, finalmente, pelo Dr. Debray, com seu livrinho “Revolução na revolução”. Pelo seu contributo ao sistema sócio-econômico vigente, esse senhor, exímio charlatão em matéria de marxismo, recebeu como prêmio sua nomeação como ministro da Cultura na França. A História é feita por alguns virtuosos e muitos possuidores do mais vil descaramento. Por essas razões é que a esquerda de hoje não conhece o passado, e a nossa esquerda brasileira, em especial, pouco ou nada sabe sobre o episódio de 1964. Dessa forma, urge mergulharmos na História e dela tirar as incontáveis lições para que não repitamos tantos erros que nos têm levado a sucessivas tragédias, cujo produto semi-acabado é a situação que hoje vivemos em escala mundial, quando o capitalismo estoura pelas costuras, porém mantém uma hegemonia política quase absoluta. Vençamos as nossas carências, nos libertemos dos equívocos e dogmas implantados nesses noventa anos de stalinismo, resgatemos o socialismo revolucionário, repudiemos a fantasia do socialismo evolucionário, por sua natural inviabilidade. Fora o capitalismo! Viva a vida! Gilvan Rocha é militante socialista e membro do Centro de Atividades e Estudos Políticos. Blog: www.gilvanrocha.blogspot.com Para ajudar o Correio da Cidadania e a construção da mídia independente, você pode contribuir clicando abaixo.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Alimentos

Alimentos envenenam crianças Frei Betto Escritor e assessor de movimentos sociais Adital "As crianças de todas as regiões das Américas estão sujeitas à publicidade invasiva e implacável de alimentos de baixo ou nenhum valor nutricional, ricos em gordura, açúcar ou sal”, constata pesquisa da Organização Pan-Americana da Saúde (2012). Basta olhar em volta para verificar que nossas crianças (com menos de 16 anos de idade) apresentam elevada taxa de obesidade e doenças crônicas relacionadas à nutrição, como diabetes e distúrbios cardiovasculares. Um dos fatores que mais influenciam maus hábitos alimentares nesta faixa etária é a publicidade de produtos de baixo valor nutritivo, como cereais matinais já adoçados, refrigerantes, doces, sorvetes, salgadinhos e fast food. Eles "enchem” a barriga, trazem sensação de saciedade sem, no entanto, suprir as necessidades nutricionais básicas. Resolução da Organização Mundial da Saúde, de maio de 2010, instou os governos a se esforçarem por restringir a promoção e a publicidade de alimentos para crianças. O mais poderoso veículo de promoção de alimentos nocivos é a TV. Expostas excessivamente a ela, as crianças tendem a querer consumir as marcas ali anunciadas. Em geral, a propaganda cria vínculos emocionais entre o produto e o consumidor, e envolve brindes, concursos e competições. Sob o pretexto de atividades filantrópicas nas escolas, empresas de alimentos não saudáveis aumentam seu poder de domesticação. Pesquisas brasileiras indicam que assistir TV por mais de duas horas por dia influi no aumento do índice de massa corporal em meninos. Relatório de agência de pesquisa de mercado aponta que, no Brasil, na Argentina e no México, 75% das mães com filhos de 3 a 9 anos acreditam que a publicidade influencia os pedidos das crianças na compra de alimentos (no Brasil, 83%). No Reino Unido, é proibida na TV a publicidade de alimentos não saudáveis. A Irlanda limita a presença de celebridades nesses anúncios e exige o uso de advertências. A Espanha desenvolveu um código autorregulatório e restringe o uso de celebridades e a distribuição de produtos no mercado. Segundo relatório do Ministério da Saúde (2008), durante um ano, no Brasil, mais de 4 mil comerciais de alimentos foram veiculados na TV e em revistas, dos quais 72% referiam-se a alimentos não saudáveis. No Brasil, regulamentação vigente obriga colocar advertências nos comerciais de alimentos, embora a Abia, principal associação da indústria de alimentação do país, se recuse a fazê-lo. Ela obteve liminar garantindo a não aplicação das novas regras e a decisão final depende agora da Justiça. É preciso, pois, que famílias e escolas se dediquem à educação nutricional das crianças. Peças publicitárias devem ser projetadas em salas de aula e debatidas. Cria-se, assim, distanciamento crítico frente ao produto e melhor discernimento por parte dos consumidores. Em São Paulo, alunos projetaram em sala de aula propagandas gravadas em casa. Após debaterem as peças publicitárias, decidiram adquirir determinada marca de iogurte. Remetido o conteúdo à análise clínica, constatou-se não conferir com as indicações contidas na embalagem. Assim, os alunos aprenderam o que significa propaganda enganosa. A Organização Pan-Americana da Saúde recomenda que sejam anunciados, sem restrição, os alimentos naturais, aqueles nos quais não há adição de adoçantes, açúcar, sal ou gordura. São eles: frutas, legumes, grãos integrais, laticínios sem gordura ou com baixo teor, peixes, carnes, ovos, frutas secas, sementes e favas. No caso de bebidas, água potável. Eis o dilema: enquanto famílias e escolas querem formar cidadãos, a publicidade investe na ampliação do consumismo. A ponto de, no Brasil, se admitir o uso de celebridades, como atletas, na propaganda de alimentos não saudáveis e obviamente nocivos, como bebidas alcoólicas. É preocupante constatar que, em nosso país, o alcoolismo se inicia por volta dos 12 anos, e aumenta a ingestão de vodca na faixa etária inferior a 16 anos. A fiscalização em bares e restaurantes é precária, e padarias e supermercados vendem, quase sem restrição, bebidas alcoólicas a menores de idade. Mas, o que esperar de uma família ou escola que oferece na mesa e na cantina os mesmos produtos nocivos vendidos pelo camelô da esquina? Essa é a crônica de graves enfermidades anunciadas. [Frei Betto é escritor, autor de "Alfabetto – autobiografia escolar” (Ática), entre outros livros. www.freibetto.org - Twitter:@freibetto. Copyright 2012 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Se desejar, faça uma assinatura de todos os artigos do escritor. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)]. (Adital)

