domingo, 27 de fevereiro de 2011

Betando

JOGO DECISIVO
Pisei com firmeza o gramado do Engenhão, no Rio de Janeiro. Vestia a camisa 101 do Flamengo. A torcida rubro-negra veio ao delírio. E gritava:”101!101!” Preferia que gritassem o meu nome e não o da minha idade,porque me lembrava que foram 101 os mortos pela tropa de choque da PM paulista no ex-Carandiru.Notei o olhar arregalado de Ronaldinho Gaúcho, a máscara de choro do Ronaldo Angelim (Flamengo) e Everton(Botafogo). O uruguaio Loco Abreu veio me suplicar no seu espanhol enrolado. Se ajoelhou : “não jogue,o senhor é muito idoso,não vai agüentar”. Mas eu queria corresponder à confiança do técnico Vanderlei Luxemburgo, que ao me entregar a camisa 101 avisou para o time todo : o primeiro passe vai ser pra ele. Pode sair o gol mais rápido da Taça Guanabara”. Os jogadores,constrangidos, limitaram-se a murmurar:”sim,professor”.Bola rolando no Engenhão. Ronaldinho Gaúcho passa a bola em profundidade pra mim. Saio correndo, mas as pernas começam a não querer obediência.A bola,eu preciso alcançar a bola. Não chego nem perto. Caio no gramado, de braços apertos e barriga pra cima.Dor forte no peito.Vejo de baixo pra cima os jogadores dos dois times olhando pra mim, alguns chorando, outros à beira do desespero.Foi então que ela apareceu.O corpo se movia no vestido branco como Chico Buarque descreve o movimento das mulheres nos livros dele. Quem era ela ? Não tinha mulher bandeirinha nesse jogo. Seria médica ? ou uma repórter de rádio ou TV?A dor no peito cresceu. A imagem dela cresceu pra cima de mim. Seus longos cabelos envolveram o meu corpo e sua boca me presenteou com o mais gostoso beijo de língua de toda a minha existência. Foi aí que tive pela primeira e única vez na vida a grande revelação :a morte é linda.
RobertoMenezes

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