quarta-feira, 31 de julho de 2013

Bradley Manning

terça-feira, 30 de julho de 2013
Bradley Manning pode pegar 136 anos de prisão
Embora inocentado da acusação de “colaborar com o inimigo”, o soldado que entregou ao WikiLeaks documentos secretos de crimes de guerra cometidos pelos EUA pode passar a vida inteira dentro de uma cela

Enviado por [*] Baby Siqueira Abrão – jornalista brasileira, correspondente para o Oriente Médio

Bradley Manning
O soldado Bradley Manning foi considerado inocente da acusação de “ajuda ao inimigo”, a mais séria do processo movido contra ele, por ter repassado ao WikiLeaks, em 2010 – Manning confessou isso em juízo – cerca de 470 mil documentos relacionados às guerras do Iraque e do Afeganistão, além de 250 mil mensagens diplomáticas e outros materiais do Departamento de Estado dos Estados Unidos, incluindo vários vídeos dos campos de batalha. Todos contêm provas de crimes de guerra e crimes contra a Lei Humanitária cometidos pelo exército estadunidense, e chocaram o mundo quando publicados.

Caso o tribunal o tivesse julgado colaborador de inimigos, Manning seria condenado à prisão perpétua. Mas a condenação pela violação de vários artigos da Lei de Espionagem dos Estados Unidos, que foi mantida, não muda muito a situação: pode levá-lo a uma sentença de 136 anos de prisão.

Denise Lind
O veredito foi anunciado hoje de manhã pela coronel Denise Lind, juíza do tribunal militar de Fort Mead. Ela também determinou que Manning deixe o confinamento em cela solitária, onde vem sendo mantido desde sua detenção. Olhar atento e fixo na juíza, Bradley Manning ouviu a sentença com resignação, enquanto fora do tribunal ativistas carregavam cartazes que pediam sua libertação.

A leitura do veredito espalhou revolta no mundo inteiro. As redes sociais encheram-se de reclamações de cidadãos indignados. No Twitter, o pessoal do WikiLeaks protestou, dizendo que o veredito reflete “um extremismo perigoso da parte do governo Obama”. Afirmou também que a condenação por infringir a Lei de Espionagem é “um precedente muito sério”, que pode ser usado contra aqueles que fornecem informações à mídia e aos que publicam as notícias. Todos podem ser enquadrados nos mesmos crimes, o que trará consequências graves à liberdade de expressão.

Widney Brown
Órgãos como Associação por Liberdades Civis (ACLU) e Centro por Direitos Constitucionais (CCR), dos Estados Unidos, e Anistia Internacional, condenaram a sentença. Widney Brown, diretor sênior de direito internacional da Anistia, foi direto ao ponto: “As prioridades do governo estão de ponta-cabeça. Recusou-se a investigar as alegações plausíveis de tortura e de outros crimes que violam o direito internacional, apesar das esmagadoras evidências. Em lugar disso, decidiu processar Manning, que pensava fazer a coisa certa: revelar provas do comportamento ilegal do governo”. Brown lembrou que os atos cometidos pelo exército dos Estados Unidos no Oriente Médio são proibidos também pela Constituição daquele país. Para ele, o processo contra Manning foi montado para enviar uma mensagem clara a adversários: “O governo dos Estados Unidos irá persegui-lo sem descanso se você pensar em revelar provas das operações ilegais que ele promove”.

Ben Wizner
Ben Wizner, diretor do Projeto Expressão, Privacidade e Tecnologia da ACLU declarou que há muito a entidade considera o vazamento de informações de interesse público um ato que não deve ser julgado com base na Lei de Espionagem. “Uma vez que Manning já foi penalizado pelo vazamento de informações – o que significa uma punição significativa – parece claro que o governo procura intimidar todos aqueles que possam pensar, no futuro, em revelar informação valiosa”, postou ele no site da associação.

O combativo CCR, que representa o WikiLeaks e Julian Assange nos Estados Unidos, questionou a própria Lei da Espionagem, “uma relíquia desacreditada” da época da Primeira Guerra Mundial, “criada para suprimir a discordância política e o ativismo antiguerra, e é ultrajante, em primeiro lugar, que o governo tenha escolhido evocá-la contra Manning”. E acrescentou: “Vivemos agora num país onde alguém que expõe crimes de guerra pode ser sentenciado a toda uma vida [na prisão] ... ao passo que os responsáveis por esses crimes permanecem livres. (...) O tratamento dado a Manning [ele foi barbaramente torturado], o processo e a sentença têm um propósito: silenciar potenciais denunciantes e [silenciar também] a mídia”.

O julgamento recomeça amanhã (31/7/2013), às 9h30 (horário estadunidense). Então se saberá a pena que Manning será obrigado a cumprir por ter acreditado que os direitos humanos e a justiça estão acima dos atos ilegais cometidos por governos.


[*] Baby Siqueira Abrão é jornalista, tradutora, escritora e pós-graduada em filosofia, é correspondente dos veículos Brasil de Fato e Carta Maior no Oriente Médio, além de ativista por direitos humanos e justiça social. É autora de dois livros sobre história da filosofia, para as editoras Moderna e Ática. Eventualmente colabora com a redecastorphoto.
Postado por Castor Filho às 21:22:00 (Redecastor)

Multinacionais

AS 10 MULTINACIONAIS MAIS PERIGOSAS DO MUNDO

Não importa onde você mora, é impossível escapar da globalização. A única saída é aprender a escolher com consciência antes de comprar.

Comece a cultivar e produzir seu alimento, reduza o consumo de petróleo e seus derivados, reflorestamento, compre suprimentos, ouça a sua voz interior, em vez de escutar a voz da publicidade… são pequenos grande gestos para escapar de monstros.

E lembre-se sempre que o poder de escolha esta em suas mãos, não dê o prazer de cair nas garras dos monstros estupradores e destruidores dos recursos naturais do planeta.

1 – CHEVRON

Várias das grandes companhias de petróleo seria nesta lista, mas Chevron merece um lugar especial. Entre 1972 e 1993, a Chevron (Texaco então) despejou 18 bilhões de litros de água tóxica em florestas tropicais do Equador, sem qualquer reparo, destruindo os meios de subsistência dos agricultores locais e populações indígenas repugnantes. Chevron tem também poluído os EUA, em 1998, Richmond (Califórnia), Chevron foi processada por dumping, ignorando tratamentos ilegais de águas residuais, contaminando fontes de água locais, idem em New Hampshire em 2003.

Chevron foi responsável pela morte de vários nigerianos que protestavam contra a empresa pela sua presença e operação do Delta do Níger. Chevron pagou a milícia local, conhecida por suas violações dos direitos humanos, para esmagar os protestos, e até mesmo helicópteros e barcos foram fornecidos. Os militares abriram fogo contra os manifestantes, em seguida, queimou suas aldeias para o chão.

2 – DE BEERS

Esta empresa não poupa despesas e fundos, apóia e cria guerrilha autêntica e ditaduras terroristas para continuar recebendo através da exploração de crianças e adultos, a pedra preciosa. Em Botsuana, um DeBeers foi responsabilizado pela “limpeza” do terreno onde os diamantes são extraídas, incluindo a remoção forçada dos povos indígenas que viveram há milhares de anos. O governo teria cortado o abastecimento de água, ameaçado, torturado e enforcado publicamente resistentes.

Não deixe de ir a sua responsabilidade ambiental a zero, os seus direitos trabalhistas zero, vidas humanas, e as campanhas obsoletos e sexista.

3 – PHILLIP MORRIS

Phillip Morris é a maior fabricante de cigarros nos Estados Unidos e no mundo.

São conhecidos por causar câncer em fumantes, bem como defeitos congênitos no feto, se a mãe fuma durante a gravidez. A fumaça do cigarro contém 43 agentes cancerígenos conhecidos e mais de 4.000 substâncias químicas, incluindo o monóxido de carbono, formaldeído, cianeto de hidrogênio, amônia, nicotina e arsênico. A nicotina, o principal produto químico psicoativa em rapé, tem provado ser uma dependência psicológica. O fumo aumenta a pressão sanguínea, afeta o sistema nervoso central e a constrição dos vasos sanguíneos. Pontas de cigarro são um dos principais poluentes que os fumantes normalmente derramado, tardio para se degradar. Muitos desses filtros fazem o seu caminho no solo ou na água, onde se comportam sua composição química como verdadeiros sanguessugas.

O rapé, não só polui a terra para seus vastos hectares de monocultura, que são diariamente aspersão de agrotóxicos, polui a produção industrial (usar quantidades enormes de papel, algodão, papelão, metal, combustível …), o consumo de polui o atmosfera, os danos para o comprador e aqueles ao seu redor. Sua bunda leva anos para se degradar o solo e proporcionando uma enorme quantidade de tóxico água.

4 – COCA-COLA

Bebida favorita do mundo ou “leite do Capitalismo”, reclamações e penalidades acumuladas em vários países decorrentes de atos graves de poluição, práticas trabalhistas pobres e uso de água não autorizada.

Na fase de produção, a empresa utiliza cerca de três litros de água por litro de produto acabado. Os contaminantes são descartados de água, a multinacional depositados em locais protegidos, como na Colômbia, uma situação que foi multada em agosto do ano passado, pelo Distrito do Departamento de Meio Ambiente, o prefeito de Bogotá, a demonstração de que tinha descarregado seus detritos no pantanal Capelania, área Fontibon. Este fato é considerado que ameaça uma área de especial importância e proteção ecológica. O processo de Capelania poluição Wetland decorre expiração autorização despejo concedida à multinacional há cinco anos e não autorizada pelo Ministério do Meio Ambiente para renovar essa autorização. Posteriormente, visitas técnicas foi verificado estado de esgoto Coca Cola e realização de descargas industriais, obviamente, não-autorizado.

Uma situação muito semelhante aconteceu na Índia em 2005, onde cerca de mil manifestantes marcharam para exigir a fechar a fábrica perto de Varanasi, eles estavam certos de que todas as comunidades perto de Coca-Cola fábricas de engarrafamento sofrem de falta e poluição solos e águas subterrâneas. Análise toxicológica registrou a presença de altas porcentagens de agrotóxicos proibidos, como DDT e “bons vizinhos” distribuíram seus resíduos industriais agricultores Mehdigani argumentando que serviu para “compost” O resultado é que, hoje, são solos estéreis.

E como se isso não bastasse, a bebida em questão, juntamente com o consumo de água extra não fornece qualquer nutriente, pelo contrário, para conter altas concentrações de açúcar, é um dos principais contribuintes da obesidade que afeta cada vez mais a nossas populações do terceiro mundo, por outro lado, gerando problemas dentários. E o efeito de “matar a sede” consegue por meio de ácido fosfórico.

Você sabia que …

A Espanha é o país europeu que consome mais Coca-Cola?
Outros produtos são o seu Fanta, Sprite, Aquarius, Nestea, Minute Maid, Tab, Sonfil, Finley, névoa Nordic ou Fruitopia (há 324 diferentes)?

Uma lata de 33 cl. contém cerca de 35 gr. açúcar?
Em 1931, a Coca-Cola mudou o terno de Papai Noel verde vermelha para uma campanha publicitária, combinando com a cor corporativa?

Outras universidades em Atlanta, Toronto, Califórnia, Irlanda e Berlim e expulsaram seu Campus Coca-Cola?

Garrafas plásticas de Coca-Cola em Espanha não são reciclados, mas de plástico virgem.

Coincidência que o ex-presidente mexicano Fox é o ex-representante da Coca-Cola? O Adolfo Calero, ex-gerente da Coca-Cola, a CIA eo rosto público da Contras da Nicarágua? Que tal o embaixador dos EUA para a Índia? O golpe magnata Cisneros na Venezuela? O Jorge Presno Ministro do Uruguai?
Possui escritórios em mais de 200 países, incluindo os paraísos fiscais, como Bahrain ou as Ilhas Cayman, para evitar impostos sobre os seus benefícios …

Em 2003 obteve um lucro de 21,044 milhões de dólares (metade das despesas previstas pela ONU para garantir a educação básica a todas as crianças do mundo).

Aumente lobbies poderosos: se opôs ao tratado de Kyoto através de seus lobbies Conselho dos EUA para Negócios Internacionais e da Mesa Redonda de Negócios, os regulamentos mudaram na UE através da Câmara Americana de Comércio, foi um dos fundadores do International Life Science Institute, muito influente na FAO e da OMS, etc.

Contém produtos geneticamente modificados.

A próxima vez que você vai para uma bebida, lembre-se a poluição das zonas húmidas, o uso não autorizado das águas subterrâneas, a violência, um litro é igual a três, na verdade … talvez seja melhor limonada.

5 – PFIZER

Como se o uso maciço de experimentação animal Pfizer não era doloroso o suficiente, a Pfizer decidiu usar crianças nigerianas como cobaias. Em 1996, a Pfizer viajou para Kano, Nigéria para tentar um antibiótico experimental no terceiro mundo para combater doenças como sarampo, cólera e meningite bacteriana. Deram trovafloxacina para cerca de 200 crianças. Dezenas deles morreu no experimento, enquanto muitos outros desenvolveram deformidades físicas e mentais. Pfizer também pode orgulhar-se de estar entre as dez maiores empresas da América, causando poluição do ar.

E não vamos esquecer os milionários “incentivos” que dão a médicos e governos para prescrever seus “remédios”.

