quinta-feira, 20 de setembro de 2012

A Pérola

O valor das coisas Se esta lenda fosse inédita, não valeria a pena contá-la. Inexiste um mito que seja original: todos são construídos, uns sobre os outros, para formar uma pilha de sapiência. Dizer que os mitos são plágios, é o mesmo que afirmar ser Fernando Pessoa um famoso plagiador, quando asseverou: navegar é preciso, viver não é preciso. O poeta copiou a expressão de uma antiga companhia do Norte da Europa, que ressaltava aquilo, como lema dos navegadores antigos. Há quem diga, porém, que a frase foi de autoria do General Pompeu (Século I A.C.), para incentivar os navegadores do norte europeu. Neste sentido, sinto-me livre para recontar uma lenda, pois, vivi tantos anos que, eu mesmo (acho!), já passei a ser uma lenda. Há uma história persa sobre um jovem que escalou uma montanha. Em seu topo, havia uma caverna e, dentro dela, uma pérola de rara beleza e valor. No entanto, a pérola estava sob a guarda de um terrível dragão. Como ainda era inexperiente, o jovem temia perecer na empreitada. Sendo assim, não se sentiu capaz de pegá-la. Frustrado, o jovem voltou à sua prosaica vidinha, sem grandes motivações. Casou-se, constituiu família, trabalhou e, quando ficou velho o bastante, depois de ter criado os filhos e casado as filhas, sentiu-se livre, o suficiente, para ir se apropriar da pérola. Dessa forma, foi direto ao caminho do topo da caverna. A pérola continuava no mesmo lugar, sem ter perdido seu brilho, como se tantos anos não tivessem passado. Mais adiante, estava o dragão, já tão velhinho, encolhido, e desgastado, que nem parecia o mesmo de outrora. O idoso, entretanto, pensou que, durante toda a sua vida, não parou de pensar sobre a pérola, idealizando uma luta feroz com aquele dragão. Ele trabalhou de sol a sol, cumpriu suas obrigações, tudo isso, sem que sentisse a necessidade de ter aquela pérola. E pensou: que sentido faria, agora, lutar contra aquele dragão envelhecido? Decidiu, então, não mais pegar a pérola: desceu a montanha, amparado por seu cajado e, chegando em casa, encontrou os filhos e netos sorrindo, felizes da vida. A partir daí, começou a refletir sobre o real valor das coisas... Contribuição de Merado Zisman, médico psicoterapeuta. Email: meraldozisman@uol.com.br (Direto da Redação)

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