sexta-feira, 27 de maio de 2011

Maconha

A proibição da Marcha da Maconha e liberdade de expressão

Por Marco Magri

As seguidas proibições da Marcha da Maconha é mais um entre os episódios que deixam transparecer um lado nefasto da realidade brasileira: o conservadorismo do sistema judiciário. Sob as mais infundadas acusações – “defendem o uso indiscriminado de drogas”; “querem acabar com a família”; “são traficantes” – alguns Estados do País interpretam a mesma lei que permite aos seguidores de Bolsonaro se manifestarem, com proteção policial, de maneira invertida para impedir pessoas de expressarem sua opinião sobre a atual lei de drogas proibicionista.

Na Alemanha da República de Weimar, após a dissolução da monarquia e com o advento de um inicio de país republicano, Walter Benjamin ressaltou como fundamental a presença de um judiciário reacionário – que tinha permanecido intacto dos tempos do Kaiser e guardava um ranço antipopular muito forte – como fator de auxílio da ascensão do nazismo. Ficava evidente a forma na qual operava seletivamente essa justiça, que condenou Hitler a apenas um ano de cadeia depois de sua primeira tentativa de agitação, enquanto membros de organizações de esquerda amargavam longos períodos no cárcere. E foi justamente logo após ser liberado que Hitler conseguiu começar sua campanha que terminou no genocídio de milhões.

No Brasil, somos, igual e perigosamente, incapazes de enfrentar os fantasmas e herença das masmorras das ditaduras. Isto fica claro na recusa do STF em abrir processos para punir torturadores, que cometiam crimes de lesa humanidade e continuam impunes, caminhando pelas ruas. E não são apenas as pessoas físicas que cometeram tais crimes que têm livre circulação - o que é mais preocupante são suas ideias, que permanecem e dão margem aos mais terríveis arbítrios. No Brasil, os casos de tortura aumentaram consideravelmente após o fim da ditadura, desta vez direcionada principalmente contra a população pobre. E também temos um sistema judiciário extremamente leniente com massacres contra os trabalhadores pobres, como vemos no caso do Eldorado de Carajás (impune), Massacre do Carandiru (impune), crimes de maio de 2006 (impune).

No caso das drogas, a justiça é especialmente seletiva quando se trata de punir. Se um branco é pego com 10 gramas é tratado como usuário, assina, paga propina. Um negro? Traficante. E as drogas são a justificativa cotidiana para violações de direitos humanos e violência policial, ou seja, para garantir o estado de sítio, para garantir a dominação, a apatia e a falta de participação, o isolamento e tudo mais que disso decorre.

E é do conservadorismo do judiciário que vemos atentados violentos contra a liberdade de expressão no seu sentido mais amplo. No sentindo que foi mais reprimido ao longo da história brasileira, da liberdade de se reunir, da liberdade de lutar por mudanças. Apologia ao crime, acusam. Só se for apologia ao crime de pensar, de debater, de recusar aceitar uma lei que é extremamente danosa e irracional. Toda apologia questionadora é contra a ordem, portanto, uma apologia perigosa, tal qual foi a apologia da abolição da escravidão, o negócio mais lucrativo que havia sob o sol, perigosa como a defesa do sufrágio universal, do voto feminino e de tantas outras lutas democráticas, libertárias. Era apologia ao crime defender o fim da própria ditadura.

Vivemos essa repressão, que se reflete em atraso e incapacidade de superar erros e avançar para um outro tipo de sociedade, capaz de fazer os debates de forma aberta. O exemplo da proibição da Marcha da Maconha em alguns estados nos mostra como nosso poder jurídico, invariavelmente apoiado pelo executivo (a prefeitura de Atiabaia se pronunciou, em nota pública, contra a Marcha) e pelo legislativo (a proibição da Marcha em Curitiba foi feita a pedido de um deputado evangélico do PSC), não tem a menor vocação para a democracia, está parado em algum lugar entre 1964 e 1985.

Sustentados por argumentos jurídicos sem qualquer fundamento, buscam tolher o livre debate na sociedade. E eles sabem muito bem que não têm argumentos, por isso, procedem de forma astuta ao entrarem com o pedido de proibição sempre às vésperas do evento, de modo que não haja tempo hábil para uma resposta legal. Passada a Marcha, o assunto “prescreve”.

Espera-se para as próximas semanas o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) de ação da Procuradoria Geral da República contra a proibição das marchas da maconha. Não se pode esperar outra decisão do Supremo que não salvaguardar o livre direito à expressão e manifestação por parte dos membros da Marcha, que querem simplesmente poder discutir as políticas de drogas brasileiras de forma aberta e séria. Sem mordaça.



Marco Magri é cientista social, mestrando em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e integra o Coletivo DAR (Desentorpecendo a Razão) e a Marcha da Maconha SP.
(C. Amigos)

Pensamentando

O dicionário das empregadas domésticas
Urariano Mota *
Nos últimos dias, na gente mais educada causou espécie, para não dizer causou urticária, o livro didático “Por uma vida melhor”, que ensinaria a falar errado. No entanto, ninguém se levantou, nem perdeu a paz de espírito, quando um ilustre desembargador, faz alguns anos, achou por bem escrever um dicionário para as empregadas domésticas. É fato.
Atropelos e apelos de títulos não faltaram ao ilustre dicionarista. Erudito em Direito Civil, filiado à Associação Paulista dos Magistrados, escritor de verve, ele assim gracejou em artigo no jornal dos seus pares:

“Ele ligou para sua própria casa. A empregada era nova. Ele não a conhecia. Sua mulher, a Esther, digo (ou ele diz), dona Esther, tinha acabado de contratar. A moça era do norte. De Garanhuns. Nada contra, mas....sabe como é. Nós, brasileiros, sabemos! O patrão morava num sobrado. O telefone da residência ficava num nicho, embaixo da escada. No décimo segundo toque a Adamacena, a tal da empregada, atendeu: ‘Alonso!’ Na dúvida, o dono da casa perguntou: ‘De onde falam?’ Ao que a Adamacena respondeu: ‘Debaixo da escada!’ Foi aí que ele começou a catalogar as expressões da serviçal...”

Na continuação do texto, para melhor diálogo com as inferiores, o preclaro e excelso organizou este pequeno dicionário das empregadas, para ser lido pelas classes cultas, do gênero e classe dele no Brasil:

Denduforno - dentro do forno
Dôdistongo - dor de estômago
Doidimai - doido demais
Dôsitamu - dor de estômago
Gáscabô - o gás acabou
Iscodidente - escova de ente
Issokipómoiá - isto aqui pode molhar
Ládoncovim — lá de onde que eu vim
Lidialcom - litro de álcool
Lidileite - litro de leite
Mardufigo - mal do fígado
Mastumate - massa de tomate
Nossinhora - nossa senhora
Óikichero - olha que cheiro
Óiprocevê - olha pra você ver
Óiuchêro - olha o cheiro
Oncotô - onde que eu estou
Onquié - onde que é
Onquitá - onde está


Etc. etc. etc. poderia ser a leitura geral das “palavras” coligidas pelo senhor dicionarista. Se ele fosse um homem culto de facto, e não um culto de fato, fato da toga que um dia vestiu, saberia que as diversas falas de uma língua não significam uma superioridade cultural, civilizacional, de uma fala sobre a outra. Ora, as pessoas que vêm do interior do Nordeste, e é a elas que a sua brincadeira de mau gosto se referiu, os brutos migrantes dos sertões nordestinos carregavam, além da miséria, uma gramática que é uma história da língua. Quando eles dizem “figo”, em lugar de “fígado”, ou “hay”, em lugar de “há”, ou “in riba”, em lugar de “em cima”, ou mesmo “joga no mato”, por “deixa fora, joga fora”, essas palavras, esses modos e conteúdos de fala não nasceram de uma carne, sangue e lugar inferiores.

Esses cortes de sílabas, esse “denduforno” em lugar de “dentro do forno”, esse corte de fonemas na fala de todos os dias, essa aglutinação é um procedimento comum em todas as falas, do Norte ao Sul do mundo, do Leste ao Oeste do planeta, em todas as classes e gentes e tempos. Diz-se até que é uma obediência à lei do menor esforço. Quem é bom de ouvido sabe que a última sílaba de uma palavra em uma frase não se ouve, adivinha-se pelo sentido. Um “Como vai de saúde?”, sai quase como um “Como vai de saú?”. Se os ingleses transformam consoantes de palavras em vogais, bravo, isso é mesmo um fenômeno linguístico. Se os norte-americanos pegam os tês e põem em seu lugar erres, isso só pode mesmo ser inglês moderno. Bravo.

No Brasil, na região que move a economia, quando um paulista insiste em pronunciar “record” à inglesa, mas com erres à brasileira, ou quando pronuncia “meni”, em lugar de “menu”, está apenas no exercício da sua cultura poliglota. Aplausos. Quando ele, no bar, pede um só, mas ainda assim pede “um chopes”, é uma graça. Viva. Mas um “oxente”, um “arretado”, que traem e trazem a marca da fala de nordestinos, desses baianos, desses nortistas, ah, isto só pode mesmo ser uma prova insofismável de subdesenvolvimento.

Isso comentamos à margem, do texto do léxico das empregadas e da grande mídia. Mas o pequeno dicionário para as empregadinhas não sofreu qualquer indignação patriótica, lembramos bem. Faz sentido, enfim. Como dizia Marx, ao lembrar as diferentes traduções de classe, os proletários se embriagam no bar, os burgueses vão ao club.

5 comentários

* Autor de “Os Corações Futuristas” e de “Soledad no Recife”, que recria os últimos dias de Soledad Barrett, mulher do Cabo Anselmo, executada por Fleury com o auxílio do traidor.
* Opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as opiniões
(vermelho.org)

Medicamentos...

