sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Líbia

Após ofensiva militar da OTAN, começa a corrida pelas riquezas da Líbia
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A OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) mantém seus ataques à Líbia com o objetivo de derrotar as tropas leais ao líder Muamar Kadafi e liberar o caminho para que os rebeldes assumam o país. Embora os motivos oficiais sejam estes, quem critica a ofensiva das tropas ocidentais afirma que os verdadeiros interesses dos países que formam a OTAN -- principalmente Estados Unidos, França, Canadá, Itália e Reino Unido -- estão ligados aos recursos naturais líbios, em especial o petróleo.
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"O petróleo é responsável por mais de 70% da economia líbia. Esta é a grande riqueza. E esse petróleo chamou a atenção desses países", afirmou Lejeune Mirhan, sociólogo e especialista em mundo árabe. De acordo com despacho norte-americano revelado pelo Wikileaks nesta terça-feira (24/08), as riquezas energéticas líbias -- petróleo e gás -- correspondem a 95% da economia do país africano.

Global Research

O destino do petróleo líbio: Itália (38%), Alemanha (19%), Espanha (8%), EUA (7%) e França (6%)

O petróleo é hoje o principal recurso natural do país, responsável pela exportação diária de 1,525 milhões de barris. Com os números, a Líbia fica a frente, por exemplo, do Iraque, que exporta pouco mais de 1,4 milhão barris/dia.

O sociólogo destaca ainda que, apesar dos ataques da OTAN, a Líbia possuía recentemente uma estreita relação com os países ocidentais. O volume de petróleo exportado ajuda a entender melhor a questão. "Kadafi se aproximou do Ocidente nos últimos 10 anos. Ele era o 'queridinho' dos EUA e da Europa. A situação apenas atesta uma lição histórica: o imperialismo não perdoa", completou Mirhan.

EUA e Líbia reataram relações diplomáticas em 2006, após o governo de George W. Bush retirar o país de Kadafi da lista dos que patrocinam o terrorismo. Na ocasião, a Líbia se comprometeu a não desenvolver seu programa nuclear e assumiu a responsabilidade pelo atentado contra o avião da companhia norte-americana Pan Am, em 1988, sobre a cidade escocesa de Lockerbie.

Paulo Boggiani, professor do Instituto de Geociências da USP (Universidade de São Paulo) também destaca a boa relação entre a Líbia e alguns países ocidentais, que compõem a OTAN. "Enquanto Kadafi garantia o petróleo, ninguém mexia com ele. As relações eram boas", pontuou. "Agora, no entanto, a situação mudou. Os países de primeiro mundo vão querer controlar o petróleo líbio. A lógica internacional é manter a produção do país", completou.
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Dependência

As declarações do sociólogo podem ser embasadas por meio de números que revelam a quantidade de petróleo importado por alguns países membros da OTAN. Entre os que não produzem petróleo, a Alemanha importa mais de 2,5 milhões de barris por dia. A França também ultrapassa a quantidade diária de 2 milhões de barris, enquanto a Itália chega a 1,8 milhões.

Já os EUA, responsável pelo ataques mais agressivos da ofensiva que toma conta da Líbia, consomem diariamente pouco menos de 20 milhões de barris de petróleo. O país, porém, produz apenas 37,42% desse total, segundo Mirhan.

Recursos hídricos

Outro recurso natural líbio que chama a atenção dos principais países ocidentais são as reservas de água subterrânea. Juntamente com Egito, Chade e Sudão, parte da Líbia está localizada sobre o Sistema Aquífero Arenito da Núbia.

Wikicommons

Mapa ilustra as principais reservas de água na Europa, África e Ásia

Trata-se da maior reserva de água subterrânea do mundo. Estimativas garantem que a reserva possui 150 mil km³ de água. A Líbia passou a utilizar essa fonte de água com maior intensidade a partir de 1983, também para irrigar a agricultura do país.

Os países membros da OTAN, que participam da ofensiva na Líbia, sustentam a posição de apenas deixar o país quando Kadafi for preso. No entanto, os reais interesses da investida ocidental sobre o país não parece mesmo ser apenas de ordem política.

"O país foi destruído. Na África, era a nação com maior índice de saneamento, investimentos em saúde. Mas a Líbia foi destruída tal qual o Iraque. Quem toma conta do país atualmente são as petrolíferas internacionais. Está em curso na África uma disputa pelo continente. Até mesmo a China investe no continente. Se trata de uma nova partilha da África entre as potências", concluiu Mirhan.
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