sábado, 13 de agosto de 2011

Pensamentando

Esqueçam o Batman ou o Homem-Aranha e as lutas simplistas entre o bem e o mal. No combate pela verdade e justiça, as Guerrilla Girls têm dado voz à discriminação das mulheres no mundo da arte. Atrás de máscaras de gorila e com nomes de código inspirados em mulheres de renome mundial ligadas à arte, as GG são activistas, mas também artistas.

© by Guerrilla Girls || Courtesy www.guerrillagirls.com
Frida Kahlo, Käthe Kollwitz, Meta Fuller ou Gertrude Stein. Os nomes pertencem a mulheres, já falecidas, que conquistaram o seu lugar na história mundial das artes e letras, mas também nas memórias da luta feminista. Não obstante, são também alguns dos nomes de código usados pelas Guerrilla Girls, mulheres em máscaras de gorila que denunciam a discriminação de género no mundo artístico, através do humor corrosivo e da arte visual. As imagens da sua luta viraram, entretanto, peças de museu, ilustrando a vertente feminista da arte política.
«As mulheres têm de estar nuas para entrar nos museus dos EUA?». A pergunta, que põe o dedo na ferida no domínio da história de arte, é uma das frases fortes do material artístico de sensibilização das GG. E, a acompanhar, uma informação estatística: menos de três por cento dos artistas expostos no Metropolitan Museum of Art são mulheres, enquanto 83 por cento dos nus representados são femininos.
À semelhança deste exemplo, muitos são os posters e autocolantes produzidos pelo grupo. A maior parte aponta para casos gritantes de discriminação de género na arte plástica, no cinema ou mesmo nos estereótipos do dia-a-dia, embora também sejam desenvolvidos projectos contra o racismo no mundo artístico e outras questões políticas.

© by Guerrilla Girls || Courtesy www.guerrillagirls.com
Mais do que meros flyers de campanha, as imagens das Guerrilla Girls tornaram-se também peças de museu. Não porque o feminismo tenha passado de moda e ganhado teias de aranha, mas porque o material artístico usado é uma das faces visíveis do seu trabalho. Aliás, não é por acaso que todas as mulheres do grupo são também elas artistas.
O mote de toda a intervenção do grupo é reinventar a palavra “F”. E não, aqui não se trata da abreviatura para fuck. Trata-se (apenas) de reinventar e dar novas tonalidades ao feminismo. A questão, tantas vezes mal-vista e olhada de lado, é desmistificada pelas próprias GG. "Acreditamos que o feminismo é uma maneira fundamental de ver o mundo e reconhecer que metade de nós são mulheres e todos nós merecemos ser iguais", afirmam.

© by Guerrilla Girls || Courtesy www.guerrillagirls.com
Então, mas porquê as máscaras de gorila e os nomes de código? Chamar a atenção e apelar ao humor como meio de sensibilização são duas das estratégias usadas pelo grupo feminista. E como não reconhecer que ambas são atingidas na perfeição quando vemos palestras de sensibilização cuja oradora é uma mulher mascarada de gorila e com o nome de Frida Kahlo?
Além disso, as máscaras servem para desviar as atenções das artistas/activistas para a problemática da discriminação e, também, para garantir um certo anonimato protector às Guerrilla Girls. Artistas na “vida real”, as mulheres que apontam o dedo aos museus pela falta de projecção dada ao trabalho feminino têm assim a garantia de que não sofrerão represálias.
O grupo surgiu como reacção a uma exposição de 1985 no Museum of Modern Art, de Nova Iorque, que supostamente reuniria os nomes mais significativos da arte contemporânea. Dos 169 artistas expostos, apenas 13 eram mulheres e todos eram caucasianos, para indignação dos manifestantes, que se uniram em protesto à porta do museu. Daí à mobilização de um grupo foi um passo pequeno e as Guerrilla Girls ganharam forma. Desde então, a intervenção tem sido feita através de materiais artísticos (posters, autocolantes, cartazes), mas também através de palestras e livros.
Longe de reunirem o consenso, mesmo entre feministas, as guerrilheiras com cara de gorila e meias de rede não deixam ninguém indiferente. E a agitação que provocam é tanta que permitiu que as GG continuassem a tentar mudar o mundo nos últimos 25 anos. O sucesso é grande, dentro e fora dos Estados Unidos, berço do grupo. A prova disso é a sua passagem pelo Brasil, em 2010, e a presença dos posters carismáticos na Fundação Serralves, em Portugal, no âmbito de uma exposição temporária dedicada à arte política.
Como trabalho de casa, possivelmente patrocinado por estas “mulheres da luta”, fica o desafio. Vá ao museu mais perto e conte os trabalhos assinados no feminino. No final de contas, o resultado aponta para que a história de arte, tal como estas máscaras de gorila, não seja neutra em género.

© by Guerrilla Girls || Courtesy www.guerrillagirls.com

© by Guerrilla Girls || Courtesy www.guerrillagirls.com
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Sobre a autora: marisa figueiredo sonha em abrir uma livraria-chocolataria para que possa juntar os seus dois prazeres. Saiba como


Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2011/07/guerrilla_girls_gorilas_justiceiras_no_mundo_da_arte_1.html#ixzz1SnTdta9T
(obvious)

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