complexo industrial farmacêutico
Por Ari de Oliveira Zenha

A poderosa indústria farmacêutica adquiriu ao longo do desenvolvimento do capitalismo força e importância incalculável na sociedade mundial. Seu poder político e econômico é avassalador, pois sua atividade está ligada a uma das necessidades básicas dos seres humanos, a saúde, ou seja, a superação das doenças e dos males que afetam as pessoas.
Os laboratórios farmacêuticos, cuja sede está localizada nos Estados Unidos e Europa, tentam garantir, a todo custo - e, aí vale qualquer artifício - seus lucros, que são expressivos, de qualquer forma. A produção de medicamentos se tornou um negócio como outro qualquer, como produzir sapatos, automóveis e outros bens de consumo. O que prevalece é a busca de lucros cada vez maiores, não importando que para isso ela tenha que subornar, colocar centenas de lobistas no Congresso dos países, deixar de fabricar determinados medicamentos que não são rentáveis, não investirem quase nada em Pesquisa e Desenvolvimento de novos remédios, pois isto requer anos de pesquisa e muitas vezes levam ao fracasso.
Os investimentos numa nova droga – medicamento – podem levar a nada. Isto faz com que essas empresas aleguem ter altos custos para a produção de medicamentos que salvam vidas, e aí, mora uma grande astúcia deste setor: elas recebem elevados subsídios dos governos e, além disso, usam para justificar os altos preços dos seus medicamentos declarando que atuam na Pesquisa e Desenvolvimento de novos remédios. Mas, na verdade, elas aplicam enormes recursos financeiros em marketing e em maquiar os antigos medicamentos, em patrocinar congressos e conferências médicas, em “visitas” aos consultórios médicos e na distribuição de amostras grátis.
Quem já não viu os representantes dos laboratórios, muito bem vestidos, muito bem treinados, que constantemente estão às portas dos consultórios médicos e clínicas médicas passando “informação” sobre algum “novo” medicamento?
A médica norte-americana Marcia Angell esclarece as artimanhas e as atividades que este setor – farmacêutico – realiza notadamente nos Estados Unidos e que se alastra para todo o planeta. Angell afirma:
“... Tornamos-nos uma sociedade hipermedicada. Os médicos infelizmente foram muito bem treinados pela indústria farmacêutica, e o que aprenderam foi a pegar o bloco de receituário. Acrescente-se a isso o fato de que a maioria dos médicos está muito pressionada em termos de tempo, em decorrência das exigências das administradoras de planos de saúde, e podem pegar aquele bloco com grande rapidez. Os pacientes também aprenderam muito com os anúncios da indústria farmacêutica. Eles aprenderam que, a não ser que saiam do consultório médico com uma prescrição, o médico não está fazendo um bom trabalho. O resultado é que gente demais acaba por tomar medicamentos quando pode haver modos melhores de lidar com seus problemas. Mais sério é o fato de que muito de nós estamos tomando muitos medicamentos ao mesmo tempo – freqüentemente cinco, talvez dez, ou até mais. Essa prática é denominada 'polimedicação' e traz consigo riscos reais. O problema é que muito poucos medicamentos têm apenas um efeito. Além do efeito desejado, há outros. Alguns são efeitos colaterais que os médicos conhecem, mas pode haver outros dos quais não tenham conhecimento. Quando vários medicamentos são tomados de uma vez, esses outros efeitos se somam. Pode haver também a interação medicamentosa, na qual um medicamento bloqueia a ação de outro ou retarda seu metabolismo, de modo que sua ação e seus efeitos colaterais são aumentados.”
E mais ainda:
“Muitos congressos de grande porte parecem bazares, dominados pelas exposições pomposas dos laboratórios farmacêuticos e por simpáticos vendedores ansiosos por cumular os médicos com presentes enquanto discorrem sobre os medicamentos de seus laboratórios. Os médicos perambulam pelos grandes corredores das exposições carregando sacolas de lona com logomarca dos laboratórios farmacêuticos, cheias de brindes, mastigando comida grátis e se servindo de todo tipo de serviços gratuitos, tais como testagem de colesterol e treino para golfe. Em lugar do profissionalismo sóbrio, a atmosfera dessas reuniões é agora de um mercenarismo comercial. Num brilhante artigo sobre este tema, uma repórter do Boston Globe descreveu seu encontro com uma psiquiatra no congresso anual da Associação Americana de Psiquiatria [em inglês, American Psychiatric Association – APA]: Ivonne Munez Velazquez, uma psiquiatra do México, remexia sua sacola de brindes como uma criança no dia de Halloween. Como recompensa por ter comparecido à reunião da APA, tinha ganho um pequeno relógio, em forma de ovo, dos fabricantes do antidepressivo Prozac; uma elegante garrafa térmica dos fabricantes do Paxil, também um antidepressivo; e um porta-cartões de prata, gravado, cortesia do Depakote, um anticonvulsivo [frequentemente prescrito para finalidades fora das indicações aprovadas, para uma variedade de síndromes psiquiátricas]. Ganhou também um pequeno e elegante porta-CD do Risperdol [sic], um antipsicótico, um porta-passaporte do Celexa, um antipsicótico [na verdade, um antidepressivo]; um belo peso de papel verde do Remeron, um antidepressivo, e um abridor de cartas de algum medicamento do qual ela nem se lembrava. Durante o fim de semana inteiro, porém, a lealdade de Velazquez estava com a Pfizer, que havia pago sua passagem aérea da Cidade do México (juntamente com trinta de suas colegas e seu sobrinho de 18 anos de idade) e os alojou em hotéis próximos ao local da reunião da APA. Naquela noite, também por cortesia da Pfizer, ela iria comparecer a um banquete esplendoroso na Academia de Belas Artes da Filadélfia.”
Não que não haja bons medicamentos para a nossa saúde, para que tenhamos uma vida mais longa e de melhor qualidade. Que os medicamentos sejam receitados com cuidado e os médicos quando os prescrevem estejam fundamentados em pesquisas e informações verdadeiras e que seja de acesso a todos estes profissionais, pois as indústrias farmacêuticas, quase sempre não passam todas as informações aos médicos, omitindo propositadamente informações essenciais para que estes realizem seus procedimentos com segurança e qualidade.
A máquina de fazer dinheiro dos laboratórios farmacêuticos esta baseada nas informações falsas, em subornos e propinas que se alastram em todos os setores médicos. Muitas vezes apenas com dietas e exercícios se obtém melhores resultados que os medicamentos.
Outro fato execrável é que a indústria farmacêutica utiliza, para manter seus enormes lucros, as patentes. Patentear um medicamento mesmo que maquiado, apenas modificando a dosagem e mudando a cor das pílulas é garantia para que esses tenham a patente prorrogada e mesmo aumentada em vários anos a mais.
Os medicamentos maquiados, ou melhor, medicamentos de imitação, vem sendo uma grande estratégia no intuito de manter as patentes e seus elevados lucros.
Os grandes centros de Pesquisa e Desenvolvimento de novos medicamentos estão nas Universidades nos grandes centros médicos acadêmicos sendo realizada por seus cientistas que tem contribuído para o aparecimento da grande maioria dos novos medicamentos. Estas instituições recebem recursos financeiros do Estado, o que significa dizer que são financiados pela população de seus países.
A indústria farmacêutica tem procurado, sistematicamente, se relacionar e se associar com estas instituições patrocinando com generosos recursos financeiros as pesquisas realizadas por estes cientistas. Os medicamentos comercializados quase sempre provêm de pesquisas financiadas com recursos públicos e executadas por Universidades, como disse, e pelas pequenas empresas de biotecnologia. Estes grandes laboratórios agem a nível global, sem nenhum constrangimento eles procuram adquirir de terceiros, incluindo os pequenos laboratórios espalhados pelo mundo, qualquer pesquisa que exista e que segundo suas avaliações, tem indícios de serem promissores.
Uma, dentre várias, necessidades da indústria farmacêutica é desenvolver medicamentos para clientes que podem pagar os preços estabelecidos por eles. Os laboratórios estavam, há tempos, voltados para pesquisar, desenvolver medicamentos para tratar doenças. Hoje, estes anunciam “doenças” que se encaixam nos medicamentos que produzem.
Quem já se deu ao “trabalho” de ler uma bula de remédio já deve ter observado que na sua grande maioria determinado medicamento é indicado para vários tipos de doenças. Isto também é uma forma dos grandes laboratórios burlarem a lei de patentes e ao mesmo tempo aumentar seus lucros, pois o tal remédio serve para inúmeros males, isso tudo com o olhar complacente das autoridades e órgãos públicos.
Quando um grande laboratório anuncia a criação de um novo medicamento, com grande potencial de consumo, logo suas ações na bolsa de valores sobem vertiginosamente, pois os lucros presumidos nesse novo medicamento são muito grandes e é lucro garantido não só para os laboratórios como para seus investidores/acionistas.
A indústria farmacêutica manipula resultados de pesquisas científicas, não realiza todos os procedimentos necessários para colocá-lo no mercado com segurança para a população, ou seja, a necessidade de auferir lucros, o mais rápido possível, é o que importa!
O complexo industrial farmacêutico não tem interesse em desenvolver medicamentos para tratar doenças tropicais, tais como: malária, doença do sono, esquistossomose, chagas, doenças comuns nos países em desenvolvimento e do terceiro mundo, pois esses países têm uma parcela significativa de sua população muito pobre, que não teria condições de comprar seus medicamentos. Por outro lado ela investe, com abundância, em medicamentos para reduzir o colesterol, tratar transtornos emocionais, febre do feno ou azia.
Precisamos, com urgência, tomar providências contra estas indústrias farmacêuticas que insistem em distorcer pesquisas, em aumentar seus lucros custe o que custar, em manter por meio das patentes o monopólio de produção e comercialização dos seus medicamentos e de aumentar seus preços a níveis estratosféricos. Sem que as autoridades e a população mundial tomem medidas duras contra a ganância dos laboratórios farmacêuticos e seus comportamentos, o que nos espera, além do que já estamos vivendo, é o mundo da saúde se transformar num imenso inferno dantesco.
Ari de Oliveira Zenha é economista
(Caros Amigos)

Imprensa....

Pelo Fim à Liberdade da Grande Imprensa


A nossa cínica e hipócrita mídia brasileira (mais precisamente a grande mídia), volta e meia faz um grande estardalhaço e muito barulho contra uma suposta censura que poderia vir a sofrer ou que já estaria sofrendo. Nada poderia ser mais patético, falacioso e medíocre do que esse tipo de campanha. Não há nada nem ninguém mais livre no Brasil do que os barões dos grandes meios de comunicação. É um setor que possui mais liberdade do que qualquer outro ramo empresarial e até mesmo do que qualquer cidadão brasileiro. E os exemplos são os mais numerosos e mais variados possível: caluniam e perseguem pessoas (físicas e jurídicas) que contrariam seus interesses políticos e econômicos, funcionam como verdadeiros partidos políticos (ganharam até o nome de PIG: Partido da Imprensa Golpista), o conteúdo de suas programações são extremamente ideológicos, parciais, pessoais enfim, fazem o que querem e o que bem entendem no uso das concessões públicas, como se tais concessões fossem uma propriedade privada ou algo vitalício.

O melhor argumento que prova o cinismo e a hipocrisia desse tipo de campanha que tenta transformar o lobo em cordeiro é extremamente simples e direto: a liberdade de imprensa não está ameaçada porque simplesmente nunca existiu e ainda não existe liberdade de imprensa no Brasil. Quando apenas meia dúzia de famílias detêm o monopólio das concessões de rádio e televisão em todo o país, isso só pode significar que somos reféns de uma Ditadura da Informação que protege, privilegia e reproduz exatamente aquilo que representa os interesses dos detentores dessas concessões ou, mais precisamente, os seus interesses como classe social. O que eles têm, portanto, não é o medo de perder a liberdade, mas medo de perder o controle e o monopólio da comunicação que, consequentemente, representa também a perda do poder de (de)formar a opinião pública (o senso comum) que tem na televisão e no rádio os seus meios quase que exclusivos para a obtenção de informações dos mais variados temas.

Chega a dar uma ânsia de vômito ver aquelas propagandas exibidas pelas emissoras de televisão que tratam dos seus próprios telejornais. Tentam vender uma imagem de imparcialidade e impessoalidade, mostrando seus jornalistas (ou seriam atores?) discutindo as notícias, “decidindo” o que vai para o ar, como se aquilo fosse realmente verdade... Só quem não possui uma mínima noção do que é um telejornal de uma grande emissora pode pensar que quem decide o seu conteúdo são os próprios jornalistas; se é que esses ainda podem ser chamados assim, pois não passam de garotos de recado com talentos mais propícios à dramaturgia do que a qualquer outra coisa. Em busca de fama, dinheiro e glamour, enveredam pelo caminho da dissimulação, da palavra vazia e acrítica, da obediência cega e da subserviência total e irrestrita, da cumplicidade em crimes dos mais variados tipos, dos ataques mais covardes e brutais contra aqueles que atrapalham os interesses de seus respectivos patrões e, por fim, praticam o sensacionalismo cretino que explora sem sensibilidade e respeito algum as mais variadas desgraças e tragédias da vida humana.

Assim, ao manipular a informação e, consequentemente, manipular o senso comum, a opinião pública, esses déspotas mercenários se passam por baluartes da democracia e da liberdade; seus crimes são encobertos e suas responsabilidades são ocultadas e desviadas contra aqueles que os acusam; se sentem-se ameaçados de punição por alguns de seus crimes, logo gritam a todos que a liberdade de imprensa está ameaçada e achincalham seus acusadores; protegem e defendem da forma mais vil todos os seus aliados e comparsas, alçando alguns deles às instâncias de poder e lutando para que aqueles que já estão lá permaneçam incólumes na missão de defender seus interesses políticos, econômicos e ideológicos. Balzac, em seu romance Ilusões Perdidas (ainda no início do século XIX), não deixou dúvidas sobre aquilo em que o jornalismo viria a se transformar. Diz o autor através de um dos seus personagens:

“O jornal, em vez de ser um sacerdócio, tornou-se um meio para os partidos; e de um meio passou a ser um comércio e, como todos os comércios, não tem fé nem lei. Todo jornal é uma loja onde se vendem ao público palavras com as cores que ele deseja. Se existisse um jornal dos corcundas, dia e noite provaria a beleza, bondade, a necessidade dos corcundas. Um jornal não é mais feito para esclarecer, mas para adular as opiniões. Assim, todos os jornais serão em um dado tempo covardes, hipócritas, infames, mentirosos, assassinos; matarão as ideias, os sistemas, os homens, e por isso mesmo florescerão. Terão a vantagem de todos os seres pensantes: o mal estará feito sem que ninguém seja o responsável. […] Napoleão justificou esse fenômeno moral ou imoral, como desejarem, através de uma frase sublime, ditada sobre os seus estudos sobre a Convenção: 'Os crimes coletivos não comprometem ninguém.' O jornal pode se permitir a mais atroz conduta, ninguém sairá pessoalmente maculado.”

Não creiam, portanto, quando ouvirem gritos e também sussurros de que a liberdade de imprensa está ameaçada, pois não se perde aquilo que não se tem. Pelo contrário, a imprensa que temos hoje está aí mais para garantir uma censura velada do que uma liberdade declarada. A grande mídia não deixou de ser golpista pelo simples fato de que os militares não estão mais no poder. Vivemos hoje sob a ditadura do mercado e, mais do que simples anunciantes e colaboradores, os detentores do grande capital são hoje sócios e donos dos grandes meios de comunicação, gerando uma relação mais promíscua e nefasta do que em qualquer outra época histórica. Com isso, o preço que pagamos diariamente para que esse tipo de imprensa continue a existir é o encarceramento das ideias, a morte da crítica e a destruição da memória. Para quem adora o deus mercado parece um preço justo, mas para quem ainda coloca o direito à vida acima do direito ao lucro, esse preço está saindo caro demais. Por tudo isso, não resta outra alternativa a não ser lutar e gritar pelo fim à liberdade da grande imprensa.


