domingo, 17 de abril de 2011

EUA

A nova “República das Bananas” dos EUA
As repúblicas das bananas se caracterizam por não ter política de desenvolvimento nacional e dependerem dos agentes financeiros estrangeiros. A classe proprietária dos EUA optou por manter seus níveis de ganância expropriando as poupanças dos trabalhadores e reduzindo suas rendas.
Por Marco A. Gandásegui
[06 de abril de 2011 - 13h17]
Os EUA caminham rapidamente para converter-se em uma “Banana Republic”, bem como vários países da Europa. O economista Michael Hudson, antigo especialista de Wall Street, diz que esta tendência “está se consolidando no estado de Wisconsin. A maior cidade de Wisconsin – Milwaukee, até pouco tempo atrás a mais rica dos EUA – está entre as quatro grandes urbes mais pobres dos EUA”.

Basta um estudo superficial da “Lei Orçamentária” de Wisconsin, aprovada em princípios de março, que inclui a privatização das instalações públicas de geração de energia e um novo sistema de contratos públicos sem licitação. As 37 instalações que o governador Scott Walker pretende vender em liquidação produzem calefação e refrigeração a baixo custo para as cidades, as universidades e, inclusive, para as prisões do estado. A lei orçamentária pretende vender todos os bens do estado a preços baixos. Supõe-se que esta política beneficiará os grandes contribuintes da campanha eleitoral do Partido Republicano, como as indústrias dos irmãos Koch. Para cobrir esta transferência de riquezas aos mais ricos, o estado iria cobrar perpetuamente a conta de produzir esta energia aos contribuintes.

Estas são as mesmas políticas aplicadas nos últimos vinte anos no Panamá, que empobreceram as casas e eliminaram empregos produtivos. No Chile se fez o mesmo desde princípios da década de 1980 com Pinochet. Menem na Argentina, Fujimori no Peru, Salina de Gotari no México, Carlos A. Pérez na Venezuela, seguiram este caminho e lançaram seus países às ruínas. Atualmente, na América Latina, muitos países corrigiram os erros do passado e tratam de consolidar as bases para erguer países mais prósperos.

As repúblicas das bananas se caracterizam por não ter política de desenvolvimento nacional e dependerem dos agentes financeiros estrangeiros. No caso dos EUA, seus capitais produtivos (que incluem força de trabalho, tecnologia e financiamento) estão se “externalizando”. Em outras palavras exportando à China e outros países “emergentes” com políticas de desenvolvimento. A classe proprietária dos EUA optou por manter seus níveis de ganância expropriando as poupanças dos trabalhadores e reduzindo suas rendas.

No caso de Wisconsin, a lei orçamentária tem entre seus planos destruir o Sistema de Aposentadoria (WRS). O WRS é um dos sistemas de pensões públicas mais estáveis, melhor financiado e melhor gerenciado dos EUA. Ainda que Wisconsin não seja um estado muito populoso, o WRS chegou a acumular 75 bilhões de dólares em reservas. Isto lhe permitiu pagar pontualmente generosas pensões a seus funcionários aposentados, sem necessidade de financiamentos públicos. A lei incentivada pelo governador Walker está redigida com uma linguagem que acabaria com o sistema. “É um assalto aos seus ativos para pagar ulteriores cortes fiscais para os ricos (especialmente os proprietários) e atirando aos tubarões de Wall Street uma boa isca. Uma vez liquidados, os empregados públicos passarão aos sistemas privados de poupanças para a aposentadoria, manejados por gestores de dinheiro que trabalham com comissão”.

Em uma proposta separada, o governador Walker começaria o processo de privatização dos dois campi universitários, que subsidiam os doutorados da Universidade de Wisconsin. “Ironicamente", diz Hudson, "as universidades estatais às quais o governo federal concedeu (em fins do século XIX) terrenos públicos para sua construção – e entre elas a de Wisconsin se destacou – foram criadas pelos republicanos protecionistas daquela época marcada por desenvolvimento. Eles promoviam visões alternativas à doutrina do livre mercado, que dominava nas prestigiosas universidades da Ivy League, as oito grandes universidades privadas do noroeste dos EUA, encabeçadas por Harvard. Estas universidades estatais públicas estabelecidas em terrenos federais cedidos aos estados, como seus semelhantes na Alemanha, ensinavam uma nova política econômica de gestão estatal e empresa pública que formou a base do subsequente desenvolvimento norte-americano e alemão.”

Outras propostas sugerem a venda dos bosques públicos de Wisconsin, transbordantes de minerais e riqueza madeireira. Hudson assegura que as iniciativas dos republicanos de Walker são uma declaração de guerra contra os trabalhadores. “É uma guerra também contra as instituições da era progressista de Wisconsin. Sua política ameaça com a pauperização do estado e ameaça dar-lhe um golpe de graça nas instituições progressistas. Contra a sugestão de John Keynes, de proceder à ‘eutanásia do rentista’, a quem se quer eutanasiar agora, em toda a América do Norte e em toda a Europa, é a classe média”. Bem vindos à nova república das bananas.

Tradução de Cainã Vidor. Publicado por http://www.alainet.org/index.phtml. Foto por http://www.flickr.com/photos/robin24/.


(Revista Forum)

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