domingo, 30 de janeiro de 2011

Esquerda

“A esquerda deixou o terreno aberto para a direita”

• Entrevistas
A ativista estadunidense Medea Benjamin critica a atuação, principalmente, dos sindicatos diante da difícil conjuntura de seu país
13/01/2011

Igor Ojeda
da Redação

A ativista estadunidense Medea Benjamin, cofundadora do grupo antiguerra Code Pink e da organização pró-comércio justo Global Exchange, critica a atuação, principalmente, dos sindicatos diante da difícil conjuntura de seu país. A ligação dessas entidades com o Partido Democrata fez com que, segundo Medea, os trabalhadores não fossem mobilizados “para lutar por seus direitos e contra os banqueiros de Wall Street”. A seguir, a entrevista:

Brasil de Fato – A vitória republicana nas eleições de meio-mandato veio com um fortalecimento da extrema direita no país. Qual é o perfil dessa direita? Quais os fatores que contribuíram com esse fortalecimento?
Medea Benjamin – A população estadunidense vem sendo severamente afetada pela crise financeira e está procurando uma válvula para suas frustrações. Infelizmente, os sindicatos neste país têm laços muito estreitos com o Partido Democrata e não querem ser vistos como críticos a Obama. Então, eles ficaram à margem e não mobilizaram os trabalhadores para lutar por seus direitos e contra os banqueiros de Wall Street. Assim, o terreno foi deixado amplamente aberto para a direita mobilizar os descontentes contra as políticas do partido no poder.

Você acredita que o Tea Party tende a se tornar um movimento que irá além do republicanismo?
Cerca de 30% do Tea Party seria mais libertário que republicano, mas há muita sobreposição. Também há muitos integrantes do Tea Party que se consideram independentes. Também há muitas pessoas envolvidas no Tea Party que nunca antes tinham se envolvido com organizações políticas, provavelmente algumas pessoas que raramente votam. Portanto, sim, o Tea Party vai além do Partido Republicano.

Internamente, quais podem ser as consequência desse crescimento da direita para a política e para a sociedade estadunidense em geral?
Será mais difícil fazer qualquer mudança positiva. Será mais difícil terminar as guerras, ter cobertura de saúde para todos os estadunidenses, aprovar legislação para combater o aquecimento global, aprovar uma reforma do projeto de lei de imigração.
Mas terá uma oposição contra a direita, especialmente pelo fato de que suas políticas levarão a uma maior desigualdade econômica e a dificuldades.

Sarah Palin sai fortalecida para tentar derrotar Obama nas próximas eleições presidenciais? Quais aspectos ela exploraria para ganhar votos?
Sarah Palin de fato tem muitos apoiadores, mas todas as pesquisas parecem indicar que ela não seria capaz de derrotar Obama. Ela exploraria as ansiedades financeiras da população e culparia Obama pelo “governo grande” e por não atacar o déficit. Mas muitas pessoas não pensam que ela acabará sendo a candidata republicana, pois seria difícil para ela ganhar.

Alguns membros do Partido Republicano não estão muito felizes com o crescimento do Tea Party e sua aproximação com o partido. Como você avalia essa relação? O que ela pode causar no interior do Partido Republicano e dos sistemas político e eleitoral estadunidenses?
Há republicanos mais moderados do que o Tea Party e que, portanto, estão preocupados com o fortalecimento do enraizamento do Tea Party. O Tea Party atacará, nas próximas eleições, aqueles mais moderados que se recusam a apoiar suas iniciativas. Isso moverá o sistema político para a direita, a não ser que a esquerda se mobilize para contra-atacar.

Quais serão as maiores batalhas entre Obama e o Congresso nos próximos dois anos?
Haverá batalhas sobre a implementação do projeto de lei de Obama sobre o sistema de saúde, imigração, reforma tributária, seguro desemprego, reforma financeira, políticas para atacar o aquecimento global etc.
(Brasil de Fato)

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