Igreja Argentina

Igreja Católica admite que sabia de crimes da ditadura argentina A Igreja Católica argentina confirmou perante a Justiça que, desde 1978, sabia que a ditadura assassinava as pessoas detidas-desaparecidas, coisa que nunca havia admitido publicamente. A admissão tardia foi produzida com o reconhecimento da autenticidade do documento publicado no jornal Página/12, no dia 6 de maio, sobre o diálogo secreto com o ditador Jorge Videla, de 10 de maio de 1978. Em que pese a gravidade da revelação, tanto o Episcopado como o Vaticano e a grande imprensa guardam um estrondoso silêncio a respeito do episódio. O artigo é de Horacio Verbitsky. Horacio Verbitsky - Página/12 Buenos Aires - A Igreja Católica confirmou pela primeira vez perante a Justiça que, pelo menos desde 1978, sabia que a ditadura militar assassinava as pessoas detidas-desaparecidas, coisa que jamais tinha tornado pública, e que as suas máximas autoridades discutiram com o chefe supremo da ditadura a respeito de como administrar a informação sobre esses crimes. A admissão tardia produziu-se com o reconhecimento da autenticidade do documento publicado pelo Página/12 no dia 6 de maio último, sobre o diálogo secreto com o ditador Jorge Videla, de 10 de maio de 1978, depois de um almoço do qual participaram os três membros da Comissão Executiva que conduzia a instituição. Em que pese a gravidade das revelações, tanto o Episcopado como o Vaticano e a grande imprensa guardam um escandaloso silêncio a respeito. A questão das listas A judicialização do documento eclesiástico produziu-se no processo aberto para determinar o que aconteceu com os restos mortais de Roberto Santucho, a pedido de sua família, representada pelo advogado Pablo Llonto. Santucho foi abatido por um grupo do Exército em 19 de julho de 1976, e seu corpo exibido à imprensa no Campo de Maio, mas logo desapareceu sem explicações. Após a confissão de Videla a um jornalista espanhol e a outro argentino sobre os assassinatos dos detidos-desaparecidos, a juíza federal de San Martín, Martina Forns, responsável pela causa, citou o ex-ditador. Videla disse que ele tinha decidido ocultar o destino dos restos mortais de Santucho para evitar homenagens, mas que quem sabia o que se tinha feito com eles era o então chefe do Campo de Maio, general Santiago Riveros. Diante do cuidadoso interrogatório preparado por Forns, Videla respondeu as suas perguntas por mais de três horas. Sem eufemismos, disse que os detidos-desaparecidos eram “condenados” e “executados” e que esse método tinha sido adotado por comodidade, porque acreditavam que “não provocaria o impacto de um fuzilamento público”, que “a sociedade não toleraria”. Acrescentou que “era difícil pensar que tantas pessoas podiam ser julgadas e a Justiça estava assustada com a perseguição que os juízes tinham sofrido” pelo Camarón, o tribunal especial que atuou entre 1971-73, durante a penúltima ditadura. Quando Forns o interrogou sobre as listas de pessoas detidas-desaparecidas, Videla respondeu que essas listas eram incompletas e que não as publicaram integralmente porque continham erros e inexatidões e não houve acordo entre as três Forças Armadas que compartilhavam o governo. Acrescentou que a informação sobre o destino de cada pessoa é “uma obrigação moral”, mas que não é fácil cumprir com ela, “dada a forma clandestina como se procedia e em alguns caos não há rastros dessas atividades para publicação”. Um diálogo entre amigos Mas durante o almoço com o cardeal Raúl Primatesta, arcebispo de Córdoba, o arcebispo de Santa Fé, Vicente Zazpe, e o de Buenos Aires, cardeal Juan Aramburu, que eram os presidente e vice-presidente do Episcopado, Videla deu outra explicação, muito mais sincera, a respeito da publicação das listas e do que se passou às pessoas detidas-desaparecidas. Isso consta numa minuta para o Vaticano, que os três eclesiásticos redigiriam após esse almoço e que foi reproduzida neste jornal, há três domingos, na nota: “Perguntas sem Resposta”. Num clima que Aramburu descreveu como cordial, Videla disse que não era fácil admitir que os desaparecidos estavam mortos, porque isso daria lugar a perguntas a respeito de onde estavam e quem os tinha matado. Primatesta fez referência às últimas desaparições produzidas durante a Páscoa de 1978, “num procedimento muito similar ao utilizado quando sequestraram as duas religiosas francesas”. Videla respondeu que “seria o mais óbvio dizer que estes já estavam mortos, seria o caso traçar uma linha divisória e estes desapareceram e não estão [mortos]. Mesmo que isso pareça o mais claro a ser feito, dá cabimento a uma série de perguntas sobre onde estão sepultados: é uma fossa comum? Neste caso, quem os pôs na fossa? Uma série de perguntas a que a autoridade do governo não pode responder sinceramente por conta das consequências disso sobre as pessoas”, quer dizer, sobre os sequestradores e assassinos. Primatesta insistiu na necessidade de se encontrar uma solução, porque previa que o método da desaparição de pessoas produzia “maus efeitos” de longo prazo, dada “a amargura que deixa em muitas famílias”. Referia-se de forma implícita à carta que, nesta mesma manhã o presidente fundador do CELS e uma das mais altas personalidades laicas do catolicismo argentino, Emilio Mignone, pai da detida-desaparecida Mónica Candelaria Mognone tinha lhe enviado. Mignone tinha sido ministro da Educação na província de Buenos Aires na década de 1940 e vice-ministro da Educação nacional, na de 1960. O fundador do CELS escreveu a Primatesta que o sistema de sequestro, roubo, tortura e assassinato “tinha se agravado com a negativa de se entregar os cadáveres aos parentes, com a sua eliminação por meio da cremação ou de seus lançamentos ao mar, ou aos rios ou em sepulturas anônimas e fossas comuns” e se realizava em nome da “salvação da ‘civilização cristã’, a salvaguarda da Igreja Católica”. Agregou ainda que o desespero e o ódio estavam ganhando muitos corações. No dia seguinte ao almoço, Zazpe informou a Mignone que a Comissão Executiva havia transmitido a Videla “tudo o que a sua carta disse”. Disse-lhe que tinham sido “tremendamente sinceros e não recorremos a uma linguagem aproximativa”, mas advertiu-lhe, como se tratasse de uma questão técnica acessória, que havia uma “divergência a respeito de sua carta” a respeito da publicidade ou não desta entrevista. “Nesta ocasião se voltou a recorrer à reserva”, que dura até hoje. Primatesta informou depois à Assembleia Plenária que os bispos levaram a Videla os casos assinalados na carta de Mignone, de presos que, na aparência, recuperavam sua liberdade mas na realidade eram assassinados; que estavam interessados nos sacerdotes desaparecidos, como Pablo Gazzarri, Carlos Bustos e Mauricio Silva, e em outros detidos cuja liberdade e envio ao exterior eram demandados. Mas o desenvolvimento completo do diálogo só consta na síntese para o Vaticano. Quando Primatesta advertiu sobre as amargas consequências do método das desaparições forçadas, Videla consentiu. Ele também advertia a respeito, mas não encontrava solução, disse. Zazpe perguntou: “O que respondemos às pessoas? Porque no fundo há uma verdade”. Segundo o então arcebispo de Santa Fé, Videla “admitiu o problema”. Aramburu explicou que “o problema é o que responder para que as pessoas não sigam perguntando”. Segundo Aramburu, quando Videla repetiu que “não encontrava solução, uma resposta satisfatória, eu lhe sugeri que, ao menos, dissessem que não estavam em condições de informar, que dissessem que estavam desaparecidos, for os nomes a que já tinham dado publicidade”. Primatesta explicou que “a Igreja quer compreender, cooperar, que está consciente do estado caótico em que estava o seu país” e que media cada palavra porque conhecia muito bem “o dano que se pode causar ao governo, com respeito ao bem comum, se não se preserva o devido volume”. Depois da publicação, a juíza Forns solicitou a entrega do documento à Conferência Episcopal. Sem atraso, recebeu uma cópia. Assim, os dirigentes máximos católicos da Argentina corroboraram de forma oficial e num expediente judicial que tanto a Igreja argentina como a Santa Sé, para quem se confeccionou esta minuta, estavam a par tanto do assassinato das pessoas cuja desaparição era denunciada por seus familiares e pelos organismos dos direitos humanos. Cópia Fiel O fac-símile que se publica na figura 1 foi o que se obteve de forma sub-reptícia na sede da rua Suipacha, que o próprio Videla deu à Conferência Episcopal antes de deixar o poder, em 1981. No da figura 2 se pode observar o número com que está arquivado, o que dá uma ideia da magnitude desse arquivo, cuja existência mesma a Igreja negou, numa nota que, no ano 2000, dirigiu-me o seu presidente, o cardeal Estanislao Karlic. A figura 2 é aquele que a atual direção episcopal, dirigida pelo arcebispo de Santa Fé, José Arancedo remeteu à juíza Forns. Nela se lê “É cópia fiel” e abaixo, à direita, consta o selo da Conferência Episcopal Argentina. Em ambos os exemplares desse documento secreto se observa que a afirmação de Videla sobre a proteção a quem cumpriu as suas ordens criminais está completada a mão por Primatesta. Em que pese a enorme transcendência deste reconhecimento demorado, nenhuma autoridade eclesiástica fez a menor referência pública ao tema, ainda que a Comissão Executiva tenha se reunido em 16 de maio último e tenha emitido um documento, questionando a lei de morte digna sancionada pelo Congresso. Como se a enormidade do fato lhes cortasse a palavra, tampouco os diários Clarín, La Nación e Perfil deram-se por informados da publicação desse documento fundamental para estabelecer o grau a que chegou a cumplicidade da Igreja Católica com a ditadura militar e sua política criminosa. Trinta e cinco anos depois, o encobrimento continua. Quando o jornalista espanhol Ricardo Angoso o entrevistou na prisão que o Serviço Penitenciário Federal mantém no Campo de Maio, Videla disse que “minha relação com a Igreja Católica foi excelente, muito cordial, sincera e aberta”, porque “foi prudente”, não criou problemas nem seguiu “a tendência esquerdista e terceiro-mundista” de outros Episcopados. Condenava “alguns excessos”, mas “sem romper relações”. Com Primatesta até “chegamos a ser amigos”. Nota-se. Tradução: Katarina Peixoto

O Mal

Os rostos banais do Mal em histórias da Fotografia por Júlio Assis Ribeiro em 28 de mai de 2012 às 11:12 Poderá a execução das formas extremas do Mal depender, não de gente monstruosa, mas de gente banal? A filósofa Hannah Arendt acreditava que sim, e fotografias burocráticas australianas ajudam-nos a concordar com ela. George_Rodger_campo_de_concentração_Bergen_Belsen_Maio_1945_b.jpgGeorge Rodger, campo de concentração de Bergen-Belsen, Maio de 1945 Arquivos da LIFE Em 1945, o mundo assombrou-se com a natureza e a escala do extermínio nazi. O fotógrafo britânico George Rodger acompanhava as primeiras tropas que entraram no campo de concentração de Bergen-Belsen e fotografou os sobreviventes esquálidos e as pilhas de cadáveres que chocaram os próprios libertadores, tropas experientes e que já haviam visto muito. Após a rendição alemã, os dirigentes nacional-socialistas detidos pelos aliados foram julgados pelos crimes contra a humanidade nos chamados Julgamentos de Nuremberga. Capturado nesse período, Adolf Eichmann, o responsável pela logística e execução do extermínio judeu, conseguiu evadir-se e fugir para a Argentina. Descoberto mais tarde, foi raptado por uma unidade da MOSSAD, os serviços secretos israelitas, e levado para Israel em 1960. Em abril do ano seguinte, iniciar-se-ia o seu julgamento que duraria até Dezembro. Fred_Stein_Hannah_Arendt_Nova_Iorque_1944.jpgFred Stein, Hannah Arendt, Nova Iorque, 1944 Espólio do fotógrafo A filósofa judia alemã Hannah Arendt, naturalizada americana, acompanhou as sessões e cobriu o evento para a revista The New Yorker. Deste facto viria a nascer o livro Eichmann in Jerusalem, onde observa que os perpetradores do holocausto não eram seres de evidentes características demoníacas, monstros, óbvias encarnações do Mal, mas antes indíviduos boçal e terrivelmente normais. Formaliza no livro o conceito de "Banalidade do Mal", baseado no facto da sistematização do Mal não assentar predominantemente na excepcionalidade dos seus agentes, mas no desvio organizacional e na criação de uma ordem que os descupabiliza e isenta. Pacatos cidadãos, pequenos burocratas, ex-comerciantes, foram estes os executores do Mal. Contemporâneos dos nazis, e seus aliados bélicos, os militares que dirigiam o Japão nas décadas de trinta e quarenta, construiram também eles um sistema que desumanizava e descupabilizava os seus membros. O domínio japonês, nas áreas que controlou nesse período, reflectiu-se igualmente num mortícinio elevado e gratuito, assente não num ideário de extermínio racial (ao contrário dos alemães), mas num profundo desprezo cultivado relativamente aos dominados. Após a rendição japonesa, as tropas aliadas procederam, também neste teatro de operações, à detenção dos suspeitos de participação em crimes de guerra e contra a Humanidade. O seu julgamento é menos conhecido e divulgado que o dos seus correspondentes europeus, mas americanos, britânicos e australianos julgaram e condenaram um elevado número de militares japoneses. O Australian War Memorial conserva as fotografias dos suspeitos nipónicos. Estas imagens, realizadas por militares para fins processuais, não nos espantam por questões estéticas ou técnicas. Há nelas essa estranha evidência de normalidade que constatou Hannah Arendt. Estes homens que, à semelhança de Eichmann, declararam não ter culpa, ter apenas seguido as ordens, são os rostos banais do Mal. 3.jpg Sgt. R. L. Stewart, Suspeitos japoneses de crimes de guerra: Sub-tenente Shigenobu Shibata, Sub-Oficial Masao Matsuda,Sub-Oficial Tatsuo Yamamoto. Amboina, Ilhas Molucas,1945 4.jpgSgt. R. L. Stewart, Suspeitos japoneses de crimes de guerra: Sub-Oficial de 1ª classe Masuji Kuwabara, Sub-Oficial Yoichiro Fujihara, Sub-Oficial Chokichi Ikeda. Amboina, Ilhas Molucas,1945 5.jpgSgt. R. L. Stewart, Suspeitos japoneses de crimes de guerra: Sub-Oficial Nichiyo Takeuchi, Sub-Oficial de 2ª classe Morikishi Arita, Sub-Oficial de 2ª classe Ichiyo Higuchi. Amboina, Ilhas Molucas,1945 julioribeiro Artigo da autoria de Júlio Assis Ribeiro. Fulano desfocado, despachado e de difuso sentido de humor. Adora falar de si na terceira pessoa e discorre sobre toda uma variedade de assuntos, como se percebesse de algum. Gosta de imagens, de histórias e de parêntesis, e deu-lhe agora para isto.... Saiba como fazer parte da obvious. mais artigos Leia mais: http://lounge.obviousmag.org/a_lente_lenta/2012/05/os-rostos-banais-do-mal.html#ixzz1wDBOCaQ2