6 – MCDONALD´S

A cada ano, milhares de crianças consomem fast food uma empresa que atua no desmatamento das florestas, a exploração do trabalho e morte de milhões de animais: McDonald. Estratégias de marketing inteligentemente concebido expandiram a empresa McDonald para mais de 40 países, onde a imagem empática de Ronald McDonald e seu “Happy Meal”, vendido nas crianças o gosto pela fast food, associando-a com grande alegria. Esta publicidade tem tido grande sucesso em diferentes partes do mundo, contribuindo para altos índices de obesidade infantil. ( ver artigo completo )
Feeding entregar esta empresa é totalmente desprovido de nutrientes. Além disso, este alimento é conhecido mundialmente como ‘junk food’, e não é à toa que recebe o seu nome.

Hambúrgueres e “pepitas” que oferece McDonald, de animais que ao longo de sua vida foram mantidos em condições artificiais: Private luz solar exterior, continuam superlotadas, a ponto de não ser capaz de esticar seus membros ou asas (no caso das galinhas), recheado com hormônios para acelerar o crescimento e antibióticos para combater as infecções a que são expostos pelo condições de insalubridade e superlotação. Os frangos são engordados na medida em que suas pernas não podem suportar o seu peso.

Para definir a sua franquia, McDonald compra terra barata no que antes eram florestas desmatadas para a pecuária. Dê aos seus colaboradores salários mínimos, aproveitando as minorias étnicas e contratar menores.

Produtos McDonald, com a sua rica dieta em gordura, açúcar e sal em crianças estimula o desenvolvimento de excesso de peso, resistência à insulina e diabetes tipo 2 consistente.

Ah, eu mencionei que era um dos financiadores da campanha de George W Bush?

7 – NESTLÉ

Nestlé e sua enorme manto de crimes contra o homem e a natureza, como o desmatamento maciço em Bornéu – o habitat do orangotango criticamente em perigo – para produzir óleo de palma, e comprar o leite das fazendas confiscadas ilegalmente por um déspota no Zimbabwe. Nestlé começou a provocar os ambientalistas para as suas afirmações ridículas que a água engarrafada é “verde”, a partir de então foram descobrindo seu controle rede sinistra e destruição.

Nestlé esforços globais para exortar as mães a países do terceiro mundo a usar seu bebê substituto do leite em vez de amamentação, sem avisá-los dos possíveis efeitos negativos. Supostamente, a Nestlé contratou mulheres vestidas como enfermeiras para fornecer a fórmula infantil gratuito, que era freqüentemente misturado com água contaminada, a mídia não mencionar as crianças morreram de fome quando a fórmula saiu correndo e suas mães não podiam pagar mais.

8 – BRITISH PETROLEUM (BP)

Quem pode esquecer a explosão de uma plataforma de petróleo de 2010, na Costa do Golfo, que matou 11 trabalhadores e milhares de aves, tartarugas marinhas, golfinhos e outros animais, destruindo a pesca e a indústria do turismo na região? Este não foi o primeiro crime da BP contra a natureza. De fato, entre janeiro de 1997 e março de 1998, a BP foi responsável por uma gritante 104 derramamentos de petróleo.

Treze trabalhadores da plataforma morreram em uma explosão em 1965, 15 em uma explosão de 2005. Também em 2005, uma balsa que transportava trabalhadores de petróleo da BP caiu, matando 16. Em 1991, a EPA cita a BP como a empresa mais poluidora em os EUA. Em 1999, a BP foi acusada de tóxico ilegal no Alasca, em seguida, em 2010, por vazar venenos perigosos no ar, no Texas. Em julho de 2006, os agricultores colombianos ganhou um acordo com a BP depois que a empresa foi acusada de se beneficiar de um regime de terror realizado por paramilitares do governo colombiano para proteger o OCENSA pipeline. Claramente, não há nenhuma maneira que a BP faça a coisa certa.

9 – MONSANTO

Monsanto, criadores e promotores de bovinos geneticamente modificados hormônios de crescimento e de intoxicação por agrotóxicos. A lista de Monsanto inclui a criação do “terminator” semente que cria plantas que nunca dão sementes para os agricultores devem comprar a cada ano, o lobby para rotular leite “hormone-free” e substitutos de leite para lactentes ( está presente, se ingeridos hormônios de crescimento bovino, uma substância cancerígena comprovada), bem como uma vasta gama de saúde ambiental e humana associada com o uso de venenos da Monsanto – “. Agente Laranja “, especialmente. Entre 1965 e 1972, a Monsanto despejar ilegalmente milhares de toneladas de resíduos altamente tóxicos no Reino Unido aterro. De acordo com a Agência de Meio Ambiente os produtos químicos foram poluindo as águas subterrâneas e do ar 30 anos depois que eles foram despejados!.

Monsanto é conhecida por atacar a si mesmos, que tem como objetivo “ajudar” os agricultores, quando um agricultor processado e preso a ele para salvar a semente da cultura de uma época para a outra planta.

10 – VALE

A Vale, transnacional brasileira em 38 países, é a maior exploração mineral diversificada na América Latina eo segundo no mundo. Entre as conquistas é a participação da empresa no desenvolvimento da hidrelétrica de Belo Monte, localizado em Altamira, no Brasil, uma vez que o projeto afeta o Rio Xingu, a principal fonte de vida para a região. Como resultado da intervenção da empresa, agora a paisagem amazônica está sendo alterado severamente, bem como as vidas de milhares de pessoas nas margens de um dos principais rios do Brasil.

Por sua vez, em Carajás, no Pará – Brasil-, muitas famílias foram expulsas, perderam suas casas e tenho parentes que morreram como resultado da construção da linha férrea construída pela empresa, também denunciado pelos terríveis salários e condições de trabalho sofrer seus empregados.

Os impactos sobre as atividades de mineração não estão confinadas às alegações dentro do Brasil. Na região de Tete, em Moçambique, uma aldeia foi expulsa de suas terras para que a empresa possa realizar a sua mineração de carvão. Em troca, a empresa construiu um acordo Cateme re no bairro onde as casas e os serviços públicos não atendem as condições básicas para o desenvolvimento da população.

Há, infelizmente, muitas outras empresas que devem estar presentes nesta lista, alguns, como a Samsung, Tepco, Barklays, Microsoft, Intel, Sony etc …

Como o artigo seria extremamente longo e triste, eu prometo para entregar em breve existirão as 10 melhores multinacionais? Responsável e comprometida, vai ser verdade?, Logo saberemos.

Fontes :
traduçao por www.anarquista.net
artigo em www.canalcultura.org

Brasil

Socorro, o piloto sumiu!    



A declaração de Dilma Rousseff de que Lula não tem como voltar à presidência porque na realidade nunca a deixou é mais uma manifestação da grave crise de legitimidade que atinge a presidência da República. Desacatada pelas ruas, acuada pela chamada “classe política” e isolada em seu próprio partido, Dilma descobriu tardiamente que existe uma diferença abismal entre liderança política e gerência burocrática. Para se salvar do naufrágio, decidiu pular no colo de Lula.



Despreparada para enfrentar os desafios da representação política, sem carisma para dialogar com a população e sem força até mesmo para assumir a liderança de seu próprio governo, a presidente não conseguiu emplacar uma providência sequer para responder aos clamores das ruas. Produto de puro marketing político, assiste atônita ao colapso de sua autoridade, sem saber o que fazer para conter o terremoto político provocado pelas jornadas de junho.



A incapacidade de mudar uma peça de seu inexpressivo ministério para ajustá-lo às novas exigências da conjuntura revela sua absoluta impotência para enfrentar a guerra civil que tomou conta do PT – dividido em seis chapas que se digladiam pelo controle da sigla – e a conspiração permanente de sua base aliada – companheiros Eduardo Campos, Renan Calheiros e Michel Temer à frente. Isolada no Palácio do Planalto, Dilma tornou-se uma presidente zumbi, cercada de subordinados canhestros que apostam na cartada mágica de que a crise política acabará se resolvendo por si, sem necessidade de mudança alguma, como se tudo fosse apenas um pesadelo passageiro.



Nas circunstâncias em que se encontra, mais do que a reiteração de uma parceria inquebrantável, a fusão incondicional de Dilma com Lula soa como desespero, particularmente quando se leva em consideração que, poucos dias antes, o ex-presidente, após longo e inusitado silêncio, escreveu em um jornal norte-americano que o PT precisa se renovar, descartando, assim, sem a menor sutileza, a até então companheira incondicional. Largada às feras, a presidente ameaça Lula com um abraço de afogado.



Logo após a vitória na disputa pela prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad jactou-se de ser o segundo poste eleito por Lula. Em pouco tempo, a contundência das manifestações populares contra a ordem estabelecida demonstrou de maneira irretorquível a temeridade que significa substituir lideranças autênticas por bonecos sem personalidade política própria. O feitiço virou contra o feiticeiro. O fiasco das criaturas ameaça o criador, e o criador, legítimo Macunaíma, enjeita suas criaturas.
Recomendar
Última atualização em Terça, 30 de Julho de 2013

Para ajudar o Correio da Cidadania e a construção da mídia independente

segunda-feira, 29 de julho de 2013

nouvelle vague

A NOUVELLE VAGUE
Trazendo para o blogue trabalhos marcantes de minha trajetória jornalística, recapitulo
Nouvelle vague: 30 anos qualquer noite, que escrevi em junho/1989 quando trabalhava
na Agência Estado, para venda avulsa aos veículos clientes, tendo sido publicada por
jornais e revistas de todo o Brasil. Jairo Ferreira, o último entrevistado, já faleceu.

Jean Seberg e Jean-Paul Belmondo: Acossado
Em 1959, três críticos dos Cahiers du Cinema que haviam empreendido uma implacável revisão crítica do cinema recente, trocaram a posição de estilingue pela de vidraça, lançando seus primeiros longa-metragens, corporificação dos conceitos teóricos que vinham amadurecendo ao longo dos anos anteriores.

Em fevereiro estreou Nas Garras do Vício (Le Beau Serge), de Claude Chabrol; em maio, Os Incompreendidos (Les 400 Coups), de François Truffaut; e em julho, Acossado (A Bout de Souffle), de Jean-Luc Godard.

Não houve estouros de bilheteria, mas o impacto entre a crítica, os cinéfilos e o pessoal do meio cinematográfico foi total, em 1959 e nos anos seguintes, daí o fenômeno receber da mídia uma designação charmosa, tomada da empréstimo de um artigo sobre a juventude francesa que L'Express publicara ano e meio atrás: nouvelle vague.

Mas, quando nasceu e quem realmente fazia parte da  nova onda?

As interpretações são múltiplas, já que nunca houve um movimento propriamente dito, mas sim um estilo, um certo jeito de fazer cinema, com pontos de contato e de diferenciação entre os vários cineastas.

Do núcleo de críticos dos Cahiers faziam parte também Eric Rohmer e Jacques Rivette.

Truffaut e seu pungente  Os Incompreendidos
E, entre os diretores que se revelaram à mesma época, estão Alain Resnais, Louis Malle, Agnes Varda, Philippe de Broca, Jacques Demy, Jacques Rozler e, até, Roger Vadim.

Então, há quem situe o início da nouvelle vague em 1956, quando Vadim e Brigitte Bardot sacudiram décadas de puritanismo nas telas com o deslumbrante ...E Deus criou a mulher (Et Dieu Crea la Femme).

A Cinemateca de Paris prefere o ano de 1957, em que o pessoal do Cahiers realizou seus primeiros curta-metragens e Louis Malle estreou nos longas com Ascensor Para o Cadafalso (Ascenseur Pour L'Echafaud).

E por que não 1958, ano do escândalo mundial de Os Amantes (Les Amants)? Foi neste filme que Louis Malle teve a ousadia de sugerir -- nada é realmente visto -- a prática de felação, causando comoção talvez maior do que a provocada em 1972 pela sodomia  soft  de O Último Tango em Paris.

Mas 1959 tem a maioria das preferências, não só por ser o ano do  début  do trio central da  nouvelle vague, mas também porque houve duas participações importantes dessa estética emergente no Festival de Cannes, em maio: Hiroshima, Meu Amor (Hiroshima Mon Amour), de Resnais, e Os Incompreendidos, que valeu Truffaut o prêmio de direção.

Nas Garras do Vício: um rebelde com causa.
Isto, mais o próprio fato de a Palma de Ouro ter sido arrebatada por um filme francês -- o meramente exótico Orfeu do Carnaval, de Marcel Camus -- chamou a atenção da mídia internacional para a  nova onda.

E o efeito se completou com a estréia de Acossado, colocando em primeiro plano o talento ousado e polêmico de Godard e entronizando no cinema moderno a figura do anti-herói, que seria presença dominante na década de desencanto e contestação subsequente (os anos 60). Até o western italiano beberia nessa fonte.

POBRES, MAS CRIATIVOS - Além do quem   e  quando, outra pergunta difícil, no caso da  nouvelle vague, é  o que.

Para não enveredarmos por discussões tortuosas, fiquemos com os poucos pontos de consenso.

Primeiro, trata-se de um cinema pobre, feito com equipamento leve e cenários reais. Os filmes iniciais foram financiados por heranças, empréstimos e até dotes de casamento, com a precariedade de recursos acabando por ser revertida em riqueza criativa. Assim, os diretores desenvolveram novos truques de edição, como os  cortes-saltos.

Godard redescobriu as cartelas do cinema mudo, que ganharam nova função: a de comentar a ação com citações de poetas, filósofos, estadistas, etc.

Cena final de Acossado: filmagem na rua
Também foi resgatada do cinema silencioso a  Íris, recurso através do qual se isola um detalhe da imagem numa tela completamente negra.

Dois avanços tecnológicos foram importantes para respaldar a nova proposta estética: a Cameflex, câmera leve que proporcionava a mesma rigides de imagem da câmera pesada; e a Tri-X, película bem mais rápida que as anteriores, facilitando as filmagens à noite, com luz natural.