Renato Prata Biar; Historiador; Pós-graduado em Filosofia; Rio de Janeiro
(De um emeio recebido)

Boff

Os riscos da arrogância do Império
12/05/2011
por Leonardo Boff
Conto-me entre os que se entusiasmaram com a eleição de Barack Obama para Presidente dos EUA, especialmente vindo depois de George Bush Jr., Presidente belicoso, fundamentalista e de pouquíssimas luzes. Este acreditava na iminência do Armagedon bíblico e seguia à risca a ideologia do Destino Manifesto, um texto inventado pela vontade imperial norte-americana, para justificar a guerra contra o México, segundo o qual os EUA seriam o novo povo escolhido por Deus para levar ao mundo os direitos humanos, a liberdade e a democracia. Esta excepcionalidade se traduziu numa histórica arrogância que fazia os EUA se arrogarem o direito de levarem ao mudo inteiro, pela política ou pelas armas, o seu estilo de vida e sua visão de mundo.

Esperava que o novo Presidente não fosse mais refém desta nefasta e forjada eleição divina, pois anunciava em seu programa o multilateralismo e a não hegemonia. Mas tinha lá minhas desconfianças, pois atrás do Yes, we can (“sim, nós podemos”) podia se esconder a velha arrogância. Face à crise econômico-financeira apregoava que os EUA mostraram em sua história que podiam tudo e que iam superar a atual situação. Agora por ocasião do assassinato de Osama bin Laden ordenada por ele (num Estado de direito que separa os poderes, tem o Executivo o poder de mandar matar ou não cabe isso ao Judiciário que manda prender, julgar e punir?) caiu a máscara. Não teve como esconder a arrogância atávica.

O Presidente, de extração humilde, afrodescendente, nascido fora do Continente, primeiramente muçulmano e depois convertido evangélico, disse claramente: “O que aconteceu domingo envia uma mensagem a todo o mundo: quando dizemos que nunca vamos esquecer, estamos falando sério”. Em outras palavras: “Terroristas do mundo inteiro, nós vamos assassinar vocês”. Aqui está revelada, sem meias palavras, toda a arrogância e a atitude imperial de se sobrepor a toda ética.

Isso me faz lembrar uma frase de um teólogo que serviu por 12 anos como assessor da ex-Inquisição em Roma e que veio me prestar solidariedade por ocasião do processo doutrinário que lá sofri. Confessou-me: ”Aprenda da minha experiência: a ex-Inquisição, não esquece nada, não perdoa nada e cobra tudo; prepare-se”. Efetivamente assim foi o que senti. Pior ocorreu com um teólogo moralista, queridíssimo em toda a cristandade, o alemão, Bernhard Hâring, com câncer na garganta a ponto de quase não poder falar. Mesmo assim foi submetido a rigoroso interrogatório na sala escura daquela instância de terror psicológico por causa de algumas afirmações sobre sexualidade. Ao sair confessou: “o interrogatório foi pior do que aquele que sofri com a SS nazista durante a guerra”. O que significa: pouco importa a etiqueta, católico ou nazista, todo sistema autoritário e totalitário obedece à mesma lógica: cobra tudo, não esquece e não perdoa. Assim prometeu Barack Obama e se propõe levar avante o Estado terrorista, criado pelo seu antecessor, mantendo o Ato Patriótico que autoriza a suspensão de certos direitos e a prisão preventiva de suspeitos sem sequer avisar aos familiares, o que configura sequestro. Não sem razão escreveu Johan Galtung, norueguês, o homem da cultura da paz, criador de duas instituições de pesquisa da paz e inventor do método Transcend na mediação dos conflitos (uma espécie de política do ganha-ganha): tais atos aproximam os EUA ao Estado fascista.

O fato é que estamos diante de um Império. Ele é consequência lógica e necessária do presumido excepcionalismo. É um império singular, não baseado na ocupação territorial ou em colônias, mas nas 800 bases militares distribuídas pelo mundo todo, a maioria desnecessária para a segurança americana. Elas estão lá para meter medo e garantir a hegemonia no mundo. Nada disso foi desmontado pelo novo Imperador, nem fechou Guantánamo como prometeu e ainda mais, enviou outros trinta mil soldados ao Afeganistão para uma guerra de antemão perdida.

Podemos discordar da tese básica de Abraham P. Huntington em seu discutido livro O choque de civilizações. Mas nele há observações, dignas de nota, como esta: “a crença na superioridade da cultura ocidental é falsa, imoral e perigosa” (p.395). Mais ainda: “a intervenção ocidental provavelmente constitui a mais perigosa fonte de instabilidade e de um possível conflito global num mundo multicivilizacional” (p.397). Pois as condições para semelhante tragédia estão sendo criadas pelos EUA e pelos seus súcubos europeus.

Uma coisa é o povo norte-americano, bom, engenhoso, trabalhador e até ingênuo que admiramos, outra é o Governo imperial, que não respeita tratados internacionais que vão contra seus interesses e capaz de todo tipo de violência. Mas não há impérios eternos. Chegará o momento em que ele será um número a mais no cemitério dos impérios mortos.
(Blog do Boff)

Orçamentos...

AS PRIORIDADES DO ORÇAMENTO MUNDIAL

Gastos em dólares.
Armamentos – 80 bilhões
Fumo – 40 bilhões
Publicidade – 25 bilhões
Cerveja – 16 bilhões
Vinho – 8.6 bilhões
Golfe – 4 bilhões

Total necessário p satisfazer necessidades elementares de saúde, educação e alimentação de todas as crianças do mundo – 3.4 bilhões.
Fonte: informe de 1995 do UNICEF, órgão da ONU p a infância
(informação retirada da coluna de m. severiano , caros amigos, jan./08)

Brecht

“A QUEIMA DE LIVROS

“Quando o regime ordenou q fossem queimados publicamente
Os livros q continham saber pernicioso, e em toda parte
Fizeram bois arrastarem carros de livros
Para as pilhas em fogo, um poeta perseguido
Um dos melhores, estudando a lista dos livros queimados
Descobriu, horrorizado, q os seus
Haviam sido esquecidos. A cólera o fez correr
Célere até sua mesa, e escrever uma carta aos donos do poder.
Queimem-me! Escreveu c pena veloz. Queimem-me!
N me façam uma coisa dessas! N me deixem de lado! Eu n
Relatei sempre a verdade em meus livros? E agora tratam-me
Como um mentiroso! Eu lhes ordeno:
Queimem-me!” (B. Brecht)

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Minha última postagem...

Essa foi minha última postagem antes de viajar. Tenham paciência!

Castro

Fidel Castro: A insustentável posição do império
Ninguém pode assegurar que o império, em sua agonia, não arraste o ser humano à catástrofe.Como se sabe, enquanto exista a vida da nossa espécie, toda pessoa tem o dever sagrado de ser otimista. Eticamente não seria admissível outra conduta. Recordo bem que um dia, há quase 20 anos, disse que uma espécie estava em perigo de extinção: o homem.

Por Fidel Castro Ruz
Diante de um seleto grupo de governantes burgueses aduladores do império, entre eles o de imensa massa bem alimentada, o alemão Helmut Kohl, e outros pelo estilo que faziam coro a Bush pai – menos tenebroso e alienado que seu próprio filho, W. Bush –, não podia deixar de expressar aquela verdade que via muito real, embora ainda mais distante que hoje, com a maior sinceridade possível.

Ao ligar a televisão aproximadamente às 12h15, porque alguém me disse que Barack Obama pronunciava seu anunciado discurso sobre política exterior, prestei atenção a suas palavras.

Não sei porque, apesar dos montões de despachos e noticias que escuto diariamente, em nenhum vi que o sujeito falaria a essa hora. Posso garantir aos leitores que não são poucas as bobagens e mentiras que, entre verdades dramáticas e fatos de todo tipo, leio, escuto, ou vejo em imagens todos os dias. Mas este caso era algo especial. Que iria dizer o tipo a essa hora neste mundo oprimido por crimes imperiais, massacres ou aviões sem piloto lançando mortíferas bombas, que nem sequer Obama, agora dono de algumas decisões de vida ou morte, imaginava quando era estudante de Harvard há apenas umas dezenas de anos?

Ninguém suponha que Obama é dono da situação; só maneja algumas palavras importantes que o velho sistema em sua origem outorgou ao “presidente constitucional” dos Estados Unidos. A estas alturas, depois de 234 anos da Declaração de Independência, o Pentágono e a CIA conservam os instrumentos fundamentais do poder imperial criado: a tecnologia capaz de destruir o gênero humano em questão de minutos, e os meios para penetrar nessas sociedades, enganá-las e manipulá-las impudentemente pelo tempo que necessitem, pensando que o poder do império não tem limites. Confiam em dirigir um mundo dócil, sem perturbação alguma, por todo o tempo futuro.

É a ideia absurda em que baseiam o mundo de amanhã, sob “o reino da liberdade, da justiça, da igualdade de oportunidades e dos direitos humanos”, incapazes de ver o que na realidade ocorre com a pobreza, a falta de serviços elementares de educação, saúde, emprego e algo pior: a satisfação de necessidades vitais como alimentos, água potável, teto e outras muitas.

Curiosamente, alguém pode perguntar-se, por exemplo, o que ocorrerá com os 10 mil mortos por ano que a violência derivada das drogas provoca, fundamentalmente no México, ao que se podem acrescentar os países da América Central e vários dos mais populosos do sul do continente?

Não abrigo intenção alguma de ofender esses povos; o propósito é somente assinalar o que ocorre aos demais quase diariamente.

Uma pergunta é preciso fazer quase de imediato: o que ocorrerá na Espanha, onde as massas protestam nas principais cidades do país porque até 40% dos jovens estão desempregados, para citar apenas uma das causas das manifestações desse combativo povo? Acaso vão começar os bombardeios da Otan nesse país?

Entretanto, a estas horas, 16h12, ainda não foi publicada a bendita versão oficial em espanhol do discurso de Obama.

Espero que me desculpem por esta improvisada Reflexão. Tenho outras coisas das quais me ocupar.

Fidel Castro Ruz
19 maio de 2011
16h16
Fonte: Cubadebate
Tradução da Redação do Vermelho

FIFA

Imprensa internacional volta a destacar corrupção da FIFA e comparsas


Escrito por Gabriel Brito, da Redação
19-Mai-2011

Após a escandalosa decisão da FIFA de eleger a Rússia e o Catar como sedes das Copas do Mundo de 2018 e 2022 (baseada em interesses mafiosos, tal como já publicamos neste Correio), novas bandidagens voltaram a vir à tona no mundo do futebol.

Como todo brasileiro bem informado sabe, o inominável Ricardo Teixeira, um dos proprietários do futebol nacional, tem uma biografia recheada de fatos nebulosos e criminosos, tendo sido indiciado em uma dezena de irregularidades em CPI do começo da década passada. Apesar de tudo escancarado, não surpreendeu, neste país, sua impunidade.

No entanto, após a conquista do direito de receber o mundial em 2014, seus pulos passaram a ser seguidos mais de perto pela mídia internacional. Os ingleses, até pelo inconformismo de terem perdido 2018 para a Máfia Russa, não param de bombardear o público com denúncias e acusações diretas de corrupção por parte de vários dirigentes.

Claro que o filhote de João Havelange se inclui na lista – falando no ex-capo da FIFA, este sugeriu há não muito tempo que o governo pusesse fim à cobrança de impostos aos clubes brasileiros. Como se o futebol ainda fosse um esporte sem fins lucrativos e gente como ele não tivesse enriquecido às suas custas. Um escárnio que coroa a trajetória do primeiro grande gângster ludopédico, que não à toa presidiu a FIFA por 24 anos.

Em fins do ano passado, a BBC já havia afirmado em reportagem que Teixeira recebeu cerca de 16 milhões de reais em propinas, ao longo dos anos 2000, de empresas e entidades interessadas nas eleições, decisões e projetos da FIFA em todo esse tempo.

Agora, o ex-presidente da Federação Inglesa, Lorde David Triesman, declarou à Câmara dos Comuns de seu país que foi achacado por diversos cartolas durante a campanha de escolha das sedes.

Entre eles, encontra-se o presidente da Confederação Sul-Americana, Nicolas Leoz (também envolvido na supracitada matéria da BBC), há décadas no cargo, apesar de toda sua incapacidade de organizar o futebol sul-americano, completamente defasado e falido em relação ao europeu, em margens muito mais gritantes que as diferenças econômicas entre os continentes. No entanto, foi eleito há duas semanas para outro mandato, por aclamação, em evento pouco ou nada divulgado. Este senhor que mantém o futebol do continente no atraso teria requisitado um título de lorde (!), acusação engrossada pelo deputado inglês Bob Blizzard.

Outro notório picareta implicado no caso é Jack Warner, presidente da Confederação Centro-Americana, da Federação de Trinidad e Tobago e dos mais influentes na FIFA, que, aliás, já o pegou no flagra. Na única vez que seu país foi a uma Copa, em 2006, ficou com todos os ingressos a que seus compatriotas tinham direito, atrelando a compra aos pacotes de sua agência de viagem. Mas continua querido na confraria que manda no futebol...

