quarta-feira, 20 de abril de 2011

Cuba

Carter na TV Cubana




Internacional

Arleen Rodríguez Derivet
Qua, 06 de Abril de 2011 16:55
Carter entrevistado na TV cubanaEntrevista do ex-presidente dos Estados Unidos James Carter à jornalista Arleen Rodríguez Derivet, da Televisão Cubana.
Arleen Rodríguez. — Olá! Uma saudação a todos os que nesta hora estão assistindo à Televisão Cubana. Dou-lhes as boas-vindas junto do ex-presidente dos Estados Unidos James Carter, que minutos antes de partir de retorno a seu país acedeu gostosamente a dar-nos uma entrevista, uma declaração exclusiva para nossa televisão.
Bem-vindo, senhor. Obrigada por aceitar nosso convite.
James Carter. — É um imenso prazer voltar a Cuba, a Havana.
Arleen Rodríguez. — É um imenso prazer que esteja conosco também.
Comentava comigo que queria dizer algo ao povo cubano antes de nossa entrevista.
James Carter. — Gostaria de agradecer ao povo de Cuba a possibilidade de estar novamente neste país, para poder reunir-me com os líderes cubanos, para reunir-me com alguns cidadãos cubanos que estão em desacordo com o governo. Estivemos muito estimulados quanto às possibilidades da reunião que vai ter lugar durante o Congresso, no próximo mês.
Ainda, tivemos a possibilidade de reunirmo-nos com os familiares dos Cinco patriotas cubanos, com suas mães, com suas esposas.
Espero que, no futuro, haja relações diplomáticas normais entre Cuba e os Estados Unidos. Gostaria também de que chegasse o momento em que as restrições das viagens dos Estados Unidos a Cuba e de Cuba aos Estados Unidos possam ser suspensas, e também que possa desfrutar-se de liberdade, de livre associação, de viagens. Acho que é muito importante para todo o mundo e para o povo de Cuba.
Tivemos reuniões com o ministro das Relações Exteriores, com o presidente da Assembleia Nacional, com o presidente Raúl Castro, com o anterior presidente Fidel Castro, que é meu amigo pessoal, e faremos o quanto for possível para que se produzam mudanças econômicas em Cuba.
Nesta manhã, também me reuni com o senhor Gross, que passou um longo tempo na prisão em Cuba, e pensamos que é inocente de qualquer delito. Espero que, no futuro, possa ser libertado, juntamente com os chamados Cinco cubanos, que levam 12 anos presos nos Estados Unidos.
No futuro, espero que possam desenvolver-se o comércio e as viagens entre os dois países e que se possa suspender totalmente o bloqueio econômico, que é uma opressão para o povo cubano, e que não somente prejudica o governo cubano, mas que é o povo de Cuba o mais prejudicado. Considero que as relações entre os Estados Unidos e Cuba devem mudar.
Quando tomei posse como presidente, suspendi as restrições às viagens entre ambos os países e trabalhei bem de perto com o presidente Castro para estabelecer intercâmbios diplomáticos. Agora, os Estados Unidos e Cuba têm umas 300 pessoas empregadas nas repartições consulares, tanto na dos Estados Unidos quando na de Cuba, e trabalham cubanos na Repartição Consular em Cuba e vice-versa, e acho que isto pode contribuir às relações diplomáticas normais entre os dois países.
Esta foi uma oportunidade que me deu a Televisão Cubana para poder dirigir-me a vocês e dizer-lhes que este é um país maravilhoso.
Arleen Rodríguez. — Obrigada.
Eu quero aproveitar essa oportunidade para fazer-lhe algumas perguntas.
Quero, primeiramente, cumprimentá-lo com o respeito e a simpatia que gerou o único presidente dos Estados Unidos que, em 50 anos, fez alguma coisa para normalizar as relações. O senhor lembrava alguns desses passos importantes. O fato também de vir a Cuba duas vezes, fazê-lo com a mão estendida e com respeito. O povo cubano, que é muito orgulhoso e digno, recebe com simpatia os visitantes aqui.
Acho que, entrando na matéria, o senhor me eximiu de fazer uma introdução ao expressar novamente sua decisão e desejo de que se ponha fim ao bloqueio a Cuba. É sabido que há um consenso majoritário na sociedade norte-americana, que inclui a comunidade cubana nos Estados Unidos, e que, também, a comunidade internacional o demandou em massa nos últimos 20 anos, de maneira que seus esforços são acompanhados também pelas grandes maiorias em Cuba e nos Estados Unidos.
Como o senhor mesmo reconhece, o bloqueio se mantém, e os cubanos e as cubanas sabemos que se mantém, aliás, com o mesmo rigor de antes e, às vezes, aperta um pouquinho mais.
Eu pergunto: Que perspectivas o senhor vê nas relações Cuba-Estados Unidos e a esse bloqueio, a que todo o mundo é contrário?