A Cameflex permitiu efetuar tomadas perfeitas de quaisquer ângulos e até com a câmera em movimento, dando origem à célebre frase do Godard: "uma idéia na cabeça e uma câmera na mão".

Um   travelling  marcante de Acossado, p. ex., foi feito com uma Cameflex sobre uma cadeira de rodas, improvisação impossível com equipamento pesado.

Quanto à Tri-X, a ela se deve o estranho efeito de a naturalidade das sequências noturnas de Alphaville, com sua iluminação meticulosa, parecer extremamente artificial.

Outra característica fundamental da  nouvelle vague  foi contrapor ao  star-system  dos EUA a concentração de todas as funções criativas nas mãos do diretor. Assim, além de dominar a encenação, ele passa a escrever o roteiro, fazer a montagem, interferir em cada detalhe de fotografia, trilha musical, etc., tornando-se o autor indiscutível da obra.

Nos próprios créditos esta marca se evidencava, já que passou a ser usado o registro de "um filme de...", ao invés de "dirigido por...". Esta postura foi antecipada teoricamente por Alexandre Astruc, ao recomendar que o cineasta utilizasse sua câmera da mesma forma que o escritor usa sua caneta (a fórmula da camera-stylo).

Godard se tornou o exemplo extremado do  cinema do autor, ao imprimir sua personalidade de uma maneira explícita nos filmes, a ponto de ser quase o personagem oculto de todos eles.

Foi o Festival de Itararé: não houve...
O espectador tinha a impressão de que o principal acontecia atrás das câmeras e não à sua frente. Desde o Cidadão Kane, de Orson Welles, ninguém deixava tão à mostra seu ego exuberante.

Ao longo da década de 60, cada cineasta da   nouvelle vague  foi desenvolvendo seu estilo individual e se distanciando cada vez mais da bagagem comum de um grupo que, aliás, desde o início era heterogêneo.

O fim da nouvelle vague pode ser fixado em qualquer ponto da década, mas, em respeito ao traço épico da formação francesa, o melhor divisor de águas é o Festival de Cannes de maio de 1968, interrompido sob a suposição de que a verdadeira arte estava nas ruas e barricadas.

Foi um erro: o que se esgotava era a fase de maior criatividade de uma geração brilhante.

O cinema não acabou em 1968 e, exatamente nas pegadas de Godard, Chabrol, Truffaut, Resnais e Malle (principalmente) viriam Herzog, Wenders, Fassbinder, Alain Tanner, Claude Goretta, Harry Kumel, Nagisa Oshima, os nossos Rogério Sganzerla e Júlio Bressane, o filipino Lino Broka, os novos cinemas da Geórgia e de Taiwan...

A imaginação não está no poder, seja na política ou nas telas, mas os únicos avanços reais da sétima arte têm se dado nas trilhas do  cinema do autor.

Quanto ao velho burocrata de direção hollywoodiano, é um erro imaginar que ele tenha sido reabilitado: o verdadeiro artífice do cinema de massas, hoje, é o técnico de efeitos especiais...

CARLOS REICHENBACH: PERSONAGEM À DERIVA

"O pessoal da  nouvelle vague  teve uma trajetória que começou no cineclubismo, daí passou à crítica e, afinal, chegou à prática. Foi o cinema feito por quem pensava o cinema. E nisto eu me identifico com ele."

A afirmação é de Carlos Reichenbach, um dos melhores e mais prolíficos cineastas brasileiros nas últimas décadas.

Para o  Carlão, o principal na   nouvelle vague  é o lado do comportamento, "o registro de personagens à deriva, desajustados e desagradáveis".

O Carlão está em sua 5ª década de atuação
Os grandes marcos, no seu entender, são mesmo os três filmes de estréia do pessoal dos Cahiers: Nas Garras do Vício (que ele viu "umas 20 vezes" e considera o mais importante, por introduzir "um rebelde com causa"), Os Incompreendios e Acossado.

Assim ele analisa o trio central de cineastas:

    "Godard era eminentemente urbano, político por excelência. Truffaut, o cineasta da intimidade, o mais afetivo, o mais amoroso, talvez porque a vivência dele tenha sido a mais marginal de todas. E Chabrol dissecou o universo da classe média baixa, posição com a qual hoje eu me identifico, acho que os cineastas devam buscar os personagens comuns, não os de exceção".

Reichenbach vê em Louis Malle um diretor que, sem fazer parte do núcleo central da  nouvelle vague, teve algumas características semelhantes em termos estilísticos, principalmente em Ascensor Para o Cadafalso e Os Amantes.

Já Alain Resnais, a seu ver, "é   nouveau roman, não  nouvelle vague, pois rilmava em estúdio, com muito dinheiro, usando escritores como roteiristas para desenvolver uma dramaturgia literária, clássica".

Da mesma forma, acrescenta, muitos cineastas que surgiram naquela época, como Agnes Varda e Phillippe de Broca, possuíam "apenas pontos de contato formais com a  nouvelle vague, mas, dramaticamente, não tinham nada a ver".

Embora hoje aprecie mais Chabrol e considere que o único a se manter fiel às característica da  nouvelle vague   até o fim tenha sido Truffaut, o Carlão reconhece ter sofrido maior influência de Godard:

    "Foi com ele que aprendi a fazer um filme comercial subvertendo-o, abrindo para discussões mais profundas. Neste sentido, O Desprezo é insuperável, vi umas 30 vezes. Inclusive, formalmente, tem algumas sequências de grande arte".


JAIRO FERREIRA: FIM DO ACADEMICISMO

"Formalmente, a  nouvelle vague  tomou as inovações do pioneiro George Meliés e do pessoal da  avant-garde, como Jean Epstein, Lous Delluc, René Clair e Louis Buñuel. Eles usavam equipamento leve, filmavam em cenários reais e usavam todo tipo de experiências", avalia o jornalista, crítico e cineasta Jairo Ferreira, autor do livro Cinema de Invenção e dos filmes O Vampiro da Cinemateca e O Ínsigne Ficante.

Jairo reconhece, entretanto, que a  nouvelle vague  teve um papel importante:

    "Ela sacudiu o bolor do cinema europeu. Desacademizou a linguagem cinematográfica, tornando-a muito mais dinâmica, elástica e ágil.

    Foi um cinema de transgressão, que impõe a qualidade poética da imagem e os diálogos cortantes, sem ranço literário".

O saudoso Jairo: crítico, cineasta, ator...
Segundo ele, a influência da  nouvelle vague  no Brasil se deu, primeiramente, quanto à forma de realização -- a busca de soluções criativas para compensar a exiguidade do orçamento -- durante o  cinema novo: "Nesta fase, só o Ruy Guerra estava sintonizado com o espírito da coisa. Os Cafajestes é pura  nouvelle vague".

Já a geração seguinte, do  cinema marginal  ou  udigrudi, veio toda nas pegadas de Godard, no entender de Jairo Ferreira. Ele cita Rogério Sganzerla, Júlio Bressante, Neville D'Almeida, Luís Rosemberg Filho, Eliseu Visconti Cavaleiro, Andrea Tomacci, Francisco Luís de Almeida Salles, Carlos Reichenbach e Ivan Cardoso como os herdeiros brasileiros da   nouvelle vague, só deixando de fora Ozualdo Candeia ("remonta mais a Buñuel e Pasolini") e o primitivo José Mojica Marins.

"Às vezes a coisa descambava até para a imitação, como o suicídio do Bandido da Luz Vermelha, evidentemente copiado do Pierrot Le Fou, do Godard."

Para Jairo, 1968 foi o último grande ano de inovação no cinema mundial:

    "Quando Godard fechou o Festival de Cannes, marcou a reviravolta da nouvelle vague. Depois, aqueles cineastas nunca mais foram os mesmos.

    Só o Godard e o Jacques Rivette se mantiveram mais ou menos experimentais. O Truffaut se perdeu, passando a fazer os mesmos filmes que ele combatia quando era crítico.

    E a nouvelle vague foi o último grande movimento. Não será a hora de um novo?".
(Náufrago da Utopia)

Sem Destino

UMA PONTE ENTRE OS REBELDES DOS ANOS 50 E OS CONTESTADORES DOS '60

Acima, o Billy de "Sem Destino"; à esq., o jovem Clanton de "Sem Lei e Sem Alma": à dir., o Tom Ripley de "O Amigo Americano".
Dennis Hopper poderia ter sido um artista maior, se levasse mais a sério sua carreira e o próprio cinema.

Mas, preferiu aceitar praticamente todos os projetos que lhe ofereceram, os poucos ótimos, a infinidade de medianos e até alguns péssimos.

Isto confundirá ainda mais os críticos, já habitualmente confusos. Não esperem deles necrológios perspicazes...

Depois de trabalhar num e noutro seriado de TV, Hopper estreou no cinema como coadjuvante no clássico Juventude Transviada (dirigido por Nicholas Ray, 1955), filme cujo título original acabou sendo mundialmente adotado para designar aqueles jovens que não suportavam o american way of life mas ainda eram incapazes de oferecer-lhe alternativa: os rebeldes sem causa, com suas jaquetas de couro, correntes e motocicletas.

Novamente trabalhou ao lado de James Dean em Assim Caminha a Humanidade (d. George Stevens), filmado em 1955 e lançado em 1956.

James Dean e Marlon Brando (O Selvagem) foram os símbolos máximos dessa primeira geração de revoltados do pós-guerra.

O fato é que, depois das privações, do sofrimento e do morticínio, não sobreveio a paz sonhada. Pelo contrário, começou a guerra fria, a bomba atômica passou a inspirar pesadelos e paranóias, os Estados Unidos mostraram sua pior face na caça às bruxas desencadeada por McCarthy e Nixon.

O imenso desencanto foi o pano-de-fundo sobre o qual se projetaram o nascente rock'n roll e as escuderias de motoqueiros.

James Dean, entretanto, saiu da vida cedo demais, vitimado por um acidente automobilístico aos 24 anos. E, mais do que entrar na História, virou lenda: aquele que não se deixou domesticar, morrendo rebelde.

"Prefiro morrer antes de envelhecer", proclamou Pete Townshend. Mas quem fez isto foi James Dean, em setembro de 1955.

Como se tivesse herdado o pathos de James Dean, Dennis Hopper lançou uma ponte entre os revoltados de duas décadas, ao realizar o filme-manifesto Sem Destino (1969).

Além de dirigir, ele foi co-autor do roteiro, ao lado de Peter Fonda. E os dois ficaram também com os papéis principais, como hippies que querem seguir os passos de Wyatt Earp e Billy the Kid, saindo com suas imponentes Harley-Davidson (as motos como referência que remete à geração anterior...) para descobrir os verdadeiros EUA.

Só que, ao enfurnarem-se pelos estados mais atrasados, acabam se chocando com a boçalidade, o preconceito e a truculência: são gratuitamente assassinados pelos jecas.

Juntamente com o registro cinematográfico do festival de Woodstock, foi Sem Destino que apresentou ao mundo a cultura paz & amor dos hippies, bem como as novas formas de contestação que surgiam com força total e acabaram por tirar os EUA do Vietnã.

Catapultado instantaneamente para a fama, Hopper ficou tão identificado com o personagem Billy que praticamente o repetiu como o assaltante que tenta regenerar-se em Kid Blue Não Nasceu para a Forca (d. James Frawley, 1973) e como o fotógrafo pirado de Apocalypse Now (d. Francis Ford Coppola, 1979).

Para não falar do pai da lenda viva em O Selvagem da Motocicleta (d. Francis Ford Coppola, 1983), um Billy que envelheceu e foi buscar consolo na garrafa, mas manteve uma percepção aguda das coisas.

E do fruto tardio da safra de filmes contestadores que Hopper dirigiu, além de colaborar no roteiro: Out of the Blue (1980).

Mais emblemática, entretanto, foi sua participação em O Amigo Americano (1977), a obra-prima de Wim Wenders. O Tom Ripley que Hopper compôs é exatamente o pós-hippie, o cowboy angustiado da cidade desumanizada, à procura de motivos para continuar vivendo, nem que seja uma complicada forma de vingar uma pequena ofensa.

É este o seu papel magnífico, inesquecível, e não o de Frank Booth em Veludo Azul (1986), contaminado pela artificialidade intrínseca de David Lynch.

O pior é que, daí em diante, os estúdios arquivaram a imagem de hippie, substituindo-a pela de vilão: ele passou a ser cada vez mais requisitado, para fazer cara de mau em filmes piores ainda do que Blue Velvet...

Foi quando ele parece ter-se curvado à evidência dos fatos, passando a fornecer a intepretação convencional que mantinha a engrenagem funcionando e o dinheiro entrando.

Deve ter chegado à mesma conclusão como diretor, depois de realizar a obra-prima não reconhecida As Cores da Violência (1988), que detectou no nascedouro, com olhar crítico, a subcultura das drogas pesadas, do rap e dos grafites.

Entre filmes de cinema e tralha para TV, há mais de 200 títulos listados em seus 56 anos de trajetória (incluindo aqueles em que ele só contribuiu com a voz).

È pena que a morte física tenha chegado duas décadas depois da morte artística. [Se for a última imagem que ficar, coitado!]

E que, no meio de tanto calhau, as pessoas tenham dificuldade para encontrar as pedras preciosas. Que, indiscutivelmente, existem.

Daí este meu pequeno esforço para destacar aquilo pelo que Dennis Hopper deve ser respeitado e lembrado.


