quarta-feira, 2 de maio de 2012

Torturas

Cláudio Guerra, um torturador arrependido: “Militantes de esquerda foram incinerados em usina de açúcar”, "A morte do Fleury foi queima de arquivo", etc. Quarta-feira, Maio 02, 2012 Molina com muita prosa & muitos versos Ele lançou bombas por todo o país e participou, em 1981 no Rio de Janeiro, do atentado contra o show do 1º de Maio no Pavilhão do Riocentro. Esteve envolvido no assassinato de aproximadamente uma centena de pessoas durante a ditadura militar. Trata-se de um delegado capixaba que herdou os subordinados do delegado paulista Sérgio Paranhos Fleury nas forças de resistência violenta à redemocratização do Brasil. Apesar disso, o nome de Cláudio Guerra nunca esteve em listas de entidades de defesa dos direitos humanos. Mas com o lançamento do livro “Memórias de uma guerra suja”, que acaba de ser editado, esse ex-delegado do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) entrará para a história como um dos principais terroristas de direita que já existiu no País. Mais do que esse novo personagem, o depoimento recolhido pelos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros, ao longo dos últimos dois anos, traz revelações bombásticas sobre alguns dos acontecimentos mais marcantes das décadas de 70 e 80. Revelações sobre o próprio caso do Riocentro; o assassinato do jornalista Alexandre Von Baumgarten, em 1982; a morte do delegado Fleury; a aproximação entre o crime organizado e setores militares na luta para manter a repressão; e dos nomes de alguns dos financiadores privados das ações do terrorismo de Estado que se estabeleceu naquele período. A reportagem do iG teve acesso ao livro, editado pela Topbooks. O relato de Cláudio Guerra é impressionante. Tão detalhado e objetivo que tem tudo para se tornar um dos roteiros de trabalho da Comissão da verdade, criada para apurar violações aos direitos humanos entre 1946 e 1988, período que inclui a ditadura militar (1964-1988). David Capistrano, Massena, Kucinski e outros incinerados Cláudio Guerra conta, por exemplo, como incinerou os corpos de dez presos políticos numa usina de açúcar do norte Estado do Rio de Janeiro. Corpos que nunca mais serão encontrados – conforme ele testemunha – de militantes de esquerda que foram torturados barbaramente. “Em determinado momento da guerra contra os adversários do regime passamos a discutir o que fazer com os corpos dos eliminados na luta clandestina. Estávamos no final de 1973. Precisávamos ter um plano. Embora a imprensa estivesse sob censura, havia resistência interna e no exterior contra os atos clandestinos, a tortura e as mortes.” Os dez presos incinerados -- João Batista e Joaquim Pires Cerveira, presos na Argentina pela equipe do delegado Fleury; -- Ana Rosa Kucinsk e Wilson Silva, “a mulher apresentava marcas de mordidas pelo corpo, talvez por ter sido violentada sexualmente, e o jovem não tinha as unhas da mão direita”; -- David Capistrano (“lhe haviam arrancado a mão direita”) , João Massena Mello, José Roman e Luiz Ignácio Maranhão Filho, dirigentes históricos do PCB; -- Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira e Eduardo Collier Filho, militantes da Ação Popular Marxista Leninista (APML). O delegado lembrou do ex-vice-governador do Rio de Janeiro Heli Ribeiro, proprietário da usina de açúcar Cambahyba, localizada no município de Campos, a quem ele fornecia armas regularmente para combater os sem-terra da região. Heli Ribeiro, segundo conta, “faria o que fosse preciso para evitar que o comunismo tomasse o poder no Brasil”. Cláudio Guerra revelou a amizade com o dono da usina para seus superiores: o coronel da cavalaria do Exército Freddie Perdigão Pereira, que trabalhava para o Serviço Nacional de Informações (SNI), e o comandante da Marinha Antônio Vieira, que atuava no Centro de Informações da Marinha (Cenimar). Afirma que levou, então, os dois comandantes até a fazenda: “O local foi aprovado. O forno da usina era enorme. Ideal para transformar em cinzas qualquer vestígio humano.” “A usina passou, em contrapartida, a receber benefícios dos militares pelos bons serviços prestados. Era um período de dificuldade econômica e os usineiros da região estavam pendurados em dívidas. Mas o pessoal da