terça-feira, 4 de setembro de 2012

Ahmed Negm

Ahmed Fouad Negm: “Os versos da revolução” 2/9/2012, “Artscape: Poets of Protest”, Al-Jazeera - Diretor May Abdalla “Ahmed Fouad Negm: Writing a Revolution” Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu O afamado, irreverente, controverso “Tio Ahmed”, como o poeta Ahmed Fouad Negm é chamado no Egito, conheceu a poesia na prisão, nos anos 1950s, e escreve desde então. Nesse retrato íntimo, raro, vêmo-lo procurando seu lugar nessa revolução de jovens e à espera de que a inspiração reapareça. (...) Hoje com 83 anos, o velho poeta lançou seus versos-adagas contra todos os que governaram o Egito ao longo desses anos, o que lhe custou um total de 18 anos de cadeia. Hoje, o poeta, conhecido pela vida livre e pelas respostas rápidas, assiste aos acontecimentos no abrigo da sala de casa e pisca o olho para mim: “Quando como, como bem. Quando amo uma mulher, amo bem. Quando escrevo, escrevo bem”. Ahmed Fouad Negm é uma lenda viva no mundo árabe, afamado por dizer o que pensa. 17º filho de sua mãe, Negm foi criado num orfanato e condenado a três anos de prisão, ainda adolescente, pela primeira vez, por falsificar documentos. Na cadeia, começou a escrever versos, na gíria das ruas, misturando piadas que ouviu no mundo dos pobres e a dura realidade da opressão. Outros prisioneiros começaram a passar-lhe gravadores, para que gravasse os versos, e até os guardas ajudavam a contrabandear as gravações para fora da prisão. Tornou-se poeta-herói dos trabalhadores, e seus versos foram ganhando tons cada vez mais políticos. Quando foi condenado, mais tarde, a 11 anos de prisão, por versos nos quais zombava dos discursos televisionados do presidente Anwar Sadat, sua fama extravazou para todo o Oriente Médio. 30 anos depois, na Praça Tahrir, os mesmos versos voltaram à vida, dessa vez cantados contra Hosni Mubarak e o Conselho Superior das Forças Armadas. Nas noites tensas da Praça Tahrir, cantavam-se os versos de “Os valentes são valentes”: Os valentes são valentes Os covardes são covardes Venha com os valentes, juntos, para a Praça Encontrei Negm num escritório minúsculo, nos fundos de uma editora que publica textos radicais e revolucionários, no centro do Cairo. Uma dúzia de poetas e escritores, cobrindo três gerações, sentavam-se entre pilhas de livros que iam do chão ao teto. Apertado numa mesa de computador, a voz rascante de fumante, Negm estava entre amigos. Falou-se de peças de teatro em estilo shakespeareano e de versos em árabe clássico. E dos novos governantes religiosos do Egito. “Conheci muitos Irmãos da Fraternidade Muçulmana na cadeia. Às vezes, me oferecia para reger as orações. Quando estavam curvados, com a testa no chão, eu saía. E eles lá ficavam, horas a fio, discutindo se eu podia ou não podia sair: ‘É permitido?’ ‘É proibido?’ Como é possível que gente assim governe um país rico como o Egito? Os egípcios mais pobres são gênios de inteligência. Nunca os subestimem”. A maré montante da religião no Egito sempre afetou a reputação de Negm. Seu declarado gosto pelo haxixe, pelas muitas namoradas e a fala livre, recheada de palavrões e blasfêmias, já levaram muitos egípcios a rebaixá-lo do trono prestigiado dos grandes poetas do país. Sua filha, Nawara Negm, foi uma das líderes da revolução desde o primeiro dia. Herdou a língua afiada e a paixão política do pai – cantou o hino “Mataram Guevara”, composto pelo pai, no casamento da irmã adotiva. No início do ano, foi atacada por uma gangue que gritava “filha do drogado” e brutalmente espancada. “A revolução voltará. Mais forte. Nos ergueremos outra vez. É como jogar xadrez com um idiota”. Ninguém se surpreendeu quando, durante as filmagens desse documentário, Negm recebeu a notícia de que estava sendo processado por blasfêmia, por ter dito um palavrão num programa de televisão ao vivo, em que se discutia religião. Sua esposa entrou em pânico. Negm apenas assumiu, sem aflição, a velha posição de combate: “Não tenho medo deles. Querem nos obrigar a não falar. Por que teria medo deles? Tenho mais tempo de cadeia, que vocês, de vida!” De fato, o novo processo pode ter sido o sinal que Negm esperava para ter certeza de que seu lugar continua assegurado, numa revolução que, no Egito, está sendo apresentada como “Revolução dos jovens”. “A inspiração voltará. Ela sempre volta, com o rabo entre as pernas”. [Esse episódio de “Artscape: Poets of Protest” está sendo apresentado pela rede Al-Jazeera, a partir de 31/8, 6ª-feira, no seguinte horário (GMT): 6ª, às 19h30; sábado, 14h30; domingo, 4h30; 2ª, 8h30] Nota dos tradutores [1] Em 8’03, lá estão os Anonymous! Postado por Castor Filho às 20:26:0

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