terça-feira, 29 de maio de 2012

Holanda

O milagre econômico holandês By admin – 26/05/2012Posted in: Destaques, Mundo O filósofo Baruch Spinoza Centro do pensamento rebelde e transformações culturais e científicas durante dois séculos, país foi impulsionado por revolução pouco conhecida Por José Luís Fiori Nos séculos XVI e XVII, a Holanda foi berço do capitalismo comercial e da ciência moderna, e foi a pátria de Grotius, Spinoza, Vermeer, Rembrandt, Huygens e Sawammerdam, entre tantos outros gênios que viveram em Amsterdam, Utrecht ou Leiden, como no caso de Descartes ou Hobbes. Naquele período, a Holanda foi considerada terra por excelência do inconformismo e da liberdade do pensamento. E foi também o lugar onde se deu o primeiro “milagre econômico nacional” da história do capitalismo. Assim mesmo, costuma-se dedicar pouca atenção à história real, violenta e descontínua que está por trás desta visão estilizada e idílica da ascensão holandesa e de sua revolução capitalista. No século XVI, os Países Baixos eram uma pequena província do Império Habsburgo, de Carlos V e Felipe II, retalhada por rios e canais, e ocupada por uma rede compacta de cidades. Naquele período, suas cidades costeiras funcionaram como um dos entrepostos mercantis do império espanhol, com um comércio de baixo valor agregado e pouco impacto sobre toda a economia da província. A partir de 1540, entretanto, o pequeno território holandês foi transformado no epicentro geopolítico e militar da guerra entre o Império Espanhol e a França, que começou na Itália, no final do século XV, e se prolongou durante quase todo o século XVI. Deste momento em diante, aumentou enormemente a pressão tributária e a opressão política e religiosa exercida pelos espanhóis sobre sua província, provocando uma reação cada vez mais violenta, que se transformou em insurreição nacional, a partir de 1572. Seguiram-se oitenta anos de resistência e luta, até o reconhecimento espanhol da independência holandesa, na Paz de Vestfália, em 1648. Nestes oitenta anos, as Províncias Unidas viveram cercadas e em estado permanente de guerra, dentro do seu próprio território. Em 1585, a situação havia se deteriorado de tal forma que Amsterdam chegou a oferecer a soberania holandesa aos reis da França e da Inglaterra, e viveu dois anos como protetorado da Rainha Elizabeth I. Mas em 1590, este cenário mudou de forma súbita e radical. Amsterdam centralizou o poder e impôs sua hegemonia dentro da federação, e em seguida fez um enorme esforço fiscal e organizou em poucos anos um dos maiores e mais eficientes exércitos da Europa, iniciando uma ofensiva militar impressionante e vitoriosa, que conquistou 43 cidades e 55 fortalezas espanholas, em menos de dez anos. Em seguida, criou um anel protetor de cidades fortificadas e militarizadas e manteve sua ofensiva até o estabelecimento de uma trégua de 12 anos, com a Espanha, entre 1609 e 1621. O que chama a atenção é que foi exatamente neste período de ofensiva vitoriosa da revolução que se deu o chamado “milagre econômico holandês”, com o aumento exponencial dos seus gastos e investimentos, do seu comércio de alto valor, da sua indústria e da sua inovação tecnológica, da sua finança e da sua integração econômica nacional [1]. Foram 15 anos de expansão acelerada, e só no final deste período se pode falar de comércio de longa distancia e de império colonial, que começam com a criação da Companhia das Índias Orientais, em 1602. Além disto, foi neste mesmo período que a Holanda completou sua “revolução financeira”, com a criação de um mecanismo de financiamento de suas guerras, através de um “motor” revolucionário de multiplicação nacional da riqueza financeira, alimentado pelos seus títulos da dívida pública de longo prazo, negociados na bolsa de valores e transformados na base do sistema de crédito holandês. A história segue e é longa, mas pode-se tirar algumas lições desta revolução holandesa: Só depois de 1590, a Holanda deixou de ser apenas um dos entrepostos mercantis do Império Espanhol para se transformar numa “economia capitalista”, de lucros extraordinários e comércio de alto valor agregado. A fronteira da economia nacional holandesa foi criada pelo próprio cerco dos exércitos espanhóis. E dentro deste território sitiado, foram a luta revolucionária e a centralização do poder que deram o primeiro impulso ao milagre capitalista da Holanda. Os economistas heterodoxos costumam dizer que o investimento cria sua própria poupança, mas no caso do modelo holandês se poderia dizer que foi a revolução que criou o seu próprio investimento, publico e privado. Assim mesmo, é interessante observar, que também houve revolução ou guerra nacional no início da expansão de todas as demais grandes potências, como no caso de Portugal e Espanha, mas também da Inglaterra, EUA, Alemanha, Japão, Rússia, ou mesmo da França, e agora também da China. Por fim, a grande lição de toda esta história é que depois da Holanda, todos os grandes “milagres econômicos” do capitalismo que se sustentaram no tempo fizeram parte constitutiva do processo de ascensão das suas grandes potências. Maio de 2012 – [1] Israel, J. I. “The Dutch Republic. Its Rise, Greatness, and Fall 1477-1806”, Clarendon Press, Oxford, 1998, pgs 307 ss. Share (Outras Palavras)

Código Florestal

‘Os vetos ao código retiraram o pior do pior’, diz professor No último dia 21, o professor Thomas Lewinsohn, presidente da Associação Brasileira de Ciência Ecológica e Conservação e professor do Departamento de Biologia Animal da Universidade de Campinas (Unicamp), encaminhou à presidente Dilma Rousseff um apelo contundente pela preservação do capital natural do Brasil. “Poucas decisões serão tão difíceis de serem retificadas futuramente, caso necessário, como as que concernem a legislação ambiental. Deliberações sobre a economia, educação, saúde ou outras demandas sociais podem ser melhoradas ou retificadas no âmbito de alguns anos ou de uma geração. Porém, decisões que comprometerem a integridade ambiental e que solaparem o Capital Natural do Brasil levarão décadas para serem corrigidas, isto se não se revelarem irreversíveis”, disse. Na última sexta-feira, Lewinsohn manifestou inquietação com o texto do Código Florestal a ser conhecido amanhã. “As intenções são ótimas. Me preocupo é com o jogo semântico. O que vai ao papel é que precisa ser lido”, afirmou. A entrevista é publicada pelo jornal O Globo, 27-05-2012. Eis a entrevista. O senhor se decepcionou pelo fato de a presidente não ter vetado integralmente o novo Código Florestal? Veja bem, a carta que escrevi não pedia o veto. Pedia que fosse revisado e avaliado criticamente. Me ative de bater nisso porque, dentro do espectro de posições, há risco de parecer que estaríamos nos alinhando com a exigência de que a única resposta aceitável por parte do Executivo seria o veto total, mas não é o caso. O veto teria sido preferível para retomar o processo, mas o veto total seria uma falsa leitura de ficar com o Código Florestal anterior. O Código anterior já era uma colcha de retalhos, uma série de remendos acumulados nas últimas décadas. Não há dúvida da necessidade de revisar. A questão é que o processo que levou a este projeto que chegou ao Planalto foi muito ruim. Do que pode ser conhecido até agora, o que podemos dizer? Duas coisas eu posso dizer de imediato. Chamam a atenção nos últimos dias as notícias de uma série de reuniões intensivas, das quais a própria presidenta participou e várias pessoas foram ouvidas, do ponto de vista técnico, institucional e jurídico. É uma certa ironia que o Palácio tenha feito em poucos dias o que o Congresso Nacional deveria ter feito em dois anos. O Congresso deveria ter tido fundamentação e avaliação técnica mais correta, no lugar de ter feito o que fez. Os procedimentos do Congresso para se informar, antes da primeira versão redigida pelo Aldo Rabelo (PCdoB, atual ministro dos Esportes), foram cerimoniais, muito aquém do interesse de se informar e formular um projeto sólido. Havia intenção de levar a força para um certo lado. E sobre os vetos? Se de fato for como o que assistimos, os vetos retiraram o pior do pior da versão apresentada. Mas não dá para avaliar ainda. O senhor diria que este novo Código Florestal será uma nova colcha de retalhos? Eu não sei se corremos o risco, não dá para dizer isso. O ministro da Agricultura disse que é mais um passo dentro deste processo. O que o senhor achou da diferenciação para pequenos e grandes produtores? Isso era esperado. Nesta arena, faz sentido que se contemple as consequências sociais e econômicas. O tema não pode ser firmado de forma mais estreita, com o problema técnico. Entre as modificações que já haviam sido feitas ao Código Florestal anterior estavam restrições diferentes. Mas era de acordo com a modalidade de propriedades familiares. Não estava relacionado a tamanho. E sobre os tamanhos da área a ser preservada? Estou vendo aqui a tabela de rios, conforme uma tabela de tamanho de propriedades. Para propriedades pequenas, a área a ser preservada é de cinco metros. É uma dimensão que chega no limite do inócuo. Como barreira, como proteção, a não ser em córregos muito estreitos, cinco metros está longe de ser suficiente ou ter qualquer caráter de preservação. Não vi menção a mecanismos de estímulos de recomposição, compensação ou apoio à recuperação de áreas degradadas. Isso faz muita falta nesta discussão. Na sua avaliação, faltam mecanismos de financiamento? É preciso ter estudos de aporte de financiamentos ambientais, que já poderiam ser destinados se não se tivesse partido para uma queda de braço primária. É uma sensação de frustração. Poderíamos avançar usando mais a imaginação e a competência no desenho desta legislação. Na carta enviada ao Planalto, o senhor criticou a exclusão dos cientistas da discussão. Eu vejo quanto conhecimento temos no Brasil ou que seriam relevantes, como experiências no México, Austrália e África do Sul. Temos competência na ciência da ecologia e é uma expressão que você não vê, some do mapa. O cenário político trata como se fosse polarização entre ruralistas e ambientalistas, como se não existisse a ciência como participante do debate. Sistematicamente as lideranças de uma frente ruralista desqualificam e ignoram o fato de ter ciência ecológica com contribuição forte a dar. Não há formas ou resultados prontos, mas é uma contribuição que foi produzida porque, como parte do processo de capacitação ao longo dos últimos anos, temos uma massa critica nas universidades, na Embrapa, que foi marginalizada. Foi mais interessante descaracterizar, como se fosse ideologia disfarçada de ciência. (I.H.U.)