James Carter. — Como a senhora sabe, a maioria dos cubanos deseja que existam relações normais com os Estados Unidos, e a maioria dos norte-americanos também deseja que existam relações normais com Cuba. Indubitavelmente, existem alguns líderes radicais em meu país, alguns em posições de destaque no Congresso, em muitos dos casos cubano-americanos, que teimam em manter esse distanciamento nas relações entre ambos os países, estes representantes da antiga comunidade cubano-americana, cujo objetivo fundamental era derrocar o regime de Castro; inclusive, entre os cubano-americanos existe uma minoria neste momento, mas muito poderosa do ponto de vista político, nos círculos políticos. Considero que, nos últimos anos, houve alguns progressos porque, inclusive, a opinião pública dentro dos círculos de Miami e dos cubano-americanos, inclusive os mais jovens dentro dessa comunidade, deseja que se ponha fim ao bloqueio econômico e que hajam oportunidades normais para poder viajar em ambas as direções: dos Estados Unidos a Cuba e de Cuba aos Estados Unidos, isto é uma mudança. Na minha opinião, é uma mudança que vai avançar no futuro e espero que a minha pequena voz, assim como a opinião de muitos norte-americanos, possa fazer com que isso se materialize.
Arleen Rodríguez. — Senhor Carter, escutei-o com muita emoção na entrevista coletiva, e aqui na apresentação escutei-o pedir, exigir também a libertação dos Cinco herois cubanos, que Cuba considera herois, porque enfrentaram grupos terroristas e conseguiram evitar que crescesse a lista de 2.099 deficientes e 3.478 mortes que causou o terrorismo a nosso país.
Não sei até que ponto o senhor é ciente de quão sensibilizado está o povo de Cuba com a demanda de libertação para os Cinco. Contudo, não o escutei pronunciar-se pelo indulto.
O senhor dizia que, segundo as leis norte-americanas, esperava que fossem libertados. Eles apelaram à Suprema Corte, que lhes negou a revisão do caso, apesar de que era uma demanda de mais de 10 prêmios Nobel e centenas de personalidades políticas e intelectuais do mundo todo. Isto é, esgotaram-se todos os passos legais.
Houve muitas arbitrariedades no processo, como o senhor dizia, reconhecidas pelos juízes, e eles receberam uma punição adicional, ao serem dois deles privados da visita regular de suas esposas, com dificuldades também para a visita dos familiares.
Chegar a esse ponto na Suprema Corte, e que não lhes permitissem uma revisão dum caso tão complexo, fez com que estes próprios prêmios Nobel e personalidades políticas demandassem o indulto ao presidente Obama.
O senhor foi presidente dos Estados Unidos, o senhor exerceu o direito do indulto, como um gesto humanitário que lhe digo — como cubana —, o povo de Cuba agradeceria profundamente; estaria disposto a se somar a outros prêmios Nobel que pedem o indulto dos Cinco a Obama?
James Carter. — Como a senhora sabe, não somente sou um antigo presidente dos Estados Unidos, mas também um prêmio Nobel.
Arleen Rodríguez. — Por isso.
James Carter. — Ou seja, em minhas conversações privadas com o presidente Bush e com o presidente Obama falei sobre a libertação dessas pessoas.
Reconheço as limitações dentro do sistema judiciário dos Estados Unidos e espero que o presidente possa conceder este indulto. Porém, essa é uma decisão que somente o próprio presidente pode tomar, ou seja, não me cabe dizer ao presidente o que deve fazer; mas o presidente, tanto antes quanto agora, sabe que minha opinião é que o julgamento dos Cinco foi duvidoso, que se violaram normas, e que as restrições acerca de suas visitas foram extremas.
Agora sei que já esses familiares puderam visitá-los, e espero que, futuramente, este indulto possa ser concedido e que possa haver também maior acesso de seus familiares a esses prisioneiros nos Estados Unidos.
Informaram-me uns funcionários, por exemplo, que a derrubada do pequeno avião em Havana, que possibilitou a morte de dois dos pilotos, teve lugar depois de que o presidente dos Estados Unidos informou aos líderes cubanos que já não haveria mais voos. Os funcionários cubanos me comunicaram que expressaram com muita clareza ao presidente dos Estados Unidos que não se podia permitir o voo sobre a capital do país despejando panfletos impressos e que tinham que proteger a soberania de Cuba. Assim que, ainda que isso seja algo mais sério, uma alegação mais séria, em minha opinião, tenho dúvidas quanto a essas extensas condenações a que foram submetidas essas pessoas; porém, quando retornar penso conversar com o presidente Obama, cá está minha declaração pública, fiz isto antes com outros líderes norte-americanos e falamos a favor da libertação dos Cinco; uma das razões, sejam culpados ou não, é que já passaram longo tempo na prisão, mais de 12 anos. Ou seja, que já teriam sido punidos adequadamente, ainda que fossem culpados.