Teixeira, por sua vez, teria singelamente perguntado a Triesman: "O que você tem pra mim?", segundo sua declaração ao parlamento britânico. Diante disso, toda a mídia grande da terra da rainha – Sky, The Sun, BBC, Guardian – tem dado enorme ênfase ao assunto, apresentando Teixeira como linha de frente dos quadrilheiros, dissecando o perfil de todos eles ao público.

Perguntado a respeito do tema, Andrew Jennings, jornalista mais odiado pela FIFA por seu vasto rol de denúncias às práticas da entidade, preferiu não responder. Mas não por omissão, e sim porque trabalha em conjunto com a BBC na produção de um documentário exatamente a respeito de tudo isso, a ser lançado no próximo dia 24 de maio. Conhecendo o nível das produções da emissora estatal inglesa, podemos esperar (e torcer) por um terremoto no mundo do ‘futebol’.

Falando em Jennings, acaba de chegar ao Brasil seu mais novo livro, Jogo Sujo, que trata exatamente desses fétidos bastidores futebolísticos. A obra é obrigatória para todos aqueles que conseguem se manter devotos do esporte bretão. Na verdade, para todos os brasileiros, para que saibamos bem o que temos pela frente com essa Copa cujos custos não param de subir, como já calculávamos.

Para fazer média, a FIFA anunciou exatamente nessa semana uma doação de 22 milhões de dólares para a Interpol, com fins de investigar crimes financeiros ligados ao esporte mais popular do mundo. Claro que é cortina de fumaça de Blatter, outro rato desenvolto por esses corredores, mais preocupado com sua reeleição.

O problema, para nós, é o adversário ser o catariano Mohamad Bin Hamman, presidente da Confederação Asiática, que tem proferido um discurso de renovação, mas é absolutamente da mesma estirpe. Tanto que levou uma Copa do Mundo para este "país", em escolha por si só auto-explicativa diante de sua irrelevância esportiva - mas não econômica. Na ocasião, aliás, dois membros do conselho de "ética" da FIFA foram afastados momentos antes da decisão após caírem em armadilha de repórteres (ingleses!) que lhes acenavam com subornos.

Já o jornalista Juca Kfouri publicou em seu blog trecho de outra inacreditável matéria que desnuda o nível de corrupção dessa cartolagem, ao repercutir reportagem (íntegra somente em alemão) da revista suíça Bilanz, que, por sinal, serve também para exibir o caráter mafioso da tal neutralidade deste país:

"O público se surpreende muitas vezes com o modo que a justiça trata de casos criminais da economia. A expressão ‘justiça condescendente’ é o rumor que circula atualmente. A demora dos processos, a leniência das sentenças e as freqüentes decisões inexplicáveis causam surpresa – mesmo no mundo dos juízes penais. A apreciação das atitudes da justiça é desoladora, e a justiça não passa uma boa imagem.

Mesmo no respectivo meio em países adjacentes já se comenta: a Suíça é um paraíso de liberdade para negócios dúbios, um refúgio para autores de desfalques, fraudadores, fraudadores da bolsa e gerentes gananciosos.

E a justiça em si parece incapaz de comunicar o seu trabalho. O seu trabalho de mídia, junto a campanhas profissionais de mídia orquestradas de modo profissional por consultores furtivos de seus réus, não pode mais ser considerado.

São especialmente ostentosos os grandes dossiês que já estão pendentes por uma eternidade (…) O funcionário brasileiro da FIFA, Ricardo Teixeira, receptor de aproximadamente 12 milhões de francos de suborno, deverá encerrar o seu caso após o pagamento de um valor de restituição junto a uma ordem de improcedência nove anos após o início das investigações do magnata do futebol no pântano de suborno.

Quando esta disposição se tornou conhecida – primeiramente sob pressão da mídia –, o chefe da FIFA Joseph Blatter já dispunha do argumento conveniente: ‘Assunto antigo do conhecimento de todos’".

Enquanto isso, a outra proprietária do futebol brasileiro, a Rede Globo, faz pouco caso e ignora o mar de denúncias, algumas inequívocas e jamais desmentidas. Já o nosso governo trabalha pela MP 521/10, que pretende relaxar e facilitar os trâmites dos processos licitatórios de toda e qualquer obra relacionada à Copa do Mundo, isto é, tudo que as 12 cidades sedes farão até lá. Na prática, o sonho que todo bandido delira na cama: receber a chave do cofre do dono do banco.

A desgraça de tudo, ao menos se atendo ao futebol, é que o caráter privado e soberano da FIFA, entidade máxima e reguladora do esporte (apesar de toda sua dependência e interesse públicos), faz com que não haja, em tese, quem tenha autoridade para enquadrá-la e promover uma autêntica limpa, inclusive com punições.

Talvez a única solução seja esperar que os torcedores aprendam a direcionar seu hooliganismo, pois como diz o mesmo Andrew Jennings "essa gente precisa ir pro paredão e ser fuzilada".

Leia mais:


Gabriel Brito é jornalista.
(Correio da Cidadania)

Espanha

Revolução Espanhola
Eles disseram que estávamos preguiçosos,
ni-nis:
nem indignar-nos
ou protestar.
Eles estavam errados.

Temos sido drogada por ano
com promessas vazias
Hipoteca
currículos
e bandeiras-falsas.
Não funcionou.

Agora nós estamos indo para o acampamento
saber
de se organizar.
Agora vamos dizer em voz alta
que se
esta só agora começou.

Nós reformas não
que nunca virá:
Nós queremos tudo,
queremos agora!

Volianihil Diego

@ Barriodelcarmen .. valencia
(Poesiasalvaje)

Líbia

A "operação Líbia" e a batalha pelo petróleo: redesenhar o mapa da África


Escrito por Michel Chossudovsky
17-Mar-2011

As implicações geopolíticas e econômicas de uma intervenção militar do bloco EUA-OTAN contra a Líbia são de grande alcance.

A Líbia está entre as maiores economias petrolíferas do mundo, com aproximadamente 3,5% das reservas globais de petróleo, mais que o dobro das dos EUA.

A "Operação Líbia" faz parte de uma agenda militar mais vasta no Oriente Médio e na Ásia Central, a qual consiste em ganhar controle e propriedade corporativa sobre mais de 60% da reservas mundiais de petróleo e gás natural, incluindo as rotas de oleodutos e gasodutos.

"Países muçulmanos, incluindo a Arábia Saudita, Iraque, Irão, Kuwait, Emirados Árabes Unidos, Qatar, Iêmen, Líbia, Egito, Nigéria, Argélia, Cazaquistão, Azerbaijão, Malásia, Indonésia, Brunei, possuem de 66,2 a 75,9 por cento do total das reservas de petróleo, conforme a fonte e a metodologia da estimativa" (ver Michel Chossudovsky, The "Demonization" of Muslims and the Battle for Oil, Global Research, 04/01/2007).

Com 46,5 bilhões de barris de reservas provadas (10 vezes as do Egito), a Líbia é a maior economia petrolífera do continente africano, seguida por Nigéria e Argélia (Oil and Gas Journal). Em contraste, as reservas provadas dos EUA são da ordem dos 20,6 bilhões de barris (dezembro de 2008), segundo a Energy Information Administration - U.S. Crude Oil, Natural Gas, and Natural Gas Liquids Reserves.



Nota

As estimativas mais recentes situam as reservas de petróleo da Líbia nos 60 bilhões de barris. As suas reservas de gás em 1.5 trilhão de metros cúbicos. A sua produção tem estado entre 1,3 e 1,7 milhão de barris/dia e a produção de gás de 2,6 bilhões de pés cúbicos por dia, segundo números da National Oil Corporation (NOC).

A BP Statistical Energy Survey de 2008 (em alternativa) colocava as reservas provadas da Líbia nos 41.464 bilhões de barris no fim de 2007, os quais representam 3,34% das reservas provadas do mundo (Mbendi Oil and Gas in Libya - Overview).



O petróleo é o "troféu" das guerras conduzidas pelos EUA-OTAN

Uma invasão da Líbia sob um pretexto humanitário serviria os mesmos interesses corporativos da invasão de 2003 e subsequente ocupação do Iraque. O objetivo subjacente é tomar posse das reservas de petróleo da Líbia, desestabilizar a National Oil Corporation (NOC) e finalmente privatizar a indústria petrolífera do país, nomeadamente transferir o controle e propriedade da riqueza petrolífera Líbia para mãos estrangeiras.
A National Oil Corporation (NOC) está classificada entre as 25 maiores companhias de petróleo do mundo (The Energy Intelligence ranks NOC 25 among the world's Top 100 companies – www.Libyaonline.com).

A planejada invasão da Líbia, a qual já está em curso, é parte da "Batalha pelo petróleo" mais vasta. Aproximadamente 80% das reservas de petróleo da Líbia estão localizadas na bacia do Golfo de Sirte da Líbia Oriental (ver mapa abaixo).
A Líbia é uma economia valiosa. "A guerra é bom para os negócios". O petróleo é o troféu das guerras efetuadas pelos EUA-OTAN.
A Wall Street, os gigantes anglo-americanos do petróleo e os produtores de armas dos EUA e União Européia seriam os beneficiários tácitos de uma campanha militar dos EUA-OTAN contra a Líbia, pois seu petróleo é uma mina de ouro para eles.
Embora o valor de mercado do petróleo bruto esteja atualmente pouco acima dos 100 dólares por barril, o custo do petróleo líbio é extremamente baixo, tão baixo como US$1,00 por barril (segundo estimativas). Como comentou um perito do mercado algo criticamente: "A US$110 no mercado mundial, a simples matemática da a Líbia uma margem de lucro de US$109" ( Libya Oil , Libya Oil One Country's $109 Profit on $110 Oil, EnergyandCapital.com March 12, 2008).

Interesses petrolíferos estrangeiros na Líbia

Dentre as companhias petrolíferas estrangeiras que operavam antes da insurreição na Líbia incluem-se a Total da França, a ENI da Itália, a China National Petroleum Corp (CNPC), British Petroleum, o consórcio espanhol REPSOL, ExxonMobil, Chevron, Occidental Petroleum, Hess, Conoco Phillips.

Muito significativamente, a China desempenha um papel central na indústria petrolífera líbia. A China National Petroleum Corp (CNPC) tinha, até o seu repatriamento, uma força de trabalho de 30 mil chineses na Líbia. A British Petroleum (BP), em contraste, tinha uma força de trabalho de 40, a qual foi repatriada.

Onze por cento (11%) das exportações de petróleo líbias são canalizadas para a China. Se bem que não haja números sobre a dimensão e importância da produção e atividades de exploração da CNPC, há indicações que são apreciáveis.

Mais geralmente, a presença da China na África do Norte é considerada por Washington como uma intrusão. De um ponto de vista geopolítico, a China é uma intrusa. A campanha militar dirigida contra a Líbia pretende excluir a China da África do Norte.

O papel da Itália também tem importância. A ENI, o consórcio italiano, extrai 244 mil barris de gás e petróleo por dia, os quais representam quase 25% do total das exportações da Líbia (Sky News: Foreign oil firms halt Libyan operation , 23/02/2011).

Dentre as companhias estadunidenses na Líbia, a Chevron e a Occidental Petroleum (Oxy) decidiram há cerca de seis meses (outubro de 2010) não renovar as suas licenças de exploração de petróleo e gás na Líbia (Why are Chevron and Oxy leaving Libya?: Voice of Russia , 06/10/2010). Em contraste, em novembro de 2010 a companhia alemã R.W. DIA E assinou um acordo de grande alcance com a NOC da Líbia, que envolve a exploração e partilha de produção (AfricaNews - Libya: German oil firm signs prospecting deal - The AfricaNews).

As apostas financeiras bem como "os despojos de guerra" são extremamente elevados. A operação militar pretende desmantelar instituições financeiras da Líbia e também confiscar bilhões de dólares de ativos financeiros líbios depositados em bancos ocidentais.

Deve ser enfatizado que as capacidades militares da Líbia, incluindo o seu sistema de defesa aérea, são fracas.

Redesenhar o mapa da África

A Líbia tem as maiores reservas de petróleo da África. O objetivo da interferência dos EUA-OTAN é estratégico: consiste no roubo sem rodeios, em roubar a riqueza petrolífera do país sob o disfarce de uma intervenção humanitária.

Esta operação militar pretende estabelecer a hegemonia dos EUA na África do Norte, uma região historicamente dominada pela França e em menor extensão pela Itália e Espanha.

Em relação à Tunísia, Marrocos e Argélia, o desígnio de Washington é enfraquecer os laços políticos destes países com a França e pressionar pela instalação de novos regimes políticos que tenham um estreito relacionamento com os EUA. Este enfraquecimento da França, como aspecto do desígnio imperial dos EUA, faz parte de um processo histórico que remonta às guerras na Indochina.

A intervenção dos EUA-OTAN que conduza à futura formação de um regime fantoche dos EUA pretende também excluir a China da região e por para fora a chinesa National Petroleum Corp (CNPC). Os gigantes anglo-americanos, incluindo a British Petroleum que em 2007 assinou um contrato de exploração com o governo Kadafi, estão entre os potenciais "beneficiários" da proposta operação militar EUA-OTAN.