Consolo

Como diria um grande escritor brasileiro premiado por seus pares estrangeiros ao ver a notícia da conquista de importante laurel em jornal francês:"É a glória! É a glória!". Foi como me senti quando da publicação, aqui neste sítio (site? Jamé de la vi), onde penduro minha tralha pseudo-alfabetizada. Colunas anteriores Ivan Lessa: Um consolador na janela Ivan Lessa: VocêTuba? Ivan Lessa: Palavras, palavras, palavras Tópicos relacionados Colunistas Há 38 anos escrevo para estas três iniciais de renome mundial, uma perfeita garantia de qualidade, a BBC. Seguida de um reparo, senão ou, com boa vontade, classificação: Brasil. Quer dizer, ela, a BBC Brasil, se destina aos, antes, ouvintes da emissora e, agora, nestes dias informatizados, sob a forma enredada de algoritmos, de que não entendo nada. Fato é, e lamento a quem se aborrecer com isso, que 3 vezes por semana compareço com minha porção deles, os algoritmos encriptados aqui onde me tens, gentil leitor. Não ligam muito para mim, os internautas. As croniquetas são reproduzidas em uns tantos jornais, blogs e, aí sim, websites. O mundo cibernético é mais vasto do que sonhou Camões, Vasco da Gama, Fernão de Magalhães e aquele nosso grande e vibrante nadador, o César Cielo. Tudo bem. A glória não era meu objetivo. Informar um pouco, se possível divertir outro tanto. Só que nunca obtive tanta reação quanto as linhas que aqui neste canto estiveram até segunda, hoje, de manhã. Devo ter recebido mais de 6 e-mails (7, quero crer) e outros tantos comentários em jornais brasileiros de primeiro time. Recorde, para mim; pura glória, como disse no início. Todos, praticamente sem exceção, me esculhambando por ter citado, traduzindo um texto da escritora inglesa Michelle Hanson, que levava o título em inglês de A Dildo in the Window, ou por aí, mas que acabei tacando com o título em linguagem de Nelson Rodrigues, para me equiparar (olha só a ousadia desta besta que sou) a um dos grandes cronistas que tivemos, temos e sempre teremos, como Um Consolador na Janela. Daí a glória de ser apedrejado em blog público ou comentário em jornal biguano (checar no Houaiss, distinto). O tabuismo (continue com o mesmo dicionário por perto, companheiro) lá está em suas duas versões: a pré-luddista (insista, não desista, continue folheando o Houaiss, ou o Aurélio, o Aulete, aquele que quiser, valendo inclusive o Google) em modelos modernos e tudo, com ou sem reforma ortográfica. Os leitores, que só faltaram atentar contra minha honra, estão acostumados, conforme deduzi. Sim, eu disse a-cos-tu-ma-dos. Masculino. Nenhuma senhora ou senhorita, se leu, deu pelota às minhas escrevinhações. Gozado. Vamos destrinchar essa besteirada. Dildo pode ser "vibrador", quando armado com pilha, ou apenas "consolador" (short, conforme se diz no Brasil para, "consolo ou consolador de viúva"). Dá no mesmo. Quem reclamou é que deve saber. Os – sim "os" - que se queixaram de meu "uso", para eles indevido, de "consolador" estão mais familiarizados com a versão moderna armada, para melhor manejo, suponho, com pilhas, 3AA, por certo, mais outros adereços modernos, e deles bom uso devem fazer. O "consolador" ou "consolo" de viúva, para os hodiernos conhecedores e íntimos do objeto em questão, deve ser uma espécie de "Caminho Marítimo Para As Índias" e preferem usar, empregar, manusear, lidar, ter por hábito e costume o, suponho, possante “vibrador”, objeto de que sentiram falta e que os fez deixarem por uns momenos fugazes suas ricas vidas para tentar mandar uma pedrada em mim. Satisfaz-lhes melhor o – será "paladar" a palavra que procuro? (BBC do Brasil)

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Citações

"Quando perdemos a capacidade de nos indignarmos com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerarmos seres humanos civilizados" (Vladimir Herzog)

Europa

Wallerstein: por que o futuro da Europa é importante By admin – 26/05/2012Posted in: Capa, Crise Financeira Alexis Tsipras, da coalizão grega Syriza, e Jean-Luc Mélenchon, da Frente de Esquerda francesa Num cenário conturbado, Grécia e França empurram continente à esquerda, pressionando Alemanha. Se esta ceder, toda conjuntura global mudará Por Immanuel Wallerstein | Tradução: Daniela Frabasile As eleições nos sistemas parlamentares ocidentais sempre têm a ver com o centro. A situação mais comum é aquela em que existem dois partidos dominantes – um mais à direita e outro mais à esquerda do centro. Existem diferenças entre as políticas que esses partidos colocam em prática quando estão no poder, mas também enormes semelhanças. A eleição nunca expressa uma divisão política profunda. Seu papel é, em vez disso, o de de redefinir e relocalizar o centro – o ponto de alavanca, na gangorra entre os partidos. Uma situação muito mais rara é o repúdio ao centro e, portanto, aos dois partidos – anteriormente principais – que se posicionam próximos ao ponto central. Esse resultado joga as políticas nacionais em um grande turbilhão, o que por vezes tem impactos consideráveis fora do país. As últimas eleições na França e na Grécia ilustram bem essas duas situações. Na França, os socialistas derrotaram o partido conservador UMP, e deslocaram o centro. Num cenário caótico do sistema-mundo, e particularmente na União Europeia, o deslocamento o centro na França terá grande impacto. Mas não espere que as políticas reais de François Hollande sejam radicalmente diferentes daquelas de Nicolas Sarkozy. Na Grécia, aconteceu o contrário. O centro foi dramaticamente repudiado. Os dois maiores partidos – o conservador Nova Democracia e o socialista Pasok – perderam mais de metade dos votos que normalmente obtinham. Somados, caíram de aproximadamente 2/3 para 1/3 do eleitorado. O Pasok despencou para o terceiro lugar, ultrapassado por uma coalizão de partidos mais à esquerda, a Syriza, considerada a grande vencedora da eleição. O tema central das eleições foi o programa de austeridade imposto à Grécia pelas forças estrangeiras, e mais fortemente pela Alemanha. Todos os partidos, exceto os dois tradicionalmente maiores, anunciavam repúdio às medidas de austeridade. O líder da Syriza, Alexis Tsirpas, afirmou que os resultados da eleição anulam o comprometimento do governo anterior com o programa de austeridade. O que acontecerá nos próximos meses? Na Grécia, como os três partidos com mais votos – Nova Democracia, Syriza e Pasok – não conseguiram formar um governo, haverá novas eleições [em 17/6]. A Syriza pode até ser o primeiro colocado, no próximo pleito. Como o governo grego não receberá mais apoio internacional, não conseguirá pagar os empréstimos. O ministro de relações exteriores da Alemanha já ameaçou uma expulsão da zona do euro. Porém, não existe forma legal de fazer isso. E como a população grega parece pensar que sair da zona do euro não resolveria nada e provavelmente pioraria a situação, haverá um impasse. Os gregos irão sofrer muito. Mas muitos bancos europeus também. Assim como a população alemã, mesmo que esta ainda não esteja consciente disso. Enquanto isso, haverá novas eleições na França, agora para o Legislativo [em 10 e 17/6]. Analistas preveem uma ampla vitória socialista, porém com significativo contingente de votos para o equivalente francês da Syriza, a Frente de Esquerda. A clara posição de Hollande é que o crescimento europeu deve ter prioridade em relação à austeridade – um desafio direto à posição alemã. Por isso, o centro será ainda mais deslocado para a esquerda. Os alemães estão agora sob enorme pressão. Existe um descontentamento interno, que leva a perdas eleitorais do partido da chanceler Angela Merkel, o CDU, e sua coalizão neoliberal parceira, a FDP. Os outros partidos social-democratas na Europa foram encorajados pela vitória de Hollande a se moverem de algum modo para a esquerda. Os dois partidos conservadores na coalizão do governo da Itália sofreram perdas graves nas eleições municipais de maio. Também existe pressão dos Estados Unidos sobre a Alemanha, para se mover na direção que Hollande apoia – o que é estranho, porém importante. Os alemães podem resistir a tudo isso – até 31 de maio, a data do plebiscito irlandês. O governo irlandês é o único membro da zona do euro que depende de um plebiscito para aprovar o novo tratado de austeridade em que Merkel tanto insistiu, com apoio de Sarkozy. As pesquisas sugerem uma disputa acirrada. O governo irlandês está confiante de que poderia ganhar votos em favor do “sim”, mas a vitória de Hollande pode influenciar os eleitores para que o “não” prevaleça, o que anularia o tratado de austeridade. Isso iria enfraquecer a posição alemã ainda mais que o repúdio grego ao centro. O que acontecerá, então? A chave é o cenário alemão. Angela Merkel, como qualquer líder político, tenta ver para que lado os ventos sopram. Por isso, sua linguagem já começa a evoluir. Pode ser até que, secretamente, ela comemore as pressões externas para fazer o que, do ponto de vista da Alemanha, é a coisa sensata: fortalecer o poder de compra (para produtos alemães, entre outras coisas) no resto da União Europeia. Se a Alemanha se mover nessa direção, o euro e a União Europeia irão sobreviver, e continuar a ser um grande ator (ainda que chamuscado…) na cena geopolítica. No plano mundial, o deslocamento do centro na Europa como um todo não irá congelar o status quo, mas acelerar os realinhamentos geopolíticos que são inevitáveis. Além disso, o deslocamento do centro na Alemanha pode ajudar a Europa a resistir melhor ao tsunami – de colapso de fundos soberanos e do dólar como moeda de reserva – que se aproxima. O mundo inteiro está nadando em águas muito agitadas. A Alemanha pode logo se juntar à lista de estados que começam a entender como navegar em meio ao caos. Governos inflexíveis são seus próprios piores inimigos. Share (Outras Palavras)

