sábado, 20 de julho de 2013

Obama


Obama e sua guarda pretoriana do capitalismo
Em Washington, velha forma e substância piorada?

16/7/2013, [*] Norman Pollack, Counterpunch
“A Sea-Change in Washington? Obama’s Praetorian Guard of Capitalism”
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu



A estratégia política de “Mão Oculta” de Obama entra agora no segundo mandato.

Peter Baker, no NYTimes, 15/7/2013 em: In Second Term, Obama Is Seen as Using “Hidden Hand” Approach (port. No segundo mandato, Obama mostra como usar a abordagem da “Mão oculta”)  merece ser lembrado pelo extraordinário cinismo e pela extraordinariamente suspeita ingenuidade / ignorância / arrogância da dupla NYT/Baker, dado que, embora em tom menor, foi ele o colunista designado pelo jornal para elevar ao status de uma das Belas Artes o que jamais passou de reforma desossada, embora dura, que jamais alterou sequer uma vírgula em todo o governo, o qual, desde o início, manifestou o mais arrogante corporativismo, com todas suas implicações, políticas e consequências antiprogressistas.

O legado de Obama – e agora já é tarde demais para mudar, supondo-se que quisesse mudar – será determinado por ter traído os eleitores, como líder e como tribuno putativo do povo.

Comparados a Obama, Nixon e Bush 2 parecem coroinhas de igreja, não por causa de alguma “inteligência” de Obama (que é esperto como qualquer chefão mafioso, o que, atualmente, se compra e vende-se como inteligência), mas porque Obama soube usar o liberalismo como bengala apoiado na qual partiu para suas políticas consistentemente reacionárias, tanto no país como no exterior.

Liberais e progressistas foram todos empurrados para a armadilha: o mais recente e descomunal crime de espionagem doméstica massiva que, depois de revelado, já descamba hoje para as páginas internas e rodapés dos jornais, com toda a atenção da “imprensa democrática” já desviada para a captura de Snowden. Mais um exemplo clássico de golpe em que o verdadeiro criminoso tenta fazer condenar qualquer outro, para se autoabsolver de qualquer crime.

Esquerda e progressistas estão paralisados, sentados sobre as próprias mãos para nada ter de fazer (vai-se ver, nasceu aí a metáfora da “Mão Oculta”, como frase/slogan de venda, para esconder um currículo vazio de feitos, que, de tão vazio, nem precisa(ria) ser (mais) ocultado, tão avançado é hoje o estado de rigor mortis dos radicais), enquanto avançam o roubo de dados, os número de acusados nos termos da Lei Antiespionagem, e todas as liberdades civis são picadas e servidas em mingau.

Todos esses são um só campo de abusos fundamentais que se desdobra em vários: liberaram-se geral o cinismo e a mentira, para tornar o veneno palatável às claques populares, enquanto banqueiros, militaristas, empresários fornecedores do Departamento de Defesa, conselheiros de segurança nacional, apologistas do Departamento de Justiça da ala da propaganda pró-crimes de guerra, e como se lê na didascália das peças de Shakespeare, grupo sortido de figurantes, riem por trás do guardanapo.

A “mão oculta” combina perfeitamente com a obsessão-compulsão de Obama pelo segredo e pelo ocultado (e Washington inteira, agora que o chefe deu o tom, já mostrou como é fácil os bandidos se safarem), o slogan agora já intimamente combinado com a obsessão pela super-classificação-segredo para todos os tipos de documentos (o que já criou Estado que, de tanto defender segredos, já obteve, na prática, total imunidade: já é Estado à prova de leis), mas também obsessão pela vigilância per se, a necessidade, o vício de controlar, e talvez necessidade-compulsão-vício ainda maior de agir sem risco de ser punido – como já faz nos assassinatos predefinidos de gente listada em listas-de-matar – sem medo de ser descoberto.