"O Amigo Americano": Hopper contracena com o grande
diretor Nicholas Ray, que interpreta o pintor Derwatt
(Náufrago da Utopia)

Pré-sal

Por que o governo pretende entregar o pré-sal?  
  Escrito por Fernando Siqueira  





Na sua campanha eleitoral, a presidente Dilma Rousseff derrotou o candidato José Serra porque se colocava contra as privatizações. Essa polêmica – estatal x privado – foi o diferencial que conseguiu virar as eleições e garantir a vitória no 2º turno. Ela condenou com veemência a privatização do pré-sal: “ele é o nosso passaporte para o futuro e entregá-lo é perder dinheiro”. Por que ela mudou de idéia? A nosso ver por quatro razões básicas:



1)   pressões externas – o Congresso Mundial de petróleo ocorrido em fevereiro/2013, no Riocentro, teve como tema central o lobby pela reabertura dos leilões, resultando na ida do ministro Lobão ao seu encerramento onde declarou a retomada dos leilões; o vice-presidente americano, Joe Biden veio pessoalmente “convencer” a presidenta Dilma a leiloar Libra e a presidente da Petrobrás, Graça Foster, a não se empenhar na aquisição de Libra;



2)   pressões internas – o governo precisa completar o montante do superávit primário, e um bônus de R$ 15 bilhões é o montante que vem a calhar;



3)   pressões externa/interna, face ao grave problema cambial - o déficit em conta corrente internacional está em cerca de US$ 70 bilhões e cresce avassaladoramente devido à remessa de lucros das mais de 4000 empresas que foram desnacionalizadas no governo FHC e nos governos petistas.



Portanto, o governo reage equivocadamente aos três motivos, pois, como dizia o presidente americano Woodrow Wilson: “A nação que possui petróleo em seu subsolo e o entrega a outro país para explorar não zela pelo seu futuro”.



A volta dos leilões é boa solução apenas para o cartel do petróleo, para os países petróleo-dependentes como os Estados Unidos, China, Japão e as potências européias. É uma forma de suprir suas necessidades de energia retirando-os de uma grande insegurança energética em face das suas parcas reservas.



Por outro lado, o fim dos leilões poderá gerar gasolina e gás de cozinha muito mais baratos no Brasil. Como acontece na Venezuela, por exemplo, onde a PDVSA é estatizada, permitindo que o Estado aplique mais recursos em saúde, educação, moradia, reforma agrária e em outros programas sociais. A Venezuela tem o menor índice de desigualdade da América Latina, enquanto o Brasil é o 4º pior.



Não tem sentido comprometer o futuro das gerações atual e as futuras para cobrir uma política econômica equivocada, que está impedindo que o país mais viável do planeta se transforme numa potência econômica, financeira e tecnológica. Entregar as riquezas para cobrir um déficit fiscal gerado por juros bancários que levam 45% do orçamento em detrimento da educação, saúde, segurança e infra-estrutura é inaceitável.



O déficit em conta corrente, por sua vez, criou uma bola de neve: a política econômica de FHC facilitou a desnacionalização das empresas genuinamente nacionais; a remessa de lucros dessas empresas gerou déficit em conta corrente. Passou-se a incentivar a vinda do Investimento Externo Direto – entram dólares para especular na bolsa ou comprar empresas prontas e lucrativas. Ambas as atividades geram novas remessas de lucros e nova necessidade de dólares. Um círculo vicioso que pode comprometer nosso crescimento sem necessidade.



Entregar Libra e até o pré-sal todo não resolverá o problema, ao contrário o agravará, pois o lucro das empresas será remetido para o exterior em petróleo bruto – o que, além do mais, gera uma perda de 30%, só de impostos. Portanto, a solução é usar o pré-sal, para estancar essa sangria, a começar mantendo Libra com a Petrobrás – conforme artigo 12º da lei nova, e recuperando o bem estar do povo com um bem que lhe pertence. Só Libra tem uma reserva de 15 bilhões de barris, ou seja, US$ 1,5 trilhões.



Preocupante: o cenário foi montado para entregar Libra ao cartel internacional do petróleo. O governo, ilegalmente, estrangula a Petrobrás, empresa com acionistas privados, obrigando-a a importar derivados e a vender mais barato no país para controlar a inflação. Mas não obriga as suas concorrentes a fazerem o mesmo. Assim, a Petrobrás fica fragilizada, sem condições.



Além disso, enquanto o governo não está aceitando exigir a garantia mínima de 60% do óleo lucro pra União, de um campo gigante, já descoberto e de alta produtividade, proposto no Congresso, o CNPE estabelece somente 40%, valor irrisório para o que representa o manancial do Campo de Libra, sob a alegação de não afastar interessados. Ora, se fazer leilões já não tem sentido, por termos autossuficiência para mais de 50 anos, quanto mais nas condições desse campo já perfurado, com reservas de 15 bilhões de barris e risco zero. Se alguém arrematar por menos de 60%, o leilão representará um fabuloso prejuízo.



Se algo pode afastar concorrentes é a exigência, do edital, de um pagamento de mais de R$ 2 milhões somente para participar, sem devolução, e um de R$ 15 bilhões, à vista, de bônus de assinatura do contrato, fazendo com que somente empresas de grande porte e poder político acabem concorrendo.



Não dá para aceitar isto. Vamos para as ruas. Não é pelos 20 centavos, mas por US$ 20 trilhões (mais de R$ 40 trilhões), que pertencem ao povo brasileiro e salvam o Brasil.



Fernando Siqueira , engenheiro, é vice-presidente da Aepet (Associação de Engenheiros da Petrobras).
Recomendar

Para ajudar o Correio da Cidadania e a construção da mídia independente

domingo, 28 de julho de 2013

Pré-sal

Por que o governo pretende entregar o pré-sal?      
Escrito por Fernando Siqueira  






Na sua campanha eleitoral, a presidente Dilma Rousseff derrotou o candidato José Serra porque se colocava contra as privatizações. Essa polêmica – estatal x privado – foi o diferencial que conseguiu virar as eleições e garantir a vitória no 2º turno. Ela condenou com veemência a privatização do pré-sal: “ele é o nosso passaporte para o futuro e entregá-lo é perder dinheiro”. Por que ela mudou de idéia? A nosso ver por quatro razões básicas:



1)   pressões externas – o Congresso Mundial de petróleo ocorrido em fevereiro/2013, no Riocentro, teve como tema central o lobby pela reabertura dos leilões, resultando na ida do ministro Lobão ao seu encerramento onde declarou a retomada dos leilões; o vice-presidente americano, Joe Biden veio pessoalmente “convencer” a presidenta Dilma a leiloar Libra e a presidente da Petrobrás, Graça Foster, a não se empenhar na aquisição de Libra;



2)   pressões internas – o governo precisa completar o montante do superávit primário, e um bônus de R$ 15 bilhões é o montante que vem a calhar;



3)   pressões externa/interna, face ao grave problema cambial - o déficit em conta corrente internacional está em cerca de US$ 70 bilhões e cresce avassaladoramente devido à remessa de lucros das mais de 4000 empresas que foram desnacionalizadas no governo FHC e nos governos petistas.



Portanto, o governo reage equivocadamente aos três motivos, pois, como dizia o presidente americano Woodrow Wilson: “A nação que possui petróleo em seu subsolo e o entrega a outro país para explorar não zela pelo seu futuro”.



A volta dos leilões é boa solução apenas para o cartel do petróleo, para os países petróleo-dependentes como os Estados Unidos, China, Japão e as potências européias. É uma forma de suprir suas necessidades de energia retirando-os de uma grande insegurança energética em face das suas parcas reservas.



Por outro lado, o fim dos leilões poderá gerar gasolina e gás de cozinha muito mais baratos no Brasil. Como acontece na Venezuela, por exemplo, onde a PDVSA é estatizada, permitindo que o Estado aplique mais recursos em saúde, educação, moradia, reforma agrária e em outros programas sociais. A Venezuela tem o menor índice de desigualdade da América Latina, enquanto o Brasil é o 4º pior.



Não tem sentido comprometer o futuro das gerações atual e as futuras para cobrir uma política econômica equivocada, que está impedindo que o país mais viável do planeta se transforme numa potência econômica, financeira e tecnológica. Entregar as riquezas para cobrir um déficit fiscal gerado por juros bancários que levam 45% do orçamento em detrimento da educação, saúde, segurança e infra-estrutura é inaceitável.



O déficit em conta corrente, por sua vez, criou uma bola de neve: a política econômica de FHC facilitou a desnacionalização das empresas genuinamente nacionais; a remessa de lucros dessas empresas gerou déficit em conta corrente. Passou-se a incentivar a vinda do Investimento Externo Direto – entram dólares para especular na bolsa ou comprar empresas prontas e lucrativas. Ambas as atividades geram novas remessas de lucros e nova necessidade de dólares. Um círculo vicioso que pode comprometer nosso crescimento sem necessidade.



Entregar Libra e até o pré-sal todo não resolverá o problema, ao contrário o agravará, pois o lucro das empresas será remetido para o exterior em petróleo bruto – o que, além do mais, gera uma perda de 30%, só de impostos. Portanto, a solução é usar o pré-sal, para estancar essa sangria, a começar mantendo Libra com a Petrobrás – conforme artigo 12º da lei nova, e recuperando o bem estar do povo com um bem que lhe pertence. Só Libra tem uma reserva de 15 bilhões de barris, ou seja, US$ 1,5 trilhões.



Preocupante: o cenário foi montado para entregar Libra ao cartel internacional do petróleo. O governo, ilegalmente, estrangula a Petrobrás, empresa com acionistas privados, obrigando-a a importar derivados e a vender mais barato no país para controlar a inflação. Mas não obriga as suas concorrentes a fazerem o mesmo. Assim, a Petrobrás fica fragilizada, sem condições.



Além disso, enquanto o governo não está aceitando exigir a garantia mínima de 60% do óleo lucro pra União, de um campo gigante, já descoberto e de alta produtividade, proposto no Congresso, o CNPE estabelece somente 40%, valor irrisório para o que representa o manancial do Campo de Libra, sob a alegação de não afastar interessados. Ora, se fazer leilões já não tem sentido, por termos autossuficiência para mais de 50 anos, quanto mais nas condições desse campo já perfurado, com reservas de 15 bilhões de barris e risco zero. Se alguém arrematar por menos de 60%, o leilão representará um fabuloso prejuízo.



Se algo pode afastar concorrentes é a exigência, do edital, de um pagamento de mais de R$ 2 milhões somente para participar, sem devolução, e um de R$ 15 bilhões, à vista, de bônus de assinatura do contrato, fazendo com que somente empresas de grande porte e poder político acabem concorrendo.



Não dá para aceitar isto. Vamos para as ruas. Não é pelos 20 centavos, mas por US$ 20 trilhões (mais de R$ 40 trilhões), que pertencem ao povo brasileiro e salvam o Brasil.



Fernando Siqueira , engenheiro, é vice-presidente da Aepet (Associação de Engenheiros da Petrobras).
Recomendar

Para ajudar o Correio da Cidadania e a construção da mídia independente

sábado, 27 de julho de 2013

Munch

Edvard Munch: um grito infindável
publicado em artes e ideias por Ana Filipa Carvalho | 7 comentários

A obra-prima de Edvard Munch, O Grito, acaba de ser vendida pelo preço recorde, em leilão, de 120 milhões de dólares na casa Sotheby´s, tornando-se na obra-de-arte mais cara de sempre a ser leiloada. O que torna este quadro tão marcante na história da arte?



O quadro " O Grito " tornou-se uma das obras-de-arte mais reconhecidas em todo o mundo só suplantada pela “ Mona Lisa " de Leonardo Da Vinci. Este último leilão veio comprovar esse facto. Mas o que tornará esta obra de arte tão famosa e apelativa? Será a misteriosa figura central do seu quadro? Será a dor intensa que este personifica ? Serão as cores tortuosas que nos tocam a alma? Será uma identificação que inconscientemente fazemos quando somos confrontados com a sua angústia ?

Ou adoramos "O Grito" por simplesmente ser um quadro humano. Terrivelmente humano. Humano no sentido em que nos toca, pois em algum momento das nossas vidas nos sentimos como a personagem. Como o artista. É-nos familiar.
Ao contrário de outras obras de arte que irradiam beleza mas igualmente uma certa plasticidade, um certo mundo de fantasia inatingível aos olhos do público, "O Grito" é profundamente emotivo. É, numa palavra, expressionista. É o auge do Expressionismo.

Edvard Munch é claramente um dos representantes máximos do movimento expressionista. Nasceu em Løten, na Noruega a 12 de Dezembro de 1863. Desistiu de estudar engenharia e decidiu ser pintor aos dezassete anos. Inscreveu-se na Academia de Desenho de Oslo em 1881, tendo logo nesse ano vendido dois quadros e pintado o seu primeiro auto-retrato. A morte, a efemeridade da vida e a melancolia atormentaram Edvard desde cedo. A sua mãe morrera quando tinha 5 anos e a irmã mais nova morrera com 15 anos. Foram traumas que sempre o acompanharam artística e pessoalmente. “ Pintei as impressões da minha infância, as cores esbatidas de um dia esquecido “, disse Edvard Munch.


Em 1893 pinta “O Grito”, incluído na série “ O Friso da Vida”. É uma obra efectuada em óleo, têmpera e pastel em cartão de pequenas dimensões: 91 x 73.5 cm. Há uma série de factores que influenciaram Munch para a realização deste quadro. Desde já, um período em que esteve doente em Nice, em 1892. Edvard escreveu em seu diário o momento que por certo o inspirou a pintar a sua obra: “ Estava a passear cá fora com dois amigos, e o Sol começava a pôr-se - de repente o céu ficou vermelho, cor de sangue - Parei, sentia-me exausto e apoiei-me a uma cerca – havia sangue e língua de fogo por cima do fiorde azul-escuro e da cidade – os meus amigos continuaram a andar e eu ali fiquei, de pé, a tremer de medo – e senti um grito infindável a atravessar a Natureza “.

