quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Índios

.








Memória Tucuju
.
Por Mouzar Benedito


Uma tribo indígena que habitava o atual território do Amapá era a Tucuju. Teve contato com os brancos, e a região passou a ter seu nome, no tempo de Dom João V, rei de Portugal. Era a Tucujulândia, ou Província dos Tucujus.

Por causa disso, tudo que se refere ao Amapá é chamado pelos amapaenses de “tucuju”. Tem a comida tucuju, a cultura tucuju...

Em tempos de televisão igualando a linguagem de quase tudo quanto é lugar, nosso português brasileiro vai ficando mais homogêneo, perdendo certos regionalismos, mas alguns ainda resistem. Ou pelo menos existem na memória João Nobre Lamarão, um amapaense – ou tucuju –, resolveu registrar um pouco do vocabulário local já meio abandonado. Ele escreveu um pequeno dicionário chamado Falar Tucuju – Desde o tempo do ronca.

Esse complemento do título, “desde o tempo do ronca” é uma das expressões lembradas por ele, significa coisa antiga, ultrapassada.

Aí vão algumas expressões do livro dele:

Dar um tocha é abraçar apertado.
Bazuca, lá, nada mais é do que a goma de mascar, o chiclete.
Bilé é sinônimo de doido e buiado é o sujeito rico.
Busão não é sinônimo de ônibus, como em São Paulo, mas sim de lenda, de crendice popular.
Quando quer dizer que uma pessoa está parada, pensativa, o tucuju diz “ta no béri”.
O que é difícil de conseguir é vasqueiro.
Cigarro de palha bem fedido é porronca.
Homem vaidoso é pávulo.
Quem está fazendo sexo, está “na forquilha”.
Arrumar encrenca que não tem capacidade pra encarar, é “ir pra guerra de baladeira”.
O cara que vai em tudo quanto é festa, conhecido aqui como arroz-de-festa, lá é guará-suco, nome de um refrigerante de lá que era muito barato e não fazia falta em lugar nenhum.

Para terminar, lembremos que o Amapá faz divisa com a Guiana Francesa. Caiena, a capital dos vizinhos, atrai muita gente com empregos mais bem pagos... Mas muitos vão pra lá e não se tem mais notícia deles. Então, “ir pra Caiena” é sinônimo de morrer.

14/6/2009

Fonte: ViaPolítica/O autor

Mais sobre Mouzar Benedito

De Mouzar Benedito, leia o recém lançado romance folhetinesco João do Rio, 45 (Ed. Limiar, 2009) sobre o dia-a-dia de uma casa típica da boêmia Vila Madalena, em São Paulo, nos anos 70. E conheça Valadares, um jornalista de esquerda, grande bebedor de cachaça e militante por vocação, um contador de histórias que acontecem entre quatro paredes que têm ouvidos.

E-mail: limiar@editoralimiar.com.br

Site: www.editoralimiar.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário