segunda-feira, 23 de maio de 2011

FIFA

Imprensa internacional volta a destacar corrupção da FIFA e comparsas


Escrito por Gabriel Brito, da Redação
19-Mai-2011

Após a escandalosa decisão da FIFA de eleger a Rússia e o Catar como sedes das Copas do Mundo de 2018 e 2022 (baseada em interesses mafiosos, tal como já publicamos neste Correio), novas bandidagens voltaram a vir à tona no mundo do futebol.

Como todo brasileiro bem informado sabe, o inominável Ricardo Teixeira, um dos proprietários do futebol nacional, tem uma biografia recheada de fatos nebulosos e criminosos, tendo sido indiciado em uma dezena de irregularidades em CPI do começo da década passada. Apesar de tudo escancarado, não surpreendeu, neste país, sua impunidade.

No entanto, após a conquista do direito de receber o mundial em 2014, seus pulos passaram a ser seguidos mais de perto pela mídia internacional. Os ingleses, até pelo inconformismo de terem perdido 2018 para a Máfia Russa, não param de bombardear o público com denúncias e acusações diretas de corrupção por parte de vários dirigentes.

Claro que o filhote de João Havelange se inclui na lista – falando no ex-capo da FIFA, este sugeriu há não muito tempo que o governo pusesse fim à cobrança de impostos aos clubes brasileiros. Como se o futebol ainda fosse um esporte sem fins lucrativos e gente como ele não tivesse enriquecido às suas custas. Um escárnio que coroa a trajetória do primeiro grande gângster ludopédico, que não à toa presidiu a FIFA por 24 anos.

Em fins do ano passado, a BBC já havia afirmado em reportagem que Teixeira recebeu cerca de 16 milhões de reais em propinas, ao longo dos anos 2000, de empresas e entidades interessadas nas eleições, decisões e projetos da FIFA em todo esse tempo.

Agora, o ex-presidente da Federação Inglesa, Lorde David Triesman, declarou à Câmara dos Comuns de seu país que foi achacado por diversos cartolas durante a campanha de escolha das sedes.

Entre eles, encontra-se o presidente da Confederação Sul-Americana, Nicolas Leoz (também envolvido na supracitada matéria da BBC), há décadas no cargo, apesar de toda sua incapacidade de organizar o futebol sul-americano, completamente defasado e falido em relação ao europeu, em margens muito mais gritantes que as diferenças econômicas entre os continentes. No entanto, foi eleito há duas semanas para outro mandato, por aclamação, em evento pouco ou nada divulgado. Este senhor que mantém o futebol do continente no atraso teria requisitado um título de lorde (!), acusação engrossada pelo deputado inglês Bob Blizzard.

Outro notório picareta implicado no caso é Jack Warner, presidente da Confederação Centro-Americana, da Federação de Trinidad e Tobago e dos mais influentes na FIFA, que, aliás, já o pegou no flagra. Na única vez que seu país foi a uma Copa, em 2006, ficou com todos os ingressos a que seus compatriotas tinham direito, atrelando a compra aos pacotes de sua agência de viagem. Mas continua querido na confraria que manda no futebol...

Teixeira, por sua vez, teria singelamente perguntado a Triesman: "O que você tem pra mim?", segundo sua declaração ao parlamento britânico. Diante disso, toda a mídia grande da terra da rainha – Sky, The Sun, BBC, Guardian – tem dado enorme ênfase ao assunto, apresentando Teixeira como linha de frente dos quadrilheiros, dissecando o perfil de todos eles ao público.

Perguntado a respeito do tema, Andrew Jennings, jornalista mais odiado pela FIFA por seu vasto rol de denúncias às práticas da entidade, preferiu não responder. Mas não por omissão, e sim porque trabalha em conjunto com a BBC na produção de um documentário exatamente a respeito de tudo isso, a ser lançado no próximo dia 24 de maio. Conhecendo o nível das produções da emissora estatal inglesa, podemos esperar (e torcer) por um terremoto no mundo do ‘futebol’.