Mais na generalidade, o que está em causa é o redesenho do mapa da África, um processo de redivisão neocolonial, o descarte das demarcações da Conferência de Berlim de 1884, a conquista da África pelos Estados Unidos em aliança com a Grã-Bretanha, numa operação conduzida pelos EUA-OTAN.

Líbia: Portão saariano estratégico para a África Central

A Líbia tem fronteiras com vários países que estão na esfera de influência da França, incluindo a Argélia, Tunísia, Níger e Chade.

O Chade é potencialmente uma economia rica em petróleo. A ExxonMobil e a Chevron têm interesses no Chade do Sul, incluindo um projeto de oleoduto. O Chade do Sul é um portão de entrada para a região do Darfur, no Sudão, a qual também é estratégica em vista da sua riqueza petrolífera.

A China tem interesses petrolíferos tanto no Chade como no Sudão. A China National Petroleum Corp (CNPC) assinou em 2007 um acordo de grande alcance com o governo do Chade.

O Níger é estratégico para os Estados Unidos devido às suas vastas reservas de urânio. No presente, a França domina a indústria de urânio no Níger através do conglomerado nuclear francês Areva, anteriormente conhecido como Cogema. A China também tem interesse na indústria de urânio do Níger.

Mais geralmente, a fronteira sul da Líbia é estratégica para os Estados Unidos na busca pela extensão da sua esfera de influência na África francófona, um vasto território que se estende desde a África do Norte até a África Central e Ocidental. Historicamente, esta região fazia parte dos impérios coloniais da França e da Bélgica, cujas fronteiras foram estabelecidas na Conferência de Berlim de 1884.

Os EUA desempenharam um papel passivo na Conferência de Berlim de 1884. Esta nova redivisão no século XXI do continente africano, baseada no controle sobre o petróleo, gás natural e minerais estratégicos (cobalto, urânio, cromo, manganês e platina) apoia amplamente os interesses corporativos anglo-americanos.

A interferência dos EUA na África do Norte redefine a geopolítica de toda uma região. Mina a China e ensombra a influência da União Europeia.

Esta nova redivisão da África não enfraquece apenas o papel das antigas potências coloniais (incluindo a França e a Itália) na África do Norte. Ela também faz parte de um processo mais vasto de deslocamento e enfraquecimento da França (e da Bélgica) sobre uma grande parte do continente africano.

Regimes fantoches dos EUA foram instalados em vários países africanos que historicamente estavam na esfera de influência da França (e Bélgica), incluindo a República do Congo e o Ruanda. Vários países na África Ocidental dentro da esfera da França (incluindo a Costa do Marfim) estão destinados a tornarem-se estados proxy dos EUA.

A União Europeia está fortemente dependente do fluxo de petróleo líbio. Oitenta e cinco por cento do seu petróleo é vendido para países europeus. No caso de uma guerra com a Líbia, a oferta de petróleo à Europa Ocidental poderia ser interrompida, afetando grandemente a Itália, França e Alemanha, as quais estão fortemente dependentes do petróleo líbio. As implicações destas interrupções são de extremo alcance. Elas também têm relação direta sobre o relacionamento entre os EUA e a União Europeia.

Observações conclusivas

A mídia de referência, através da desinformação maciça, é cúmplice na justificação de uma agenda militar, que se executada teria conseqüências devastadoras não apenas para o povo líbio: os impactos sociais e econômicos seriam sentidos em escala mundial.

Há atualmente três diferentes teatros de guerra na região do Oriente Médio e Ásia Central: Palestina, Afeganistão, Iraque. No caso de um ataque à Líbia, o quarto teatro de guerra seria aberto na África do Norte, com o risco de escalada militar.

A opinião pública deve tomar conhecimento da agenda oculta por trás deste empreendimento alegadamente humanitário, apregoado por chefes de Estado e chefes de governos de países da OTAN como uma "Guerra Justa". A teoria da Guerra Justa, tanto nas suas versões clássica como contemporânea, defende a guerra como uma "operação humanitária". Ela apela à intervenção militar sobre bases éticas e morais contra "Estados vilões" e "terroristas islâmicos". A teoria da Guerra Justa demoniza o regime Kadafi na sua fase de preparação.

Os chefes de Estado e de governo dos países da OTAN são arquitetos da guerra e destruição no Iraque e no Afeganistão. Numa lógica absolutamente enviesada, eles são apregoados como as vozes da razão, como os representantes da "comunidade internacional".

As realidades são invertidas. Uma intervenção humanitária é lançada por criminosos de guerra em altos cargos, os quais são os guardiões da teoria da Guerra Justa.

Abu Ghraib, Guantánamo, baixas civis no Paquistão resultantes de ataques dos EUA com aviões sem piloto a cidades e aldeias, ordenados pelo presidente Obama, não estão nas primeiras páginas dos noticiários nem tampouco as duas milhões de mortes civis no Iraque. Não existe isso de "Guerra Justa".

A história do imperialismo dos EUA deveria ser entendida. O Relatório 200 do Project of the New American Century (PNAC) intitulado "Rebuilding Americas' Defenses" apela à implementação de uma longa guerra, uma guerra de conquista. Um dos principais componentes desta agenda militar é: "Combater e vencer decisivamente em múltiplos teatros de guerra simultâneos".



A operação Líbia faz parte desse processo. É um outro cenário na lógica do Pentágono de "teatros de guerra simultâneos".

O documento PNAC reflete fielmente a evolução da doutrina militar dos EUA desde 2001. Os planos dos EUA para se envolver simultaneamente em vários teatros de guerra em diferentes regiões do mundo.

Embora a proteção da América, nomeadamente a "Segurança Nacional" dos EUA, seja mantida como objetivo, o relatório do PNAC explica claramente porque estes teatros de guerra múltiplos são requeridos. A justificativa humanitária não é mencionada.

Qual é o objetivo do roteiro militar da América?

A Líbia é alvejada porque é um dentre os vários países que permanecem fora da esfera de influência da América, por não se acomodar às exigências dos EUA. A Líbia é um país que foi selecionado como parte de um "roteiro" militar que consiste de "múltiplos teatros de guerra simultâneos". Nas palavras do antigo comandante-chefe da OTAN, general Wesley Clark:

"No Pentágono em novembro de 2001, um dos oficiais superiores do staff teve tempo para uma conversa. ‘Sim, ainda estamos a caminho de ir contra o Iraque’, disse ele. Mas havia mais. Isso estava sendo discutido como parte de um plano de campanha de cinco anos, disse ele, e havia um total de sete países, começando com o Iraque e seguindo por Síria, Líbano, Líbia, Irã, Somália e Sudão (Wesley Clark, Winning Modern Wars, p. 130).

Parte I: Insurreição e intervenção militar: Os EUA-OTAN tentaram golpe de Estado na Líbia?

Parte III: "War is Good for Business": The Libya Insurrection has Triggered a Surge in Oil Prices. Speculators Applaud... (a publicar)

O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=23605

Este artigo foi retirado de http://resistir.info/.

Michel Chossudowsky é membro do Centro de Pesquisas sobre a Globalização e autor de ‘A globalização da pobreza’.

Venezuela

Venezuela, avanços e limites
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Antonio Martins
– 12/05/2011Posted in: Destaques
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Exemplo notável de reação às políticas neoliberais, país depara-se agora com risco de ultra-centralização política. Nossos textos debatem a encruzilhada
Por Antonio Martins

Para acompanhar o debate, leia também:
> País em que as maiorias governam
> O fantasma do autoritarismo

Prevista inicialmente para esta semana (9 e 10/5), uma nova visita de Hugo Chávez ao Brasil foi adiada (por uma contusão no joelho do visitante) e deverá concretizar-se em junho. Já não será permeada pelo clima de tensão midiática que caracterizou encontros anteriores. Palco de experiências que incomodam os conservadores, a Venezuela converteu-se, ao mesmo tempo, num dos principais clientes das exportações brasileiras (responsável por 15% do superávit comercial) e abriga vastos investimentos de grandes empresas privadas nacionais.
A visita – num cenário menos tendente ao choque de torcidas – convida a debater em profundidade aspectos do “bolivarianismo”, a vertente política que Chávez crê haver iniciado. É este o papel de dois textos que Outras Palavras publica hoje. Foram produzidos originalmente para a revista Red Pepper, integrante das redes de mídias livres (e nossa parceira) no Reino Unido.
Ambos partem de um mesmo ponto de vista: reconhecem a enorme importância da trajetória recente da Venezuela, para a reconstituição de um pensamento pós-capitalista. Como chefe de Estado, Chávez foi certamente um pioneiro. Na virada do século (sua posse deu-se em 1999, antecedendo em quatro anos a de Lula), quando começou a adotar políticas que promoviam a redistribuição de riquezas e o empoderamento das maiorias, era uma exceção praticamente solitária. Em todo o mundo – e na América Latina, em particular – vivia-se ainda o impacto do fim do “socialismo real”. Acreditando-se incapazes de contrariar as “forças de mercado”, os governos faziam concessões seguidas ao mundo das finanças e às corporações transnacionais: privatizações, corte de direitos, ataques aos serviços públicos etc.
Nosso primeiro texto, redigido pela ativista britânica Jennie Brenmer, ressalta a atualidade destes avanços. A crise financeira, frisa a autora, foi usada pelos governantes europeus como pretexto para ressuscitar as políticas neoliberais. A Inglaterra, um claro exemplo, acelerou o desmonte de algo que a caracterizou por décadas: o estado de bem-estar social. Cortam-se serviços essenciais como creches, impõe-se a cobrança de mensalidades no ensino público, reduzem-se os subsídios que permitiam às maiorias condições acesso à formação de alto nível.
A Venezuela continua a ser contraponto a isso. A ampliação dos direitos sociais prossegue – mesmo, ressalta o artigo, em meio a dificuldades econômicas e à recessão que marcaram os últimos dois anos. Ou seja: Chávez ousa contrar as supostas “regras de governabilidade” que colocam em primeiro lugar a Economia. Definiu um objetivo político – alterar as relações sociais que subordinam as maiorias – e faz dele a razão de seu mandato.
Será o suficiente para articular um novo projeto de transformação social? O sociólogo Edgardo Lander, presença constante nos Fóruns Sociais Mundiais, pensa que não. Ele está preocupado com tendências que Chávez e o PSUV, partido no poder, passaram a manifestar mais acentuadamente a partir de setembro do ano passado – quando perderam, em eleições, o controle quase completo do Legislativo. Lander identifica, nas atitudes adotadas desde então, um velho cacoete das experiências do “socialismo real”: a tendência à ultra-centalização.
A análise tem nuances. O balanço geral do chavismo, diz o entrevistado, é uma participação popular como nunca houve antes, na história da Venezuela. Mas esta conquista estaria sendo atropelada por uma espécie de esquizofrenia: convoca-se a sociedade a debater tudo, mas a decisão final vem sempre do governante máximo e do partido no poder. Lander conclui que seu país está diante de um dilema: ou reverte a tendência atual, se dispõe a continuar inventando novas formas de participação popular autêntica; ou o verticalismo acabará minando a própria obra (real e importantíssima) de Chávez.
O debate, é evidente, implica muito mais que o destino imediato da Venezuela (onde haverá eleições presidenciais no segundo semestre de 2012). Num tempo em que o futuro está aberto, e em que convivem tendências tão díspares quanto as revoluções no mundo árabe e as ameaças da extrema-direita europeia, é uma satisfação lembrar que a comunicação pode ajudar a promover debates relevantes.

