sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Pensamentando II

É proibido ser feliz sozinho

Aviso: é proibido fazer trocadilhos nesta área.

Mais que impossível, é proibido ser feliz sozinho.

É proibido sentir ódio de frente ao mar. Já melancolia, paixão e saudade: pode.

A regra é clara: é proibido aos goleiros ateus operarem milagres.

É proibida a criação de novas duplas sertanejas em cativeiro.

É proibido abortar um poema em germinação. Já chega de tanta prosa e literatura de autoajuda.

É proibido calar-se frente a tanta iniquidade.

O Ministério da Saúde adverte: sob pena de não ser convidado para o arroz com galinha após o sepultamento, é proibido questionar se Deus existe durante um velório.

É proibido importar médicos dos seriados americanos de TV, mesmo que eles sejam bonitos ou cubanos.

É proibido enfiar estes dois dedos no meu ânus, doctor.

É proibido internar um pobre professor de matemática de uma escola pública no Einstein.

É proibido estacionar senadores nas macas do SUS.

É proibido gastar mais penicilina com estes canalhas.

É proibido vender ilusões menores para os maiores de 18 anos.

É proibido fazer manifestações barulhentas após as desovas da noite.

Além de ser uma blasfêmia, é proibido encomendar uma missa para se comemorar um rombo.

É proibido pisar na grana. Guarde o dinheiro dentro da meia ou da cueca de um correligionário do partido.

É proibido gastar poemas magistrais dentro do Congresso Nacional.

É proibido aos senhores parlamentares rimarem amor com dor e licitação com comissão.

É proibido comparar as putas aos deputados. Deixem as moças trabalharem!

É proibido debochar dos PIB pequenos nos mictórios do Ministério da Fazenda.

É proibido ser meigo no prostíbulo e na política.

É proibido votar em branco corrupto.

É proibido anular o vate. Viva a poesia!

É proibido desistir do Brasil sem me convidar.

É proibido matar o equilibrista só para apreciar o tombo.

É proibido conversar com o motorista, mesmo que ele seja surdo e o tema, palpitante.

É proibido beijar a lona no escurinho do cinema.

É proibido estacionar no tempo e no espaço ao longo da linha amarela, e além dela também.

É proibido jogar pipoca aos macacos e alimentar os ateus.

É proibido a todo e qualquer medíocre escrever um livro (e me enviar um exemplar), plantar uma árvore (e tapear o IBAMA), ter um filho (e me convidar pro batizado).

É proibido sepultar livros numa biblioteca particular. Doe um bom livro a quem você ama.

Se já era proibido transar sem camisinha, imagine, sem vontade.

É proibido cuspir marimbondos em logradouro público.

É proibido, a qualquer criatura, sob qualquer circunstância, revelar o que existe depois da morte, além das demandas judiciais entre os herdeiros e dos sete palmos de terra sobre o ataúde.

É proibido mandar o mundo inteiro ir se ferrar antes que eu o faça.
   
Eberth Vêncio   
Eberth Vêncio
Escritor e médico.
(Revista Bula)

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