Cambahyba, não. Eles tinham acesso fácil a financiamentos e outros benefícios que o Estado poderia prestar.” Cláudio Guerra: um matador que se diz em busca da paz Cláudio Guerra quando foi preso O ex-delegado do DOPS (Departamento de Ordem Político Social) do Espírito, Santo Cláudio Antônio Guerra, afirma que resolveu confessar seu envolvimento em crimes durante a ditadura militar devido a um conflito de consciência. Após passar sete anos na cadeia sob acusação de ter matado um bicheiro, Cláudio Guerra converteu-se ao cristianismo e, hoje, aos 71 anos, é um preletor da Igreja Assembleia de Deus que costuma citar em suas pregações o seus “pecados do passado”. Os jornalistas Rogério Medeiros e Marcelo Netto contam, no livro “Memórias de uma guerra suja”, que Cláudio Guerra tornou-se famoso no início dos anos 70 no Espírito Santo como um ardiloso e implacável combatente da bandidagem às custas de mais de 35 execuções de acusados de crimes comuns. Ele próprio confessa outras 40 mortes anteriores “de pistoleiros e lideranças camponesas”, no início da carreira policial em Minas Gerais. “Se lá (em Minas) servi às elites rurais, (aqui) no Espírito Santo prestei serviço às suas elites políticas”. Os jornalistas afirmam que era comum Guerra ser homenageado e cortejado pelo mundo político e empresarial. Seu gabinete no DOPS era frequentado por dois governadores do período da ditadura militar: Élcio Álvares e Eurico Rezende. Mas as suspeitas de que teria matado uma colunistas social dos jornais locais acabaram atraindo a mídia nacional para o Estado. E a imagem do delegado se deteriorou. O próprio Rogério Medeiros foi autor de uma reportagem demolidora contra o delegado no “Jornal do Brasil”. Guerra terminou preso pelo assassinato do bicheiro Jonathas Borlamarques de Souza – que ele diz ter sido morto por outro policial a mando de dois coronéis que comandavam a Secretaria de Segurança e o Departamento de Polícia.Obteve ainda uma condenação a 18 anos – que está suspensa judicialmente – pelas mortes de sua primeira esposa e da cunhada. Mas ele também afirma não ter participado desses dois assassinatos.Ao longo do livro, no entanto, o velho delegado admite muitos outros assassinatos.“Fui condenado por um crime que não cometi. Mas mereci a condenação pelos meus outros crimes”, costuma dizer em suas preleções evangélicas. “Na cadeia eu passei a conhecer Jesus. Ao me aprofundar no conhecimento da palavra do Senhor, vi a necessidade de caminhar para além do perdão. E assim resolvi vir a público revelar todos os meus atos quando trabalhei em favor do regime militar. Aquilo que para mim era matar um inimigo ficou claro, com Jesus, não passar de crime hediondo.” “Delegado Fleury foi morto pelos militares" Símbolo da linha-dura do regime militar, o delegado Sérgio Paranhos Fleury – titular da Delegacia de Investigações Criminais (DEIC) de São Paulo – foi assassinado por ordem de um grupo de militares e de policiais rebelados contra o processo de abertura política iniciado pelo ex-presidente Ernesto Geisel. É o que afirma Cláudio Antônio Guerra, ex-delegado do DOPS (Departamento de Operações Políticas e Sociais) do Espírito Santo. Em depoimento aos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros, no livro “Memórias de uma guerra suja”, que acaba de ser editado pela Topbooks, Guerra conta ter participado da reunião em que foi decidida a morte de Fleury. Ele próprio teria dado a ideia de fazer tudo parecer um acidente. Acabou sendo enviado para liquidar o colega. Mas, por problemas operacionais, a execução teria ficado para um grupo de militares do Cenimar, o Centro de Informações da Marinha. No livro ao qual o iG teve acesso, o delegado confessa ter sido um dos principais encarregados pelo regime militar de matar adversários da ditadura entre os anos 70 e 80. Guerra está sob proteção da Polícia federal. Tornou-se uma testemunha-chave às vésperas do início dos trabalhos da Comissão da Verdade, criada para apurar violações aos direitos humanos entre 1946 e 1988, período que inclui a ditadura militar (1964-1988). Ele conta ter executado pessoalmente militantes de esquerda como Nestor Veras, do Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro (PCB), após uma sessão de tortura da qual afirma