(outras Palavras)

Futebol

Futebol além da Mercadoria
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admin
– 12/04/2011Posted in: Posts
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Pelo coletivo da Associação Nacional dos Torcedores | Imagem: Fubebol (1935), de Cândido Portinari
Ao longo dos seus mais de cem anos de existência, o futebol no Brasil atravessou momentos históricos dos mais diversos. Nas terras tupiniquins, apesar de toda a metamorfose que sofreu, o jogo não perdeu seu elemento central: a atratividade e a paixão que desperta nas centenas de milhões de nativos.
O futebol brasileiro nasceu num amadorismo elitista e se tornou um jogo de rua. Explodiu em popularidade e viu clubes sendo formados em cada bairro das grandes cidades. Sofreu um processo forçado de profissionalização, tendo que se adequar a esse modelo às duras penas. Foi usado como instrumento político por uma ditadura, rodou pela mão dos mais perversos corruptos e oportunistas, até virar um gigante e lucrativo negócio, atraindo grupos financeiros dos mais variados e forçando os clubes a se tornarem verdadeiras empresas. Em cada momento desses, viu a sua magia ser apropriada e violada por interesses privados e políticos das velhas classes dominantes locais.
Dentro dos clubes, uma clara contradição de classes se formava. Na parte superior da pirâmide futebolística estariam os tais cartolas, abastados senhores de pomposos sobrenomes e gordas contas bancárias, que vêem no jogo um ótimo terreno para articular os seus negócios. Seguidos então de uma casta quase parasitária de conselheiros, comumente atrelados aos grupos políticos hegemônicos dentro dos clubes e geralmente indicados por esses. Na base disso tudo, sofrendo todos os ônus de tudo que acontecia no futebol, estaria então o torcedor, o verdadeiro “operário” desse jogo.
Enquanto os cartolas e conselheiros se apropriam dos clubes em benefício próprio, numa outra mão as entidades organizadoras do futebol são ocupadas por figuras quase sempre questionáveis. No Brasil, o jogo de poder que envolve essas entidades, hoje burocratizadas e distantes das reais necessidades do jogo, coloca-as como mero instrumento de barganha diante dos interesses econômicos que envolvem o futebol. Nesse caso, leiam-se as Federações Estaduais, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Federação Internacional de Futebol (FIFA) e o seu harmonioso casamento com grandes corporações que “patrocinam” o esporte.
Diante disso tudo, não seria contraditório dizer que tais entidades, por mais que lidem com esse patrimônio público que é o futebol, através das mais mirabolantes manobras políticas, não possam sofrer intervenções do poder público. São hoje entidades de direito privado e, inclusive, com fins lucrativos, mesmo que não declarem isso. Não é de assustar o interesse de tantos abutres por elas.
Acontece que, na medida em que o futebol foi se tornando um negócio cada vez mais complexo, foram surgindo novas formas de intervenção desses tais interesses privados. Como exemplos se podem citar os grupos econômicos que compram ações de clubes, empresários que agenciam jogadores usando-os como mercadorias, empresas que adquirem os direitos federativos dos atletas, patrocinadores milionários que estampam suas marcas os uniformes, grupos de comunicação donos da programação dos campeonatos, empreiteiras proprietárias de praças esportivas históricas e por último, e talvez o mais bizarro de todos: os clubes-empresa.
Todo esse interesse do mercado no futebol se deve, obviamente, por conta da atração que o jogo tem sobre os homens comuns. Como disse uma vez Antônio Afif, um dos gurus do futebol-negócio no país: “o futebol moderno tem hoje a capacidade de transformar milhões de torcedores apaixonados em potenciais consumidores”. A deturpação do real sentido do futebol existir já chegou a um grau no qual Afif pode afirmar isso sem o menor pudor.
E qual seria, então, o real sentido do futebol? A resposta é muito simples: servir ao futebol. Nesse sentido deixa-se claro que o jogo existiu e existirá independente de qual força política ou setor da sociedade se aproprie dele. E já que se compreende o futebol como patrimônio cultural, deve então ser tratado como tal, sendo acessível a todos e de controle social.
Uma vez colocado que o controle deve ser socializado, fica claro que isso seria então feito pelo seu principal ator. Não seria, portanto o velho e viciado cartola, muito menos o empresário sedento de lucros, mas o torcedor.
Hoje, enfim, o futebol nacional pode estar vivendo um novo momento. E esse momento seria o da sua retomada pelos torcedores.
Cansados de ver o jogo ser a todo instante utilizado para os mais diversos interesses privados, os torcedores brasileiros buscaram uma alternativa: uma organização própria que os representasse e que lutasse pelos seus direitos.
É assim que no final do ano de 2010 é fundada a Associação Nacional dos Torcedores (ANT), com intuito de ser a voz e a arma com a qual os apaixonados adeptos poderiam se organizar. Uma vez insatisfeitos com os rumos que o futebol tomava no Brasil, a ANT buscaria então ser uma entidade representativa dessa “categoria”.
O que se viu, logo após as primeiras duas semanas de existência e a associação de mais de 2 mil torcedores por todo o Brasil, foi que a pauta era urgente. Não se tratava mais de uma idéia solta aqui e ali a partir de uma extensa discussão sobre concepções: o pensamento de que o futebol está deixando de ser um direito de todos já estava consolidado.
Em seu manifesto de lançamento, o “Nossa missão em 7 pontos para homenagear Garrincha, a alegria do povo”, a ANT traçou as bandeiras que buscavam contemplar os principais problemas enfrentados pelos torcedores em nome do futebol-negócio.
A principal delas, uma realidade já presente nos países europeus, e que anda em passos largos no Brasil é a elitização, ou higienização, dos estádios. Pegando carona nos megaeventos esportivos, o principal deles a Copa do Mundo da FIFA, com a construção de arenas multiuso, verdadeiros shopping centers com um campo de futebol no meio, diversos estádios do mundo não podiam mais se sustentar com ingressos nos antigos valores. Com isso foram extintos os setores populares (famosas gerais), reduziu-se a capacidade dos estádios completando a sua estrutura com cadeiras numeradas e foram introduzidos serviços aos quais poucos podem ter acesso.
Os “torcedores” desejáveis hoje seriam aqueles que pudessem bancar essa farra: a alta classe-média bem sucedida economicamente acima de trinta anos, os ricos e os turistas. Exatamente aqueles que possuíssem um poder aquisitivo adequado a tais condições. Em termos mais precisos: consumidores em potencial. Esse padrão pode ser visto sem muita dificuldade em todos os principais estádios da Espanha, Itália, Inglaterra, e em menor grau, na Alemanha. Exatamente por conta da resistência dos torcedores organizados.
Esse modelo de estádio também acarreta numa outra grave agressão aos direitos do torcedor: o direito de fazer a festa. É difícil imaginar um jogo sem a euforia e o show de pirotecnias, bandeira e diversos adereços típicos das torcidas. No Maracanã, no seu período “inter-reformas”, após o fim da histórica Geral até o seu novo fechamento para novas mudanças por comta da Copa do Mundo de 2014, uma cena muito incomum já podia ser notada. Grupos “especializados” de policiais forçavam os torcedores a se manter sentados. Tal qual um cinema, o futebol seria levado como mero entretenimento, e ai de quem ousasse desrespeitar. O reflexo disso foi um ambiente gélido, sem a velha magia do setor que sempre foi a cara do torcedor brasileiro, festivo e irreverente.
Com esse novo padrão de comportamento os mandatários do futebol brasileiro também poderiam colocar em prática um sonho antigo: a criminalização das torcidas organizadas. O Estatuto do Torcedor, editado em 2010, parte do processo de adaptação do país à Copa que viria, foi o mais brutal dos golpes já deferidos contra as T.O’s. Com o apoio da grande mídia, o projeto passou quase que unânime, tratando o torcedor organizado/uniformizado como um bandido, abusando do seu status de classe social inferior para enquadrá-lo como um verdadeiro inimigo do futebol.
Se tratando da mídia, mais precisamente, tem-se hoje a compreensão incontestável de que essa é a principal força econômica e política que vem a intervir no futebol. A ANT, numa das suas bandeiras, mostrou como os interesses das grandes empresas televisivas sempre eram colocados como prioridade, em detrimento do torcedor. Não bastassem os ingressos absurdamente caros, o amante do futebol precisa atualmente passar por um verdadeiro teste de resistência, sendo obrigado a assistir aos jogos do seu clube do coração em horários desumanos, como 22 horas, em pleno meio de semana.
Soma-se a isso, e também é uma das lutas contempladas pela ANT, a falta de um sistema de transporte público de qualidade, que garantisse a ida ao jogo e a volta para casa com conforto e segurança. Não é raro ver torcedores sem ter como voltar para casa ao sair do jogo para além da meia-noite e não encontrar ônibus. No Rio de Janeiro, o Grupo Especial de Policiamento dos Estádios (GEPE) adota como tática de segurança a diminuição da frota em dia de jogo para reduzir os tais torcedores “indesejáveis”.
Compreendendo os efeitos que o futebol tem na sociedade, positivos ou negativos, a Associação Nacional dos Torcedores também compreendeu que as suas pautas não se reduziam aos “direitos do torcedor”. A dinâmica social na qual está inserido o futebol também deveria ser contemplada.
A partir disso a ANT entrou num extenso debate acerca dos efeitos dos megaeventos esportivos no Brasil, dentre eles a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Com a experiência vivida no Rio de Janeiro após os Jogos Panamericanos de 2007, seria demasiado irresponsável não alertar a população para determinados efeitos.
O principal deles é a arbitrariedade do Estado ao decretar a remoção de comunidades em nome dos jogos. A construção de uma infra-estrutura toda especial, argumento mais batido e tratado como trunfo dos defensores dos megaeventos, na realidade só satisfaz o interesse dos grupos econômicos que planejam lucrar como nunca antes, durante e depois das competições.
Como nos mais diversos aspectos da vida moderna, o fator ser humano é colocado abaixo do fator dinheiro. Milhares de famílias são obrigadas a mudar para regiões periféricas das grandes cidades em nome de duplicações de avenidas, ampliação de linhas de metrô, construção de estacionamentos, dentre outras obras que só existem, no fim das contas, para valorizar o espaço urbano onde se localizarão as grandes redes hoteleiras, pontos turísticos e condomínios de luxo.
Por conta disso a ANT vem buscando construir os Comitês Populares da Copa, iniciativas que acontecem nas cidades-sede dos jogos, compostas das mais diversas entidades da sociedade civil, desde ONGs até associações de moradores, centrais sindicais e movimentos sociais. Comprometidos em fiscalizar e denunciar os ataques aos direitos dos cidadãos brasileiros, os Comitês tem proporcionado uma importante articulação entre tais setores organizados, desqualificando a lenda de que os megaeventos trariam apenas benefícios. Aliás, muito pelo contrário.
Por último, e não menos importante, está a pauta da democratização do futebol. Qual a legitimidade que o presidente da CBF tem hoje no grosso dos torcedores brasileiros? Eleito por uma parcela mínima de dirigentes de federações estaduais, comumente agraciados com regalos pessoais, dentro de uma estrutura antidemocrática de eleições, Ricardo Teixeira já completa 22 anos à frente da entidade máxima do futebol nacional. Tomando-a como um brinquedinho particular, da mesma forma que o seu sogro João Havelange, principal fundador desse modelo de futebol que só vem trazendo malefícios.
É com esse poder que Ricardo Teixeira consegue fazer e desfazer campeonatos a seu bel-prazer. Com esse poder que consegue implodir uma entidade que lutava pela autonomia dos clubes, por mais que tivesse suas contradições, que era o Clube dos 13. Com essa coroa imaginária e inquebrável que adoçava a boca da sua fiel escudeira Rede Globo à frente dos interesses gerais do futebol nacional.
Mostra-se urgente uma intervenção na CBF. Não há mais condições de permitir que um único sujeito, girado para dentro do seu próprio umbigo tenha o direito de controlar os caminhos do esporte mais amado pelos brasileiros. O mesmo deve-se dizer dos clubes.
Durante muitas décadas o futebol, como qualquer outro esporte que atraísse as massas, sofreu criticas de diversos setores combativos da sociedade. Sua relevância só entrava em cheque na medida em que se pontuava a sua instrumentalização alienante pelas mãos do Estado e das
classes dominantes.
Demorou-se um longo tempo até se compreender que, como os diversos outros aspectos da vida humana, o futebol, essa “religião leiga da classe operária”, já diria Eric Hobsbawn, pode ser apropriado das mais diversas formas, para os mais diversos fins. Por que não criar as condições mínimas para que possa apropriado por quem realmente se interessa por ele? Por que não torná-lo um instrumento de interesse popular e com poder transformador?
Esse é o desafio árduo e utópico que a Associação Nacional dos Torcedores se propôs a encarar. O caminho será, como em todos os casos, a luta.

