quarta-feira, 31 de julho de 2013

Brasil

Socorro, o piloto sumiu!    



A declaração de Dilma Rousseff de que Lula não tem como voltar à presidência porque na realidade nunca a deixou é mais uma manifestação da grave crise de legitimidade que atinge a presidência da República. Desacatada pelas ruas, acuada pela chamada “classe política” e isolada em seu próprio partido, Dilma descobriu tardiamente que existe uma diferença abismal entre liderança política e gerência burocrática. Para se salvar do naufrágio, decidiu pular no colo de Lula.



Despreparada para enfrentar os desafios da representação política, sem carisma para dialogar com a população e sem força até mesmo para assumir a liderança de seu próprio governo, a presidente não conseguiu emplacar uma providência sequer para responder aos clamores das ruas. Produto de puro marketing político, assiste atônita ao colapso de sua autoridade, sem saber o que fazer para conter o terremoto político provocado pelas jornadas de junho.



A incapacidade de mudar uma peça de seu inexpressivo ministério para ajustá-lo às novas exigências da conjuntura revela sua absoluta impotência para enfrentar a guerra civil que tomou conta do PT – dividido em seis chapas que se digladiam pelo controle da sigla – e a conspiração permanente de sua base aliada – companheiros Eduardo Campos, Renan Calheiros e Michel Temer à frente. Isolada no Palácio do Planalto, Dilma tornou-se uma presidente zumbi, cercada de subordinados canhestros que apostam na cartada mágica de que a crise política acabará se resolvendo por si, sem necessidade de mudança alguma, como se tudo fosse apenas um pesadelo passageiro.



Nas circunstâncias em que se encontra, mais do que a reiteração de uma parceria inquebrantável, a fusão incondicional de Dilma com Lula soa como desespero, particularmente quando se leva em consideração que, poucos dias antes, o ex-presidente, após longo e inusitado silêncio, escreveu em um jornal norte-americano que o PT precisa se renovar, descartando, assim, sem a menor sutileza, a até então companheira incondicional. Largada às feras, a presidente ameaça Lula com um abraço de afogado.



Logo após a vitória na disputa pela prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad jactou-se de ser o segundo poste eleito por Lula. Em pouco tempo, a contundência das manifestações populares contra a ordem estabelecida demonstrou de maneira irretorquível a temeridade que significa substituir lideranças autênticas por bonecos sem personalidade política própria. O feitiço virou contra o feiticeiro. O fiasco das criaturas ameaça o criador, e o criador, legítimo Macunaíma, enjeita suas criaturas.
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Última atualização em Terça, 30 de Julho de 2013

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