Outras fontes literárias serviram de inspiração a Edvard nomeadamente a obra de Fiodor Dostoievski, um dos preferidos do pintor, e do filósofo Soren Kierkegaard. Deste último, a citação que a seguir transcrevo encaixa perfeitamente na visão pictórica que o quadro nos dá: “ A minha alma está tão pesada que nenhum pensamento nunca mais a poderá elevar, nem nenhuma batida de asas a conduz ao alto para o espaço celeste. Se alguma coisa a mover de alguma forma, ela apenas raspará o chão, como um pássaro a voar baixo após a tempestade. A opressão e a ansiedade estão a meditar rancorosamente no meu interior, pressentindo um tremor de terra “. Por conseguinte o quadro transmite-nos uma angústia intensa, quase um ataque de pânico visual perante um céu sangrento que poderia simbolizar o coração desfeito, a esperança perdida e o desespero que Munch sentia e o seu expressionismo com mestria nos revela.


É curioso que existam várias versões diferentes deste quadro para além da obra de 1893. Em todas o carimbo emocional de Munch está presente para nos recordar que o lado negro da vida pode ser belo. Para além de "O Grito", outra obra-prima do pintor é o quadro “ A Madona” de 1894/95, fabuloso retrato enigmático de uma mulher. Uma imagem extremamente sensual e ambígua. Edvard Munch escrevera sobre o quadro: “ Aquele intervalo em que o mundo pára no seu curso – Toda a beleza do globo está na tua face- Os teus lábios enrubescem tal como o fruto que está para nascer rebenta como se estivesse em sofrimento - O sorriso de um cadáver - Agora a vida dá as mãos à Morte - A corrente está ligada, unindo milhares de gerações dos mortos às milhares de gerações dos que ainda estão para vir “.

Voltando ao nosso tema inicial. “O Grito”, como curiosidade, foi roubado em 1994 em plena luz do dia na Noruega, tendo a policia conseguido recuperá-lo após um primeiro resgate de 1 milhão de dólares. Voltou novamente a sê-lo em 2004 juntamente com o quadro "A Madona" . Apenas passados dois anos os quadros foram recuperados, mas com danos físicos consideráveis.

A versão vendida no leilão de Maio era no entanto de Petter Olsen, cujo pai foi amigo e vizinho de Munch. Segundo testemunhas no leilão «Sete candidatos lutaram por mais de 12 minutos antes de o martelo descer e estabelecer o novo recorde mundial».

Em 1944 Edvard Munch morre e doa a sua propriedade à cidade de Oslo, onde está instalado o “ Munch-Museum” criado para celebrar o centenário do seu nascimento. Passados 68, anos a consagração mundial indiscutível de Edvard Munch tem lugar em Nova Iorque, assim como a sua oficial imortalidade. A possível resposta ao facto de esta pintura ser tão especial é dada sob o som de um martelar seco, preciso, e sentenciada com uma palavra ecoando sobre a sala apinhada “ Vendido! ”.


«Na realidade a minha arte é uma confissão feita da minha própria e livre vontade, uma tentativa de tornar clara a minha própria noção da Vida…no fundo é uma espécie de egoísmo, mas não desistirei de ter esperança de que, com a sua intervenção, eu possa ser capaz de ajudar outros a atingir a sua própria clareza .» Edvard Munch



anafilipa
Ana Filipa Carvalho Estudante de Belas-Artes apaixonada por todas as formas de arte mas com um fraquinho especial por música. Saiba como fazer parte da obvious.

Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2012/06/edvard_munch_um_grito_infindavel.html#ixzz2ZilnrZDi

Indústria Farmacêutica

Quem resgatará a indústria farmacêutica
Por
Martha Rosenberg


Pode ser você: vêm aí testosterona spray, ritalina plus, patologização da insônia, “controle de distúrbios imunológicos” e outras promessas fármaco-publicitárias…

 Por Martha Rosenberg, no Alternet | Tradução: Gabriela Leite

Está chegando ao fim, para a indústria farmacêutica mundial, a farra de lucros com alguns dos medicamentos mais vendidos. Nos Estados Unidos, expiraram as patentes de comprimidos como Lipitor, Seroquel, Zyprexa, Singulaire Concerta. Mas não se preocupe, Wall Street. A indústria farmacêutica não vai desapontar suas expectativas de ganhos só porque pouca ou nenhuma droga nova está surgindo e porque falhou na sua razão mesma de existir. Eis aqui seis novas iniciativas do marketing farmacêutico que vão garantir que as expectativas dos investidores continuem altas, par-e-passo com as mensalidades dos seguros-saúde. O segredo? Reciclar drogas antigas e descreditadas e explorar o marketing de doenças para vender algumas poucas novas drogas.

1. Repaginando a Ritalina

Agora que a indústria farmacêutica foi bem sucedida ao conseguir que cinco milhões de crianças de quatro a oito milhoes de adultos fossem diagnosticados com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), está procurando novos mercados para as drogas. Um novo uso da Ritalina (metilfenidato), a avó das drogas para TDAH, poderia ser para tratar transtornos alimentares. Pesquisadores dizem que uma mulher que sofreu de bulimia nervosa, transtorno bipolar I, dependência de cocaína e álcool, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade e transtorno do pânico “conseguiu uma remissão sustentada (por mais de um ano)” quando o metilfenidato foi adicionado à sua lista de remédios.

Mas também existem as grávidas. Um novo artigo sugere que tirar o metilfenidato durante a gravidez de uma mulher pode “representar risco significativo” e que, “em todos os casos, as crianças se desenvolveram normalmente e nenhum efeito adverso foi relatado,” apesar de terem sido expostas no útero. Sim, crianças podem receber medicamentos para TDAH na mais tenra idade: ainda como fetos.

A indústria farmacêutica também está de olho nos idosos, como um novo mercado para as drogas que tratam TDAH. O metilfenidato pode “melhorar a função da caminhada nos mais velhos”, escreveram pesquisadores recentemente. E uma grande clínica patrocinada pela Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg está a caminho de descobrir se o metilfenidato pode reduzir a apatia em pacientes com Alzheimer. É claro que muitos pacientes com esse mal não têm apatia, mas agitação e agressividade; estes serão excluídos.

2) Reposição hormonal masculina

Mulheres acima de 40 anos devem sentir um élan de justiça médica, diante do novo impulso para o tratamento do “Baixo T” nos homens, uma “doença” recente que agora está sendo agressivamente comercializada, incentivando a reposição de testosterona. Por mais de 50 anos, as publicações médicas foram implacáveis em dizer às mulheres que elas estavam “sobrevivendo aos seus ovários” (frase de propaganda real) e que a única esperança para manter a aparência, o marido e a sanidade era a reposição hormonal. Agora, são os homens que estão ouvindo que a decaída no desempenho sexual e na energia, perda de massa muscular e ganho de peso os colocam na mesma posição. A lacuna em ambas campanhas de marketing é o fato de que pessoas não ficam velhas porque perdem hormônios; elas perdem hormônios porque estão ficando velhas.

Muitos produtos de reposição de testosterona têm sido aprovados pela FDA [Food and Drug Administration, agência reguladora da indústria farmacêutica nos Estados Unidos]: pílulas, injeções e adesivos a géis e soluções para uso tópico. Em novembro, foi aprovado o primeiro produto de reposição de testosterona feito para ser aplicado nas axilas, como um desodorante.

Os produtos de TRH (terapia de reposição hormonal) masculinos também implicamriscos. Eles podem agravar problemas benignos de próstata, causar falha do coração, apneia, toxidade hepática e possivelmente estimular o câncer de próstata, apesar de este permanecer como um risco teórico. Testosterona injetada tem sido associada a embolias e reações alérgicas extremas (anafilaxia), sendo que ambas podem ser fatais. Homens que tomam Propecia contra a perda de cabelo podem especialmente desenvolver baixa testosterona, o que pode não ser reversível, pois reduz-se uma enzima envolvida na síntese do hormônio.

3) Tratar dependentes de álcool e drogas como doentes mentais que precisam de vacinas

Uma das poucas coisas boas no alcoolismo e na adição às drogas é que eles podem ser tratados de graça. Programas de doze passos como o dos Alcoólicos Anônimos utilizam grupos de apoio em vez de drogas, pessoal treinado ou seguro-saúde – e funciona. Não surpreende que as milhões de pessoas que se recuperam sem a ajuda da indústria farmacêutica sejam o seu mais recente alvo, na tentativa de alavancar receitas. Cada vez mais, as corporações estão pressionando clínicas de reabilitação e médicos a imputar diagnósticos de doença mental a pacientes em recuperação, para vender medicamentos caros.

Pior, Nora Volkow, a chefe do Instituto Nacional de Abuso de Drogas dos Estados Unidos, está conduzindo experimentos cruéis em primatas na tentativa de desenvolver uma vacina para alcoolismo ou dependência. Existe algum alcoólico ou viciado no mundo que tomaria uma dessas vacinas? Ela não sabe que bebidas e drogas são divertidas (até determinado momento…) e que ninguém quer parar com elas antes da festa acabar? Ela não sabe que quando beber e usar drogas deixa de ser divertido, uma coisa chamada negação se abate e os aditos novamente não vão tomar sua vacina?

Essas vacinas para vícios serão vendidas a pessoas “em risco” de dependência com base em seu histórico familiar e varreduras de seu cérebros, o que soa um pouco, digamos, não-voluntário. E a comercialização de tratamentos precoces agressivos para doenças que pessoas nem têm ainda (“pré-osteoporose”, “pré-diabetes”, “pré-asma” e “pré-doenças mentais”) é um modelo de negócio infalível para a indústria farmacêutica porque as pessoas nunca saberão sequer se vão precisar dessas drogas – ou se precisam agora.

4) Patologizar a insônia

A insônia tem sido uma mina de ouro para a indústria dos medicamentos. Para encher os bolsos no mercado da insônia, as corporações criaram subcategorias para o problema – crônica, aguda, transitória, de início retardado e no meio-da-noite, assim como o despertar cansado. Sua insônia é tão única quanto você! Tampouco é coincidência que as medicações para “manter acordado” causem insônia e que as drogas para insônia, em razão da ressaca, criem o mercado das drogas para manter acordado.

Agora a indústria está anunciando que a insônia é na verdade um fator de “risco” para adepressão e que “tratar a insônia pode ajudar a tratar a depressão”. O novo Manual de Diagnósticos e Estatística (DSM-5 [Diagnostic and Statistical Manual]) da Associação Norte-Americana de Psiquiatria que saiu em maio [leia mais a respeito, em Outras Palavras] também acaba de patologizar o sono. Considerada a bíblia dos tratamentos com drogas psiquiátricas, a última versão do DSM trouxe uma revisão do modo como a insônia é diagnosticada e classificada. “Se o distúrbio do sono é persistente e prejudica o funcionamento do corpo ao longo do dia, ele deve ser reconhecido e tratado”, escrevem os autores em um artigo na edição de dezembro da Journal of Clinical Psychiatry [Revista de Psiquiatria Clínica].

5) “Vender” doenças imunológicas crônicas

A artrite reumatóide, artrite psoriática, a espondilite anquilosante e a psoríase em placas são transtornos raros, mas você não saberia disso pelos últimos esforços da indústria farmacêutica. Suas condições autoimunes são cada vez mais tratadas com medicamentos frutos de engenharia genética injetáveis como Humira, Remicide,Enbrel e Cimzia, que dão às corporações 20 mil dólares por ano por paciente. Não causa espanto que uma recente campanha publicitária tente convencer as pessoas com dores nas costas “que nunca passam” de que elas realmente têm espondilite anquilosante. Não espanta que a propaganda da “AR” (artrite reumatóide) esteja por todos os lugares e as de remédios para psoríase em placas prometam “pele mais clara” como se fossem cremes de beleza. Em Chicago (EUA), propagandas de drogas caras e injetáveis apareceram em jornais de universidades, como se fossem para a população em geral, não para pessoas com doenças incomuns.

Como tais drogas, chamadas de inibidoras de TNF, suprimem o sistema imunológico, elas atraem super infecções bactericidas e fúnguicas, herpes e cânceres raros, estes principalmente em crianças. Eles estão conectados com o crescimento de hospitalizações, reações alérgicas extremas e eventos cardiovasculares, tudo o que a indústria farmacêutica tenta minimizar. Bloqueadores de TNF também são vendidos para o enfraquecimento dos ossos e asma, condições que iriam raramente garantir seus riscos. Xolair, vendido para asma apesar dos avisos da FDA, recentemente foi muito falado como um grande tratamento para a coceira crônica.

6) A reciclagem do Neurontin

A apreensão da droga Neurontin (gabapentin) não foi o melhor momento da indústria de medicamentos. Uma repartição da Pfizer Inc. foi declarada culpada, em 2008, por promover o remédio para o transtorno bipolar, dores, enxaquecas e para afastar as drogas e o álcool, quando tinha sido aprovado apenas para neuralgia pós-herpética, epilepsia e dor causada por herpes zoster. A multa foi de 430 milhões de dólares. Ops. A Pfizer realmente promoveu os usos ilegais enquanto estava sob inquérito por atividades ilegais relacionadas ao Lipitor; e mais tarde promoveu usos ilegais para uma droga similar, a Lyrica, enquanto estava sob o acordo relacionado ao Neurontin! Ela parece, de fato, incorrigível.