A Associação Nacional dos Torcedores pode ser encontrada em http://torcedor.org. Irlan Simões, um dos autores deste texto, passará a escrever em Outras Palavras sobre o Futebol além da Mercadoria


(Outras Palavras)

Pensamentando

A banda de música da UDN está de volta
Publicado em 12/05/2011 por Ana Helena Tavares


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Por Silvio Tendler*

Imagino a Ministra Ana de Hollanda em uma caminhada solitária. A vejo tendo na memória a figuraça do pai, o historiador Sérgio Buarque de Hollanda, um dos estudiosos que mais conheceu o Brasil. Ana era seu xodó e nesse momento de extrema solidão no poder deve lembrar-se muito dos ensinamentos do pai. Ana é mulher de fibra e coragem e vai seguir em frente em sua luta para cumprir a missão que lhe foi designada por outra mulher de fibra e coragem, a Presidente Dilma Rousseff. Ana não é de desistir no meio da caminhada, logo agora que começa a descobrir as primeiras traições e jogos de interesse pessoais. tão perto de si, do seu gabinete, dentro do Ministério que comanda. Ana já deve ter percebido olhares e sorrisos matreiros que conspiram enquanto afagam.
Muita espuma se faz contra Ana de Hollanda que está fazendo um trabalho realmente sério a frente de um dos Ministérios mais complicados de administrar. Já ocupei o cargo de Secretário de Cultura de Brasília durante a administração Cristovam Buarque de Hollanda e sei o quanto é difícil administrar artistas e seus egos. E Ana está apagando incêndios, a frente de uma gestão herdeira de uma dívida de mais de 600 milhões de reais e em face a um contigenciamento de verbas que tolhe as ações do Ministério. A briga em torno do tal do Creative Commons é assunto de lobista. Os creative Commons não oferecem nada mais que os copyrights e quem ganha com essa briga são advogados e seus contratatos milionários. Quando se trata de copyright X copyleft aí a coisa muda de figura pois discutimos direitos versus liberação total. Os mecanismos de liberação parcial de direitos oferecidos pelo Creative Commons também existem no Copyright na medida em que o autor faz o que bem quiser com sua obra. tudo não passa de demagogia para vender balangandãs para indios colonizados. Basta colocar na documentação do ministério “livre para reprodução desde que citada a fonte” e ponto, menos um problema para resolver. Em cinema a Ministra tem acertado e nossa relação hoje com a ANCINE melhorou muito com a chegada da Ana De Hollanda. Falta nas outras áreas uma agenda positiva e propositiva que coloque a estrutura do Ministério em marcha. Os Secretários que se manifestem e apresentem seus programas de ação já!,
Quem foi o gênio que aconselhou a ministra a receber diárias desnecessárias enquanto permanecia o final de semana no Rio de janeiro, em sua casa, aguardando o trabalho na segunda feira? Isso não é assunto para Ministro. Quem aconselhou ao êrro deveria apresentar-se como o responsável pela bobagem que fragilizou a ministra. Continuo solidário a Ministra e tenho certeza que ela superará essa crise.
*Silvio Tendler é cineasta.
Fonte: http://www.mariliaguimaraes.com/2011/05/banda-de-musica-da-udn-esta-de-volta.html
Nota do QTMD?: A frase que marquei em negrito me fez lembrar de quando entrevistei Affonso Romano de Sant’Anna, que presidiu a Biblioteca Nacional, e ele me disse: “O mundo das artes todo mundo pensa que é um lugar de pessoas líricas, bem-intencionadas… E é um pega pra capar o tempo todo! É uma ciumada, uma inveja, é um derrubar o outro…”
(QTMD)

Drummond

EM FACE DOS ÚLTIMOS ACONTECIMENTOS

Oh! sejamos pornográficos
(docemente pornográficos).
Por que seremos mais castos
que o nosso avô português?

Oh! sejamos navegantes,
bandeirantes e guerreiros
sejamos tudo que quiserem,
sobretudo pornográficos.

A tarde pode ser triste
e as mulheres podem doer
como dói um soco no olho
(pornográficos, pornográficos).

Teus amigos estão sorrindo
de tua última resolução.
Pensavam que o suicídio
fosse a última resolução.
Não compreendem, coitados,
que o melhor é ser pornográfico.

Propõe isso ao teu vizinho,
ao condutor do teu bonde,
a todas as criaturas
que são inúteis e existem,
propõe ao homem de óculos
e à mulher da trouxa de roupa.
Dize a todos: Meus irmãos,
não quereis ser pornográficos?

(Carlos Drummond de Andrade, em Brejo das Almas)

Repórteres sem Fronteiras

Repórteres sem Fronteiras — mas com partido
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– 4 de abril de 2011
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Organização internacional já era vista com desconfiança, por omissão diante de golpes militares. Agora, seu fundador admite simpatia com candidata da extrema-direita francesa
Por Altamiro Borges, Blog do Miro
O francês Robert Ménard, fundador e chefão da ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) durante longas décadas, já enganou muita gente com suas bravatas em defesa da liberdade de expressão. Na semana passada, porém, ele tirou de vez a fantasia e confessou sua simpatia pela Frente Nacional (FN), o partido de extrema-direita da França que prega o racismo, o ódio aos imigrantes e outras teses fascistas.
Em entrevista à influente cadeia de rádios RTL, o falso democrata mostrou-se irritadiço, repetindo “deixe-me falar”, e abriu o jogo – para surpresas dos mais ingênuos. Ele festejou o crescimento da FN de Marine Le Pen nas eleições locais, quando obteve 14,7% dos votos, e afirmou: “Não só os entendo, como os aprovo… Aprovo certo número de pontos de vista de Marine Le Pen”. Diante dos jornalistas, Ménard mostrou-se injuriado. “Estou farto do desrespeito que vocês têm [diante do direitismo da FN]”.
A sinistra história da ONG
Ele ainda lamentou a pouca representatividade da seita fascistóide e desembuchou: “É um partido legal, não é um partido fascista e nem vergonhoso”. Após elogiar Marine Le Pen, filha do racista Jean-Marie Le Pen que o substituiu no comando da sigla, Ménard ainda fez questão de manifestar seu ódio visceral às forças de esquerda a França. “Penso que o Partido Comunista e Jean-Luc Mélanchon são tão perigosos quanto a Frente Nacional”.
As declarações bombásticas do fundador da ONG Repórteres Sem Fronteira (RSF) não deveriam causar surpresas. É só conhecer um pouco da história desta organização para saber dos seus vínculos com setores da extrema-direita no mundo todo. Reproduzo abaixo trechos de um capítulo do livro “A ditadura da mídia” para refrescar a memória dos mais incautos.

*****
A ONG de origem francesa Reporters Sans Frontières (RSF) foi fundada em 1985 pelo jornalista Robert Ménard. Adepta da visão liberal-burguesa de democracia, inicialmente concentrou seus ataques aos países do bloco soviético, acusados de serem “autoritários e contrários à liberdade de imprensa”. Mas o seu alvo predileto sempre foi a revolução cubana. Tanto que Cuba já solicitou várias vezes sua exclusão do comitê de ONGs das Nações Unidas. Segundo o professor Salim Lamrani, doutor pela Sorbonne e autor de um elucidativo artigo no site Resistir, “Robert Ménard sofre de uma doentia obsessão contra a revolução cubana e reúne em si todos os vícios e desmandos de que o jornalismo e os jornalistas são capazes”.
Segundo denuncia, “a RSF diz ‘defender os jornalistas encarcerados e a liberdade de imprensa. Conversa! A organização, financiada pelo milionário francês François Pinault e com a benevolência do comerciante de armas Arnaud Lagardère, fez da manipulação da realidade cubana o seu principal negócio… Ménard arremete contra a ilha socialista, declarando que ‘para os Repórteres Sem Fronteira, a prioridade na América Latina é Cuba’. No barômetro da liberdade de imprensa da RSF, a situação da Colômbia – onde mais de cem jornalistas foram assassinados em dez anos – é qualificada apenas como ‘difícil’. Já a situação cubana, onde nem um só jornalista foi assassinado desde 1959, é qualificada de ‘muito grave’”.
Casos Mumia Abu-Jamal e Al Jazeera
Lamrani lembra da situação dramática do jornalista estadunidense Mumia Abu-Jamal, “que apodrece na prisão há mais de vinte anos, por um crime que não cometeu, mas não interessa a RSF”. Cita também o bombardeio de uma estação de rádio e TV sérvia, durante a Guerra do Kosovo, em abril de 1999, que resultou a morte de uma dezena de jornalistas. “Em 2000, quando a RSF publicou o seu informe anual, essas vítimas não foram contabilizadas”. Refere-se ainda aos bombardeios dos EUA à sede da TV Al Jazeera, do Catar, durante as guerras do Afeganistão e do Iraque, que também não receberam as devidas condenações desta organização “não-governamental”, apesar da morte de dois jornalistas.
O professor francês registra outros fatos lamentáveis para provar que a RSF é dura nas críticas a governos não alinhados, mas é afável no trato ao imperialismo e aos barões da mídia. Ela relembra um deprimente perfil do próprio Robert Ménard, publicado em março de 2001. Para ele, não seria aconselhável condenar a manipulação da mídia francesa porque “corremos o risco de desagradar certos jornalistas, inimizá-los com os patrões da imprensa e enfurecer o poder econômico. Para nos midiatizarmos (sic), precisamos da cumplicidade dos jornalistas, do apoio dos patrões da imprensa e do dinheiro do poder econômico”.
Silêncio diante do golpe na Venezuela
Na fase recente, a RSF também passou a satanizar o presidente Hugo Chávez. Quando do frustrado golpe de abril de 2002, que teve como pivôs os principais donos da mídia venezuelana, Ménard não levantou a sua voz em defesa da “liberdade”. Pelo contrário. Segundo reportagem dos estadunidenses Jeb Sprague e Diana Barahona, publicada em agosto na Réseau Voltaire, a RSF incentivou a brutal campanha midiática de preparação do golpe. Ela inclusive teria recebido subvenções da National Endowment for Democracy (Fundação Nacional para a Democracia – NED), que é financiada pelo governo dos EUA e por poderosas corporações e é acusada de ser uma filial da CIA, para cumprir esta missão nada democrática.
Ainda segundo os dois jornalistas estadunidenses, a NED “foi criada pelo governo de Ronald Reagan, em 1983, para ressuscitar os programas de infiltração da CIA na sociedade civil”. Por acaso, a mesma Lucie Morillon, citada acima, é diretora-executiva da NED e porta-voz da RSF nos EUA. Em recente entrevista, ela admitiu que o Instituto Republicano Internacional (IRI), um dos satélites da NED ligado diretamente ao partido de Bush, “subvencionou, durante pelo menos três anos, os Repórteres Sem Fronteira”. Além de apostar na desestabilização do governo bolivariano, a RSF também contribuiu para o golpe que derrubou o presidente Jean Bertrand Aristides, em 2004, no Haiti, conforme denúncia do jornal New York Times.
A ONG francesa nega terminantemente a grave acusação. Afirma que apenas promoveu uma campanha internacional de denúncia contra o assassinado do jornalista Jean Dominique, diretor da Radio Haiti Inter, que teria ocorrido durante o governo de Aristides. Pura mentira! Dominique foi assassinado bem antes da chegada de Aristide ao governo. Segundo o New York Times, a tal campanha mundial foi financiada pelo IRI. “O presidente Bush nomeou como seu presidente [do IRI] Lorne Craner, para dirigir os esforços pela democracia. O Instituto, que trabalha em mais de 60 países, viu triplicar seu financiamento federal em três anos, de US$ 26 milhões em 2003 para US$ 75 milhões em 2005”. E repassou dólares à RSF.
As misteriosas subvenções à RSF
A questão do financiamento da RSF, curiosamente rotulada de “organização não-governamental”, sempre despertou suspeita. Ela até mantém no seu site um campo dedicado às suas receitas, mas não divulga as fontes. Em recente entrevista, publicada no Observatório de Imprensa, Robert Ménard garantiu que “mais de 50% do orçamento dos Repórteres Sem Fronteira vêm da venda de revistas de fotografia; um quarto do financiamento vem da União Européia e outra quarta parte do orçamento vem das operações especiais, de doações e leilões”. Estranhamente, porém, o mesmo fundador da RSF já havia revelado em seu próprio livro que a Comissão Européia subvencionava 44% dos seus recursos. Os números não batem!
Os mais céticos, porém, não vacilam em denunciar que esta e outras ONGs “humanitárias” são bancadas por poderosas corporações empresariais e pelos governos das potências capitalistas. Num texto intitulado “O caixa-2 das ONGs”, o jornalista Gianni Carta foi peremptório: “Com o intuito de difundir aquilo que entende por ‘democracia’, o presidente norte-americano George W. Bush não somente invadiu o Iraque em 2003 e apoiou Israel na recente carnificina no Líbano, mas também estaria usando organizações não-governamentais, por vezes infiltradas pela Central Intelligence Agency (CIA), para influenciar o cenário político mundo afora”. Entre outras, ele cita explicitamente a Reporters Sans Frontières, “alimentada, em grande parte, por dólares de Washington” para realizar atividades secretas em vários países.
Soros, Murdoch e os “projetos humanitários”
O próprio Robert Ménard, numa conferência em Quebec (Canadá), em 2005, foi obrigado a confessar a existência destes subsídios. Quanto ao apoio do governo terrorista de George W. Bush, ele não titubeou: “Recebemos dinheiro da NED e isso não nos cria nenhum problema”. Já no que se refere aos subsídios da União Européia, explicou: “Parece-nos indispensável que a EU outorgue apoio às agências da imprensa independente, assim como às organizações de sindicalistas, economistas e outras”.
Outra fonte de verba, segundo Gianni Carta, seria a Fundação Soros, do mega-especulador George Soros. “Em 2004, essa fundação alocou 1,2 milhão de dólares para as ONGs realizarem ‘projetos relacionados à eleição’ na Ucrânia, em favor da chamada Revolução Laranja de Viktor Yuschenko”, um liberal confesso. Outro magnata, dono de um império midiático mundial, o australiano Rupert Murdoch, também cultiva o hobby de bancar “entidades humanitárias”, logicamente sem qualquer interesse.
Já o jornalista Jean Allard descobriu que “as campanhas publicitárias anticubanas mais mentirosas da RSF foram concebidas e montadas pela Publicis, gigante mundial da publicidade, que tem, entre seus clientes, o Exército dos EUA e a Bacardí”. A Saatchi&Sasstchi, a mais famosa agência de Nova Iorque e metida em todas as campanhas anticastristas, também presta seus “serviços gratuitos”. Allard revela ainda que “são conhecidas as relações de Ménard com personagens da extrema direita de Miami que se dedicam a atacar Cuba, usando todos os meios possíveis, até o terrorismo. Sabe-se também que ele mantém relações com Freedon House, do antigo agente dos serviços secretos Frank Calzon”, um notório terrorista.
Papel oculto dos donos da mídia
Com este tenebroso currículo, um artigo do Le Monde Diplomatique, assinado por Maurice Lemoine, não vacila em afirmar que a ONG Repórteres Sem Fronteiras pratica “golpes sem fronteiras”. “Pretendendo ‘defender o direito de informa e de ser informado’, conforme o artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a RSF ignora deliberadamente o papel não oculto dos proprietários dos meios de comunicação. Mas a organização não tem escrúpulo algum em fazer do governo de Hugo Chávez – que jamais atentou contra as liberdades – um dos seus alvos privilegiados na atualidade”.
Já para Gianni Carta, a badalada RSF é uma fraude. “O mais incrível é que ela, ainda hoje dirigida por seu fundador, Robert Ménard, não faz o que deve: proteger jornalistas injustiçados. Sami Hajj, da teve Al Jazeera, foi preso, torturado e abusado sexualmente na Baía de Guantánamo. A organização do senhor Ménard não se manifestou. Giuliana Sgreana, jornalista do diário italiano Il Manifesto, foi libertada no Iraque no ano passado, e o agente de inteligência, Nicola Calipari, responsável pela operação, morreu protegendo-a de mais de 300 rajadas provenientes das metralhadoras de soldados americanos. Até hoje ninguém sabe o que realmente aconteceu. A RST não tem uma posição clara sobre a morte de Calipari”.
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(Outras Palavras)

