sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Loucuras

Loucos numa sociedade mergulhada na loucura Por Sturt Silva Vendo uma reportagem sobre um ex-baixista, de uma banda muito famosa das décadas de 80 e 90, que hoje vive na rua (ou vivia, já que a reportagem é do início do ano) pensei como é complexo a relação entre homem e sociedade. Seria esse o destino ideal para “loucos” numa sociedade como a nossa: do imediatismo, do materialismo e da competição? Mas longo em seguida me deparei com uma reportagem do UOL, sobre o pedreiro que construiu a maior biblioteca comunitária do país. Atualmente a biblioteca conta com 50 mil exemplares, todos doados. Mas se essa simples notícia já é “coisa de louco”, a história dos bastidores deste feito que é para mexer com qual quer regra do equilíbrio e da normalidade, vista como padrão para sermos bem sucedidos, hoje em dia. Acho que a história do “Homem-livro”, como é conhecida a história de Evando dos Santos, e da Biblioteca Tobias Barreto de Meneses são bastante famosas. Talvez todos que ler este texto já a conheça. No entanto, elas são inspiradoras e surpreendentes, e devem ser valorizadas, num país como nosso, que ignora a socialização da leitura, da educação e da cultura. Os pilares da Tobias Meneses foram fincados na própria casa do Evando (foto), onde ele calcula ter reunido mais de 40 mil livros. A cineasta Anna Azevedo produziu e dirigiu o documentário Homem-Livro contando a história de Evando durante a mudança da biblioteca da casa de Evando para o prédio projetado por Niemeyer. O curta ganhou o prêmio de melhor filme do Júri Popular e de melhor direção do júri oficial do Festival de Brasília em 2006. O HOMEM-LIVRO / THE BOOK-MAN - 2006 from Anna Azevedo on Vimeo. Atualmente, ela funciona em um prédio próprio no Bairro carioca Vila da Penha. Criada em 17 de julho de 1998, recebeu o nome do autor preferido do pedreiro, que é seu conterrâneo. A Academia Brasileira de Letras homenageou o pedreiro em 2007. Evando foi condecorado com a medalha comemorativa dos 110 anos da entidade. A Câmara de Vereadores e a Assembleia de Legislativa do Rio de Janeiro concederam a medalha Pedro Ernesto e Tiradentes respectivamente. Além de ser um meio de adquirir conhecimento desburocratizado, tudo isso faz parte de um objetivo maior de Evando dos Santos, que é o compartilhamento do conhecimento. Sua vida inspirou também o escritor italiano Remo Rapino a escrever o livro “Um quintal de palavras”. Com sua determinação, Evando ajudou a fundar 37 bibliotecas comunitárias pelo Brasil, chegando, também, a enviar 4.000 livros para Angola. É uma loucura que deve ser elogiada, afinal as grandes conquistas, as rupturas necessárias para avanços significativos teve orientação de considerados loucos por “gênios” de suas épocas. Numa era onde “personagens vulgares” são idolatrados como deuses e o “internetês” ganha status de comunicação oficial, alinhado a um mundo que cada vez mais tritura mecanicamente iniciativas reflexivas e alternativas, valorizar a “loucura” de Evando dos Santos é o mesmo que reconhecer talentos como do cientista social Florestan Fernandes, este também um "rato" de biblioteca, outro “louco” das classes populares e também um “exemplo” de vida. Agora, o que é mais louco: a história do ex-baixista, morador de rua, ou a do operário-livreiro que socializa conhecimento? Postado por AF Sturt Silva às 11:02 Marcadores: AF Sturt Silva, Capitalismo, Cinema, Cultura, Curta Metragem, Documentário, Literatura, Livros (Ousar lutar, ousar vencer)

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