DIitadura

Terrorismo de Estado Imprimir E-mail Escrito por Mário Maestri Segunda, 14 de Maio de 2012 As revelações são terríveis, pela total desumanidade e enorme barbarismo. Mas não são novidades. Ainda que parcialmente ignoradas, são larga e substancialmente conhecidas, desde sempre. Sabemos os nomes de quase todas as vítimas e de boa parte dos algozes. No geral, faltam apenas as circunstâncias de crimes comumente inomináveis. Dezenas de corpos de vitimados restam insepultos para seus familiares, companheiros, conhecidos e amigos. O paradoxo seria a impunidade absoluta dos responsáveis por tais atos abomináveis. Eles foram promovidos profissionalmente; encontram-se ainda em elevados cargos; aposentaram-se e reformaram-se magnificamente; morreram na santidade da paz dos inocentes, jamais incomodados; alguns foram e seguem sendo homenageados com o nome de ruas, praças, avenidas e escolas. Compreende-se tal despropósito. Não se trataram de crimes comuns. Foram ações criminosas realizadas ao abrigo e com o apoio das instituições estatais, contra cidadãos e cidadãs nacionais e estrangeiros inermes, para se obter ganhos sociais, econômicos, políticos etc. Foram atos praticados com o apoio de enorme parte da mídia, da alta hierarquia da Igreja, da justiça e do legislativo nacionais. Os crimes e os criminosos foram defendidos direta ou tortamente por intelectuais abrigados à sombra do poder e contaram com o apoio incondicional – e comumente material – de industrialistas, banqueiros, latifundiários. Nos milhares de martirizados, feriram-se profundamente as carnes da população brasileira, expropriada fortemente em seus direitos e conquistas, não raro para sempre. A lista é longa: após aqueles fatos, jamais o salário mínimo recuperou seu valor; perdeu-se o pouco de estabilidade no trabalho que se possuía; passou a dominar o ensino, a saúde, a segurança etc. privados e pagos. Tudo em proveito dos eternos donos das riquezas e do poder deste país. Os crimes de Estado não são prescritíveis ou auto-anistiáveis. A anistia ditada pelos militares, para civis e militares criminosos, sancionada por parlamento subserviente, não possui valor legal e moral. É farsa que segue vigente apenas porque encobre crimes de Estado, protegidos e referendados por Estado sempre sob o controle das mesmas classes e interesses que promoveram e sustentaram o regime ditatorial. A cumplicidade das instituições estatais constitui sanção política e moral àqueles crimes, através da qual se cultua a memória da violência e do despotismo contra os trabalhadores e opositores e se mantém sobre a população a eterna ameaça de que tudo pode voltar a ser como antes, se necessário. Em repouso na parede da casa-grande, o chicote do feitor lembra aos negros da senzala que está sempre pronto para cantar! Desde a redemocratização, em 1985, o culto e a defesa da impunidade e do crime dão-se sob forma surda e explícita. Na historiografia, proliferam leituras revisionistas desculpando e justificando a ditadura; desqualificando a resistência; criminalizando as vítimas etc., aqui e ali, promovidas por algum ex-resistente, regiamente recompensado por se aninhar sob a asa protetora do poder. A grande imprensa cala e confunde; defende o perdão e o esquecimento e ataca o revanchismo; desqualifica os resistentes e a resistência. O golpe militar deu-se contra o golpe civil em marcha, dizem. Tudo foi uma guerra, e a guerra é sempre suja, afirmam. Sempre a serviço dos poderosos, a Justiça reitera imperturbável que a farsa da anistia não pode e não deve ser tocada, ferindo a jurisprudência mundial e os direitos inarredáveis da população brasileira. Os poderes legislativo, federal, estadual e municipal, mantêm-se majoritariamente em igual posição. Há poucos meses, a câmara municipal de Porto Alegre rejeitou reparação moral à cidade, negando-se a rebatizar com o nome do governador Leonel Brizola avenida porto-alegrense que segue homenageando o primeiro general-ditador. Votaram contra a proposta vereadores do PP, do PSDB, do PTB, do PDT, do PPS... O poder é cínico. Desde 1985, o poder presidencial mantém-se na férrea proteção da impunidade. Para governar o país em nome dos poderosos, é necessário ajoelhar-se diante dos mesmos. Não há paradoxo em que FHC e Lula da Silva seguiram na posição vil, mesmo tendo sido o primeiro demitido do trabalho pela ditadura, e o segundo preso brevemente durante as grandes greves operárias de 1979. Não há contradição que a senhora Dilma Rousseff, objeto de inomináveis sevícias, abrace a defesa dos algozes, agora através de comissão de mentirinha, para esclarecer superficialmente os fatos, sem qualquer punição dos mesmos. Tudo para diminuir a pressão nacional e mundial pela inculpação de criminosos de Estado, que avança na Argentina, Uruguai, Peru etc. Eles pouco se importam que, ao proteger os criminosos, tornam-se cúmplices morais dos crimes. Segue cabendo apenas ao povo brasileiro o dever incontornável de enterrar, algum dia, os cadáveres insepultos de seus combatentes, através do castigo exemplar dos algozes, em homenagem às memórias dos golpeados e em defesa de seus interesses sagrados – passados, presentes e futuros. Mário Maestri, 63, é historiador e professor do curso e do programa de pós-graduação em História da UPF. E-mail: maestri(0)via-rs.net Para ajudar o Correio da Cidadania e a construção da mídia independente, você pode contribuir clicando abaixo.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Rio+20

