terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Pensamentando I

Manifesto contra os
Parvos da Alegria
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Por Luiz Rosemberg Filho & Sindoval Aguiar, do Rio de Janeiro


Enganar é bom e faz crescer. Quem sabe um Oscar no final de uma vida medíocre? A estes “civis” falta a farda. Pelo menos a representação seria mais completa.

Colagem de Luiz Rosemberg Filho

Nosso leitmotiv é o de evocar nossos demônios, desembaraçando-os não para homenagear os velhos e até bons musicais americanos, mas para ultrapassar a tudo e a todos, um pouco, com autoridade genial e o respeito ao cinema de Jean-Luc Godard e às teorias cênicas do teatro de Brecht. Na verdade, ainda hoje, as únicas referências que nos interessam como história, política e linguagem. O resto, excluindo uns poucos mais, a palavra já diz: restos!

Confundem, os Parvos da Alegria, felicidade pessoal com uma presença intelectual sólida, e que vem faltando ao nosso pobre e empobrecido cinema de mercado. Mas como vêm das velhas capitanias hereditárias, misturam (e aí até entendemos, pois sempre lhes faltou talento criativo original), sabonete com batata. Uma presença cênica autoral como o saudoso cinema de Glauber Rocha, com uma ausência de conhecimento real, das nossas muitas contradições. Mas... viveram sempre no tapetão “mágico” do poder. O poder de mentir. O poder de enganar. O poder de trair... E claro, fazendo m... na velha empreitada da enganação, criando frases de efeito para defenderem seus abortos criativos.

O ancièn regime ditatorial não quis largar o poder. Perpetuou-se visivelmente através da burocracia estabelecida para uma “coisificação” definitiva de tudo e de todos. Ora, o que representa o triunfo do mercado de aberrações como o único exemplo a ser seguido? Como diagnosticar essa aversão a um saber ousado e original e essa idolatria ao dinheiro que tudo justifica? Mas...não foi sempre esse o sonho de cinema que os militares queriam? Procuravam um cinema-espetáculo modelito Hollywood. Patriótico, se possível, e que uma vez proibido o saber, se realizasse oficialmente como mercadoria de quinta.

O cinema comercial brasileiro vem se caracterizando por se sujeitar a ser apenas uma cópia de Hollywood. Ora, o que nos interessa Rambo, Orca ou mesmo Avatar? Mas... não subestimamos a força porca e nociva desses nossos Parvos da Alegria. São parte do poder? Sempre foram, pois vêm das velha capitanias hereditárias, a bajular todo tipo de poder seja lá de que partido for. Mas foi sempre muito fácil enganar no nosso cinema. O Parvo que sempre esteve a reboque do poder, não tem porque se preocupar. Continuará mamando e mandando, pois sugou sempre. E como as tetas do “dinheiro público” foram sempre para eles, por que se preocupar?

Mas, vejamos os “filmes de sucesso” dessa tal de retomada:
2004
Cazuza
2005
2 Filhos de Francisco
2006
Se Eu Fosse Você
2007
Tropa de Elite
2008
Meu Nome Não é Johnny
2009
Se Eu Fosse Você 2
2010
Tropa de Elite 2

Alguma importância ou pensamento profundo nesses filmes televisivos, fora a bilheteria? É só ela que interessa? O ex-cinema-sensível virou isso? Mas é cinema ou televisão? Talvez circo, como resgate do nosso eterno fascismo enrustido, claro! Ninguém gosta de ser chamado disso.

Não somos saudosistas mas, sim, contemporâneos de filmes e personalidades como Humberto Mauro, Deus e o Diabo Na Terra do Sol, Paulo Emílio, Terra em Transe, Sérgio Santeiro, O Bravo Guerreiro, Ana Carolina, O Bandido da Luz Vermelha, Mario Carneiro, São Bernardo, Macalé, Os Fuzis, Joana Collier, Um Filme 100% Brasileiro, José Celso Martinez Correa, A Hora e a Vez de Augusto Matraga, Ismail Xavier, Vidas Secas, Zeca Brito, Santiago, Eduardo Coutinho, Lavoura Arcaica, Joaquim Pedro de Andrade, Serras da Desordem, Leonardo Esteves, Tudo Bem... Cá entre nós, um suporte mais consistente como intervenção na mesmice constrangedora do país que se recusa a mudar. E que se satisfaz em ser eternamente medíocre como postura cultural.

Não negamos, entretanto, a importância da bilheteria, mas não poderia ser com um pouco mais de consistência para o público e para o cinema? Também nunca acreditamos que o cinema pudesse fazer uma revolução fora da linguagem, pois sempre o vivemos como sendo uma revolução para os que o fazem como história e linguagem. E não recalcar o pensamento já é uma real possibilidade de circulação de muitos desejos proibidos, mas sempre tão desejado por todos. Singularidade para nós nunca foi enganar o povo com a peruinha nua da novela das oito. Nosso conceito de criação e liberdade é uma profunda projeção de contradições.

Os Parvos lá na juventude até foram opositores ao “pseudo-internacionalismo burocrático” da CAIC, do INC... Mas cresceram, envelheceram, viraram patrões gordos, gordurosos e carecas. Desarmaram-se do saber para, com o velho recurso da traição, transformarem-se numa espécie de monolitismo financeiro progressivo do dinheiro público: sempre para os Parvos de ontem e de hoje.

Assim, nosso cinema não consegue se libertar do atraso colonial, explicitamente de direita. Foi de mala e cuia para a TV, para servir de tapetão dos interesses dominantes, dos que acham que o cinema deveria ser televisão. Velhos companheiros de viagem, hoje servindo à bancarrota definitiva do saber, pois o transformaram num agrupamento de frágeis mercadorias sem originalidade alguma. Solidificando apenas velhos e novos gangsters na ótica conservadora, como extensão do nosso eterno retrocesso à barbárie.

Queiram ou não, criar é um conceito mais amplo de analogias. Para nós, ainda é uma extensão do pensamento profundo, a estabelecer sempre novos caminhos. Não dos infindáveis debates sobre a importância ou não das novas tecnologias digitais. Mas sobre a conquista do mercado para todos! Até mesmo para os Parvos da Alegria.

Aos velhos e novos Parvos não lhes interessa discutir nosso verdadeiro problema, que é a real ocupação de todos os nossos espaços. Não é nosso? Mas como muitos são funcionários das multinacionais e da TV para que mudar o processo de dominação? Terrorismo contra os meios de comunicação, nunca! Lei da economia de mercado. Lei da malandragem. Lei do espetáculo... Enganar é bom e faz crescer. Quem sabe um Oscar no final de uma vida medíocre? A estes “civis” falta a farda. Pelo menos a representação seria mais completa.

4/12/2010

Fonte: ViaPolítica/Os autores

E-mail: rosemba1@gmail.com

Veja, em ViaPolítica, três recentes curtas metragens de Luiz Rosemberg Filho:
As últimas imagens de Tebas
O discurso das imagens
Sem Título

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