terça-feira, 4 de junho de 2013

A privatização da dor

A privatização da dor    
Escrito por Otto Filgueiras  




Os alimentos sempre foram mercadorias no Brasil e só tem acesso quem pode comprá-los. A terra, moradia, educação e até a segurança pública também são mercadorias neste outro lado do Equador.



No caso da segurança pública, o pacote inclui o direito dos policiais executarem as pessoas infratoras das leis vigentes. Ou seja, licença para que as polícias civil e principalmente militares (PM) possam matar, particularmente se os assassinados forem jovens pobres e negros.



Os grupos de extermínio formados por policiais militares são verdades incontestáveis e presentes no noticiário da mídia. Mas fica por isso mesmo, não acontece nada aos marginais mantidos pelo Estado. Mãos pagas pelo poder público para torturar e matar.



Mais grave ainda é saber que petistas de carteirinha e famosos como José Genoíno (aquele do mensalão), defendem a Rota nas ruas para combater o “crime”. Afinal, petistas e malufistas são íntimos, basta lembrar o abraço caloroso de Luiz Inácio Lula da Silva, Rui Falcão e Cia em

Paulo Maluf no ano passado, no momento que se instalava a Comissão Nacional da Verdade.



A propósito, a mídia alternativa supostamente de esquerda não destacou a corajosa postura do vereador Gilberto Natalini, que não é petista, enfrentando o coronel e torturador do exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, o carniceiro da rua Tutóia, na audiência pública da Comissão da Verdade realizada semana passada em Brasília.



Impune, o torturador Ustra ainda disse que a presidenta Dilma Rousseff foi “terrorista”. E ficou o dito pelo não dito.



O problema é que os grupos de extermínio, condomínios fechados e bolsões, herança da ditadura militar, têm apoio de petistas de carteirinha, com a desculpa que precisam se defender dos “criminosos”, como acontece aqui na City Bussocaba, em Osasco, cuja associação de bairro, Sacity, constrói Cerca de Miseráveis apoiada pela administração municipal do PT na cidade.



Não bastasse isso, a saúde pública e o SUS tornaram-se mercadorias de capitalistas, os inescrupulosos que exploram, aviltando mulheres e homens. A privatização da dor. Antes bandeira corajosa de deputados do PCdoB contrários à utilização de hospitais públicos pelos planos privados de saúde, agora troca de supostas influências de médicos comunistas de logotipo por votos nas eleições burguesas.



A cena é dantesca e aconteceu em 13 de maio passado, no Hospital das Clínicas de São Paulo, administrado pelo governo tucano de Geraldo Alckmin. Com a desculpa de que o sistema não estava funcionando, às 9:30 da manhã, os “camaradas” médicos do Departamento de Urologia do HC ordenaram às enfermeiras avisarem aos pacientes que aguardavam pela consulta que iam embora, deixando de atender mais 200 pessoas idosas, mulheres e homens doentes.



Alguns se arrastando se deslocaram de suas casas ainda de madrugada para chegar a tempo no hospital.



A privatização da dor os condenou à morte.



Otto Filgueiras é jornalista.
Última atualização em Sexta, 17 de Maio de 2013

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