Pensamentando

COMEÇAR DO COMEÇO DE NOVO (COLUNA DO SLAVOJ ŽIŽEK)
25/04/2011, 18:03
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Traduzido do inglês por Fernando Marcelino e Chrysantho Sholl.

Existe uma anedota (apócrifa, é verdade) sobre a troca de telegramas entre quartéis generais alemães e austríacos durante a Primeira Guerra Mundial: os alemães mandam uma mensagem: “aqui, de nosso lado do front, a situação é séria, mas não catastrófica”, a que respondem os austríacos: “aqui, a situação é catastrófica, mas não séria”. Não seria esta a maneira como nós, cada vez mais, ao menos no mundo desenvolvido, nos relacionamos com nossa situação global? Todos nós sabemos sobre a catástrofe iminente – ecológica, social –, mas de alguma forma não podemos levá-la a sério. Em psicanálise chamamos esta atitude de virada fetichista: Eu sei muito bem, mas… (eu não acredito realmente), e tal virada é a clara indicação da força material da ideologia, que nos faz recusar aquilo que vemos e que sabemos. Como chegamos até aqui?
Quando, em 1922, depois de vencer a Guerra Civil contra todos os adversários, os bolcheviques tiveram de retroceder para a NEP (a “Nova Política Econômica” que permitiu uma interferência muito maior da economia de mercado e da propriedade privada), Lenin escreveu um pequeno texto “On Ascending a High mountain” [Escalando uma montanha]. Ele usa o símile de um escalador que tem de recuar ao pé da montanha para empreender uma nova tentativa de atingir o pico, para descrever o que um retrocesso significa num processo revolucionário, i.e., como alguém pode retroceder sem oportunisticamente trair sua fidelidade à Causa. Depois de enumerar os sucessos e fracassos do estado Soviético, Lenin conclui: “Comunistas que não têm ilusões, que não se rendem ao desânimo, e que preservam a força e a flexibilidade ‘para começar desde o começo’ de novo e de novo, frente a uma tarefa extremamente difícil, não estão fadados ao erro (e muito provavelmente não perecerão).” Este é Lenin em seu melhor estilo Beckettiano, ecoando o sentido de Worstward Ho: “Tente novamente. Fracasse novamente. Fracasse melhor” [Try again. Fail again. Fail better]. Sua conclusão – começar do começo de novo e de novo – deixa claro que ele não está falando de desacelerar o progresso e fortalecer o que já se conquistou, mas precisamente descer novamente ao ponto inicial: devemos “começar do começo” e não de onde conseguimos chegar no primeiro esforço da escalada. Em termos kierkegaardianos, um processo revolucionário não é um progresso gradual, mas um movimento repetitivo, o movimento de repetir o começo de novo e de novo… e aqui é exatamente onde estamos hoje, depois do “desastre obscuro” de 1989, o fim definitivo da época que começou com a Revolução de Outubro. Devemos, portanto, rejeitar a continuidade com aquilo que a Esquerda significou nos últimos dois séculos. Embora momentos sublimes como o clímax jacobino da Revolução Francesa e a Revolução de Outubro permanecerão para sempre um momento chave de nossas memórias, essas histórias chegaram ao fim, tudo deve ser re-pensado, devemos começar do ponto-zero.
Alain Badiou descreveu três formas distintas de fracasso para um movimento revolucionário. Primeiro, existe, é claro, a derrota direta: alguém é simplesmente esmagado pelas forças inimigas. Depois existe a derrota na própria vitória: alguém vence o inimigo (temporariamente, pelo menos) pela incorporação da principal agenda política do inimigo (o objetivo é tomar o poder estatal, na forma democrático-parlamentar ou numa direta identificação do Partido com o Estado). Acima destas duas versões existe, talvez, a mais autêntica, mas também mais aterrorizadora forma de fracasso: guiado pelo instinto correto que diz que qualquer consolidação da revolução num novo poder estatal é igual à sua traição, porém incapaz de inventar e impor sobre a realidade social uma verdadeira ordem alternativa, o movimento revolucionário se engaja numa estratégia desesperada de proteger sua pureza pelo recurso “ultra-esquerdista” de terror destrutivo. Badiou habilmente chama esta última versão de “tentação sacrificial do vazio” [sacrificial temptation of the void].
Um dos maiores slogans maoístas dos anos vermelhos era: “ouse lutar, ouse vencer”. Mas sabemos que, se não é fácil seguir este slogan, se a subjetividade tem medo não tanto de lutar, mas de vencer, é porque lutar a expõe ao simples fracasso (o ataque não foi bem sucedido), enquanto vencer a expõe ao mais temível dos fracassos: a consciência de que se venceu em vão, que a vitória prepara repetição, restauração. Que uma revolução nunca é algo além de um “entre-dois-Estados”. É daqui que a tentação sacrificial do vazio aparece. O inimigo mais temível das políticas de emancipação não é a repressão pela ordem estabelecida. É a interioridade do niilismo, e a crueldade sem limites que pode acompanhar este vazio.”
O que Badiou diz efetivamente aqui é o exato oposto do “Ouse vencer!” de Mao – deve-se ter medo de vencer (de tomar o poder, estabelecer uma nova realidade sóciopolítica), porque a lição do século XX é que ou a vitória termina em restauração (retorno à lógica de poder do Estado) ou é capturada pelo ciclo auto-destrutivo da purificação. É por isso que Badiou propõe substituir purificação por subtração: em vez de “vencer” (tomar o poder) devemos criar espaços subtraídos do Estado. Ele não está sozinho. Um medo ronda a (o que quer que reste da) esquerda radical de hoje: o medo de confrontar-se diretamente com o Poder de Estado. Aqueles que ainda insistem em lutar contra o Poder estatal, deixado sozinho no comando, são imediatamente acusados de ainda estarem presos ao “velho paradigma”: a tarefa de hoje é resistir ao Poder estatal recuando de sua esfera de atuação, subtraindo-se dele, criando novos espaços fora de seu controle. Este dogma da esquerda contemporânea é melhor capturado pelo título do novo livro-entrevista de Tony Negri: Adeus, Senhor Socialismo!. A idéia é que a época da velha esquerda em suas duas versões, reformista e revolucionária, ambas as quais pretendiam tomar o poder do Estado e proteger os direitos coorporativos da classe trabalhadora, acabou.
Mas esta análise se sustenta? A primeira coisa a fazer é empreender uma fórmula mais complexa do Partido-Estado como a figura que definiu o Comunismo do século XX: sempre houve uma lacuna entre os dois, o Partido permaneceu a semi-escondida sombra obscena que remontava à estrutura do Estado. Não há necessidade de demandar uma nova distância políticaem relação ao Estado: o Partido É esta distância, sua organização dá corpo a uma forma fundamental de desconfiança do Estado, dos seus órgãos e mecanismos, como se precisassem ser controlados, mantidos sob vigilância a todo tempo. Um verdadeiro Comunista do século XX jamais aceitou completamente o Estado: sempre teve de haver uma agência vigilante fora do controle das leis (do Estado) e com poder de intervir no Estado.
Segundo ponto. 1989 representou não apenas a derrota conjuntural do socialismo de estado e das sociais-democracias ocidentais – a derrota vai muito mais fundo. O raciocínio da Esquerda após 1989 era: a estratégia de tomar o poder falhou miseravelmente em seus objetivos, de modo que a Esquerda deveria adotar uma estratégia diferente, a primeira vista mais modesta, mas, de fato, muito mais radical: recuar do poder estatal e concentrar-se em transformar diretamente a própria textura da vida social, as práticas cotidianas que sustentam todo o edifício social. Esta posição teve a forma mais elaborada com John Holloway: “como fazer uma revolução sem tomar o poder?”. A principal forma de democracia direta de multidões “expressivas” no século XX foram os chamados conselhos (“sovietes”) – (quase) todo mundo no Ocidente os amava, até mesmo liberais como Hannah Arendt que percebia neles um eco da velha vida grega na pólis. Ao longo da era do Socialismo Realmente Existente, a esperança secreta dos “socialistas democráticos” era a democracia direta dos “sovietes”, os conselhos locais como formas de auto-organização do povo; e é profundamente sintomático como, com o declínio do Socialismo Realmente Existente, essa sombra emancipatória que rondava a todo o momento também desapareceu – não será esta a maior confirmação do fato que a versão-conselho do “socialismo democrático” era apenas um duplo espectral do “burocrático” Socialismo Realmente Existente, a transgressão inerente sem substancial conteúdo positivo propriamente seu, i.e., incapaz de servir como o princípio organizador e permanente de uma sociedade? O que tanto Socialismo Realmente Existente como a democracia-de-conselhos tem em comum é a crença na possibilidade de uma organização auto-transparente da sociedade que superasse a “alienação” política (aparelhos estatais, regras institucionalizadas da vida política, ordem jurídica, polícia etc.) – e não seria a experiência básica do fim do Socialismo Realmente Existente precisamente a rejeição desta característica comum, a resignada aceitação pós-moderna do fato de que a sociedade é uma rede complexa de “subsistemas”, razão pela qual um certo nível de “alienação” é constitutivo da vida social, de forma que uma sociedade totalmente autotransparente é a utopia com potenciais totalitários. Não a toa que o mesmo vale para as práticas contemporâneas de “democracia direta”, das favelas a cultura digital “pós-industrial” (as descrições das novas comunidades “tribais” de hackers não evocam freqüentemente a lógica da democracia-de-conselhos?): todas tem de apoiar num aparelho de estado, i.e, por razões estruturais, elas não podem dominar todo o espaço. A máxima de Negri “não há governo sem movimentos” deve ser contestada com “não há movimentos sem governo”, sem o poder estatal que sustente o espaço para os movimentos. É esta tensão entre democracia representativa e direta expressão dos “movimentos” que nos permite formular a diferença entre um partido político democrático comum e o Partido “mais forte” (como o Partido Comunista): um partido político comum assume plenamente sua função representativa, toda sua legitimação é dada pelas eleições, enquanto o Partido considera secundário o procedimento formal das eleições democráticas em relação à dinâmica propriamente política dos movimentos que “expressam” sua força.
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Slavoj Žižek nasceu na cidade de Liubliana, Eslovênia, em 1949. É filósofo, psicanalista e um dos principais teóricos contemporâneos. Transita por diversas áreas do conhecimento e, sob influência principalmente de Karl Marx e Jacques Lacan, efetua uma inovadora crítica cultural e política da pós-modernidade. Professor da European Graduate School e do Instituto de Sociologia da Universidade de Liubliana, Žižek preside a Society for Theoretical Psychoanalysis, de Liubliana, e é um dos diretores do centro de humanidades da University of London. Dele, a Boitempo publicou Bem-vindo ao deserto do Real! (2003), Às portas da revolução (escritos de Lenin de 1917) (2005), A visão em paralaxe (2008), Lacrimae rerum (2009) e Em defesa das causas perdidas (2011). O filósofo virá ao Brasil no fim de maio para apresentar conferência em São Paulo (no Seminário do Projeto Revoluções) e no Rio de Janeiro. Colabora com o Blog da Boitempomensalmente, às segundas-feiras.
(Blog do Boitempo)