Arleen Rodríguez. — Acaba de morrer, recentemente, uma pessoa muito ligada ao caso, que o senhor conheceu bem, Leonard Weinglass. Sei que o senhor sabe que era um homem amante da justiça e que lutou por ela, e seus últimos pronunciamentos, seu último trabalho, inclusive em seu leito de morte, esteve encaminhado a provar que os Cinco não têm nada a ver com a derrubada dos aviões.
James Carter. — Sim, eu sei.
Arleen Rodríguez. — Entrar mais no caso faria mais longa esta conversação, mas o que sabe o povo de Cuba, o que se pode provar, o que sabem, inclusive, as autoridades norte-americanas, por todo o relatório que transmitiu Cuba, é que esses jovens, o único que faziam era buscar informação para evitar atos terroristas.
Eu tenho a confiança de que o senhor também poderá transmitir a solicitação de indulto, como um gesto humanitário. Estes homens sofreram muito e perderam familiares, sem poder estar ao lado deles. Enfim, não insisto, agradeço seu interesse e suas declarações, em nome do povo de Cuba.
Senhor Carter, o senhor dizia também, nesta manhã, na entrevista coletiva, que teve um encontro de amigos com o comandante Fidel Castro, que em suas reflexões expressou muita angústia pelos riscos que está enfrentando a espécie humana, pelos enormes arsenais nucleares que continuam crescendo e que possuem capacidade suficiente para destruir várias vezes o mundo, e também pelas consequências nefastas que poderia acarretar para a espécie humana a mudança climática; são temas em que acho que vocês têm uma ampla coincidência.
Como físico nuclear, o senhor sabe o que significa para a espécie humana a posse de armas nucleares, o senhor foi um presidente que trabalhou muito para educar seu povo contra o culto ao consumo, promoveu políticas de racionalidade, de defesa do meio ambiente, embora o tornassem impopular entre alguns setores.
Bom, rapidamente, apenas quero saber se acredita que ainda há chance de fazer alguma coisa para salvar a espécie humana.
James Carter. — Quando eu era presidente, negociei com a União Soviética para reduzir o número de armas nucleares, com os Acordos SALT I e SALT II, e estive bem a favor de que se reduzissem os arsenais nucleares em ambas as partes. Aliás, considero firmemente que representa uma ameaça para todos os seres humanos este aquecimento global, e, como a senhora provavelmente sabe, o presidente Obama e seu antecessor, o presidente Bush, estavam interessados em trabalhar com outras potências nucleares para reduzir os arsenais e, de uma maneira muito estrita, os acordos que assinaram estes governos estão sendo supervisionados.
Considero que os Estados Unidos não foram firmes o tanto que deveriam ter sido na abordagem dos problemas do aquecimento global. Os funcionários cubanos, desde que estive aqui, assinalaram-me o que se fez na parte antiga de Havana, e estive na Bolívia para reunir-me com Evo Morales, e talvez a Bolívia seja o primeiro país que sofra os principais danos à sua economia, devido a que se estão derretendo as geleiras nas montanhas da Bolívia, que significam uma fonte de água potável. Por isso, espero que no futuro este tema, como o aquecimento global também, seja abordado por todas as nações, e sei que Fidel Castro também é um promotor desse tema. Estivemos conversando sobre os passos que se deram quando eu era presidente dos Estados Unidos, e conversamos agora e ele está falando e tentando utilizar seus conhecimentos e sua sabedoria, como antigo presidente, para o bem-estar dos seres humanos. Estivemos conversando, concordamos em muitas coisas e, sobretudo, falamos também deste aquecimento global, e acho que pode haver a possibilidade de entendimento entre os dois países.
Arleen Rodríguez. — Agradeço-lhe imenso.
Obrigada, cada vez que o senhor visita Cuba, as esperanças se abrem, embora as relações ainda continuem sendo tão difíceis com o bloqueio.
James Carter. — Espero que possamos voltar outra vez. Quero trazer minha família toda, somos muitos na família, somos 36 membros. Espero não tardar muito e trazer minha família.
Muito obrigado.
Arleen Rodríguez. — Obrigada, senhor Carter, muito obrigada.
30 de março de 2011, "Ano 53 da Revolução"
[Tradução das versões estenográficas do Conselho de Estado]
Fonte: Granma Digital Internacional

(Fund. Lauro Campos)

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