Para vender Neurontin, a Parke-Davis, da Pfizer, lançou um elaborado “plano de publicação”, cujo objetivo era conseguir peças de marketing disfarçadas de ciência, em revistas médicas. Em apenas três anos, a Parke-Davis colocou 13 artigos escritos por fantasmas em publicações de medicina, promovendo usos que estão fora da bula para o Neurontin. Isso incluiu um suplemento no prestigioso Cleveland Clinic Journal of Medicine (Revista Clínica de Medicina de Cleveland, tradução livre), que a empresa transformou em 43 mil reimpressões disseminadas por seus representantes. “Veja, doutor, dizem aqui que…”

E há ainda mais duplicidade. Em 2011, três anos antes do acordo de 430 milhões de dólares, a tentativa da Pfizer chamada STEPS (“Study of Neurontin: Titrate to Effect, Profile of Safety” — “Estudo da Neurontin: dosagem efetiva, perfil de segurança”, tradução livre) foi denunciado por também ser publicidade, e não um estudo científico; era uma ferramenta de vendas criada para inspirar os 772 investigadores que participavam do experimento a prescrever o Neurontin.

Recentemente, os novos usos do remédio para tosse crônica, menopausa einsônia estão aparecendo na literatura científica. Por que ninguém parece acreditar neles?
(Outras Palavras)

Saldo das Manifestações

Para desempatar o jogo
Por

Saldo das mobilizações de junho ainda é ambíguo. É hora de impulsionar novas pautas e enfrentar manipulação da mídia

Por Vinícius Souza e Maria Eugênia Sá

Junho de 2013 não será esquecido tão cedo. Pela primeira vez desde a campanha pelo impeachment do ex-presidente Fernando Collor, centenas de milhares de pessoas foram (e algumas continuam indo) às ruas gritar por direitos, por projetos, protestar contra uma infinidade de fatos e apoiar causas das quais muitas vezes não têm a mínima informação. Os grupos que iniciaram esses protestos, como o Movimento Passe Livre (MPL), perderam rapidamente o controle e o rumo das massas.

Percebendo a chance de aproveitar as passeatas para desgastar o governo federal, a grande mídia muda radicalmente seu discurso (literalmente do dia para a noite) e propagandeia bandeiras mais do que suspeitas, de modo a contemplar interesses específicos e diluir tudo o mais numa pauta infinita de reivindicações abstratas. Jornais, revistas e TVs usam todo o seu conhecimento sobre o funcionamento da indústria cultural, construído ao longo de mais de cem anos, para introduzir como gritos de guerra slogans vazios retirados de propagandas comerciais como “o gigante acordou” (Johnny Walker – “estranhamente” semelhante a palavras de ordem evocadas na fatídica Marcha da Família com Deus pela Liberdadede 1964) e “vem pra rua” (Fiat).

Ato contínuo, policiais à paisana e grupos de extrema direita, como skinheads, infiltram-se nas manifestações incitando atos de vandalismo de jovens pobres sedentos por adrenalina e expulsando com grande violência ativistas de partidos de esquerda que nunca dormiram ou saíram das ruas. As bases para um golpe jurídico/midiático no estilo dos realizados recentemente no Paraguai e Honduras, estão lançadas, sob os aplausos de uma oposição sem projeto, apelo ou apoio popular. Mas, num gesto de argúcia política, a presidenta Dilma vira o jogo em dois discursos e uma série de reuniões com movimentos e partidos, usando a vontade de participação direta da população na política para impulsionar projetos discutidos sem resultado há décadas no Congresso.

A volta do debate

Uma coisa não se pode negar aos meninos do MPL: eles trouxeram de volta às ruas e às redes o ato de discutir política, um tema quase tabu até ontem, mesmo nas mesas de bar. E, ainda mais incrível, no meio de um torneio mundial de futebol vencido por um bom time brasileiro, como há décadas não se via.

Isso não é pouco se pensarmos que a moçada, especialmente da “nova classe média”, cresceu ouvindo dizer que somente carnaval e futebol unem o Brasil, que todo político é ladrão e que não existe mais esquerda e direita. Por isso vídeos simples e diretos, como o do PC Siqueira são fundamentais para explicar conceitos básicos que a maioria não aprendeu na escola e que muitos não discutem nas universidades privadas que preparam “para o trabalho” e não para a cidadania.

Os memes de internet, como o vídeo citado, sátiras, cartuns e outras formas de expressão de ideias na rede, fazem parte da cultura dessa juventude e a impulsionou para além das telas, alcançando as praças e avenidas. Obviamente, a indústria do marketing descobriu seu potencial de mobilização (pela vertente do consumo) antes dos cientistas políticos. Um exemplo do ativismo que saiu do Facebook e influiu decisivamente na política real foi o evento Amor Sim, Russomano Não, que ajudou a desmascarar uma candidatura de direita apoiada pela igreja evangélica, que queria transformar cidadãos em “consumidores de serviços públicos”. As festas na Praça Roosevelt, rebatizada Praça Rosa, com mais de 20 mil pessoas, apesar de “apartidárias”, empurraram o candidato do PT, Fernando Haddad, à vitória nas eleições para prefeito de São Paulo. As tentativas do PSDB em criar seus próprios eventos nos mesmos moldes não conseguiram juntar mais do que 200 apoiadores na praça. Assim, o território virtual segue numa imensa disputa pelos corações e mentes das novas gerações.

A captura pela grande mídia

A tomada das ruas por centenas de milhares de pessoas, contudo, não pode ser atribuída exclusivamente às redes sociais. O conhecido e longamente estudado papel dos oligopólios dos meios de comunicação de massa no imaginário e nas ações das populações tem se destacado mais uma vez. O claro ponto de inflexão foi a semana de 10 de junho, quando a Veja São Paulo trazia que “a cidade” “pagava o pato” pelas manifestações, Arnaldo Jabor chamava os manifestantes de criminosos na Globo e Folha e Estadão trouxeram editoriais exigindo da polícia e dos governos “medidas enérgicas” para devolver aos cidadãos de bem o “direito de ir e vir” com seus carros. Seu enclave simbólico era a avenida Paulista, que não podia ter o tráfego interrompido devido aos diversos hospitais na região. Depois de segunda, 17 de junho, a via tem sido fechada praticamente todas as noites, sem que saiba notícia de um único paciente em ambulância que tenha morrido por causa disso.

A esquerda organizada sempre esteve presente nos movimentos sociais e nas ruas, sem no entanto conseguir contagiar as “massas” depois da redemocratização. E quando conseguia números expressivos de participação popular em marchas que cortaram o país, normalmente era reprimida e jamais devidamente representada nos telejornais. Vereadores e deputados do PT, por exemplo, sofreram o mesmo peso da PM e da Guarda Civil Metropolitana, com bombas de gás e balas de borracha, ombro a ombro com integrantes do MPL quando o ex-prefeito Gilberto Kassab (sucessor de José Serra) aumentou as tarifas de ônibus acima da inflação em 2011. Obviamente isso não saiu no Jornal Nacional.

Mas quando o governador Geraldo Alckmin, do PSDB, manda no dia 13 a cavalaria, a Tropa de Choque e os batalhões do Tático Móvel e Rocam lançarem sua violência indistintamente contra manifestantes, transeuntes e até a grande mídia, ferindo vários jornalistas da Folha de S. Paulo, a coisa muda de figura. É impagável a cena do âncora da Band, Boris Casoy, que teria pertencido no final dos anos 1960 ao Comando de Caça aos Comunistas da Universidade Mackenzie, tendo de admitir, com voz trêmula, que a polícia atirou primeiro e usou força excessiva.

Sem condição de segurar a torrente de vídeos e fotos da violência policial, a imprensa muda de estratégia. As manifestações passam a ser retratadas como grandes contingentes cívicos, pintados de verde e amarelo, tentando segurar pequenos grupos de vândalos desordeiros, esses sim merecedores de gás lacrimogêneo e balas de borracha. Ao mesmo tempo, a pauta muda. Já não se trata mais dos preços das passagens e da repressão oficial que continua a matar nas periferias, mas “contra tudo o que está aí”, “tanta coisa que não cabe num cartaz”, brasileiros patriotas contra os “desmandos” e a “corrupção” do governo, especialmente o Federal. Arnaldo Jabor pede desculpas na CBN por chamar os manifestantes de criminosos para emendar que a causa “real” dos protestos é a insatisfação geral com os governantes e, veja só, a “inflação”.

As pautas oportunistas

Entre todas as pautas oportunistas, no entanto, a escolhida como primeira grande meta é a derrubada no Congresso da Proposta de Emenda Constitucional número 37, a PEC37, que regulamentaria as atividades do Ministério Público.

Chamada maliciosamente de “PEC da Imunidade”, era apresentada como o fim das investigações sobre políticos corruptos. Nenhum grande meio de comunicação disse à população que os partidos contrários à proposta, especialmente DEM e PSDB, estavam entre os três (junto com o PMDB) que tiveram mais parlamentares cassados por corrupção nesse século. Não houve qualquer tipo de discussão ou debate mais profundo sobre o tema, mas em questão de horas dezenas de milhares de cartazes bem feitos, laminados em plástico, e grandes faixas plotadas em material nobre foram distribuídos entre os manifestantes de norte a sul do Brasil. Ninguém disse quem pagou por isso, mas as TVs fizeram questão de mostrar a “reivindicação cívica da população” em seus noticiários e nas bocas dos comentaristas. Pressionado pela mídia, o Congresso votou em peso contra a proposta.

Com o apoio da imprensa, protestos isolados tornam-se catárticos, arregimentando centenas de milhares de pessoas que gritam contra os partidos e levantam bandeiras fascistas que incluem a volta dos militares ao poder, a diminuição da maioridade penal, a pena de morte, a criminalização do aborto…

A eles se somam cartazes contra a importação de médicos estrangeiros, por hospitais com “padrão FIFA”, contra o “ato médico”, por mais saúde e educação, contra o pastor/deputado Marcos Feliciano, pela liberação da maconha, contra a Copa do Mundo, pela prisão dos “mensaleiros”, contra a Usina de Belo Monte, pelo impeachment da presidenta, e uma infinidade de outras. É importante notar, contudo, que os oligopólios midiáticos, assim como a esquerda, não têm controle sobre temas, tamanho ou impacto real das manifestações. Diferente do mundo em que os meios de comunicação de massa unidirecionais produziam um “efeito manada” a seu bel prazer, na sociedade em redes de comunicação em que vivemos, o melhor termo para o que ocorre é o swarming, ou, em português, enxameamento. As ideias se reúnem em grupos como enxames de abelhas, que apesar de terem comportamento semelhantes agem separadamente, com objetivos próprios.

Assim, entender o funcionamento e as dinâmicas de uma população conectada via Internet e usar as mesmas ferramentas é fundamental. Nesse sentido é temeroso o pouco e burocrático uso de canais como o Blog do Planalto e o Twitter da Dilma, que poderiam ter servido de boa ponte direta com a população e com coletivos que iniciaram os protestos. Pior, só a falta de regulamentação dos meios de comunicação, cujas propostas objetivas, sistematizadas nos principais municípios e todos os estados brasileiros no processo da Confecom, em 2009, seguem na gaveta do Ministro Paulo Bernardo. O político, aliás, bem no meio de junho, concedeu longa entrevista à revista Veja, baluarte da imprensa de extrema direita, em que é chamado de “bom petista” ao afirmar que o PT tem “obsessão de censurar a imprensa” e ao endossar a visão de que “os manifestantes estão protestando contra tudo”.

O Governo contra-ataca

Vendo o perigo para o país e para o seu governo, a presidenta Dilma, por outro lado, decide falar diretamente com a população em um pronunciamento em rede nacional na noite de 21 de junho. Ela tenta contemporizar com os mais diversos setores e até certo ponto aceita a pauta “contra tudo” ditada pela mídia, citando a corrupção, as necessidades de melhorias na educação e na saúde e as “minorias truculentas”. Não deixa de falar, contudo, da história de luta pela democracia no país “para que a voz das ruas fosse ouvida”. E aí ela dá os informes essenciais: o anúncio de um pacto pela mobilidade urbana (para atacar a primeira e mais objetiva reivindicação dos protestos); a pressão para a aprovação no Congresso de 100% dos royalties do petróleo para a educação; a importação de médicos para atender melhor a população; e a disponibilidade de receber pessoalmente os representantes dos movimentos organizados, sindicalistas e políticos.

De fato, na segunda 24, ela recebe todos os governadores e prefeitos das capitais para lançar na mesa uma proposta que pode realmente mudar o Brasil: um plebiscito sobre a reforma política que o Congresso, por seus interesses corporativos, não conseguiu votar nos últimos 30 anos. É um gesto político digno de uma grande estadista e que, segundo o especialista em sociedades em rede Manuel Castells, a separa de outros governantes por ser “a primeira líder mundial que presta atenção, que ouve as demandas de pessoas nas ruas”. E ainda, a presidenta levou a oposição, que não poderia dar o braço a torcer, a dizer que consulta popular é antidemocrático. Depois de sentar com representantes do MPL e outros movimentos sociais, de receber os líderes das centrais sindicais e dos partidos aliados, Dilma viu, ainda, a oposição “tão democrática” se recusar a dialogar alegando que o convite foi feito muito em cima da hora.

Melhor do que isso, só se também estivessem na pauta mais visível as questões da violência policial e da democratização dos meios de comunicação. Ambas afetam diariamente a vida de milhões de brasileiros fora da elite econômica. A segunda, no entanto, seria de enorme ajuda nos próximos meses, para desfazer as mentiras disseminadas pela Grande Mídia. A disputa pela narrativa em torno da reforma política e da situação do Brasil e dos brasileiros será brutal. Um aperitivo da batalha midiática que está por vir pode ser visto na virada de junho para julho, com os jornais e revistas de circulação nacional decretando o fim do mandato de Dilma e imensas quedas na sua popularidade, ameaçando a reeleição em 2014.