não ter participado: “(Veras) tinha sido muito torturado e estava agonizando. Eu lhe dei o tiro de misericórdia, na verdade dois, um no peito e outro na cabeça. Estava preso na Delegacia de Furtos em Belo Horizonte. Após tirá-lo de lá, o levamos para uma mata e demos os tiros. Foi enterrado por nós.” Além do assassinato de Veras, Guerra conta como matou, a mando de seus superiores, outros militantes contra o regime, como: Ronaldo Mouth Queiroz (estudante universitário e membro da Aliança Libertadora Nacional – ALN); Emanuel Bezerra Santos, Manoel Lisboa de Moura e Manoel Aleixo da Silva (os três, do Partido Comunista Revolucionário – PCR). Queima de arquivo “O delegado Fleury tinha de morrer. Foi uma decisão unânime de nossa comunidade, em São Paulo, numa votação feita em local público, o restaurante Baby Beef”, afirma Cláudio Guerra. Além dele, segundo conta, estavam sentados à mesa e participaram da votação: O coronel do Exército Ênio Pimentel da Silveira (conhecido como “Doutor Ney”); o coronel-aviador Juarez de Deus Gomes da Silva (Divisão de Segurança e Informações do Ministério da Justiça); o delegado da Polícia Civil de São Paulo Aparecido Laertes Calandra; o coronel de Exército Freddie Perdigão (Serviço Nacional de Informações); o comandante Antônio Vieira (Cenimar); e o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra (comandante do Departamento de Operações de Informações do 2º Exército – DOI-Codi), que abriu a reunião. “Fleury tinha se tornado um homem rico desviando dinheiro dos empresários que pagavam para sustentar as ações clandestinas do regime militar. Não obedecia mais a ninguém, agindo por conta própria. E exorbitava. (...) Nessa época, o hábito de cheirar cocaína também já fazia parte de sua vida. Cansei de ver.” Guerra conta que chegou a fazer campana para a execução, mas o colega andava sempre cercado de muita gente. “Dias depois os planos mudaram, porque Fleury comprou uma lancha. Informaram-me que a minha ideia do acidente seria mantida, mas agora envolvendo essa sua nova aquisição – um ‘acidente’ com o barco facilitaria muito o planejamento.” A história oficial é, de fato, que o delegado paulista morreu acidentalmente em Ilhabela, ao tombar da lancha. Mas Guerra afirma que Fleury na verdade foi dopado e levou uma pedrada na cabeça antes de cair no mar. (Último Segundo) Cláudio Antonio Guerra: "Me deram muito poder" Claudio Guerra, ex-delegado e autor de vários crimes, agora é ajudante de pastor Claudio Guerra, ex-delegado e autor de vários crimes, agora é ajudante de pastor Um senhor de cabelos brancos, sandálias e mãos trêmulas que seguram uma Bíblia nos recebe em uma casa de repouso em Vila Velha. Por trás do jeito tranquilo está o homem que comandou no Estado o Departamento de Ordem Política e Social (Dops), cujo objetivo era controlar e reprimir movimentos contrários ao regime político na década de 70. Contra ele pesam acusações de formação de quadrilha, roubos de armas, tráfico de drogas, tortura e homicídios, incluindo o de sua própria mulher. O temido ex-delegado da Polícia Civil Claudio Guerra, acusado de chefiar grupos de extermínio, garante que hoje é um novo homem. Aos 70 anos, afirma ter tido um encontro com Jesus no presídio onde cumpria pena por assassinato. Por isso admite erros, mas não é direto ao falar que matou ou torturou. Justifica seus atos com o contexto histórico em que viveu e com o poder que lhe foi dado. Seu semblante calmo só se altera quando lembra do constrangimento da família ao visitá-lo na prisão. "O difícil é o vexame. Os visitantes precisam ficar nus. Não é justo, é algo que a Justiça precisa mudar", defende. De delegado temido a pastor. Como se deu essa mudança?Foi plano de Deus. Antes servia ao homem e procurei fazer o melhor, mas cometi muitos erros. Reconheço isso porque agora tenho Jesus. Mas não pensava desta forma quando fui condenado. Avaliava que os meus atos eram justificados, feitos para proteger a sociedade. Tinha alguma religião?Como todo brasileiro sem religião, dizia que era católico, mas não frequentava a igreja. O que sentiu ao ser preso?Revolta. Não aceitava estar entre bandidos ao invés de uma prisão só para policiais. Era horrível. Na Penitenciária de Viana, na segurança média, dividia