Rio+20: o roteiro de Ladislau Dowbor por Ladislau Dowbor* Um guia de leituras para compreender os encontros, seu contexto e os caminhos para a sustentabilidade sócio-ambiental — inclusive no Brasil Pontos de referência Primeiro, se você se sente confuso relativamente à Rio+20, bem vindo ao clube. O desafio, no entanto, é simples. Por um lado, agravam-se os dramas do aquecimento global, da liquidação das florestas originais, da destruição da vida nos mares, da perda de solo agrícola, da redução da biodiversidade, do esgotamento de recursos naturais críticos. Por outro lado, temos um bilhão de pessoas que passam fome, destas 180 milhões são crianças, e destas entre 10 e 11 milhões morrem de inanição ou de não acesso a uma coisa tão prosaica como água limpa, ou seja, 30 mil por dia, dez torres gêmeas em termos de mortes por dia. Morrem no silêncio da pobreza, não rendem o mesmo espetáculo para a mídia. Não estamos matando, deixamos morrer. Um terço da humanidade ainda cozinha com lenha. Já morreram 25 milhões de Aids, enquanto discutimos o valor das patentes. Isto num planeta que graças a tantas tecnologias é simplesmente farto. Produzimos no mundo 2 bilhões de toneladas só de grãos, o que equivale a 800 gramas por pessoa e por dia, sem falar de outros alimentos. Se dividirmos os 63 trilhões de dólares do PIB mundial pelos 7 biliões de habitantes, são 5400 reais por mês por família de quatro pessoas. Com o que produzimos poderíamos todos viver com paz e dignidade. E temos 737 grupos corporativos mundiais, 75% deles de intermediação financeira, que controlam 80% do sistema corporativo mundial, o que explica o número de bilionários. No conjunto, buscam maximizar os lucros, ainda que o planeta entre em crise financeira e produtiva generalizada. A simplicidade do desafio, é que estamos acabando com o planeta para o benefício de uma minoria. Houston, we have a problem. Em outros termos, há uma convergência de processos críticos, o ambiental, o social e o econômico. E o denominador comum dos três processos é o problema da governança, de gestão da sociedade no sentido amplo. Sabemos administrar unidades, uma empresa, uma repartição pública, uma organização da sociedade civil. Estamos apenas aprendendo a articular o conjunto para o bem comum, e isto, gostemos ou não, é política. Enfrentamos problemas globais quando as estruturas políticas realmente existentes estão fragmentadas em 194 estados-nação. Ao tripé que aparentemente recolhe a nossa unanimidade – uma sociedade economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente sustentável – precisamos portanto hoje acrescentar o pilar da governança, os desagradáveis assuntos políticos, saber quem tomará as decisões, de onde virá o financiamento, como será realizado o seguimento e o controle. A Rio-92 desenhou os desafios do tripé de maneira competente, com a Agenda 21 e as grandes convenções do clima e da biodiversidade. Sabemos sim para onde ir. A Rio+20 terá o desafios mais espinhoso de enfrentar o dilema da governança, da criação de estruturas político-institucionais que façam acontecer. Não é uma opção, é uma necessidade. Com o agravamento dos processos planetários, estamos, como diz Ignacy Sachs, condenados a inovar. Não tenho na presente nota nenhuma pretensão de apresentar respostas para dilemas deste porte. Mas pareceu-me útil fazer uma pequena resenha de documentos que me têm passado pelas mãos, uma forma prática de facilitar a vida de quem está buscando boas leituras. Sistematização dos desafios No geral mesmo, a leitura básica me parece ser o curiosamente chamado Plano B 4.0 de Lester Brown, disponível online e gratuitamente, em português. Trata-se essencialmente de um roteiro que apresenta de maneira simples cada um dos principais desafios, as medidas necessárias, os seus custos e factibilidade. O subtítulo do livro diz a que vem: Mobilização para salvar a civilização. Como Lester Brown atualiza constantemente os seus textos, estamos na crista da onda. Para quem maneja o inglês, aliás, vale a pena ler o seu pequeno estudo chamado World on the Edge: how to prevent environmental and economic colapse, leitura curta e genial que caracteriza a nossa crise civilizatória. Na linha ainda das visões gerais, uma belíssima consulta online é o Keeping Track of our Changing Enviroment: from Rio to Rio+20 (1992-2012), também chamado Geo-5, publicado pelo PNUMA, que apresenta em gráficos muito didáticos, com curtos comentários, tudo que há de novo desde 1992: população, urbanização, alimentos, gênero, PIB, extração de recursos naturais, emissões, mudança climática, florestas, água, governança, agricultura, pesca, energia, indústria, tecnologia. Um instrumento de trabalho realmente de primeira linha em termos de dados básicos de como tem evoluído a situação do planeta nos últimos 20 anos. www.unep.org/geo/pdfs/keeping_track.pdf No plano da análise em profundidade dos mecanismos, uma excelente leitura me parece ser o relatório encomendado pelas Nações Unidas, Building a Sustainable and Desirable Economy-in-society-in-nature, estudo que reuniu vários dos melhores especialistas do mundo, como Gar Alperovitz, Herman Daly, Juliet Schor, Tim Jackson e outros. O estudo encara efetivamente os principais mecanismos econômicos que temos de transformar: “Vamos precisar de uma ciência econômica que respeite os limites do planeta, que reconheça a dependência do bem estar do ser humano das relações e correção sociais, e que reconheça que o objetivo final é um bem estar humano real e sustentável, não apenas o crescimento do consumo material. Esta nova ciência econômica reconhece que a economia está situada numa sociedade e cultura que estão elas mesmas situadas no sistema ecológico de suporte da vida, e que a economia não pode crescer para sempre neste planeta limitado.” (iv) http://bit.ly/ICWAf9 Documentos oficiais básicos Há naturalmente também os documentos oficiais. Podem deixar-nos irritados pelas insuficiências ou timidez, mas de toda forma são leituras necessárias. No plano geral, está o documento base a ser discutido na Rio+20, o chamado The Future we Want. Está centrado, como se sabe, “na busca da economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e erradicação da pobreza.” Afirma também “a nossa decisão de fortalecer o marco institucional do desenvolvimento sustentável”, e apresenta 15 grandes desafios (segurança alimentar, água, energia, cidades etc.) Trata-se de um documento de 20 páginas, nada que ultrapasse o tempo que ficamos parados na Marginal Tieté. É um importante instrumento de construção de consensos. Como há fortes debates sobre o que significa “economia verde”, é útil lembrar a definição do PNUMA: trata-se de um desenvolvimento que resulta em “improved human well-being and social equity, while significantly reducing environmental risks and ecological scarcities”, portanto bem-estar humano, equidade social, redução dos riscos ambientais e da escassez ecológica. Como a definição é abrangente, aqui também me parece que o problema não está no ‘verde’, e sim no ‘como’ se atinge os objetivos, na linha da cosmética corporativa ou das mudanças substantivas. As questões relevantes não são semânticas. O documento brasileiro, “minuta para consultas”, apresenta os desafios do desenvolvimento sustentável, em 24 pontos, que envolvem tanto a erradicação da pobreza extrema e segurança alimentar, como equidade, papel do Estado, produção e consumo sustentáveis, até os temas tradicionais ambientais como água, energia, cidades e semelhantes. O conceito de economia verde é incluído como “economia verde inclusiva”. Segundo os autores, “com este importante ajuste conceitual, seria dado foco num ciclo de desenvolvimento sustentável com a incorporação de biliões de pessoas à economia com consumo de bens e serviços em padrões sustentáveis e viáveis.”(p.26) O capítulo III apresenta propostas importantes no plano institucional, e o IV resume as “propostas do Brasil para a Rio+20”.No total são 37 páginas, ainda um elenco tentativo de propostas, mas que dá uma boa ideia do que está na mesa de discussões. O link é www.rio20.gov.br/documentos/contribuicao-brasileira-a-conferencia-rio-20/at_download/file. Os dois documentos acima se apoiaram bastante no texto elaborado pelo painel convocado pelo Secretário-Geral das Nações Unidas, o GSP (Global Sustainability Panel), chamado na versão em espanhol Gente resiliente em um planeta resiliente: un futuro que vale la pena eligir. Em 14 páginas, este documento dá conta do recado no sentido de valorizar os pontos chaves dos nossos desafios. Envolve a criação de um conselho global de desenvolvimento sustentável como marco institucional internacional, e dá particular importância à dimensão político-institucional: “O certo é que o desenvolvimento sustentável consiste fundamentalmente em que as pessoas tenham oportunidades para influir no seu futuro, exigir os seus direitos e expressar as suas preocupações. A governança democrática e o pleno respeito dos direitos humanos são requisitos indispensáveis para empoderar as pessoas e conseguir que façam opções sustentáveis. Os povos do mundo já não tolerarão que se continue a devastar o meio ambiente nem que persistam as desigualdades que ofendam o profundamente arraigado principio universal da justiça social…Ao mesmo tempo, há que alentar as comunidades locais para que participem ativamente e de forma coerente na conceituação, planejamento e aplicação de políticas de sustentabilidade. Para isto é fundamental incluir os jovens na sociedade, na política e na economia”. O resumo executivo em espanhol está em http://www.un.org/gsp/sites/default/files/attachments/Overview%20-%20Spanish.pdf Os manifestos Em outro plano de documentos, há o que poderíamos chamar de manifestos éticos. Particularmente interessante é o manifesto de março 2012, assinado por 2800 cientistas reunidos em Londres, no quadro da conferência Planet Under Pressure: new knowledge towards solutions. O documento de 4 páginas apenas, State of the Planet Declaration, é duro e direto: “As pesquisas agora demonstram que o funcionamento continuo do sistema Terra tal como tem dado suporte ao bem estar da civilização humana nos séculos recentes está em risco. Na ausência de ação urgente, poderemos fazer face a ameaças à água, alimento, biodiversidade e outros recursos críticos. Estas ameaças colocam o risco de crises econômicas, ecológicas e sociais cada vez mais intensas, criando o potencial para uma emergência humanitária em escala global.” Segundo os autores, “o desafio que define a nossa era é a salvaguarda dos processos naturais da Terra para assegurar o bem estar da civilização com erradicação da pobreza, redução de conflitos por recursos, e suporte à saúde humana e do ecossistema. Com o consumo se acelerando por toda parte e o aumento da população mundial, já não é suficiente trabalhar com um ideal distante de desenvolvimento sustentável. A sustentabilidade global tem de tonar-se o fundamento da sociedade.” Trata-se aqui de um grito de urgência, que aponta para o que é talvez o nosso maior drama: o hiato entre a compreensão científica dos desafios que vivemos, e o pouco que é apreendido pelas populações em geral, submetidas a informações banais e a um martelar publicitário sem sentido. “Porque a vida é agora”, repete a propaganda de um grupo financeiro, como se não houvesse amanhã. http://dowbor.org/2012/04/declaracao-de-2800-cientistas-sobre-a-situacao-do-planeta.html/. Neste campo das tomadas de posição ética, é preciso mencionar também um folheto publicado por Stéphane Hessel, francês de 93 anos, intitulado Indignez-vous, indignai-vos (publicado em inglês como A Time for Outrage). Um herói da resistência ao nazismo, traz com força a denúncia dos absurdos das corporações financeiras, dos sistemas fiscais que privilegiam os ricos, e trazendo apoio a todas as manifestações atuais de indignação, seja nos países árabes ou na Europa e nos Estados Unidos. Texto simples e eloquente, uma denúncia dos absurdos, e um apelo ao bom senso e à revolta. O folheto vendeu em poucos meses mais de 4 milhões de exemplares, e apesar da visão parcialmente centrada na França, tem um apelo universal. A notar também um livrinho de 60 páginas de Stéphane Hessel e de Edgar Morin, Le chemin de l’espérance, (o caminho da esperança), clamando por uma “consciência do momento dramático que vivemos para a espécie humana, dos seus ricos e perigos, mas também das suas chances”. As propostas são “por uma política de civilização”. Os dois textos mencionados são de 2011, e poderíamos ainda acrescentar o recente livro La Voie (o caminho) de Edgar