Os dados, contudo, continuam rolando. Se o plebiscito (praticamente descartado no Congresso) de fato ocorrer ainda esse ano — e para isso temos de ir às ruas e às redes para pressionar o Legislativo e o Judiciário –, será uma oportunidade ímpar de atacar a principal fonte de corrupção política: o financiamento privado de campanhas. A partir daí haverá uma nova correlação de forças dentro do Congresso, com políticos, de todos os partidos, menos atrelados aos poderes econômicos. Com isso, todas as outras pautas tradicionais da esquerda brasileira, como a reforma agrária, a democratização dos meios de comunicação, os orçamentos participativos, a melhor distribuição de renda, a questão da violência policial, a reforma urbana, o direito ao transporte, saúde e educação gratuitos, a igualdade de gêneros, a memória histórica e punição dos crimes da ditadura, entre outras, poderão ser debatidas com muito mais transparência e democracia.

Junho acabou com o embate político empatado. O início de julho esfriou os ânimos e o Congresso decretou recesso “branco” dia 17. Não houve um golpe rápido como no Paraguai, mas sua possibilidade ainda não pode ser ignorada.

Sem dúvida, a imagem da presidenta, e de todos os outros políticos, sofreu algum arranhão. Se bem que é cedo para a oposição cantar vitória e Dilma já havia demonstrado que responde melhor sob pressão. No Rio de Janeiro, a polícia continua batendo na Zona Sul e matando nas favelas. Os médicos mostram todo o seu corporativismo na Paulista. E a nave segue.

O MPL entornou a garrafa e já não importa chorar sobre o leite derramado. É hora dos verdadeiros democratas buscarem, nas ruas e nas redes, ouvir e falar com a massa dos brasileiros para impulsionar, também nas ruas e nas redes, as pautas que verdadeiramente interessam à maior parte da população. Para isso, temos de ser mais ágeis e criativos do que os detentores dos grandes veículos de comunicação, usando melhor do que eles os meios que nos restam: os digitais e o bom e velho boca a boca.
(Outras Palavras)

Van Gogh

Van Gogh e o elogio a loucura
publicado em artes e ideias por carolina carmini

Apesar de fazer parte de uma nova categoria de artista que surgiu no século XIX, o louco solitário, Van Gogh não foi o único. As mudanças do século XIX resultaram em uma nova perspectiva do indivíduo em relação à sociedade. Para os artistas os novos tempos resultaram em percepção desesperadora e vazia da realidade, onde o que anteriormente era concreto e absoluto desmoronou. Deus morreu, a esperança no homem esmorece, a razão domina e tudo o que resta, para o indivíduo artista é o mundo dos sentimentos, o mundo da expressão.



“O que sou eu aos olhos da maioria das pessoas? Uma não entidade, ou um homem excêntrico e desagradável – alguém que não tem e nunca terá posição na vida, em suma, o menor dos menores. Muito bem, mesmo que isso fosse verdade, devo querer que o meu trabalho mostre o que vai no coração de um homem excêntrico e desse joão-ninguém.” - Carta de Vincent ao irmão Théo (21 de julho de 1882).

Pelo trecho da carta destinada ao irmão fica claro que Vincent van Gogh se sentia deslocado na sociedade e tinha necessidade de inserir-se de alguma forma nela.



Vincent Willem van Gogh, nascido em 1853, foi mais que um pintor perturbado. Muito se escreveu sobre o artista, foram feitas análises de sua doença, de suas cartas e obra. Vincent é parte do imaginário popular do artista moderno que vive, enlouquece, definha e finalmente morre por sua arte. A ideia do artista excluído da sociedade, que enxergava além de seu tempo, incompreendido por seus contemporâneos, tem como reverso o valor de suas obras, vendidas hoje por milhões de dólares, para serem armazenadas em cofres ou acervos, longe dos olhos do grande público. Justo Vincent, que ansiava tanto que sua obra fosse vista e compreendida por todos.


Os felizes proprietários de "van goghs" fazem discursos decorados sobre os motivos que o levaram a cortar sua orelha ou dados sobre sua vida, palavras colocadas de forma determinante a entender a obra e a vida do artista. Muitas foram as coisas que Vincent tentou fazer e em todas procurou adquirir conhecimento. Tudo o que tentou proporcionou uma experiência que o auxiliou mais tarde: vendedor de artigos de arte, professor e até mesmo pastor foram os caminhos que tentou trilhar e, no momento em que descobriu que a arte seria sua profissão, esperou ser reconhecido através desta tanto por sua família como pela sociedade.


O pintor holandês foi influenciado por Hals, Rembrandt, Seurat e pelo japonismo. Primogênito de uma família tradicional de origem calvinista, acabou por suicidar-se (teoria já posta em cheque na atualidade). Em sua busca por estabelecer-se na sociedade passou por diversas profissões: de pastor radical, fiel aos princípios da Bíblia, a pintor da natureza, amante do cachimbo, do absinto, das prostitutas. Deus foi substituído pela arte. Van Gogh assimilava em sua técnica as questões estéticas dos movimentos artísticos que surgiram no período, adaptando-os ao seu estilo. Suas investigaçõesartísticas resultaram em uma imensa obra que influenciou de forma profunda a arte do século XX.

Sempre ansiou por estabelecer relações pessoais duradouras com a família, amigos, com pessoas em seu entorno. Porém, apenas seu irmão Théo se manteve do seu lado ao longo de sua vida atribulada. De sua grande produção epistolar (cerca de 800 cartas), a primeira e a última foram destinadas ao irmão. Com ele mantinha uma relação intensa - com desentendimentos, apoio mútuo, grande intimidade. Muito mais que irmãos, Vincent e Théo eram complementares.


Meses antes da realização do retrato acima, em 1889, Vincent esteve mergulhado em meio uma crise de loucura, uma das muitas que se tornaram recorrentes após o conhecido episódio da orelha cortada, tão marcante para o reconhecimento do artista na cultura popular. Pouco conhecido pelo grande publico, esse foi um de seus últimos auto-retratos e também o único no qual o pintor se representou com sua orelha amputada. Além disso, o rosto apresenta aparência de cansaço. O retrato foi pintado em camadas grossas de tons cor de terra, não há cores fortes e vivas e há diferenças no uso da luz - como se o autor tivesse perdido suas esperanças. Esse retrato não tem mais o otimismo dos primeiros autos-retratos. Enfraquecido, com a barba por fazer, extenuado pela longa caminhada que se tornou sua existência, talvez esperasse apoio e atenção materna, que ansiava desde o começo das crises, mas que há muito não tinha. Encontrava-se perto do fim de sua trágica existência.


Entre os anos de 1880 e 1885, Vincent procurou desenvolver sua técnica. Como não tinha condições financeiras e nem vontade de entrar em uma academia, iniciou seus desenhos baseados em cópias de obras famosas e manuais de desenho que seu irmão lhe enviava. Théo indicou o jovem pintor Anton van Rappard, de quem Vincent ficou amigo, em Bruxelas. Vincent aprendeu com ele conceitos básicos de pintura, como a perspectiva. Apesar das insistências constantes de seus pais para que conseguisse um emprego estável, o jovem holandês dedicou-se a uma última empreitada: tornar-se pintor. Nos dez anos em que pintou, Van Gogh produziu cerca de 800 quadros, além dos desenhos e águas fortes.



Após a morte de Théo, a esposa deste, Johanna van Gogh, tornou-se detentora de toda a obra de seu cunhado Vincent. Em meio a esta herança, estavam a primeira carta escrita pelo pintor em 1875 e a última encontrada em seu bolso em 1890, no dia de seu suicídio, ambas destinadas a Théo. A jovem viúva e mãe administrava seu tempo entre o trabalho, os cuidados com o filho e a catalogação da obra plástica e escrita de seu cunhado. No inicio do século XIX, esses escritos pessoais que abarcavam os diários, as autobiografias e até mesmo biografias que faziam sucesso entre o público, criando um verdadeiro mercado de “vidas” que passaram a ser públicas, ganhou força principalmente pela crescente ideia de que o conhecimento sobre a vida do autor auxiliaria o entendimento da obra deste. Os próprios intelectuais valorizam sua produção guardando-a ou doando-a a instituições. Como médicos e alienistas acreditavam que escrever ajudava a tratar ou amenizar os distúrbios mentais dos indivíduos, preservavam toda essa produção de seus pacientes para estudos dos casos e/ou publicação deste material.


O diálogo travado entre Vincent e seu irmão Théo estava além do comunicativo; as cartas eram repletas de informações íntimas compartilhadas apenas com o irmão, incluindo seus medos e temores sobre o futuro devidoà progressão de sua doença. Algumas vezes, informações triviais sobre o dia-a-dia poderiam parecer banais, mas é nesse ato de escrever sobre si que o homem moderno se constróis e descobre quem é: através das linhas deixadas no papel, principalmente quando esse homem está num dado isolamento, conseqüência de seu afastamento da sociedade tradicional burguesa. Suas cartas revelam um homem e um artista que busca aceitação, mas não se enquadrava nos padrões do seu tempo e do seu meio. Um ser deslocado.


Toda a correspondência de Van Gogh é uma forma de auto-expressão, juntamente com suas obras. Quando não estava pintando freneticamente, Vincent escrevia. O conteúdo da correspondência de Van Gogh revela seu processo criativo. Vincent comentava como suas telas e cores iam surgindo, descrevendo-as e analisando-as. Ele enviava a Théo os esboços das obras que estava pintando, dando ricos detalhes sobre o tema e a origem da ideia e cores usadas. Através da extensa correspondência percebemos a recriação da realidade que Vincent realiza em suas obras, uma reorganização que transformava o que se via no que se sentia, através das cores. Por meio do ato de escrever para o irmão, o artista iniciava o processo de concretizar o que captava do mundo exterior. Era ali que os sentimentos de Vincent e a realidade que o cercava encontravam uma unicidade. Nas cartas é possível constatar como Vincent era detalhista e minucioso - é possível visualizar a produção de sua obra.



Nunca um artista deixou tanto material sobre seu processo criativo, sua perspectiva sobre o futuro e suas idéias sobre a arte quanto Van Gogh. Como vemos, não é um documento neutro. Permite compreender o artista deste período: o artista que não está nos meios acadêmicos, o indivíduo do século XIX, cada vez mais isolado em um mundo onde as relações interpessoais sofreram grandes transformações. Os conflitos constantes o fizeram se afastar cada vez mais da família e apegar-se a uma espiritualidade exarcebada, talvez sua última tentativa de aproximar-se do pai. Porém, o patriarca da família Van Gogh faleceu antes do fim dos conflitos e o pintor substituiu Deus pela natureza, que dominou suas telas a partir de Arles.


Contudo, a esperança nunca abandonou sua vida. Quando se mudou para Paris buscava conhecimentos, diálogos e mudanças. Encontrou um mundo em ebulição social, econômica e cultural. Em Arles buscava o mundo japonês que havia conhecido na cidade-luz e também construir uma comunidade de artistas que estivessem preocupados realmente com a arte. O oposto da comunidade de artistas que encontrou em Paris, mais preocupados com a vida boêmia regada a mulheres e álcool e que apenas discutia, sem realmente realizar algo. Como é sabido, seus planos falharam. Desde esse momento, a solidão tomou conta de sua vida de artista, ao mesmo tempo que sua arte se desenvolveu. Cores fortes e vivas, formas dinâmicas invadem seus quadros - e seus problemas de saúde mental também se desenvolvem.



carolinalucio
carolina carmini gosta de pensar que se não tivesse nascido, alguém a teria inventado. Saiba como fazer parte da obvious.

Artigos relacionados

Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2013/07/van_gogh_e_o_elogio_a_loucura.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+OBVIOUS+%28obvious+magazine%29&utm_content=Yahoo%21+Mail#ixzz2a6foOGyR

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Marxismo

Que aconteceu com o meu marxismo?
Por
Bruno Cava

    → Os marxismos do novo século, César Altamira, Rio de Janeiro: Record, 2008, trad. de Leonora Corsini, Coleção “A política no império”.

Por Bruno Cava

Meu primeiro contato com o marxismo foi fulminante. Apaixonei-me pela elegância devastadora de sua explicação do mundo. Se as religiões ocidentais não podem explicar a existência do mal, Marx pode. A história da humanidade é a história da dominação e exploração dos trabalhadores por uma classe de privilegiados. Detentora dos meios de produção, ela expropria o fruto de nosso trabalho, pagando o menor salário e auferindo o maior lucro possíveis. O processo se reproduz indefinidamente porque não temos consciência da condição explorada. Somos enganados pela cultura, condicionados pela moral e controlados pela polícia e o direito – os instrumentos da ideologia, a serviço da classe dominante. É preciso, portanto, conscientizar as massas, organizar a revolução e tomar o poder dos senhores do capitalismo, instaurando uma sociedade sem classes, justa, culta e livre – um comunismo em que trabalhadores consomem plenamente o que produzem.



Passaram por minhas mãos adolescentes muitos livros vermelhos. Neles, sentia o tom incendiário de líderes escrevendo no calor das assembléias ou na iminência dos conflitos, inebriados de perigo, aventura e revolta. Entusiasmavam-me as palavras de ordem, os discursos grandiloquentes, os gritos de liberdade, as promessas de um futuro maravilhoso. Poucos nutrientes caem tão bem ao jovem impetuoso em mudar o mundo do que o marxismo. Está tudo errado e a roda da história está em suas mãos: faça-a girar contra os poderosos.