uma cela com mais três pessoas, mas no dia a dia convivia com outros presos. A raiva só começou a se transformar no início de 2006, quando conheci uma missionária de nome Santinha, muito parecida com a minha mãe. Foi o que me fez prestar atenção ao que ela pregava e me converti. Em 2007, com autorização da Justiça, fui batizado nas águas do Rio Jucu. E como era a convivência com as pessoas que tinha mandado para a cadeia? As autoridades me alertaram que poderiam me matar, mas depois que comecei a frequentar e a participar dos cultos, passei a servi-los, a ajudar os que tinham problemas jurídicos. Até que a situação mudou. Como?No início de 2008 a Promotoria avaliou que eu era um preso com mordomias e me transferiu para a ala de segurança máxima. Um lugar de castigo, isolado. Ficávamos 22 horas num cela pequena, sem energia. Fiquei 90 dias sem falar com minha família. Não pude nem levar a Bíblia. Hoje sei que Deus agiu para me mostrar que eu ainda tinha alguma soberba. Lá vi que estava sozinho, sem o apoio da família. Ali minha fé se fortaleceu. De que forma?Estava em uma cadeira de rodas, com artrite reumatóide. Uma única vez tive condições de ir a um especialista, que me receitou remédios para as dores. Até que um presbítero orou por mim e disse que estaria andando na quinta-feira seguinte, e foi o que aconteceu. Sei que ocorreu um milagre comigo. O senhor teve outros problemas de saúde?Tive 95% de obstrução nas veias do coração e precisei fazer uma cirurgia para colocar um stent. O senhor acha que as pessoas acreditam na sua conversão?Não estranho e não fico magoado se não acreditarem. Antes eu dava risada quando me relatavam situações como a minha. Nunca imaginei que um dia seria pastor. Tinha até um trato com um colega, o investigador Pedro Suzano, de que se na velhice um dos dois tentasse se esconder atrás da Bíblia, o outro o mataria com um tiro de 12 (escopeta). Quando ele soube dos novos rumos da minha vida, enviou uma carta dizendo estar feliz com minha decisão. Onde avalia que a sua vida perdeu o rumo?Antes de ser policial eu fui oficial de justiça em Minas Gerais. Lá ajudei a fazer a reintegração de posse de algumas terras e acabei fazendo inimizade com um fazendeiro que mandou me matar. Um primo acabou sendo morto em meu lugar. Na época, nada pude fazer porque me avisaram que havia o envolvimento de policiais. Anos depois fui convidado a participar de uma diligência para prender um foragido. Nela estava o policial que matou meu primo. No final, ele e o bandido estavam mortos. Ali começou o caminho para a violência. O senhor os matou?Não me eximo de culpa porque estava junto. O que veio depois?Fui convidado a atuar em uma força policial na divisa com Minas Gerais por conhecer bem a região. O objetivo era combater a pistolagem. Naquele mês a área foi limpa, mais de 30 pessoas - todos bandidos - morreram. Mas eu queria abandonar essa vida e fiz o concurso da Polícia Civil no Estado, onde passei a atuar como escrivão. O que mudou?Vivia em paz, longe dessa coisa de matar que, apesar de negar, me dava medo. Um dia estava na delegacia, onde trabalhava com o coronel Décio Nascimento, quando recebemos a visita de um coronel mineiro, velho conhecido. Naquele dia Nascimento descobriu o meu passado e fui nomeado delegado de Maruípe. Assumi o cargo e comecei a me destacar. Algum tempo depois assumi a Delegacia Especializada em Crimes contra a Administração Pública. Era só fachada, porque fazia de tudo. O senhor também comandou o Dops no Estado.Fui convidado por um coronel do Exército porque a guerrilha e a luta contra esquerda estava ferrenha. Eles me lembraram que eu tinha sido treinado para isso, o que era verdade. Aqui montei uma rede de informações mais eficiente que a do Serviço Nacional de Informações (SNI) no Rio de Janeiro. Tinha informantes em vários lugares, como o sul da Bahia, onde o partido (Partido Comunista ) foi estourado. Depois assumi várias delegacias, me destaquei e criei inimigos na corporação. Minha última função foi à frente do Grupo de Operações Especiais (GOE), até ser exonerado em 1990. Há várias acusações contra o senhor por homicídio, formação de quadrilha, roubos de armas, tráfico de drogas e tortura.Hoje não me defendo de nada. Deus me conhece