Em que gangue de depravados nós, como nação, depositamos a confiança pública! E quanto mais se mexe, mais piora: imposto zero sobre a riqueza e o lucro e a fortuna herdada; desregulação, não regulação, descarado favorecimento – pode escolher! –, enquanto a economia vai-se concentrando cada vez mais em menos mãos, e as Boeings, GEs, Monsantos, Morgans, Chases vão bem, obrigado; em matéria de mudança climática, só suprema estupefação; e, pior que tudo, um aparelho militar gargantuesco, e missões, missões, cada vez mais missões planejadas ou executadas secretamente para agradar ao mais pervertido connoisseur (também conhecido como maníaco assassino devotado a matar, desgraçar, tumultuar e a instrumentos letais de terror), já sem meios para manter qualquer tipo de rede de proteção social digna do nome.

Governo Obama = militarismo e empobrecimento planejado; ou, se não foi planejado, ainda assim o resultado é operacionalmente contabilizado; para o país, só sofrimento em tempo integral; os lucros das corporações crescem sempre, a infraestrutura desaba, a educação patina, as cidades em frangalhos, os fundos privados engordam e, tudo isso, enquanto aumenta a desumanidade e o colossal desperdício para manter postos militares espalhados pelo mundo, forças navais no Pacífico, agentes de Forças Especiais praticamente em todos os continentes, verdadeiro carrossel & carnaval ao ritmo do fervor de tarantela que a contrarrevolução é forçada a cantar.

O governo Obama é a Nova Guarda Pretoriana do bem-estar do capitalismo global, com especial atenção ao que se convencionou chamar de “interesse nacional dos EUA”.
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Comentário que escrevi à coluna de Baker no New York Times:

Tratar como “mão oculta” a liderança presidencial não passa de ginástica de Relações Públicas, mais uma vez, para distrair a atenção de desviá-la do conteúdo substantivo das políticas e dos feitos de Obama.

Essa é presidência fracassada desde o primeiro dia, quando se viu que a retórica da campanha de 2008 (mantida a golpes de teleprompter, que reproduzia o que Axelrod escrevia e estimulada pelo desesperado desejo dos americanos de conseguir, afinal, virar alguma esquina) era mera conversa fiada.

A nomeação do time Geithner-Summers de desreguladores à moda Clinton-Rubin foi a comprovação que faltava de que Obama rendia-se ao fundamentalismo pró-mercado e à Wall Street assaltante-saqueadora, para garantir-lhes plena impunidade. E as relações fraternais entre Obama e CIA e o Comando de Operações Especiais Conjuntas [orig. Joint Special Operations Command, JSOC] e as comunidades militar e de inteligência já deixavam claro que viria mais política exterior mais agressiva e -- o Prêmio Nobel da Paz?! – a estratégia geopolítica de começar pelo Pacífico, escalada nas operações paramilitares e, com John Brennan e as “Terças-feiras da morte”, o horror e a crueldade máximos de fazer guerra pessoal (o que nem os presidentes anteriores fizeram), armado com drones para assassinar vítimas predefinidas.

Obama continua o que começou, com algumas caras novas (e.g., Rice, Powers) e novos slogans de propaganda, como “intervenção humanitária”. Mas sob sua presidência, e com sua forma mental essencialmente nihilista, oportunista, os EUA, como nação, estamos mais próximos do fascismo do que jamais antes, em toda a nossa história.

Sejam quais forem os “admiradores” de Obama, presumivelmente liberais, progressistas e alguma esquerda, apenas confirmam que o radicalismo morreu nos EUA: foi vítima do próprio pensamento raso e da própria má consciência.

[*] Norman Pollack é autor de The Populist Response to Industrial America (Harvard) e The Just Polity (Illinois), Guggenheim Fellow. É Professor Emérito de História da Michigan State University. Seu livro mais recente, Eichmann on the Potomac, publicado pela editora CounterPunch/AK Press, chegará às livrarias no outono de 2013.
(Redecastor)

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