Eis aí, em poucas linhas, como me pareceu o marxismo naqueles tempos em que eu sabia tudo: era perfeito. Bastava então encontrar o grupo bolchevique certo, a linha política a seguir e fazer a revolução. Aí começaram os problemas.

A quase totalidade dos “apóstolos” que tanto me inflamavam tinha sido derrotada. Alguns presos, outros exilados, pelo menos um suicídio, muitos torturados e executados. Houve até um assassinado a golpes de picareta. O único que aparentemente venceu findou traído por alguém que se tornaria um dos maiores tiranos do século 20. Ademais, na burocratizada e militarizada União Soviética, o “socialismo em um único país” passava bem longe de uma sociedade sem classes, justa, culta e livre. No ocidente, o marxismo se refugiara há décadas na universidade, reforçando o socialismo de cátedra, amputado das lutas. Os líderes marxistas trocaram as assembleias populares pelas bancas de doutorado, o furor revolucionário pelo currículo Lattes. Aí veio a queda do muro de Berlim e logo em seguida a dissolução da URSS. O desencanto foi generalizado. Eu estava órfão. Fim da história para o marxismo, doravante curiosidade acadêmica, num humor decadentista e com um método que confessa a impotência diante do triunfo do capital.



Não para o militante e intelectual argentino César Altamira. O marxismo vive. Ainda pulsa nas lutas contemporâneas, seus discursos e práticas revigorados depois de 150 anos de poucos altos e muitos baixos. Altamira participou das revoltas estudantis dos anos 1960 e 70. Lutou contra a ditadura argentina até exilar-se no México. Nunca deixou de militar e apostar no marxismo. Por isso, escreveu Os marxismos do novo século, traduzido e publicado no Brasil, na coleção A Política no Império, pela editora Civilização Brasileira, em 2008.

Nesse volume de 462 páginas, o autor revisita três movimentos herdeiros da tradição marxista que interpelam o mundo atual, sem sucumbir à propalada morte de Marx. Trata-se da Escola da Regulação francesa, do Marxismo Aberto inglês e do Operaísmo italiano. Cada um a seu modo, põem em xeque a “crise do marxismo”. Contestam o suposto consenso ao redor do capitalismo neoliberal, engendrado nos anos 1970 e fortalecido pelas décadas seguintes até hoje.



Os três marxismos mantêm-se fiéis a Marx em não se constituírem uma panacéia teórica. A prática e a transformação norteiam o esforço teórico. Teoria marxista não pode se limitar a relatar o existente: propugna por sua ruptura. Aponta-lhe tendências, orienta as estratégias, organiza a luta aqui e agora. Assim, assumem o caráter limitado, específico, precário e histórico de toda crítica da economia política. E diferem de boa parte do marxismo universitário que, quando não degenera à auscultação teórica, desanda do essencial – a análise do estatuto do trabalho e o primado da luta de classes – para enveredar-se por outros campos: história da filosofia, psicanálise, estética, crítica literária etc.

Para César Altamira, no século 21, o mais moderno marxismo não pode proceder por sofisticadas críticas da cultura, mas sim por um retorno ao classicismo de Marx. Faz-se necessário examinar o funcionamento econômico do capitalismo contemporâneo e deslindar as relações de poder que sustentam a alienação da produção e a fragmentação dos produtores, com vistas à mudança. Hoje, é preciso mais do que vagos apelos da “humanidade contra o neoliberalismo”. Como materialista, não se pode fiar as lutas nos slogans da dignidade humana ou da humanidade, porque eles podem ser aplicados indistintamente a qualquer contexto. Carecem de análise material, daí o seu matiz moral, logo ineficaz.



Dentre as três correntes abordadas, o menos interessante, na ótica do autor, é a Escola Francesa de Regulação. Surgiu no contexto recessionário das economias ocidentais de 1973 em diante. Significou tentativa de a esquerda francesa remodelar o marxismo dentro de uma nova etapa do capitalismo. Assim, parte da passagem do Estado de bem-estar social dos anos 1950 e 1960, fundado na produção industrial de massa, na planificação e no pleno emprego (o fordismo), à conjuntura mais flexível, descontrolada e fluida da sociedade pós-industrial, calcada na insegurança e na fragmentação do trabalho (o pós-fordismo), a partir da década de 1970. Cada período analisado possui regimes de acumulação de capital e formas de Estado que lhe correspondem, cabendo à esquerda encontrar uma justa regulação, buscando compromissos e alianças. Daí a agenda voltada à adaptação do Estado de bem-estar social ao novo paradigma pós-industrial, em vez de acatar o neoliberalismo nascente.

O autor ressalta vários problemas da Escola da Regulação. Primeiro problema, o seu objetivismo, isto é, a concepção que o capitalismo marcha normalmente de uma etapa à outra, cabendo-nos tão somente adaptarmo-nos à nova realidade. Como se o modo de produção mudasse do fordismo para o pós-fordismo por si mesmo, por uma causalidade interna. Nisso, a Escola da Regulação fica do lado do capital, no seu aspecto instrumentalizador e fetichizado. Segundo, a separação entre economia e política. De um lado, as relações econômicas; de outro, o Estado a lhes regular, quando o marxismo implica uma crítica da economia política. Terceiro, o reformismo conciliador desse movimento, incapaz de transformação real porque distraído da luta de classes, da identificação do sujeito revolucionário próprio ao pós-fordismo. Por tudo isso, essa esquerda fracassou diante dos governos neoliberais de Margaret Thatcher, no Reino Unido, e Ronald Reagan, nos Estados Unidos, refugiando-se na academia.



Outro conjunto marxista contemporâneo revisado por Altamira tem por principal representante o sociólogo e militante John Holloway. O Marxismo Aberto foi elaborado na década crítica de 1970, como desvio da ortodoxia dos partidos comunistas europeus, num Reino Unido convulsionado de protestos e agitações.



Diferente da Escola de Regulação, o alfa e ômega do Marxismo Aberto é a luta de classes. Está entranhada no capitalismo e lhe define o desenvolvimento a partir de dentro. O estado é entendido como configuração particular de uma luta sempre em movimento. Tanto ele quanto o dinheiro, o valor e o trabalho consistem numa relação social entre as pessoas. Uma relação que pode ser implodida através da técnica da dialética negativa. O caso é apropriar-se dos processos e produtos do capital, das mercadorias e fetiches, e reinventá-los como resistência. Mais ou menos como faz a Pop Art, com a reapropriação e a subversão dos ícones e produtos.



O Open Marxism recusa o economicismo (a economia é a base de tudo) e o policiticismo (a política). Propõe a transformação da vida como um todo, e daí o conceito de lutas abertas, diversificadas, imprevisíveis, às vezes invisíveis. As resistências são globais e podem integrar movimentos distantes entre si: “operários da GM, lancadones mexicanos, tzotziles de Chiapas, MST brasileiro”.



César Altamira tampouco se mostra otimista com o Marxismo Aberto. Repreende a despreocupação com o problema da organização política. As raízes anarquistas fazem os adeptos avessos a organismos de militância e seu “leninismo”. Outra crítica do autor se dirige ao método dialético, ou seja, à totalização das lutas contra o capitalismo como um grande movimento unificado da história. Para o Open Marxism, todo ato de resistência torna-se anticapitalista em essência e, cedo ou tarde, incorpora-se à revolução. Isto não significa crença na marcha inexorável da história, visto que, de qualquer modo, é preciso haver um ato deliberado de resistência. Mas, como o autor anota, termina por aproximar-se da esquerda ortodoxa e dialética, para quem a própria história é dialética – no seu sentido de negação (antítese), e posterior reabsorção do negado (síntese). No entanto, dialético é sempre o capitalismo: só a ele interessa conciliar as forças e integrar a sociedade numa síntese apaziguadora.



Finalmente, as fichas de Os marxismos do novo século são lançadas no terceiro conjunto de propostas, o Operaísmo italiano, encabeçado pelo filósofo e militante Antônio Negri que, não por acaso, prefacia a obra. O Operaísmo é uma das poucas correntes marxistas do segundo pós-guerra formulada no compasso das lutas. Seu corpo de proposições se constituiu a par das agitações operárias na Itália dos 1960, nas greves selvagens e nos choques com a repressão. Nem teoria prática, nem prática teórica: prática prática mesmo. Rebatizado Autonomismo na conflagrada Itália dos anos 1970, Toni Negri e seus correligionários articularam uma frente política à margem do Partido Comunista Italiano (PCI) e das organizações sindicais. Sua atuação incisiva na cena italiana prosseguiu até o final da década, quando a reação disparada pela morte de Aldo Moro desmantelou o grupo, que terminou por exilar-se na França e mergulhar em estudos mais acadêmicos.



O Operaísmo converge em vários pontos com o Marxismo Aberto. Recusa igualmente a separação entre política e economia. A política se realiza na organização da produção. De maneira similar, coloca as lutas como cifra de toda teoria e toda prática. As lutas operárias condicionam o desenvolvimento do capitalismo que, num segundo momento, busca redimensionar-se para continuar a explorar o trabalho.



Portanto, a passagem do fordismo ao pós-fordismo deve-se menos a um desenvolvimento endógeno do capitalismo, do que à ação exógena dos produtores contra o fordismo. O motor da história não funciona com a crise ou as contradições inerentes ao capitalismo, como se possuísse uma bomba relógio, mas através das lutas mesmas. Portanto, para o Operaísmo, o Maio francês de 1968 e o Outono Quente italiano de 1969, bem como todo o movimento social que exprimem, foram vitoriosos. Forçaram o capital a reorganizar-se, e assim precipitaram, pela resistência, a sociedade pós-industrial.



Por um lado, surge um novo sujeito político: o operário social. Este conceito negriano vai além do proletário chão-de-fábrica, o operário-massa, tão endeusado pelo marxismo ortodoxo, para abranger os informais, os desempregados e os marginalizados. Com a nova figura, a produção dissemina-se pelo corpo social. As lutas tornam-se horizontais e múltiplas. O trabalho pós-industrial se socializa em rede. A colaboração entre operários sociais é imediatamente resistente, e contorna os circuitos de captura e acumulação. Não há aí dialética, nada a ser reaproveitado do capitalismo, e sim simples antagonismo.



Por outro lado, o capitalismo reage segmentando o trabalho, frustrando as redes colaborativas, jogando os trabalhadores uns contra os outros: empregados x desempregados, formais x informais. De fato, o Estado-plano é transmutado em Estado-crise, cuja ideologia vai chamar-se neoliberalismo. O neoliberalismo apregoa que o Estado de bem-estar é o responsável pela inflação e maiores impostos, quando, na prática, é o próprio capitalismo contemporâneo quem produz o risco, para legitimar-se e melhor administrá-lo. A instabilidade sistêmica visa a manter os novos operários sociais atrelados aos circuitos de captura e acumulação, ao mesmo tempo que desmobiliza, pelo medo, a articulação política. É o socialismo limão: os lucros são privatizados e os custos da crise socializados.



Vive-se um sistema capitalista global, que pretende integrar todas as pessoas e países num regime de fluxos transversais e verticais. Propicia que todas as pessoas viajem de avião, comprem carros, falem no celular, consumam iogurtes e geladeiras. Mas essa inclusão é também exclusiva, pois o operário social continua expropriado nos ganhos de sua produtividade. A desigualdade permanece, assim como os mecanismos de reprodução da divisão social. Entretanto, é preciso reconhecer que o neoliberalismo não tem como subproduto a miséria e o subumano. No fundo, são achatadas as leituras que o contrapõem a cândidos humanismos, numa dicotomia neoliberalismo x humanidade. Na perspectiva operaísta, a mazela do neoliberalismo está em preservar a desigualdade e a alienação sobre o trabalho, desarticulando as lutas e gerindo os riscos.



Portanto, para o autor, o Operaísmo é o “marxismo do novo século” que melhor responde à sociedade pós-industrial e seu aparato neoliberal. A maior parte da obra esquadrinha a crítica da economia política de Antônio Negri, sua gestação diretamente das lutas dos trabalhadores (nos anos 1960 e 1970) e suas fundações filosóficas (lapidadas a posteriori, durante o exílio nos anos 1980 e 1990). Montado nos seus ombros, César Altamira avança na formulação de uma “teoria do conhecimento materialista”, esboça um “comunismo do novo século” e penetra em temas espinhosos em perspectiva contemporânea: a relação entre teoria e prática, o diagnóstico do presente e as estratégias das redes militantes. Tudo isso sem tirar os pés do chão, sem estridências ou mirabolâncias, com a serenidade de quem viveu o marxismo em toda a sua carga de ilusões e desilusões, de sonhos utópicos e pessimismos românticos, de marchas alegres e porões ensanguentados.



O marxismo do novo século é mais humilde e realista do que o aprendido por mim na adolescência. Quanta diferença de tom, de sobriedade, de maturidade histórica… Mas nem por isso menos pretensioso. Hoje, a revolução pode não ser a conquista do Palácio de Inverno. Pode não ser a instauração de um idílio comunista de paz e igualdade. Pode, aliás, sequer ser televisionada. Mas existem caminhos a ela e a multidão não deixa de percorrê-los, ao som de canções libertárias, plena de amor revolucionário. A coruja de Marx não espera a noite para alçar voo e, por mais que o brilho do presente a ofusque, nunca falhará por não ter arriscado voar.



Bruno Cava engenheiro e bacharel em direito, participa da Universidade Nômade. Mantém o blog Quadrado dos Loucos, publica, em Outras Palavras, a coluna Crítica Nômade.
(Outras palavras)