quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Israel

Israel desfolha a margarida da guerra por Pierre Klochendler, da IPS ministro Israel desfolha a margarida da guerra O primeiro-ministro do Hamás, Ismail Haniyeh, enfrenta uma nova arremetida de Israel. Seu escritório foi destruído no dia 17. Foto: Mohammed Omer/IPS Jerusalém, Israel, 20/11/2012 – O ataque de Israel ao Hamás parece um remake da guerra de 2008-2009 contra a Faixa de Gaza. A diferença está em se saber se tentará conseguir o que não conseguiu na ofensiva anterior: derrubar de uma vez por todas o Movimento de Resistência Islâmica. Para ampliar a operação, o exército israelense convocou 75 mil reservistas. Há quatro anos foram mobilizados menos de dez mil. O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, viajou ontem para Cairo, somando-se aos esforços mediadores do Egito para conseguir um cessar-fogo entre Israel e o Hamás. O atual conflito já causou uma centena de mortes palestinas e três israelenses. Quando lançou a operação Pilar de Defesa, no dia 14, com o assassinato do comandante da ala militar do Hamás, Ahmad Jabari, e a destruição da maior parte de seu arsenal de mísseis FAJR de longo alcance, o objetivo declarado de Israel era, de algum modo, modesto: empurrar o movimento islâmico para um cessar-fogo de longo prazo que inclua todas as facções islâmicas, garantindo, assim, a tranquilidade em sua fronteira sudoeste. Os meios empregados estão longe de serem modestos. A força aérea e a marinha de Israel utilizaram lança-mísseis, bunkers e centros de comando em centenas de ataques, 200 apenas na noite do dia 15. No dia seguinte, foi bombardeada a sede do Hamás, e ontem foi o prédio onde funcionava o canal de televisão Al Aqsa. Por outro lado, centenas de mísseis caíram em cidades e povoados israelenses localizados em um raio de 40 quilômetros de Gaza, matando três civis. Pela primeira vez desde a primeira Guerra do Golfo (1991), mísseis de longo alcance chegaram à área metropolitana de Tel Aviv, sem causar danos. “Todos os sinais sugerem que Israel se fixou em um objetivo relativamente modesto: uma trégua de longo prazo”, escreveu o analista de defesa israelense Ron Ben-Yishai no jornal centrista Yedioth Ahronoth. Entretanto, não há indícios plausíveis de que o Hamás esteja pronto para semelhante trégua. Há quatro anos, no começo da operação Chumbo Derretido, Israel ainda gozava de uma relativa liberdade de ação e do apoio do Ocidente. Um fator que poderia limitar suas forças armadas agora é o risco de que a ofensiva leve a um uso ainda mais desproporcional da força e a uma indiscriminada matança de civis palestinos. Na guerra, que se desenvolveu entre 27 de dezembro de 2008 e 18 de janeiro de 2009, morreram 1.400 palestinos, 300 deles menores de 18 anos. Em um informe divulgado em setembro de 2009 por uma comissão investigadora liderada pelo juiz Richard Goldstone, Israel foi acusado de crimes de guerra. Na época, o governo israelense argumentou que havia restabelecido sua capacidade de dissuasão. De fato, períodos de calma se alternaram com outros de tensão. Este ano, com 750 mísseis lançados contra Israel pelas guerrilhas palestinas antes da atual escalada, os parênteses de tranquilidade duraram cada vez menos. Além disso, há uma consideração importante nos planos de contingência israelenses para um eventual ataque por terra: a Primavera Árabe mudou a região, cercando Israel em suas fronteiras do norte e do sul e aguçando a sensação de insegurança prevalente no país. No prazo de uma semana, bombardeios errantes lançados pelo exército da Síria contra posições de grupos rebeldes desse país aterrorizaram as colinas de Golã, ocupadas pelo Estado judeu, somando-se ao ataque com míssil que o Hamás assumiu contra um jipe israelense. “A faísca” que, segundo Israel, acendeu o conflito atual. Israel realizou represálias duas vezes, bombardeando posições sírias. Também enfrenta ataques guerrilheiros vindos do Sinai, uma região egípcia vizinha à Faixa de Gaza. Daí a atual ofensiva também buscar colocar à prova a reação do Egito, cuja cooperação é necessária para manter em vigor o tratado de paz de 1979, bem como a estabilidade no Sinai e em Gaza. Ao retirar o embaixador egípcio de Israel e solicitar a intervenção dos Estados Unidos e da Liga Árabe, o presidente Mohammad Morsi pareceu mostrar sua preferência pela diplomacia. No dia 16, enviou o primeiro-ministro, Hesham Qandil, para uma breve visita de solidariedade a Gaza. O motivo ulterior de Israel pode ser simplesmente este: não só enviar uma mensagem de dissuasão ao Hamás por intermédio do Egito, mas mostrar ao mundo árabe (incluída a organização xiita libanesa Hezbolá) e, mais além, o Irã, que o Estado judeu ainda é forte e ataca quando se sente ameaçado. Em termos gerais, a operação é funcional para os interesses dos dois lados. Serve a Israel em parte porque, enquanto continuar, deixa de ser um problema a intenção do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, de que a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas aprove a Palestina como Estado-membro. Depois de evitar que facções palestinas mais extremistas bombardeassem Israel durante quatro anos de incômoda “cooperação” de segurança com o Estado judeu, o Hamás finalmente pode se recolocar como vanguarda da resistência contra a ocupação. Além disso, o repúdio do Hamás a uma trégua imposta por Israel constitui uma tática deliberada para arrastar os militares israelenses para Gaza, em um remake da guerra de 2008-2009, com a esperança de que a invasão desperte a condenação internacional. Na noite do dia 16, foram lançados mísseis Fajr contra Jerusalém e caíram na Cisjordânia ocupada. Pelo menos em teoria, a arriscada política do Hamás poderia levar ao que não conseguiu a guerra anterior de Gaza: que esse movimento seja derrubado após cinco anos de mandato, e substituído pela ANP de Abbas. Mas o Hamás e Israel sabem bem que é improvável que a ANP assuma o controle da Faixa nessas condições. E também é muito difícil que, tendo se retirado de Gaza voluntariamente em 2005, Israel queira voltar a ocupá-la. Além disso, com os antecedentes negociadores do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, o período de graça que desfruta Israel terá vida curta se o mandatário ordenar uma invasão total de Gaza. Por fim, a perspectiva de que em dois meses Netanyahu seja reeleito pode ter um efeito moderador sobre a ofensiva, embora seja funcional, pelos cálculos do primeiro-ministro, que a segurança – não a paz nem os assuntos sociais – ocupe um lugar prioritário na agenda da campanha eleitoral. No final, Israel continuar enredado em Gaza por tempo prolongado e muito perto da data das eleições pode colocar em risco as chances eleitorais de Netanyahu. Porém, enquanto o Hamás se negar a acordar uma trégua com Israel, a ofensiva continuará, com todos os riscos de um confronto mais profundo e agressivo. Envolverde/IPS (IPS)

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