e sabe o que fiz ou não. Naquela época havia uma vontade política de me destruir e muitas coisas erradas foram feitas. No caso do Jonathas Bulamarques não digo que sou inocente, mas fui condenado também pela tentativa de homicídio contra as irmãs Denise e Déia Gava, mas as moças nem no hospital ficaram. Então, qual foi a tentativa de homicídio? Foi uma condenação política, mas isso é passado. E a morte da sua companheira Rosa Maria Cleto?A morte dela era para mim. Ela e a irmã - Glória - foram executadas por alguém que reconheceram, mas isso não está nos autos. Alegam que mandei matá-la por ciúmes, mas estava no Rio de Janeiro apurando informações sobre o caso Araceli. A força tarefa trazida por Gerson Camata ao Estado indiciou policiais militares pelo crime, mas as armas deles não foram verificadas e seus depoimentos foram direcionados. Não há acusações contra mim nos autos. E o caso Maria Nilce?Fui acusado de desviar os rumos do processo, mas eu prendi o José Sasso. A Polícia Federal só cumpriu o que eu já tinha feito, mas não chegou aos mandantes porque não interessava. Eu os teria encontrado. Tem medo de ser morto?Não. Prego em lugares perigosos como Santa Rita e Alecrim, em Vila Velha, onde as pessoas me reconhecem. Já encontrei até quem tinha mandado prender. Onde errou?Fiz escolhas erradas. Nunca deveria ter saído de Minas Gerais para aceitar poder no Espírito Santo. Foi me dado muito poder numa época em que se pregava a violência. O governo federal nos ensinava que bandido bom era o morto. Havia uma política de bandido morto e fui muito usado para isso. Não estava preparado para tanto poder. Hoje sei que esse foi o meu erro, porque ninguém tem direito de tirar a vida do outro, mesmo a do pior bandido, porque ele pode ter a oportunidade de mudar. E se isso não ocorrer, se ele for um risco para a sociedade, deve ser mantido em um lugar adequado, respeitando a sua integridade. Não respeitar isso foi meu erro no passado. Como é sua rotina hoje?Estou em uma casa de repouso por determinação da Justiça, em decorrência do meu estado de saúde. Vou à farmácia, ao médico e à igreja. Não tenho escolta, mas apresento no fim do mês um relatório de tudo o que faço. Vivo com dificuldades financeiras, mas não quero nada do passado. Se quisesse bastaria um telefonema para os antigos amigos para ter uma vida tranquila. Um passado de acusações e condenações Vida. Cláudio Antonio Guerra está com 70 anos. Tem nove filhos e 11 netos. Estudou Direito em Colatina e voltou a se graduar, no ano passado, em Teologia, na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Foi oficial de justiça em Minas Gerais e escrivão e delegado da Polícia Civil até 1990 no Estado, quando foi exonerado. Agora luta por sua aposentadoria. Condenação. Foi condenado a 42 anos de prisão em regime fechado - dos quais ficou preso por 10 anos -, pelo atentado a bomba, em agosto de 1982, em Vitória, que mutilou o bicheiro Jonathas Bulamarques e feriu as irmãs Denise e Déia Gava. Bulamarques era apontado como chefe de uma quadrilha internacional de roubo de carros, tráfico de drogas, jogo de bicho e falsificação de dinheiro. No atentado, ele ficou mutilado, mas acabou sendo morto cinco meses depois, em uma invasão à sua casa, em Vila Velha. Caso das irmãs. Glória e Rosa Maria Cleto, que foi companheira de Claudio Guerra, foram mortas em dezembro de 1980. Rosa foi encontrada em um lixão em Itacibá, Cariacica, com 19 tiros, e Glorinha com 11 tiros. Pelo crime, Guerra foi condenado a 18 anos de prisão, mas o caso aguarda decisão do Tribunal de Justiça, segundo ele. Maria Nilce. A jornalista foi assassinada no dia 5 de julho de 1989, aos 48 anos. Segundo o processo, os tiros foram dados por José Sasso. Até setembro de 1989, o inquérito foi presidido pelos delegados Josino Bragança e Cláudio Antônio Guerra, mas em agosto do mesmo ano passou para a Polícia Federal (PF) após denúncias de irregularidades na condução das investigações. A PF indiciou seis pessoas pelo crime. José Sasso foi morto em 18 de setembro de 1992. Contra Guerra pesavam acusações de ligações com Sasso, que estava em sua casa quando se pensava que estava foragido. (A Gazeta) (Soltando o verbo...)

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