Falando em Jennings, acaba de chegar ao Brasil seu mais novo livro, Jogo Sujo, que trata exatamente desses fétidos bastidores futebolísticos. A obra é obrigatória para todos aqueles que conseguem se manter devotos do esporte bretão. Na verdade, para todos os brasileiros, para que saibamos bem o que temos pela frente com essa Copa cujos custos não param de subir, como já calculávamos.

Para fazer média, a FIFA anunciou exatamente nessa semana uma doação de 22 milhões de dólares para a Interpol, com fins de investigar crimes financeiros ligados ao esporte mais popular do mundo. Claro que é cortina de fumaça de Blatter, outro rato desenvolto por esses corredores, mais preocupado com sua reeleição.

O problema, para nós, é o adversário ser o catariano Mohamad Bin Hamman, presidente da Confederação Asiática, que tem proferido um discurso de renovação, mas é absolutamente da mesma estirpe. Tanto que levou uma Copa do Mundo para este "país", em escolha por si só auto-explicativa diante de sua irrelevância esportiva - mas não econômica. Na ocasião, aliás, dois membros do conselho de "ética" da FIFA foram afastados momentos antes da decisão após caírem em armadilha de repórteres (ingleses!) que lhes acenavam com subornos.

Já o jornalista Juca Kfouri publicou em seu blog trecho de outra inacreditável matéria que desnuda o nível de corrupção dessa cartolagem, ao repercutir reportagem (íntegra somente em alemão) da revista suíça Bilanz, que, por sinal, serve também para exibir o caráter mafioso da tal neutralidade deste país:

"O público se surpreende muitas vezes com o modo que a justiça trata de casos criminais da economia. A expressão ‘justiça condescendente’ é o rumor que circula atualmente. A demora dos processos, a leniência das sentenças e as freqüentes decisões inexplicáveis causam surpresa – mesmo no mundo dos juízes penais. A apreciação das atitudes da justiça é desoladora, e a justiça não passa uma boa imagem.

Mesmo no respectivo meio em países adjacentes já se comenta: a Suíça é um paraíso de liberdade para negócios dúbios, um refúgio para autores de desfalques, fraudadores, fraudadores da bolsa e gerentes gananciosos.

E a justiça em si parece incapaz de comunicar o seu trabalho. O seu trabalho de mídia, junto a campanhas profissionais de mídia orquestradas de modo profissional por consultores furtivos de seus réus, não pode mais ser considerado.

São especialmente ostentosos os grandes dossiês que já estão pendentes por uma eternidade (…) O funcionário brasileiro da FIFA, Ricardo Teixeira, receptor de aproximadamente 12 milhões de francos de suborno, deverá encerrar o seu caso após o pagamento de um valor de restituição junto a uma ordem de improcedência nove anos após o início das investigações do magnata do futebol no pântano de suborno.

Quando esta disposição se tornou conhecida – primeiramente sob pressão da mídia –, o chefe da FIFA Joseph Blatter já dispunha do argumento conveniente: ‘Assunto antigo do conhecimento de todos’".

Enquanto isso, a outra proprietária do futebol brasileiro, a Rede Globo, faz pouco caso e ignora o mar de denúncias, algumas inequívocas e jamais desmentidas. Já o nosso governo trabalha pela MP 521/10, que pretende relaxar e facilitar os trâmites dos processos licitatórios de toda e qualquer obra relacionada à Copa do Mundo, isto é, tudo que as 12 cidades sedes farão até lá. Na prática, o sonho que todo bandido delira na cama: receber a chave do cofre do dono do banco.

A desgraça de tudo, ao menos se atendo ao futebol, é que o caráter privado e soberano da FIFA, entidade máxima e reguladora do esporte (apesar de toda sua dependência e interesse públicos), faz com que não haja, em tese, quem tenha autoridade para enquadrá-la e promover uma autêntica limpa, inclusive com punições.

Talvez a única solução seja esperar que os torcedores aprendam a direcionar seu hooliganismo, pois como diz o mesmo Andrew Jennings "essa gente precisa ir pro paredão e ser fuzilada".

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Gabriel Brito é jornalista.
(Correio da Cidadania)

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