sexta-feira, 22 de abril de 2011

Pernambuco e o Non sense

A brabeza Pernambucana diante o absurdo
É preciso ter coragem para encarar o absurdo de frente e lutar contra a degeneração do homem.
Por Belisa Parente // sábado, 16 de abril de 2011

Caboclo de Lança e a chuva na Festa da Lavadeira (Foto: Festa da Lavadeira/ Divulgação)
Os pernambucanos sempre protestaram contra abusos e desigualdades. Lembram a Revolução Pernambucana de 1817? No golpe militar de 1964, Gregório Bezerra foi arrastado pelas ruas do Recife por bradar contra a ditadura fascista. Centenas de estudantes e trabalhadores largaram seus afazeres e se dirigiram ao Palácio das Princesas em solidariedade a Miguel Arraes, que havia sido encurralado pelos reacionários. Tivemos guerreiros como Virgulino Ferreira da Silva, Frei Caneca, Domingos José Martins, entre outros bravos. É preciso ter coragem para encarar o absurdo de frente e lutar contra a degeneração do homem.
Revolucionários não deixam de nascer no Recife. Ariano Suassuna vestiu-se de Leão para encarar a massificação cultural norte-americana. Os folguedos populares continuam resistindo, aos trancos e barrancos, ao imperialismo comercial, ao preconceito classicista e racial, para perpetuar as tradições dos nossos ancestrais. Eduardo Melo, da Festa da Lavadeira, é um exemplo atual da constante busca pelos princípios inalienáveis de igualdade e liberdade propostos por Rousseau em 1762, inclusive no que diz respeito à propriedade. Além de defender, propagar e registrar o folclore pernambucano, na Festa da Lavadeira, há 24 anos ininterruptos, tenta aplacar desigualdades morais e políticas. Que não deixam de ser sociais, a partir do momento em que o povo se apropria da festa, tornado-a fruto da convenção humana – e pela tensão gerada no conflito para perpetuação pacífica do evento no seu lugar de origem, a Praia do Paiva, litoral norte de Pernambuco.
Enquanto os ex-participantes do Big Brother Brasil recebem os holofotes da TV e a mídia previsível mescla terror/entretenimento, a empreiteira Odebrecht coloca todos os entraves possíveis para realização de um evento sobre o que temos de mais genuíno na nossa cultura. Eis o absurdo! Entretanto, a sociedade reage, não aceita pasmem, defende espontaneamente a sua cultura “marginalizada” em data significativa, a festa acontece todo 1º de maio, Dia Internacional do Trabalhador.
O Movimento Negro Unificado, o evento Terça Negra, o Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (GAJOP), a Associação Brasileira das Rádios Comunitárias (ABRAÇO) e O Povo de Terreiro sairam em defesa do evento que recebeu prêmios do IPHAN, Ministério da Cultura, é Patrimônio do Povo de Pernambuco, além de fazer parte do calendário turístico oficial do Estado. Cidadãos comuns têm se manifestado espontaneamente em defesa da Festa. Subestimam a opinião pública e o poder do boca em boca, que agora conta com os altos falantes das redes sociais da internet, enquanto, mais uma vez, a grande mídia e os poderes públicos silenciam.
A vida é dura, apesar das festas e brincadeiras, a vida é séria. Precisamos nos apoderar do presente, do passo vindouro e passado. Sempre fui simpática ao Governador Eduardo Campos, mesmo sendo apartidária e nunca tendo trocado qualquer tipo de palavra ou favor. Talvez por amar as histórias e reconhecer Arraes como familiar do povo, dos operários, do histórico MCP (Movimento da Cultura Popular) e da ACO (Ação Católica Operária). Caro Governador, vamos lembrar uma idéia popular que o elegeu como nosso representante: “Filho de peixe, peixinho é”. A essência, o olhar e a coragem devem permanecer. Nos sentiremos representados em vê-lo de Caboclo de Lança na 25ª Festa da Lavadeira, na Praia do Paiva, da mesma forma que nos sentimos homenageados quando vestes o gibão do sertão na Missa do Vaqueiro, em Serrita.
Vamos de mãos dadas com os cabras mulatos crioulos negros índios e matutos brindar juntos nossa identidade cultural, sem vergonha, democracia é tudo misturado! Ou deixou de ser?
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(Revista Zena)

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