terça-feira, 26 de abril de 2011

Gramsci

OS INDIFERENTES
Posted: 21 Apr 2011 08:00 AM PDT
OS INDIFERENTES

Odeio os indiferentes. Acredito que
"viver significa tomar partido". Não podem existir
os apenas homens, estranhos à cidade. Quem
verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão e
partidário.
Indiferença é abulia, parasitismo, covardia,
não é vida. Por isso odeio os indiferentes.
Indiferença é o peso morto da história. É a bala
de chumbo para o inovador e a matéria inerte em que se afogam
frequentemente os entusiasmos mais esplendorosos, o fosso que
circunda a velha cidade e a defende melhor que as mais sólidas
muralhas, melhor do que os peitos dos seus guerreiros, porque
os dizima e desencoraja e, às vezes, os leva a desistir da gesta
heróica.
Odeio os indiferentes também, porque me provocam
tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos
eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhe impôs e impõe
cotidianamente, do que fizeram e, sobretudo, do que não fizeram.
E sinto que não posso ser inexorável e que não devo
perder inutilmente minha compaixão, que não posso repartir com eles
minhas lágrimas.
Sou militante, estou vivo. Sinto nas consciências
combativas dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura,
que estamos a construir.
Vivo. Sou militante. Por isso odeio quem não toma
partido, odeio os indiferentes.

Antônio Gramsci

La Cittá Futura, 11/02/1917

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