Morin. Como apelo universal à ética da sustentabilidade, podemos também incluir o “Chamado aos governos”, uma convocação para se elaborar uma Carta de Responsabilidades Universais na Rio+20, como complemento à Declaração Universal dos Direitos Humanos. É apresentado no Fórum Internacional da Ética e Responsabilidade, www.ethica-respons.net, vejam em particular a proposta em português em www.ethica-respons.net/IMG/doc/proposta-para-uma-carta-das-responsabilidades-universais.doc . O chamado, de 5 páginas, é assinado por inúmeras instituições e personalidades. O contato para apoio é edith.sizoo@lc-ingeniris.com E incluiria também neste grupo o excelente ensaio de Leonardo Boff, Sustentabilidade: o que é – o que não é, publicado em fins de 2011 pela editora Vozes. É uma visão fortemente centrada em valores humanos, a busca do que Paulo Freire chamava de uma “sociedade menos malvada”. “O pior que podemos fazer é não fazer nada e deixar que as coisas prolonguem seu curso perigoso. As transformações necessárias devem apontar para outro paradigma de relação para com a Terra e a natureza e para a invenção de modos de produção e consumo mais benignos. Isso implica inaugurar um novo patamar de civilização, mais amante da vida, mais ecoamigável e mais respeitoso, dos ritmos, das capacidades e dos limites da natureza. Não dispomos de muito tempo para agir. Nem muita sabedoria e vontade de articulação entre todos para enfrentar o risco comum”. www.leonardoboff.com ou http://vozes.com.br. A questão chave do poder financeiro Aparentemente sem conexão com a Rio+20, mas que a meu ver tem muito a ver, é a pesquisa do Instituto Federal Suiço de Pesquisa Tecnológica – ETH na sigla em alemão – sobre o poder global de controle das corporações. No essencial, como mencionamos acima, a pesquisa do ETH mostrou que 737 corporações, controlam 80% do sistema corporativo mundial, e nestas um núcleo duro de 147 controla 40% do total, 75% delas corporações financeiras. Na sua quase totalidade são americanas e europeias. Temos por tanto uma visão radicalmente nova do poder corporativo mundial. Note-se que o PIB mundial é da ordem de 63 trilhões de dólares, enquanto os derivativos emitidos (outstanding derivatives), papéis que dão direito a outros papéis, juros sobre juros – na prática especulação financeira – atingem 600 trilhões de dólares segundo o BIS de Basiléia. São papéis com pouco lastro, a procura de liquidez, o que gerou as imensas transferências de governos para bancos privados, o que por sua vez gera grande parte dos cortes em políticas sociais e ambientais do mundo rico. Para facilitar a vida de não-economistas, fizemos uma resenha com as principais conclusões, veja em http://dowbor.org/2012/02/a-rede-do-poder-corporativo-mundial-7.html/, são 10 páginas. A pesquisa do ETH foi publicada em outubro de 2011. É importante entender em que contexto econômico e financeiro mundial se dá a Rio+20. Um planeta sustentável com paraísos fiscais e com sistemas especulativos descontrolados sobre commodities, além dos financiamentos irresponsáveis que inundam o mundo de armas sem controle, francamente… Neste plano, e entrando em defensiva, um conjunto de corporações financeiras lançou a The Natural Capital Declaration, na linha de “finanças inovadoras para a sustentabilidade”. O documento, de 3 páginas, constitui uma importante declaração de princípios “demonstrando nosso compromisso na Rio+20 de trabalharmos para integrar considerações sobe o capital natural nos nossos produtos e serviços financeiros para o século 21”. Comove sem dúvida, e naturalmente esqueceram a dimensão social, e o fato de estarem servindo mais especulação e apropriação de recursos públicos do que fomento produtivo, mas é uma tendência interessante. Está disponível online em http://bit.ly/Ju2j2j. No mesmo plano, e já com iniciativas realmente sérias, Hazel Henderson conduz há tempos um exercício importante de seguimento e avaliação do comportamento ‘verde’ das instituições financeiras, em particular de investidores institucionais como os fundos de pensão. Trata-se de imensos recursos. O sistema de seguimento do Green Transition Scoreboard 2012 mostra que nos últimos cinco anos estes fundos investiram 3,3 trilhões de dólares em energia renovável, tecnologias sustentáveis e semelhantes, com forte aumento de recursos a cada ano. Uma coisa são as motivações: claramente, estes fundos não estão sentindo pânico pela situação do planeta e dos pobres, e sim pela fragilidade dos papéis podres (junk) onde tradicionalmente realizavam aplicações. Financiar atividades ligadas à sustentabilidade aparece como uma alternativa cada vez mais viável em termos estritamente econômicos. Moralismos a parte, a reorientação de fundos especulativos para financiar sustentabilidade é sim absolutamente indispensável para fechar a conta das transformações necessárias. De certa forma, o capitalismo controlado pelo mundo financeiro é extremamente poderoso, mas na medida em que se transformou em cassino instável e improdutivo, de grande visibilidade e rejeição planetária, pode ter nesta dimensão financeira o seu lado mais vulnerável. A realidade é que esses imensos recursos são necessários para uso adequado nas reconversões sociais, ambientais e econômicas que temos pela frente. O Green Transition Scoreboard, que faz o seguimento destas mudanças, é neste sentido muito útil, e o trabalho de Hazel Henderson sempre inspira confiança. O documento está disponível em http://bit.ly/IGJMGU ou colocando o nome no Google. Textos propositivos No plano mais diretamente propositivo para a Rio+20, temos de dar destaque aos trabalhos de Ignacy Sachs, em particular ao artigo Os desafios da segunda Cúpula da Terra do Rio de Janeiro, publicado no encarte de janeiro 2012 do Le Monde Diplomatique Brasil, http://dowbor.org/2012/04/sustentabilidade-e-desenvolvimento-o-que-esperar-da-rio20.html/ Sachs, veterano de Estocolmo 1972 e da Rio92, tem os pés bem firmes no chão. Considerando a fragilidade do sistema multilateral de decisões, dá uma importância central a que se aproveite a Rio+20 para traçar um roteiro concreto de planos nacionais de desenvolvimento sustentável, de fontes de financiamento (em particular a taxa Tobin), de sistemas de cooperação técnica por biomas (os semiáridos planetários, por exemplo, que enfrentam desafios muito semelhantes). Ou seja, a Conferência seria um ponto de partida para a construção de políticas nacionais, com sistemas diferenciados de cooperação e articulação com uma nova função das Nações Unidas. O texto de Sachs é o primeiro deste encarte, que apresenta 8 artigos de excelente qualidade, e dá uma visão geral dos desafios. O título geral do encarte é Sustentabilidade e Desenvolvimento: o que esperar da Rio+20. Na mesma linha, um texto mais antigo nosso de 2010 continua plenamente atual, Crises e Oportunidades em Tempos de Mudança, de 21 páginas, fortemente centrado na convergência das crises, no resgate da dimensão pública do Estado e na capacidade de gestão pública. A parte propositiva, em 12 pontos, envolve o que nos pareceu como um programa mínimo para o resgate da racionalidade e equilíbrio do nosso desenvolvimento. É assinado conjuntamente por Ignacy Sachs, Carlos Lopes e Ladislau Dowbor. Uma versão bem humorada da parte propositiva pode ser encontrada no artigo “Os Dez Mandamentos – Edição Revista e Atualizada”, que traz mandamentos como Não Reduzirás o teu próximo à miséria e semelhantes. O artigo principal está em http://dowbor.org/2010/01/crises-e-oportunidades-em-tempos-de-mudanca-jan-2.html/ e os dez mandamentos em http://dowbor.org/2010/04/os-dez-mandamentos-edicao-revista-e-atualizada-abr.html/ , textos publicados também pelo Instituto Paulo Freire e no Le Monde Diplomatique Brasil. Para o caso específico do Brasil, um excelente pequeno documento é o “Acordo para o Desenvolvimento Sustentável”, elaborado no quadro do CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e social), como contribuição para a Rio+20. Este pequeno documento sistematiza uma série de propostas de membros do Conselho, de numerosas organizações da sociedade civil, de acadêmicos, de especialistas como Ignacy Sachs, bem como de vários ministérios. É um documento particularmente equilibrado, centrado em grande parte na governança do processo. Acesse em http://www.cdes.gov.br/documento/3169562/acordo-para-o-desenvolvimento-sustentavel-rio-20-102011.html. Cumpre também mencionar o importante documento Indicadores de Desenvolvimento Sustentável 2010 elaborado pelo IBGE. Este balanço estatístico e analítico apresenta uma visão geral dos desafios, em quatro grandes capítulos, que focam a dimensão econômica, social, ambiental e institucional. Este último ponto é importante, pois sem a parte institucional, que envolve as políticas destinadas a tomar as decisões na direção do desenvolvimento sustentável, pouca coisa pode acontecer. De certa forma, trata-se de trabalhar com os quatro pilares, e não mais apenas com o tripé, o que envolve mudanças no processo decisório concreto. No conjunto são 55 grupos de indicadores, com breve análise. Na Rio+20 será apresentado o IDS-2012, com 62 grupos de indicadores e um avanço significativo na parte ainda relativamente mais fraca que é a institucional. Queria aqui reforçar a importância de se recorrer a este documento, que nos traz os dados primários concretos, quando a discussão frequentemente tende a se referir a dados afetados por visões ideológicas. http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/recursosnaturais/ids/default_2010.shtm Evidentemente não é o lugar aqui de entrar no conjunto das propostas setoriais, referentes ao clima, água, florestas, saúde, educação e assim por diante. Há aqui inúmeras contribuições brasileiras acessíveis online, por exemplo de Ricardo Abramovay, de José Eli da Veiga e tantos outros. Há também a bela contribuição Os 50 + Importantes Livros em Sustentabilidade, da Universidade de Cambridge, publicado pela Editora Peirópolis em 2012. Leituras não faltam. Os textos que apresentamos acima ajudam sim na formação de uma visão de conjunto dos desafios e de a que vem a Rio+20 nas suas dimensões essenciais. Um complemento apenas relativamente ao que me parece ainda as áreas mais fracas: neste mundo urbanizado, independentemente das grandes políticas planetárias e nacionais, há um imenso espaço para que cidades, individualmente ou em rede, façam a lição de casa. Esta é uma dinâmica em curso, envolvendo milhares de cidades pelo mundo afora, criando uma construção sustentável pela base. Não é suficiente, sem dúvida, mas cria gradualmente novas dinâmicas ao demonstrar de forma prática que um outro desenvolvimento é possível e funciona. Igualmente frágil é a área de contas que façam sentido. O PIB não só é tecnicamente frágil, como induz a uma visão deformada do progresso. Temos de contabilizar o que realmente conta. Lembro-me de ter visto em Johannesburgo na África do Sul, painéis em lugares públicos que em vez de veicularem mensagens publicitárias informavam a população local sobre a evolução de indicadores essenciais como a mortalidade infantil, conexões de esgotos, acesso à água e assim por diante. Precisamos passar a medir o que realmente importa. Outro eixo a ser fortemente expandido, o da participação política, está bem resumido na nota de Laura Rival, da Universidade de Oxford, para o UNRISD: “Para que as pessoas possam exercer as suas capacidades políticas, precisam antes reconhecer-se como cidadãos, mais do que como beneficiários ou clientes. Adquirir os meios de participar demanda também processos de educação popular e de mobilização que possa reforçar as habilidades e a confiança de grupos marginalizados e excluídos, dando-lhes meios para se engajarem em arenas participativas.” http://bit.ly/K6sAtw Não há “bala de prata” para assegurar a cidadania: envolve educação, inclusão produtiva, mídias democratizadas, acesso às tecnologias, segurança pessoal e assim por diante. É o desfio maior. * Ladislau Dowbor, é doutor em Ciências Econômicas pela Escola Central de Planejamento e Estatística de Varsóvia, professor titular da PUC de São Paulo e da UMESP, e consultor de diversas agências das Nações Unidas. É autor de “Democracia Econômica”, “A Reprodução Social”, “O Mosaico Partido”, pela editora Vozes, além de “O que Acontece com o Trabalho?” (Ed. Senac) e co-organizador da coletânea “Economia Social no Brasil“ (ed. Senac) Seus numerosos trabalhos sobre planejamento econômico e social estão disponíveis no site http://dowbor.org’ ** Publicado originalmente no site do Mercado Ético. (Mercado Ético) (Envolverde)

