sábado, 15 de junho de 2013

Revistas

A morte de Veja e das outras semanais

    

    Ninguém duvida da força da Internet nos dias que correm. A web está cada dia mais presente na vida das pessoas, desde aquelas que fazem suas compras online até às que buscam nessa mídia alternativa a opinião independente e o democrático debate de ideias.

    O Direto da Redação, que vai completar 12 anos ininterruptos no próximo dia 3 de agosto,  surgiu exatamente com esse propósito, o de despertar no leitor uma consciência crítica sobre os problemas que afetam o nosso dia a dia. Por isso, rejeitamos a mesmice do pensamento único que nos é imposto pela mídia tradicional, representada pelos chamados “jornalões” , pelos noticiários televisivos e pelas revistas semanais, com raras exceções.

    Com esse pensamento é que vou abrir o espaço da minha coluna de hoje para transcrever o artigo do jornalista Paulo Nogueira, sobre o melancólico final de uma grande revista semanal de informações dos EUA.  Paulo, que vive em Londres,  é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo. 

    Deixo com você, portanto, prezado leitor, as reflexões de Paulo Nogueira sobre a agonia das revistas semanais de informação e o futuro das demais mídias.

    

    O melancólico final da Newsweek.



    Nada mostra tão bem o declínio das revistas semanais quanto a agonia da Newsweek, que durante décadas foi a influente e admirada número dois do mundo, com uma circulação de 3 milhões de exemplares.

    Na redação da Veja, nos anos 1980, a Newsweek e a líder Time eram acompanhadas com rigor e com devoção pelos jornalistas, incluído eu em meu começo de carreira.

    Nesta semana, soube-se que, mais uma vez, ela está à venda. Só que ninguém quer comprar os restos mortais.

    A Newsweek foi virando pó com a ascensão da internet. Foi perdendo leitores, anunciantes, repercussão e, finalmente,  razão de ser.

    Já nos estertores, passou do grupo que controla o Washington Post para as mãos da editora Tina Brown, que comandava então o site Daily Beast.  As duas marcas ficaram sob a órbita de Tina.

    No final do ano passado, a edição impressa deixou de circular. Se não fosse o aviso, ninguém teria notado, tão irrelevante já tinha ficado a revista na Era Digital.

    Agora, o site foi posto à venda. A empresa quer se dedicar à marca Daily Beast.

    É difícil imaginar que apareça candidato.  No New York Times, alguém notou, melancolicamente, que não é uma revista à venda, com jornalistas: é apenas uma marca.

    E uma marca de um passado longínquo. O caso da Newsweek não mostra apenas quanto a internet destruiu a indústria tradicional de mídia. (Há pouco tempo, a Time Warner tentou se desfazer de sua divisão de revistas, mas não encontrou quem quisesse comprar.)

    A agonia da Newsweek revela, também, um fato duro para as companhias jornalísticas: as grandes marcas do papel não transferem seu prestígio para a internet. Não surpreende que a empresa prefira se concentrar no Daily Beast e não na Newsweek.

    No Brasil, o quadro é o mesmo, com o natural atraso de alguns anos que caracteriza a mídia nacional em relação à americana e à europeia.

    A principal revista brasileira, a Veja, é uma sombra do que foi. Os esforços extraordinários para manter a circulação em 1 milhão – a mesma em vinte anos – não têm impedido uma queda calculada em 4% ao ano.

    Tenho para mim que o fim iminente e inevitável das revistas semanais de informação amargurou enormemente Roberto Civita em seus últimos anos.

    Tenho para mim, também, que parte dos excessos da revista se deveu a uma desesperada tentativa de manter a relevância a qualquer preço.

    O fato é que a internet vai transformando rapidamente as demais mídias em defuntos.

    A próxima parada, liquidados jornais e revistas, é a televisão.

    O futuro da tevê está na Netflix, no YouTube e na Amazon, que vai produzir conteúdo em vídeo.  Marcas tradicionais – a Globo no Brasil – vão enfrentar um processo parecido com o que vitimou a Newsweek e tantos outros títulos nobres da Era do Papel.

    A Globo só consegue manter a receita publicitária – sem a qual não é nada – graças ao expediente do BV, o Bônus por Volume, que acorrenta a ela as agências de publicidade.

    Mas o grilhão só se explica com audiências monstruosas. Porque é o terror de perder essas audiências – com um boicote da Globo — que faz os anunciantes aceitarem uma coisa tão ruim para eles.

    Sem grandes audiências, a amarra se vai. Os anunciantes se despedirão da Globo (e do BV abominado) e vão buscar seus consumidores onde eles estão: na internet. Não no Faustão, não no Fantástico, não nas novelas.

    A internet vai fazer com a Globo o que governo nenhum conseguiu fazer: acabar com o monopólio. Pela via da desaparição de expectadores.

    O jornalista Paulo Nogueira, é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
(Direto da Redação)

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