segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Rio

Rio, 2010: o eterno retorno da barbárie
Intervenção das Forças Armadas faz o jogo da Casa Branca e agrava o impasse.
Por José Arbex Jr.
25 de novembro, Vila do Cruzeiro, Rio de Janeiro. Cerca de 600 policiais militares de elite (incluindo integrantes do Bope) e 800 soldados da Marinha – treinados em tática de repressão a civis no Haiti -, todos apoiados por helicópteros e veículos blindados, iniciam um processo de ocupação que se estenderá, nos dias seguintes, a todo o Complexo do Alemão (13 favelas onde vivem cerca de 150 mil pessoas). A população local é humilhada, aviltada, agredida. Suas casas são invadidas, seus bens são saqueados, inocentes são assassinados. Mas há agora um dado distinto, de tremenda importância: as Forças Armadas entraram no jogo. Não poderia haver demonstração mais explícita da natureza terrorista do Estado brasileiro. Nem confissão mais clara de sua abjeta subordinação às determinações da Casa Branca (não por acaso, o ministro da Defesa Nelson Jobim aparece como o “queridinho” de Tio Sam, nos documentos vazados pelo site Wiki Leaks).
Nenhum país sério mobiliza as Forças Armadas contra o narcotráfico. Nenhum. Por várias razões. As Forças Armadas são treinadas para defender a soberania nacional contra agressores externos, e não para agir contra o seu próprio povo. Além disso, a guerra ao tráfico coloca a tropa em contato com agentes potencialmente corruptores. Finalmente, trata-se de uma guerra desmoralizante, por ser de antemão perdida. Só idiotas consumados podem acreditar que a repressão vence o tráfico, e apenas débeis mentais incuráveis levam a sério os discursos oficiais sobre a necessidade de acabar com o comércio ilegal de drogas. É um comércio que movimenta centenas de bilhões de dólares, injeta moeda no mercado especulativo, fornece dinheiro para o tráfico de armas, de seres humanos, de mercadorias. É indispensável, enfim, ao funcionamento da economia capitalista. Se alguém quiser mesmo acabar com o narcotráfico, terá que começar pela prisão de banqueiros e agentes financeiros, e assim produzir o colapso da economia mundial. Basta lembrar que nunca se produziu tanto ópio no Afeganistão como após a derrubada do regime dos Talebãs e a entrega do poder ao ex-agente da CIA Hamid Karzai.
Mas a Casa Branca quer que os países de seu quintal militarizem o combate às drogas. Primeiro, porque isso significa abrir as Forças Armadas nacionais à participação de “assessores” enviados pelo Pentágono, pelo FBI (polícia federal estadunidense), pela CIA (serviço secreto) e pelo DEA (agência de combate ao tráfico), além de “especialistas” israelenses (bem treinados em massacres de civis palestinos). É exatamente o que acontece, por exemplo, na Colômbia, onde, a pretexto de combater o tráfico, militares estadunidenses e israelenses agem com desenvoltura na Amazônia, além de faturar milhões com vendas de armas e equipamentos (incluindo carros blindados como os sinistros “caveirões”). Há duas décadas, pelo menos, a Casa Branca pressiona o governo brasileiro no sentido de militarizar o combate ao tráfico.
O presidente Luís Inácio Lula da Silva, finalmente, cedeu. Nem FHC ousou ser tão sabujo. Lula tem exata consciência do que faz. Em abril de 2003, pouco após tomar posse, fez um discurso ousado de denúncia do narcotráfico como parte da indústria transnacional do crime organizado: “Ele tem o seu braço na política, tem o seu braço na Polícia, tem o seu braço no poder Judiciário, tem o seu braço nos empresários, tem o seu braço internacional. Então, é uma coisa muito poderosa, que devez em quando nós vemos na televisão: ‘Polícia consegue apreender a maior quantidade de cocaína já vista no Brasil’. Aí o que apresenta a televisão? Cinco ou seis ‘bagrinhos’. Para onde ia e de onde veio, quem vendeu e quem comprou a droga, não aparece.
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