Medicina e Tortura

Organização denuncia participação de médicos na ditadura argentina Relatório elaborado pela organização argentina “Médicos com Memória” afirma que mais de mil e duzentos profissionais da saúde colaboraram nas salas de tortura e cometeram crimes de lesa humanidade durante a ditadura militar. Com isso, sustenta a organização, não só colaboraram com o horror de uma época, mas avalizaram, com seu silêncio, o sistema de saúde privatizante imposto pelo neoliberalismo desde março de 1976. Muitos médicos ainda permanecem impunes. O artigo é de Francisco Luque. Francisco Luque - De Buenos Aires Buenos Aires - Embora seu juramento ético estabeleça que devam velar pela saúde e a vida das pessoas, muitos fizeram o contrário. Segundo um relatório elaborado pela organização argentina “Médicos com Memória”, mais de mil e duzentos profissionais da saúde colaboraram nas salas de tortura e cometeram crimes de lesa humanidade durante a ditadura militar. Com isso, sustenta a organização, não só colaboraram com o horror de uma época, mas avalizaram, com seu silêncio, o sistema de saúde privatizante imposto pelo neoliberalismo desde março de 1976. Muitos médicos ainda permanecem impunes. “A imposição do sistema repressivo por parte das forças armadas contou não só com o silêncio de uma sociedade ameaçada, mas com a participação ativa e a cumplicidade de civis, como é o caso da intervenção de médicos e outros profissionais da saúde”, explica em um relatório esta organização, criada em 2009, cujo objetivo tem sido elucidar o funcionamento do sistema de saúde durante a ditadura e identificar médicos, enfermeiros, psicólogos e técnicos médicos – civis e militares - envolvidos em crimes de lesa humanidade. Formada por vítimas da repressão, a “Médicos com Memória” decidiu procurar a verdade e denunciar os profissionais da saúde que colaboraram com a ditadura. Dois mil e duzentos médicos são suspeitos de colaborar com a ditadura e, dos duzentos que já foram identificados em diferentes processos judiciais, a Justiça argentina só condenou uma dezena. Outros vinte profissionais já foram processados em causas por delitos de lesa humanidade. “As pessoas sequestradas eram detidas e atendidas em condições infra-humanas. As mulheres pariam seus filhos em condições execráveis, encapuzadas e, assim como estavam, destruídas, eram separadas de seus filhos sem que se soubesse mais deles”, afirma o relatório, que assegura que “na estrutura operativa de cada centro clandestino ou prisão militar ou pública, os sequestrados eram torturados com o apoio de pessoal de saúde, militar ou civil”. O organograma destes centros de tortura estava composto por pessoal médico militar de carreira ou ingresso como profissional às forças armadas, das forças de segurança ou como médicos civis contratados ou colaboradores, que prestavam serviços em hospitais, centros psiquiátricos ou maternidades públicas. “Participaram em atos aberrantes, chegando a atuar diretamente nos crimes que eram cometidos com o aval da maioria das instituições de saúde, tanto públicas como privadas, das obras sociais, universidades, entre outras”, acrescenta o relatório. A “Médicos com Memória” detectou mais de 500 centros clandestinos de detenção e 200 centros de atenção à saúde que foram utilizados para a tortura. Também comprovaram a existência de trinta maternidades clandestinas que funcionavam dentro de centros assistenciais públicos. “Os militares chegavam aos hospitais durante a noite acompanhados, muitas vezes, pelo médico encarregado do serviço de obstetrícia do estabelecimento. Os soldados chamavam o médico de plantão, a parteira, e transferiam as mulheres em trabalho de parto para outros recintos, fortemente vigiados. A mulher era atada à maca ou algemada e, às vezes, encapuzada para que não visse quem participava enquanto o parto era feito. Também realizavam partos clandestinos para depois entregar os bebês para falsas adoções. Muitos bebês não foram recuperados e muitos médicos têm um pacto de silêncio por haver participado neste inferno”, afirmou à Televisão Pública Carlos Ferreyra, cofundador da “Médicos com Memória”. "Os que participaram nos partos foram cúmplices da apropriação de crianças nascidas em cativeiro e colaboraram dando informação sobre a aplicação de drogas aos detidos que depois eram atirados ao vazio nos voos da morte", agrega o documento. Para Ferreyra, um dos aspectos que escondia a barbárie imposta pelo terrorismo de Estado tem relação com a ideia de desmantelar o sistema público de saúde existente até aquela época, ação que estava fortemente comprometida com grupos econômicos nacionais e transnacionais interessados em implantar um sistema sanitário excludente. A ideia da ditadura foi criar um “mercado de saúde”, o que permitiu que o setor privado crescesse de forma inusitada. A “Médicos com Memória” afirma também que houve cerca de trinta médicos que se rebelaram ao não aceitarem a obrigação que lhes era imposta e perderam suas vidas. Outros, ao contrário, embora soubessem que estavam infringindo o juramento hipocrático, “supervisionavam as condições físicas dos detidos, a fim de continuar com a tortura, além de produzir boletins clínicos, forenses, e certidões de nascimento e de óbito falsas e apócrifas”. “Nós, médicos, não podemos ficar impassíveis diante destes fatos que são a origem do delito de ocultação de identidade”, afirma o relatório e exige dos profissionais que informem o destino dos corpos “que se empilhavam nos necrotérios dos hospitais infectando as salas de cirurgia com cheiros nauseabundos”. O grupo estimula a criação de “comissões da memória” com o objetivo de investigar os níveis de participação das diferentes estruturas de saúde no terrorismo de Estado. “É fundamental promover esse compromisso com as instituições, em especial com as faculdades de Medicina de todo o país, onde se sabe que alguns docentes elaboraram as famosas listas negras que deram lugar à desaparição de muitos estudantes universitários”, afirmou Ferreyra à agência Telam. (Carta Maior)

Escravocatras

Os Donos do Chicote Quando você deva votar, é bom que lembra os que se opõem à punição do trabalho escravo. NOME ESTADO DEMOCRATAS (DEM) Abelardo Lupion Paraná (PR) Lira Maia Pará (PA) Luiz Carlos Setim PR Paulo Cesar Quartiero Roraima (RR) Ronaldo Caiado Goiás (GO) PARTIDO DEMOCRÁTICO DOS TRABALHADORES (PDT) Giovanni Queiroz PA PARTIDO HUMANISTA DA SOLIDARIEDADE (PHS) Foi fundado em 1996 e possui um único deputado, pertencente ao estado de Minas Gerais. Este partido defende o que ele chama o “distributivismo” cristão, e é um dos que imitam as democracias cristãs e outras correntes neofascistas. José Humberto Minhas Gerais (MG) PMDB Alceu Moreira Rio Grande do Sul (RS) André Zacharow PR Antônio Andrade MG Edio Lopes RR Júnior Coimbra Tocantins (TO) Marinha Raupp Rondônia (RO) Valdir Colatto Santa Catarina (SC) PARTIDO PROGRESSISTA (PP) É o herdeiro mais direto do partido da ditadura militar conhecido como ARENA, e apoia as candidaturas mais afinadas com o golpismo, a tortura, a violência, a homofobia, etc. Beto Mansur São Paulo (SP) Carlos Magno RO Luis Carlos Heinze RS Nelson Meurer PR PARTIDO DA REPÚBLICA (PR) Fundado em 2006 como união de partidos pequenos que não tinham cabida na lei eleitoral, representa um dos setores mais corruptos e mercenários da direita. Bernardo Santana de Vasconcellos MG PARTIDO SOCIAL CRISTÃO (PSC) É uma coalizão de partidos oportunistas, onde predominam os exploradores da ingenuidade pública e as igrejas que sugam a economia popular. Serviu de base à candidatura de Collor, e apoiou um dos mais grotescos políticos do país, que fora governador do RJ. Nelson Padovani PR PARTIDO SOCIAL DEMOCRÁTICO (PSD) Foi fundado em 2011 pelo prefeito de São Paulo, reunindo os elementos mais atrasados dos outros partidos de direita, incluindo ruralistas, pró-golpistas, neoliberais e similares. Eduardo Sciarra PR Francisco Araujo RR Guilherme Campos SP Homero Pereira MT Irajá Abreu TO Marcos Montes MG Raul Lima RR PARTIDO SOCIAL DEMOCRATA BRASILEIRO (PSDB) “Tucanos” Berinho Bantim RR PARTIDO TRABALHISTA BRASILEIRO (PTB) Nelson Marquezelli SP Os Tímidos Durante a campanha pela PEC 438, foi exercida uma enorme pressão por parte de muitos segmentos da sociedade, especialmente artistas e intelectuais famosos, que influíram sobre seu público. Aliás, para os políticos que não têm um total desprezo pela imagem do país e de suas instituições, rejeitar essa proposta era demasiado cinismo. Portanto, vários se abstiveram. É possível que nem sempre a abstenção seja um não disfarçado, mas o assunto era muito óbvio para que alguém possuidor de uma dúzia de neurônios pudesse ter legítimas hesitações. Por via das dúvidas, os deputados com conflitos existenciais são estes: DEMOCRATAS Jairo Ataide, MG PMDB Asdrubal Bentes, PA Carlos Bezerra, MT Eduardo Cunha, RJ Genecias Noronha, CE João Magalhães, MG Joaquim Beltrão, AL Washington Reis, RJ Wilson Filho, PB PARTIDO PROGRESSISTA Lázaro Botelho, TO João Carlos Bacelar, BA Wellington Fagundes, MT PSC Zequinha Marinho, PA PSD Diego Andrade, MG Eliene Lima, MT Hélio Santos, MA Junji Abe, SP Moreira Mendes, RO Júlio Cesar, PI Onofre Santo Agostini, SC Ricardo Izar, SP PSDB Carlos Brandão, MA PTB Jovair Arantes, GO Magda Mofatto, GO

Poesia

AO PERDER A TI ... - Ernesto Cardenal - Ao perder-te eu a ti tu e eu teremos perdido. Eu, porque tu eras o que eu mais amava; tu, porque era eu que te amava mais. Mas, de nós dois tu perdes mais do que eu. Porque eu poderei amar a outras como amava a ti, mas a ti não te amarão mais do que te amava eu! (Blog do Nassif)

W. Disney

A DOUTRINAÇÃO IDEOLÓGICA IMPERIALISTA COMEÇA, DESDE SEMPRE, COM AS CRIANÇAS... DISNEY?!... COMO DIZ O PROVÉRBIO POPULAR: "É DE CEDO QUE SE TORCE O PEPINO!" "O Rei Leão": Walt Disney e a manipulação idelógica O vídeo (endereço transcrito abaixo) mostra com clareza como ocorre a penetração imperialista através de mensagens sub-liminares contidas em desenhos animados e em películas produzidas por Hollywood. E tal processo comunicativo de caráter subliminar também se manifesta na grande mídia burguesa existente na maioria dos países do mundo. Os telespectadores que assistem às novelas, aos programas informativos e aos de variedades, das grandes redes de televisão do Brasil, poderão conferir a existência desse fenômeno que nada mais é do que a disseminação de mensagens ideológicas bem definidas, propagadas por métodos subliminares diretamente às suas vítimas – que, no caso do citado vídeo, são crianças. Jacob David Blinder (‘Chupado’ DE ‘Juntossomosfortes’)